Capítulo 5 - Beatrice

— O que é tão engraçado? — perguntou Nitta, com um sorriso divertido.

— Todos vocês, Morunagas, são facilmente distraídos? — devolvi, com um toque de sarcasmo.

— Infelizmente, não — ele respondeu, rindo com vontade. — Ryuu é um homem muito focado. Você não terá vida fácil. Ele não é exatamente o tipo para um casamento — comentou, arqueando as sobrancelhas infantilmente. — Nem eu.

Ignorei seus flertes.

— Se ele é tão inadequado para o casamento, então, por que estamos fazendo isso? — perguntei, tentando entender a lógica absurda.

Nitta deu de ombros.

— É bom para os negócios, imagino. As empresas Carbone e Morunaga estão se fundindo. Você não esperava que seu pai arranjasse um casamento mais cedo ou mais tarde? Afinal, você é a herdeira dele. É assim que as coisas são feitas.

Seu tom condescendente me irritou, mas mantive meu temperamento sob controle.

— Você vai se sair bem, confie em mim. Pelo que ouvi, tem uma boa cabeça. Ryuu pode parecer duro no começo, mas isso é apenas para aqueles que não o conhecem.

Não me dei ao trabalho de perguntar quem eram seus informantes. Permaneci em silêncio, incrédula. Eu ainda não falara com meu futuro marido e o durão parecia ser um eufemismo. Eu sabia que o perigoso mafioso era mais do que apenas isso.

Tentei encerrar a conversa, pegando meu livro e fazendo menção de me levantar. No entanto, fui interrompida pela risada repentina e aguda de Nitta.

— Eu deveria saber que ele estaria me observando; praticamente senti seus olhos queimando a minha nuca — comentou calmamente.

Olhei por cima dos óculos, vendo Nitta virar-se para a casa e acenar sarcasticamente para alguém. Não me incomodei em olhar quem era.

— Ryuu é tão rígido o tempo todo. Provavelmente tem medo de que eu corrompa sua inocente esposa.

Soltei um bufo irado, enquanto Nitta mantinha seu irritante sorriso ladino. Meu corpo se enrijeceu involuntariamente, como se eu fosse um cervo ciente de um predador à espreita. Não tinha dúvidas de que Ryuu nos observava.

Lutei contra a vontade de olhar para ele, não querendo dar-lhe essa satisfação. E não tinha certeza se estava pronta para vê-lo novamente. Será que ele, como Nitta, havia trocado o terno por uma roupa de banho ou estava vestido de forma mais conservadora? Eu queria saber como era sua personalidade, seu comportamento comparado ao irmão extrovertido. Queria saber tudo sobre o homem que seria meu marido, especialmente porque Ryuu, sem dúvida, já sabia demais sobre mim.

Dois dias, dissera Nitta. Dois dias que souberam desse casamento. Pareciam uma vida inteira em comparação com as patéticas duas horas que tive. Duas horas era tudo o que eu tinha para processar o conceito de um marido. Duas horas para contemplar meu futuro ao lado de um homem com quem passaria o resto da vida.

Divórcio não era uma opção. Mulheres como eu não se divorciam; não tínhamos esse poder. A morte era a única saída. Minha única escolha era ser fiel, recatada e do lar.

— Duvido que ele se importe com o que faço no meu tempo livre, contanto que eu seja obediente depois do casamento — murmurei para mim mesma, incapaz de disfarçar a amargura em minha voz.

— Ele é um homem possessivo. Agora você é dele, e ninguém vai dizer o contrário — disse Nitta, ainda olhando na direção da casa.

— Oh! Encantador — rebati, minha irritação com Nitta alimentada por uma súbita onda de orgulho. Levantei-me, sacudindo a areia das pernas. Peguei o livro e a toalha, atraindo novamente a atenção de Nitta.

— Estou voltando — declarei com firmeza, encarando o homem de pele bronzeada e suas muitas tatuagens à mostra.

Nitta pareceu refletir, indiferente à minha raiva crescente. Apenas acenou em resposta. Mas quando virei de costas, ouvi-o gritar:

— Bem-vinda à família, cunhadinha — disse com um tom zombeteiro.

Infelizmente, aquelas palavras soaram mais sinistras do que acolhedoras.

***

À medida que a noite caía e o sol desaparecia no horizonte, eu estava na cozinha com meu avô, preparando o jantar para nós e nossos convidados. Preferia estar em qualquer outro lugar, mas o olhar penetrante de Giorgio Carbone me fez obedecer ao seu comando. Ninguém, nem mesmo eu, ousava desafiar meu avô.

Enquanto cortava legumes, ouvia as gargalhadas de meu pai e do patriarca da família Morunaga. Pouco depois da minha conversa com Nitta, meu pai saiu de seu escritório e se juntou a eles na sala. No início, a atmosfera parecia tensa, mas agora era como se todos os problemas entre eles tivessem se dissipado.

Ao custo da minha liberdade!

Quando a comida foi servida, todos se reuniram ao redor da mesa surpreendentemente rápido. Os irmãos foram os últimos a entrar. Nitta chegou primeiro, enquanto eu colocava o último prato, com Fukui e Ryuu logo atrás dele. Antes que eu pudesse recuar, Nitta me beijou levemente na bochecha, piscando para a minha expressão surpresa.

— O jantar parece ótimo, Bea. E você também — brincou, reconhecendo o vestido de algodão fino azul-claro que eu usava. Ele se sentou ao lado do meu pai, que o olhava com irritação.

Perguntei-me que direito ele tinha e o quanto éramos próximos para me chamar por um apelido. Perceber o quanto meu casamento estava se tornando sério me deixou nauseada.

— Pare com isso, Nitta — advertiu uma voz profunda atrás de mim.

Enrijeci ao sentir Ryuu roçar levemente em minha pele ao se sentar na cadeira ao meu lado. Foi a primeira vez que ouvi sua voz, e o tom enviou um calafrio pela minha espinha, fazendo meus cabelos se arrepiarem. Um rápido olhar na sua direção fez meu corpo tremer novamente quando percebi seu olhar intenso sobre mim, como se ele pudesse ler cada pensamento que passava pela minha mente.

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