&RYUU&
Eu estava sentado em uma cadeira, a camisa desabotoada e as mangas arregaçadas até os cotovelos, contemplando as notícias das minhas próximas núpcias. Fazia apenas dois dias que meu pai havia abordado o assunto. Embora a reunião tivesse sido estritamente profissional, o que ele pedia era profundamente pessoal.
Não conseguia entender por que Gojou Morunaga queria que eu me casasse com tanta urgência. Certamente nada tinha a ver com a fusão dos negócios Morunaga e Carbone, como ele alegara. Eu sabia da situação desesperadora em que Giacomo Carbone se encontrava. Meu pai poderia ter tomado a empresa dele facilmente. Mas, ao invés disso, ele tinha claramente um motivo oculto, um plano que tinha certeza de que funcionaria da maneira que Gojou pretendia.
Beatrice Carbone. O nome era atraente, combinando perfeitamente com a mulher que eu sabia ser extremamente bela. Eu havia visto uma foto dela antes. Jovem e bonita, mas nada para se envolver emocionalmente. Era o tipo de mulher facilmente atraída por homens para negócios não tão lícitos. No entanto, ao vê-la cara a cara, percebi que a fotografia não fazia justiça a ela. Seria um inferno se um homem não se sentisse atraído por sua própria esposa, e felizmente, fiquei intrigado no momento em que a vi — isso certamente aliviaria o fardo de um casamento tão indesejado. Apenas esperava que sua personalidade não fosse inferior à sua aparência.
Atrás de mim, a porta que dava para a praia se abriu e fechou rapidamente, e fui presenteado com a visão de Beatrice pisando na areia com determinação, completamente inconsciente da minha presença. Meus olhos seguiram suas costas nuas, o balanço de seus quadris, e desceram por suas pernas enquanto seus pés afundavam na areia macia. Sentar-me à sombra não parecia mais tão pacífico.
— Já se divertindo com sua esposa? — Fukui apareceu atrás de mim, colocando dois copos de uísque na mesa. Revirei os olhos quando meu irmão puxou a cadeira oposta, obstruindo minha visão de Beatrice, agora estendida de costas, tomando sol.
— Ainda não somos casados.
Mas seríamos em breve, muito mais cedo do que eu gostaria. Não havia como contornar isso; meu pai exigiu que nos casássemos dentro de um mês.
— Não deixe papai ouvir você falando assim. Ele provavelmente quer um bebê antes do final do ano — Fukui brincou, tomando um gole de sua bebida. Grunhi, movendo-me no assento e pegando o copo diante de mim. Segurei-o em minhas mãos, levando-o à boca e bebendo o álcool ardente de um só gole.
— Ele não pode ser ingênuo o suficiente para acreditar que teremos filhos em um ano, se é que teremos. Podemos nem gostar um do outro — resmunguei.
— E quem disse que você não vai se apaixonar? — Fukui respondeu, sorrindo, sem dúvida se divertindo com o pensamento de seu irmão de coração de pedra apaixonado por uma garota.
— Acredita mesmo nisso? — Olhei intensamente para ele. Meu irmão sorriu amarelo, incomodado.
— Bem, Beatrice não é uma mulher de sorte — o tom fortemente sarcástico de Fukui me fez rir. O som da porta abrindo e fechando mais uma vez chamou nossa atenção. — Cuidado, Nitta está à espreita.
Fiel às palavras de Fukui, o mais novo do trio Morunaga estava agora passeando pela praia em direção a Beatrice, um sorriso arrogante no rosto. Nitta estava sempre procurando confusão e, neste caso, eu não teria problemas em colocá-lo em seu lugar.
— Se você parasse de ficar tão frustrado, Nitta pararia de te provocar.
Não acreditei em uma palavra disso. Nitta nunca deixaria de causar estragos em minha vida; era apenas sua maneira de se divertir. Ele não teria Nitta perseguindo Beatrice enquanto ela fosse minha esposa, no entanto. Suspirando em frustração, procurei por mais uma bebida.
***
&BEATRICE&
Eu evitava ao máximo a família Morunaga enquanto me espalhava pela areia quente, um livro na mão. Vestia um biquíni negro e um xale amarelo, com óculos escuros protegendo meus olhos do sol. Meu cabelo ruivo estava trançado para trás, alguns cachos teimosamente soltos. Presa nesta pequena ilha com meu pai e minha futura família, eu não sabia mais o que fazer. Resentia-me profundamente por ter que fingir estar bem com toda essa situação.
Infelizmente, compartilhar uma casa com um bando de machos dominantes significava que a solidão era um luxo difícil de alcançar.
— Eu mal acredito que finalmente conhecerei a mulher sobre a qual meu pai tem falado sem parar nos últimos dois dias — disse uma voz, lançando uma sombra sobre mim. Levantei o olhar e vi o filho mais novo da família Morunaga se sentando ao meu lado, como se fôssemos amigos de longa data de férias juntos. Ele estava vestido de maneira muito mais apropriada agora, usando apenas um par de shorts, exibindo um sorriso malicioso. Suas tatuagens cobriam quase todo o peito e parte dos braços, contrastando com seu corpo pouco musculoso. — Ele geralmente não é um homem muito falador. Suspeito que estava tentando despertar o interesse do meu irmão.
Uma esperança tênue floresceu em meu peito com a possibilidade de que tudo isso pudesse ser evitado. Certamente, um homem tão poderoso quanto Ryuu Morunaga não se permitiria ser forçado a algo que não quisesse, certo? Sentei-me, apoiando as mãos atrás de mim, e olhei para Nitta com desconfiança.
Porque Nitta decidiu se juntar a mim, eu não sabia e não queria perguntar. Não quando havia informações muito mais urgentes para coletar. Talvez ele também estivesse com a tarefa de obter informações, mas eu não me importava. Não que os irmãos Morunaga não pudessem descobrir tudo o que quisessem de qualquer maneira, por meios muito mais persuasivos.
— Funcionou? — Perguntei, surpreendendo Nitta com meu súbito interesse.
Ele não respondeu de imediato, deitando-se de lado, seus olhos demorando mais do que o necessário em minhas pernas expostas antes de finalmente encontrar meu rosto. Bufei e revirei os olhos sob os óculos escuros.
Ou talvez ele fosse apenas um homem entediado procurando entretenimento. Estava ficando bastante claro para mim o quanto perigosa seria minha vida atrelada a essa família. O que era um tanto contraditório, visto a minha própria.
— O que é tão engraçado? — perguntou Nitta, com um sorriso divertido.— Todos vocês, Morunagas, são facilmente distraídos? — devolvi, com um toque de sarcasmo.— Infelizmente, não — ele respondeu, rindo com vontade. — Ryuu é um homem muito… focado. Você não terá vida fácil. Ele não é exatamente o tipo para um casamento — comentou, arqueando as sobrancelhas infantilmente. — Nem eu.Ignorei seus flertes.— Se ele é tão inadequado para o casamento, então, por que estamos fazendo isso? — perguntei, tentando entender a lógica absurda.Nitta deu de ombros.— É bom para os negócios, imagino. As empresas Carbone e Morunaga estão se fundindo. Você não esperava que seu pai arranjasse um casamento mais cedo ou mais tarde? Afinal, você é a herdeira dele. É assim que as coisas são feitas.Seu tom condescendente me irritou, mas mantive meu temperamento sob controle.— Você vai se sair bem, confie em mim. Pelo que ouvi, tem uma boa cabeça. Ryuu pode parecer duro no começo, mas isso é apenas para aqu
— Seu irmão está certo. Mostre um pouco mais de respeito pela noiva dele! — disse Gojou. Eu preferia que ele tivesse permanecido calado. Não precisava de um lembrete de que agora era a noiva de alguém da família Morunaga.Meus olhos começaram a arder com a ameaça de lágrimas, mas não iria chorar. Repreendi-me silenciosamente e corri de volta para a cozinha para me recompor, usando o pretexto de pegar o vinho. Quando voltei, um silêncio incômodo pairava no ar. Pelas feições sombrias de Nitta, deduzi que palavras mais duras haviam sido trocadas na minha ausência. Toda essa situação era profundamente desconfortável. Eu entendia a necessidade de me familiarizar com Ryuu antes do casamento, mas não gostava nem um pouco daquilo.— Então — disse eu, quebrando o silêncio assim que todos começaram a comer, sem direcionar a pergunta a ninguém em particular —, quando será o casamento?— Não agora, Beatrice — repreendeu meu pai imediatamente.Encolhi-me com o tom afiado de sua voz, um lembrete cl
&RYUU&Eu estava alheio à conversa ao meu redor. Todos, exceto minha futura esposa, tinham se reunido no salão para beber antes de se retirarem para seus quartos. Mas conversar não me atraía.Beatrice ficou retraída durante o jantar, e eu sabia que a culpa era da pressa com que tudo estava acontecendo. Eu podia entender seu medo ao se casar comigo. Não era justo esperar que ela aceitasse uma mudança tão drástica e rápida em sua vida. Não era algo pessoal, e eu não deveria me ofender com sua relutância. Qualquer um sentiria o mesmo, independentemente de quem fosse se casar. Claro que ela estava assustada.Eu também precisava aceitar a perspectiva do casamento. Nunca havia considerado isso antes e, com certeza, não queria pensar nisso agora.Uma dor aguda na nuca me trouxe de volta dos meus pensamentos. Virei-me irritado para encarar o agressor, mas minha expressão esfriou ao perceber que era meu pai.— Estávamos falando com você — resmungou ele.— Papai estava dizendo que você precisa
Esperei em silêncio, torcendo para que ele me dirigisse um olhar ou tentasse puxar conversa, mas isso não aconteceu. Lutei contra a vontade de fechar aquele maldito notebook e jogá-lo pela janela, direto na água lá fora.Observei-o com atenção, analisando cada detalhe: o formato da mandíbula, os lábios finos, a cor penetrante dos olhos, a força do olhar. Seus braços eram musculosos, decorados por tatuagens de dragões que serpenteavam até a camisa bem ajustada ao peito. Não podia negar que ele era bonito, especialmente com aqueles óculos de aro grosso. Não parecia nada com um mafioso. Um leve sorriso ameaçou escapar dos meus lábios, mas balancei a cabeça vigorosamente, tentando afastar pensamentos indecorosos.— Então… — Quebrei o silêncio, estalando a língua em frustração quando Ryuu continuou a trabalhar. — Entendo vagamente por que seu pai pode pressionar por este casamento, mas por que você concordou?Finalmente, Ryuu ergueu os olhos para mim, desviando-se do notebook. Recostou-se
&RYUU&Depois da conversa com Beatrice, concentrei-me no trabalho, mas ela não saía da minha cabeça. Por mais que meu pai e Giorgio me alertassem, eu parecia incapaz de fazer qualquer coisa além de irritá-la, como um garoto provocando sua paixão no pátio da escola. Mas o que sentia por Beatrice não era exatamente afeto.Suspirei profundamente, afastando o notebook e apertando a ponta do nariz na tentativa de aliviar uma dor de cabeça que se aproximava. Ainda tinha muito trabalho a fazer, mas o casamento iminente ocupava todos os meus pensamentos, dificultando a concentração.— Você simplesmente não consegue evitar, não é? — A voz de Nitta quebrou o silêncio, e eu mal contive um gemido. Lancei um olhar irritado para meu irmão, mas isso não o impediu de entrar na sala com aquele sorriso presunçoso no rosto. — Deveria ter ouvido, Ryuu. Ela te chamou de idiota para o avô dela. O que você fez para irritá-la tanto? Você tem sorte que fui eu que ouvi isso, e não o papai.— Isso não tem graça
Durante toda a semana, engoli minha raiva. Mantive-me educada com meu avô, Gojou e os outros homens Morunaga, enquanto sufocava as lágrimas que ameaçavam cair a cada segundo. A fúria que meu pai pensava sentir não era nada comparada ao tumulto que fervia dentro de mim. Ele estava sofrendo agora por causa dos próprios erros. Um homem que cometera tantos enganos e este não seria o último. Eu estava sofrendo por culpa dele, e isso não esqueceria.Durante dias, estive à mercê de outros, obrigada a obedecer a esses homens, temendo ofender os Morunaga e enfrentar as consequências de sua ira inevitável, como meu avô sempre lembrava. Sem uma palavra ou mesmo um olhar para meu pai, passei por ele e me dirigi à praia, onde risos altos e uma música distante ecoavam. Meu coração acelerou a cada passo, rezando para que minha tia e meus primos tivessem chegado. Precisava do apoio deles mais do que nunca. Sabia que meu avô me amava, mas sua lealdade estava com meu noivo. Se queria alguém ao meu lado
&Beatrice&Dario, o segundo mais velho, sempre fora mais reservado do que os outros irmãos Carbone, e por isso, eu me sentia menos à vontade com ele. No entanto, hoje, sua presença era um alívio. Anton e Lex, com dezenove e dezessete anos, respectivamente, eram mais irmãos para mim do que os dois mais velhos.— Prazer em finalmente conhecê-lo — disse Ryuu, estendendo a mão para Bion. Notei a expressão cansada no rosto do meu noivo, como se estar entre a minha família exigisse mais dele do que podia suportar.Bion apertou a mão de Ryuu com firmeza, respondendo apenas com um grunhido baixo de desaprovação. Era impressionante como Bion conseguia soar desrespeitoso sem dizer uma palavra. Para minha surpresa, Ryuu não reagiu. Ele apenas segurou minha mão e inclinou-se, provocando um arrepio com a possibilidade de seus lábios se aproximarem demais.— Vou deixá-la com sua família — sussurrou Ryuu em meu ouvido, sem maiores explicações, deixando-me entre aliviada e confusa. Não fazia sentido
&Ryuu&O casamento com Beatrice prometia ser mais interessante do que eu jamais poderia imaginar. Havia algo na sua presença que me fazia querer sempre estar alerta, atento para não despertar sua ira silenciosa quando estivéssemos a sós.— Você teve sorte lá fora — comentou um dos meus primos, cambaleando até mim com a bebida quase transbordando do copo. Ele soltou um assobio baixo enquanto seus olhos percorriam a praia até Beatrice, que exibia suas pernas e a curva graciosa das costas naquele vestido.Eu não me preocupei em esconder meu desagrado, mantendo o olhar fixo na minha futura esposa.— Ela é bonita, a neta dos Carbone. Como conseguiu isso? Tenho vontade de disputar sua atenção com você.Desviei os olhos de Beatrice por um instante para fitar meu primo com frieza. Sua súbita inquietação me deu vontade de rir; ele sempre fora um covarde, sem posição ou reputação. Bastava um olhar mais firme para que recuasse, parecendo um rato assustado.— Cuidado — zombou Nitta, surgindo com