Capítulo 4 - Ryuu e Beatrice

&RYUU&

Eu estava sentado em uma cadeira, a camisa desabotoada e as mangas arregaçadas até os cotovelos, contemplando as notícias das minhas próximas núpcias. Fazia apenas dois dias que meu pai havia abordado o assunto. Embora a reunião tivesse sido estritamente profissional, o que ele pedia era profundamente pessoal.

Não conseguia entender por que Gojou Morunaga queria que eu me casasse com tanta urgência. Certamente nada tinha a ver com a fusão dos negócios Morunaga e Carbone, como ele alegara. Eu sabia da situação desesperadora em que Giacomo Carbone se encontrava. Meu pai poderia ter tomado a empresa dele facilmente. Mas, ao invés disso, ele tinha claramente um motivo oculto, um plano que tinha certeza de que funcionaria da maneira que Gojou pretendia.

Beatrice Carbone. O nome era atraente, combinando perfeitamente com a mulher que eu sabia ser extremamente bela. Eu havia visto uma foto dela antes. Jovem e bonita, mas nada para se envolver emocionalmente. Era o tipo de mulher facilmente atraída por homens para negócios não tão lícitos. No entanto, ao vê-la cara a cara, percebi que a fotografia não fazia justiça a ela. Seria um inferno se um homem não se sentisse atraído por sua própria esposa, e felizmente, fiquei intrigado no momento em que a vi — isso certamente aliviaria o fardo de um casamento tão indesejado. Apenas esperava que sua personalidade não fosse inferior à sua aparência.

Atrás de mim, a porta que dava para a praia se abriu e fechou rapidamente, e fui presenteado com a visão de Beatrice pisando na areia com determinação, completamente inconsciente da minha presença. Meus olhos seguiram suas costas nuas, o balanço de seus quadris, e desceram por suas pernas enquanto seus pés afundavam na areia macia. Sentar-me à sombra não parecia mais tão pacífico.

— Já se divertindo com sua esposa? — Fukui apareceu atrás de mim, colocando dois copos de uísque na mesa. Revirei os olhos quando meu irmão puxou a cadeira oposta, obstruindo minha visão de Beatrice, agora estendida de costas, tomando sol.

— Ainda não somos casados.

Mas seríamos em breve, muito mais cedo do que eu gostaria. Não havia como contornar isso; meu pai exigiu que nos casássemos dentro de um mês.

— Não deixe papai ouvir você falando assim. Ele provavelmente quer um bebê antes do final do ano — Fukui brincou, tomando um gole de sua bebida. Grunhi, movendo-me no assento e pegando o copo diante de mim. Segurei-o em minhas mãos, levando-o à boca e bebendo o álcool ardente de um só gole.

— Ele não pode ser ingênuo o suficiente para acreditar que teremos filhos em um ano, se é que teremos. Podemos nem gostar um do outro — resmunguei.

— E quem disse que você não vai se apaixonar? — Fukui respondeu, sorrindo, sem dúvida se divertindo com o pensamento de seu irmão de coração de pedra apaixonado por uma garota.

— Acredita mesmo nisso? — Olhei intensamente para ele. Meu irmão sorriu amarelo, incomodado.

— Bem, Beatrice não é uma mulher de sorte — o tom fortemente sarcástico de Fukui me fez rir. O som da porta abrindo e fechando mais uma vez chamou nossa atenção. — Cuidado, Nitta está à espreita.

Fiel às palavras de Fukui, o mais novo do trio Morunaga estava agora passeando pela praia em direção a Beatrice, um sorriso arrogante no rosto. Nitta estava sempre procurando confusão e, neste caso, eu não teria problemas em colocá-lo em seu lugar.

— Se você parasse de ficar tão frustrado, Nitta pararia de te provocar.

Não acreditei em uma palavra disso. Nitta nunca deixaria de causar estragos em minha vida; era apenas sua maneira de se divertir. Ele não teria Nitta perseguindo Beatrice enquanto ela fosse minha esposa, no entanto. Suspirando em frustração, procurei por mais uma bebida.

***

&BEATRICE&

Eu evitava ao máximo a família Morunaga enquanto me espalhava pela areia quente, um livro na mão. Vestia um biquíni negro e um xale amarelo, com óculos escuros protegendo meus olhos do sol. Meu cabelo ruivo estava trançado para trás, alguns cachos teimosamente soltos. Presa nesta pequena ilha com meu pai e minha futura família, eu não sabia mais o que fazer. Resentia-me profundamente por ter que fingir estar bem com toda essa situação.

Infelizmente, compartilhar uma casa com um bando de machos dominantes significava que a solidão era um luxo difícil de alcançar.

— Eu mal acredito que finalmente conhecerei a mulher sobre a qual meu pai tem falado sem parar nos últimos dois dias — disse uma voz, lançando uma sombra sobre mim. Levantei o olhar e vi o filho mais novo da família Morunaga se sentando ao meu lado, como se fôssemos amigos de longa data de férias juntos. Ele estava vestido de maneira muito mais apropriada agora, usando apenas um par de shorts, exibindo um sorriso malicioso. Suas tatuagens cobriam quase todo o peito e parte dos braços, contrastando com seu corpo pouco musculoso. — Ele geralmente não é um homem muito falador. Suspeito que estava tentando despertar o interesse do meu irmão.

Uma esperança tênue floresceu em meu peito com a possibilidade de que tudo isso pudesse ser evitado. Certamente, um homem tão poderoso quanto Ryuu Morunaga não se permitiria ser forçado a algo que não quisesse, certo? Sentei-me, apoiando as mãos atrás de mim, e olhei para Nitta com desconfiança.

Porque Nitta decidiu se juntar a mim, eu não sabia e não queria perguntar. Não quando havia informações muito mais urgentes para coletar. Talvez ele também estivesse com a tarefa de obter informações, mas eu não me importava. Não que os irmãos Morunaga não pudessem descobrir tudo o que quisessem de qualquer maneira, por meios muito mais persuasivos.

— Funcionou? — Perguntei, surpreendendo Nitta com meu súbito interesse.

Ele não respondeu de imediato, deitando-se de lado, seus olhos demorando mais do que o necessário em minhas pernas expostas antes de finalmente encontrar meu rosto. Bufei e revirei os olhos sob os óculos escuros.

Ou talvez ele fosse apenas um homem entediado procurando entretenimento. Estava ficando bastante claro para mim o quanto perigosa seria minha vida atrelada a essa família. O que era um tanto contraditório, visto a minha própria.

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