— O que é tão engraçado? — perguntou Nitta, com um sorriso divertido.
— Todos vocês, Morunagas, são facilmente distraídos? — devolvi, com um toque de sarcasmo.
— Infelizmente, não — ele respondeu, rindo com vontade. — Ryuu é um homem muito… focado. Você não terá vida fácil. Ele não é exatamente o tipo para um casamento — comentou, arqueando as sobrancelhas infantilmente. — Nem eu.
Ignorei seus flertes.
— Se ele é tão inadequado para o casamento, então, por que estamos fazendo isso? — perguntei, tentando entender a lógica absurda.
Nitta deu de ombros.
— É bom para os negócios, imagino. As empresas Carbone e Morunaga estão se fundindo. Você não esperava que seu pai arranjasse um casamento mais cedo ou mais tarde? Afinal, você é a herdeira dele. É assim que as coisas são feitas.
Seu tom condescendente me irritou, mas mantive meu temperamento sob controle.
— Você vai se sair bem, confie em mim. Pelo que ouvi, tem uma boa cabeça. Ryuu pode parecer duro no começo, mas isso é apenas para aqueles que não o conhecem.
Não me dei ao trabalho de perguntar quem eram seus informantes. Permaneci em silêncio, incrédula. Eu ainda não falara com meu futuro marido e o “durão” parecia ser um eufemismo. Eu sabia que o perigoso mafioso era mais do que apenas isso.
Tentei encerrar a conversa, pegando meu livro e fazendo menção de me levantar. No entanto, fui interrompida pela risada repentina e aguda de Nitta.
— Eu deveria saber que ele estaria me observando; praticamente senti seus olhos queimando a minha nuca — comentou calmamente.
Olhei por cima dos óculos, vendo Nitta virar-se para a casa e acenar sarcasticamente para alguém. Não me incomodei em olhar quem era.
— Ryuu é tão rígido o tempo todo. Provavelmente tem medo de que eu corrompa sua inocente esposa.
Soltei um bufo irado, enquanto Nitta mantinha seu irritante sorriso ladino. Meu corpo se enrijeceu involuntariamente, como se eu fosse um cervo ciente de um predador à espreita. Não tinha dúvidas de que Ryuu nos observava.
Lutei contra a vontade de olhar para ele, não querendo dar-lhe essa satisfação. E não tinha certeza se estava pronta para vê-lo novamente. Será que ele, como Nitta, havia trocado o terno por uma roupa de banho ou estava vestido de forma mais conservadora? Eu queria saber como era sua personalidade, seu comportamento comparado ao irmão extrovertido. Queria saber tudo sobre o homem que seria meu marido, especialmente porque Ryuu, sem dúvida, já sabia demais sobre mim.
Dois dias, dissera Nitta. Dois dias que souberam desse casamento. Pareciam uma vida inteira em comparação com as patéticas duas horas que tive. Duas horas era tudo o que eu tinha para processar o conceito de um marido. Duas horas para contemplar meu futuro ao lado de um homem com quem passaria o resto da vida.
Divórcio não era uma opção. Mulheres como eu não se divorciam; não tínhamos esse poder. A morte era a única saída. Minha única escolha era ser fiel, recatada e do lar.
— Duvido que ele se importe com o que faço no meu tempo livre, contanto que eu seja obediente depois do casamento — murmurei para mim mesma, incapaz de disfarçar a amargura em minha voz.
— Ele é um homem possessivo. Agora você é dele, e ninguém vai dizer o contrário — disse Nitta, ainda olhando na direção da casa.
— Oh! Encantador — rebati, minha irritação com Nitta alimentada por uma súbita onda de orgulho. Levantei-me, sacudindo a areia das pernas. Peguei o livro e a toalha, atraindo novamente a atenção de Nitta.
— Estou voltando — declarei com firmeza, encarando o homem de pele bronzeada e suas muitas tatuagens à mostra.
Nitta pareceu refletir, indiferente à minha raiva crescente. Apenas acenou em resposta. Mas quando virei de costas, ouvi-o gritar:
— Bem-vinda à família, cunhadinha — disse com um tom zombeteiro.
Infelizmente, aquelas palavras soaram mais sinistras do que acolhedoras.
***
À medida que a noite caía e o sol desaparecia no horizonte, eu estava na cozinha com meu avô, preparando o jantar para nós e nossos convidados. Preferia estar em qualquer outro lugar, mas o olhar penetrante de Giorgio Carbone me fez obedecer ao seu comando. Ninguém, nem mesmo eu, ousava desafiar meu avô.
Enquanto cortava legumes, ouvia as gargalhadas de meu pai e do patriarca da família Morunaga. Pouco depois da minha conversa com Nitta, meu pai saiu de seu escritório e se juntou a eles na sala. No início, a atmosfera parecia tensa, mas agora era como se todos os problemas entre eles tivessem se dissipado.
Ao custo da minha liberdade!
Quando a comida foi servida, todos se reuniram ao redor da mesa surpreendentemente rápido. Os irmãos foram os últimos a entrar. Nitta chegou primeiro, enquanto eu colocava o último prato, com Fukui e Ryuu logo atrás dele. Antes que eu pudesse recuar, Nitta me beijou levemente na bochecha, piscando para a minha expressão surpresa.
— O jantar parece ótimo, Bea. E você também — brincou, reconhecendo o vestido de algodão fino azul-claro que eu usava. Ele se sentou ao lado do meu pai, que o olhava com irritação.
Perguntei-me que direito ele tinha e o quanto éramos próximos para me chamar por um apelido. Perceber o quanto meu casamento estava se tornando sério me deixou nauseada.
— Pare com isso, Nitta — advertiu uma voz profunda atrás de mim.
Enrijeci ao sentir Ryuu roçar levemente em minha pele ao se sentar na cadeira ao meu lado. Foi a primeira vez que ouvi sua voz, e o tom enviou um calafrio pela minha espinha, fazendo meus cabelos se arrepiarem. Um rápido olhar na sua direção fez meu corpo tremer novamente quando percebi seu olhar intenso sobre mim, como se ele pudesse ler cada pensamento que passava pela minha mente.
— Seu irmão está certo. Mostre um pouco mais de respeito pela noiva dele! — disse Gojou. Eu preferia que ele tivesse permanecido calado. Não precisava de um lembrete de que agora era a noiva de alguém da família Morunaga.Meus olhos começaram a arder com a ameaça de lágrimas, mas não iria chorar. Repreendi-me silenciosamente e corri de volta para a cozinha para me recompor, usando o pretexto de pegar o vinho. Quando voltei, um silêncio incômodo pairava no ar. Pelas feições sombrias de Nitta, deduzi que palavras mais duras haviam sido trocadas na minha ausência. Toda essa situação era profundamente desconfortável. Eu entendia a necessidade de me familiarizar com Ryuu antes do casamento, mas não gostava nem um pouco daquilo.— Então — disse eu, quebrando o silêncio assim que todos começaram a comer, sem direcionar a pergunta a ninguém em particular —, quando será o casamento?— Não agora, Beatrice — repreendeu meu pai imediatamente.Encolhi-me com o tom afiado de sua voz, um lembrete cl
&RYUU&Eu estava alheio à conversa ao meu redor. Todos, exceto minha futura esposa, tinham se reunido no salão para beber antes de se retirarem para seus quartos. Mas conversar não me atraía.Beatrice ficou retraída durante o jantar, e eu sabia que a culpa era da pressa com que tudo estava acontecendo. Eu podia entender seu medo ao se casar comigo. Não era justo esperar que ela aceitasse uma mudança tão drástica e rápida em sua vida. Não era algo pessoal, e eu não deveria me ofender com sua relutância. Qualquer um sentiria o mesmo, independentemente de quem fosse se casar. Claro que ela estava assustada.Eu também precisava aceitar a perspectiva do casamento. Nunca havia considerado isso antes e, com certeza, não queria pensar nisso agora.Uma dor aguda na nuca me trouxe de volta dos meus pensamentos. Virei-me irritado para encarar o agressor, mas minha expressão esfriou ao perceber que era meu pai.— Estávamos falando com você — resmungou ele.— Papai estava dizendo que você precisa
Esperei em silêncio, torcendo para que ele me dirigisse um olhar ou tentasse puxar conversa, mas isso não aconteceu. Lutei contra a vontade de fechar aquele maldito notebook e jogá-lo pela janela, direto na água lá fora.Observei-o com atenção, analisando cada detalhe: o formato da mandíbula, os lábios finos, a cor penetrante dos olhos, a força do olhar. Seus braços eram musculosos, decorados por tatuagens de dragões que serpenteavam até a camisa bem ajustada ao peito. Não podia negar que ele era bonito, especialmente com aqueles óculos de aro grosso. Não parecia nada com um mafioso. Um leve sorriso ameaçou escapar dos meus lábios, mas balancei a cabeça vigorosamente, tentando afastar pensamentos indecorosos.— Então… — Quebrei o silêncio, estalando a língua em frustração quando Ryuu continuou a trabalhar. — Entendo vagamente por que seu pai pode pressionar por este casamento, mas por que você concordou?Finalmente, Ryuu ergueu os olhos para mim, desviando-se do notebook. Recostou-se
&RYUU&Depois da conversa com Beatrice, concentrei-me no trabalho, mas ela não saía da minha cabeça. Por mais que meu pai e Giorgio me alertassem, eu parecia incapaz de fazer qualquer coisa além de irritá-la, como um garoto provocando sua paixão no pátio da escola. Mas o que sentia por Beatrice não era exatamente afeto.Suspirei profundamente, afastando o notebook e apertando a ponta do nariz na tentativa de aliviar uma dor de cabeça que se aproximava. Ainda tinha muito trabalho a fazer, mas o casamento iminente ocupava todos os meus pensamentos, dificultando a concentração.— Você simplesmente não consegue evitar, não é? — A voz de Nitta quebrou o silêncio, e eu mal contive um gemido. Lancei um olhar irritado para meu irmão, mas isso não o impediu de entrar na sala com aquele sorriso presunçoso no rosto. — Deveria ter ouvido, Ryuu. Ela te chamou de idiota para o avô dela. O que você fez para irritá-la tanto? Você tem sorte que fui eu que ouvi isso, e não o papai.— Isso não tem graça
Durante toda a semana, engoli minha raiva. Mantive-me educada com meu avô, Gojou e os outros homens Morunaga, enquanto sufocava as lágrimas que ameaçavam cair a cada segundo. A fúria que meu pai pensava sentir não era nada comparada ao tumulto que fervia dentro de mim. Ele estava sofrendo agora por causa dos próprios erros. Um homem que cometera tantos enganos e este não seria o último. Eu estava sofrendo por culpa dele, e isso não esqueceria.Durante dias, estive à mercê de outros, obrigada a obedecer a esses homens, temendo ofender os Morunaga e enfrentar as consequências de sua ira inevitável, como meu avô sempre lembrava. Sem uma palavra ou mesmo um olhar para meu pai, passei por ele e me dirigi à praia, onde risos altos e uma música distante ecoavam. Meu coração acelerou a cada passo, rezando para que minha tia e meus primos tivessem chegado. Precisava do apoio deles mais do que nunca. Sabia que meu avô me amava, mas sua lealdade estava com meu noivo. Se queria alguém ao meu lado
&Beatrice&Dario, o segundo mais velho, sempre fora mais reservado do que os outros irmãos Carbone, e por isso, eu me sentia menos à vontade com ele. No entanto, hoje, sua presença era um alívio. Anton e Lex, com dezenove e dezessete anos, respectivamente, eram mais irmãos para mim do que os dois mais velhos.— Prazer em finalmente conhecê-lo — disse Ryuu, estendendo a mão para Bion. Notei a expressão cansada no rosto do meu noivo, como se estar entre a minha família exigisse mais dele do que podia suportar.Bion apertou a mão de Ryuu com firmeza, respondendo apenas com um grunhido baixo de desaprovação. Era impressionante como Bion conseguia soar desrespeitoso sem dizer uma palavra. Para minha surpresa, Ryuu não reagiu. Ele apenas segurou minha mão e inclinou-se, provocando um arrepio com a possibilidade de seus lábios se aproximarem demais.— Vou deixá-la com sua família — sussurrou Ryuu em meu ouvido, sem maiores explicações, deixando-me entre aliviada e confusa. Não fazia sentido
&Ryuu&O casamento com Beatrice prometia ser mais interessante do que eu jamais poderia imaginar. Havia algo na sua presença que me fazia querer sempre estar alerta, atento para não despertar sua ira silenciosa quando estivéssemos a sós.— Você teve sorte lá fora — comentou um dos meus primos, cambaleando até mim com a bebida quase transbordando do copo. Ele soltou um assobio baixo enquanto seus olhos percorriam a praia até Beatrice, que exibia suas pernas e a curva graciosa das costas naquele vestido.Eu não me preocupei em esconder meu desagrado, mantendo o olhar fixo na minha futura esposa.— Ela é bonita, a neta dos Carbone. Como conseguiu isso? Tenho vontade de disputar sua atenção com você.Desviei os olhos de Beatrice por um instante para fitar meu primo com frieza. Sua súbita inquietação me deu vontade de rir; ele sempre fora um covarde, sem posição ou reputação. Bastava um olhar mais firme para que recuasse, parecendo um rato assustado.— Cuidado — zombou Nitta, surgindo com
&Ryuu& Grunhi, lançando um olhar severo para meus irmãos. Senti Beatrice enrijecer em meus braços, e minha expressão endureceu ainda mais quando percebi que ela evitava olhar para eles.— Por que vocês dois não deixam meu casamento em paz? — minha voz saiu calma e medida, mas a raiva era inconfundível. — Estão começando a esquecer quem está no comando. Só porque estou me casando, parece que minha família inteira acha que pode me desrespeitar.Meus irmãos rapidamente ficaram sérios, e até Beatrice pareceu desconfortável com a mudança súbita na atmosfera. Ela se mexeu no meu colo, e a deixei ir.— Vocês precisam se preparar para o jantar. A comida será servida em breve — disse Beatrice, suas palavras mal passando de um sussurro, enquanto me lançava um olhar cauteloso. Não a encarei; meu foco estava inteiramente em meus irmãos, agora calados e sombrios.Beatrice não hesitou e saiu da sala tão silenciosamente quanto entrou, deixando-nos com o peso da tensão no ar.***&Beatrice&Em pouco