— Seu irmão está certo. Mostre um pouco mais de respeito pela noiva dele! — disse Gojou. Eu preferia que ele tivesse permanecido calado. Não precisava de um lembrete de que agora era a noiva de alguém da família Morunaga.
Meus olhos começaram a arder com a ameaça de lágrimas, mas não iria chorar. Repreendi-me silenciosamente e corri de volta para a cozinha para me recompor, usando o pretexto de pegar o vinho. Quando voltei, um silêncio incômodo pairava no ar. Pelas feições sombrias de Nitta, deduzi que palavras mais duras haviam sido trocadas na minha ausência. Toda essa situação era profundamente desconfortável. Eu entendia a necessidade de me familiarizar com Ryuu antes do casamento, mas não gostava nem um pouco daquilo.
— Então — disse eu, quebrando o silêncio assim que todos começaram a comer, sem direcionar a pergunta a ninguém em particular —, quando será o casamento?
— Não agora, Beatrice — repreendeu meu pai imediatamente.
Encolhi-me com o tom afiado de sua voz, um lembrete claro de que deveria me comportar e manter-me calada. Ao meu lado, Ryuu ficou tenso, seu ombro roçando no meu enquanto ele se ajustava na cadeira. Senti um desejo incontrolável de me afastar, criar uma distância segura entre nós. Estar tão próxima a ele me deixava inquieta. E ali, presa entre a irritação do meu pai e a presença intimidadora de Ryuu, não havia como escapar da mesa. Ou sequer da casa. Talvez deixar as baleias me devorarem fosse uma opção melhor.
Respirei fundo, sustentando o olhar duro de meu pai, enfrentando sua irritação sem vacilar.
— Por que não? — insisti, com firmeza. — Prefiro saber os detalhes mais cedo para me preparar.
Fixei meu pai com um olhar desafiador, ciente de que todos os olhares estavam sobre mim. Não me importava se causava uma cena; ele me empurrou para essa situação, então deveria lidar com as consequências.
Mas antes que meu pai pudesse responder, o homem taciturno ao meu lado, falou:
— Preparar?
Não desviei o olhar de meu pai. Era extremamente rude, e eu sabia que meu avô me repreenderia mais tarde, mas meu pai certamente estava escondendo algo. Ele precisava entender quão furiosa eu estava. Nunca fui uma filha quieta e mansa, mas nunca confrontara meu pai com tanta raiva.
— Acabei de descobrir que vou me casar contra minha vontade — continuei, minha voz carregada de indignação. — Precisarei de tempo para processar isso. Sem mencionar que, presumo, teremos que fingir que foi um acordo e não um casamento forçado. Devemos aparentar ser um casal apaixonado?
— Boa sorte com isso. Ryuu nem tem coração — zombou Nitta. Embora irritante, pelo menos aliviou um pouco a tensão.
— Talvez se você passasse mais tempo trabalhando como Ryuu e menos tempo flertando, ganharia mais respeito — resmungou Fukui.
— Respeito? Acha que ele recebe algum respeito? — respondeu Nitta com um tom irônico e ligeiramente irritado.
— Bom, é o que menos você recebe — rebateu Fukui, e sua voz carregava uma nota de desprezo.
Nitta encarou o irmão, e seu sorriso desapareceu, tornando-se uma linha sombria e tensa. Fukui, satisfeito, tomou um gole de sua bebida antes de se voltar para o pai:
— Beatrice está certa. Os dois vão precisar se acostumar um com o outro, a menos que você queira que as pessoas comecem a comentar — disse ele, acenando na nossa direção.
— Tenho certeza de que Beatrice e Ryuu sabem se comportar adequadamente em público — respondeu Gojou ao segundo filho, chamando minha atenção. — Tenho fé de que tudo correrá bem.
Havia uma ameaça velada nas palavras de Gojou, e eu senti o peso delas.
— O casamento será realizado aqui, apenas a família imediata ficará nas outras casas da ilha.
— Aqui? — ofeguei, soltando os talheres. Uma onda de tontura me envolveu. Meu pai tinha planejado duas semanas na ilha, e isso significava…
— Oito dias — confirmou Gojou, com uma centelha de humor no olhar ao observar minha reação.
— Pois bem — murmurei, engolindo a raiva, sem saber como responder sem me levantar e gritar com meu pai.
Terminei rapidamente minha refeição, sem voltar a falar, ouvindo as provocações entre Fukui e Nitta e a conversa educada entre meu pai, avô e Gojou. Pareciam já uma família feliz e organizada, e, claro, ninguém se importava com minha opinião sobre o assunto. Eu sentia o olhar de Ryuu sobre mim, mas não podia encará-lo, com medo de que ele visse as lágrimas que ameaçavam cair dos meus olhos. Em vez disso, mantive a cabeça baixa até limpar o prato.
Assim que terminei, pedi licença, sem esperar uma confirmação dos outros à mesa. Minha voz saiu fraca, quase submissa, e odiei isso. Meu avô me lançou um sorriso reconfortante do outro lado da mesa. Percebi os olhares curiosos dos dois irmãos mais novos.
— Nos vemos de manhã. Aproveite seu descanso — disse meu avô, em tom amável.
Eu só queria desaparecer.
&RYUU&Eu estava alheio à conversa ao meu redor. Todos, exceto minha futura esposa, tinham se reunido no salão para beber antes de se retirarem para seus quartos. Mas conversar não me atraía.Beatrice ficou retraída durante o jantar, e eu sabia que a culpa era da pressa com que tudo estava acontecendo. Eu podia entender seu medo ao se casar comigo. Não era justo esperar que ela aceitasse uma mudança tão drástica e rápida em sua vida. Não era algo pessoal, e eu não deveria me ofender com sua relutância. Qualquer um sentiria o mesmo, independentemente de quem fosse se casar. Claro que ela estava assustada.Eu também precisava aceitar a perspectiva do casamento. Nunca havia considerado isso antes e, com certeza, não queria pensar nisso agora.Uma dor aguda na nuca me trouxe de volta dos meus pensamentos. Virei-me irritado para encarar o agressor, mas minha expressão esfriou ao perceber que era meu pai.— Estávamos falando com você — resmungou ele.— Papai estava dizendo que você precisa
Esperei em silêncio, torcendo para que ele me dirigisse um olhar ou tentasse puxar conversa, mas isso não aconteceu. Lutei contra a vontade de fechar aquele maldito notebook e jogá-lo pela janela, direto na água lá fora.Observei-o com atenção, analisando cada detalhe: o formato da mandíbula, os lábios finos, a cor penetrante dos olhos, a força do olhar. Seus braços eram musculosos, decorados por tatuagens de dragões que serpenteavam até a camisa bem ajustada ao peito. Não podia negar que ele era bonito, especialmente com aqueles óculos de aro grosso. Não parecia nada com um mafioso. Um leve sorriso ameaçou escapar dos meus lábios, mas balancei a cabeça vigorosamente, tentando afastar pensamentos indecorosos.— Então… — Quebrei o silêncio, estalando a língua em frustração quando Ryuu continuou a trabalhar. — Entendo vagamente por que seu pai pode pressionar por este casamento, mas por que você concordou?Finalmente, Ryuu ergueu os olhos para mim, desviando-se do notebook. Recostou-se
&RYUU&Depois da conversa com Beatrice, concentrei-me no trabalho, mas ela não saía da minha cabeça. Por mais que meu pai e Giorgio me alertassem, eu parecia incapaz de fazer qualquer coisa além de irritá-la, como um garoto provocando sua paixão no pátio da escola. Mas o que sentia por Beatrice não era exatamente afeto.Suspirei profundamente, afastando o notebook e apertando a ponta do nariz na tentativa de aliviar uma dor de cabeça que se aproximava. Ainda tinha muito trabalho a fazer, mas o casamento iminente ocupava todos os meus pensamentos, dificultando a concentração.— Você simplesmente não consegue evitar, não é? — A voz de Nitta quebrou o silêncio, e eu mal contive um gemido. Lancei um olhar irritado para meu irmão, mas isso não o impediu de entrar na sala com aquele sorriso presunçoso no rosto. — Deveria ter ouvido, Ryuu. Ela te chamou de idiota para o avô dela. O que você fez para irritá-la tanto? Você tem sorte que fui eu que ouvi isso, e não o papai.— Isso não tem graça
Durante toda a semana, engoli minha raiva. Mantive-me educada com meu avô, Gojou e os outros homens Morunaga, enquanto sufocava as lágrimas que ameaçavam cair a cada segundo. A fúria que meu pai pensava sentir não era nada comparada ao tumulto que fervia dentro de mim. Ele estava sofrendo agora por causa dos próprios erros. Um homem que cometera tantos enganos e este não seria o último. Eu estava sofrendo por culpa dele, e isso não esqueceria.Durante dias, estive à mercê de outros, obrigada a obedecer a esses homens, temendo ofender os Morunaga e enfrentar as consequências de sua ira inevitável, como meu avô sempre lembrava. Sem uma palavra ou mesmo um olhar para meu pai, passei por ele e me dirigi à praia, onde risos altos e uma música distante ecoavam. Meu coração acelerou a cada passo, rezando para que minha tia e meus primos tivessem chegado. Precisava do apoio deles mais do que nunca. Sabia que meu avô me amava, mas sua lealdade estava com meu noivo. Se queria alguém ao meu lado
&Beatrice&Dario, o segundo mais velho, sempre fora mais reservado do que os outros irmãos Carbone, e por isso, eu me sentia menos à vontade com ele. No entanto, hoje, sua presença era um alívio. Anton e Lex, com dezenove e dezessete anos, respectivamente, eram mais irmãos para mim do que os dois mais velhos.— Prazer em finalmente conhecê-lo — disse Ryuu, estendendo a mão para Bion. Notei a expressão cansada no rosto do meu noivo, como se estar entre a minha família exigisse mais dele do que podia suportar.Bion apertou a mão de Ryuu com firmeza, respondendo apenas com um grunhido baixo de desaprovação. Era impressionante como Bion conseguia soar desrespeitoso sem dizer uma palavra. Para minha surpresa, Ryuu não reagiu. Ele apenas segurou minha mão e inclinou-se, provocando um arrepio com a possibilidade de seus lábios se aproximarem demais.— Vou deixá-la com sua família — sussurrou Ryuu em meu ouvido, sem maiores explicações, deixando-me entre aliviada e confusa. Não fazia sentido
&Ryuu&O casamento com Beatrice prometia ser mais interessante do que eu jamais poderia imaginar. Havia algo na sua presença que me fazia querer sempre estar alerta, atento para não despertar sua ira silenciosa quando estivéssemos a sós.— Você teve sorte lá fora — comentou um dos meus primos, cambaleando até mim com a bebida quase transbordando do copo. Ele soltou um assobio baixo enquanto seus olhos percorriam a praia até Beatrice, que exibia suas pernas e a curva graciosa das costas naquele vestido.Eu não me preocupei em esconder meu desagrado, mantendo o olhar fixo na minha futura esposa.— Ela é bonita, a neta dos Carbone. Como conseguiu isso? Tenho vontade de disputar sua atenção com você.Desviei os olhos de Beatrice por um instante para fitar meu primo com frieza. Sua súbita inquietação me deu vontade de rir; ele sempre fora um covarde, sem posição ou reputação. Bastava um olhar mais firme para que recuasse, parecendo um rato assustado.— Cuidado — zombou Nitta, surgindo com
&Ryuu& Grunhi, lançando um olhar severo para meus irmãos. Senti Beatrice enrijecer em meus braços, e minha expressão endureceu ainda mais quando percebi que ela evitava olhar para eles.— Por que vocês dois não deixam meu casamento em paz? — minha voz saiu calma e medida, mas a raiva era inconfundível. — Estão começando a esquecer quem está no comando. Só porque estou me casando, parece que minha família inteira acha que pode me desrespeitar.Meus irmãos rapidamente ficaram sérios, e até Beatrice pareceu desconfortável com a mudança súbita na atmosfera. Ela se mexeu no meu colo, e a deixei ir.— Vocês precisam se preparar para o jantar. A comida será servida em breve — disse Beatrice, suas palavras mal passando de um sussurro, enquanto me lançava um olhar cauteloso. Não a encarei; meu foco estava inteiramente em meus irmãos, agora calados e sombrios.Beatrice não hesitou e saiu da sala tão silenciosamente quanto entrou, deixando-nos com o peso da tensão no ar.***&Beatrice&Em pouco
&Beatrice&As mesas estavam começando a esvaziar quando ouvi uma voz arrastada de um dos primos dos Morunaga. A noite já havia se estendido o suficiente para que muitos copos, inclusive o meu, estivessem vazios. Eu não costumava beber, mas a ocasião era uma exceção e o vinho estava suavemente embriagador.— Então, Beatrice — começou ele, a voz embriagada e o olhar carregado de curiosidade. — O que uma jovem tão encantadora está fazendo com um recluso como este homem?Reconheci-o como um dos primos com quem Ryuu e seus irmãos haviam se embriagado, mas ainda não havia sido apresentada formalmente. Mantendo um sorriso cordial e desafiador, respondi com frieza:— Você não acha que seu primo é um bom partido?Estendi a mão até a que Ryuu repousava sobre a mesa e a apertei, inclinando-me para mais perto dele. Continuei, com um tom que era tanto provocador quanto educado:— Prefiro a companhia de homens bem-educados a figuras mais extravagantes.O sorriso que dirigi a Ryuu foi um misto de do