Capítulo 6 - Beatrice

— Seu irmão está certo. Mostre um pouco mais de respeito pela noiva dele! — disse Gojou. Eu preferia que ele tivesse permanecido calado. Não precisava de um lembrete de que agora era a noiva de alguém da família Morunaga.

Meus olhos começaram a arder com a ameaça de lágrimas, mas não iria chorar. Repreendi-me silenciosamente e corri de volta para a cozinha para me recompor, usando o pretexto de pegar o vinho. Quando voltei, um silêncio incômodo pairava no ar. Pelas feições sombrias de Nitta, deduzi que palavras mais duras haviam sido trocadas na minha ausência. Toda essa situação era profundamente desconfortável. Eu entendia a necessidade de me familiarizar com Ryuu antes do casamento, mas não gostava nem um pouco daquilo.

— Então — disse eu, quebrando o silêncio assim que todos começaram a comer, sem direcionar a pergunta a ninguém em particular —, quando será o casamento?

— Não agora, Beatrice — repreendeu meu pai imediatamente.

Encolhi-me com o tom afiado de sua voz, um lembrete claro de que deveria me comportar e manter-me calada. Ao meu lado, Ryuu ficou tenso, seu ombro roçando no meu enquanto ele se ajustava na cadeira. Senti um desejo incontrolável de me afastar, criar uma distância segura entre nós. Estar tão próxima a ele me deixava inquieta. E ali, presa entre a irritação do meu pai e a presença intimidadora de Ryuu, não havia como escapar da mesa. Ou sequer da casa. Talvez deixar as baleias me devorarem fosse uma opção melhor.

Respirei fundo, sustentando o olhar duro de meu pai, enfrentando sua irritação sem vacilar.

— Por que não? — insisti, com firmeza. — Prefiro saber os detalhes mais cedo para me preparar.

Fixei meu pai com um olhar desafiador, ciente de que todos os olhares estavam sobre mim. Não me importava se causava uma cena; ele me empurrou para essa situação, então deveria lidar com as consequências.

Mas antes que meu pai pudesse responder, o homem taciturno ao meu lado, falou:

— Preparar?

Não desviei o olhar de meu pai. Era extremamente rude, e eu sabia que meu avô me repreenderia mais tarde, mas meu pai certamente estava escondendo algo. Ele precisava entender quão furiosa eu estava. Nunca fui uma filha quieta e mansa, mas nunca confrontara meu pai com tanta raiva.

— Acabei de descobrir que vou me casar contra minha vontade — continuei, minha voz carregada de indignação. — Precisarei de tempo para processar isso. Sem mencionar que, presumo, teremos que fingir que foi um acordo e não um casamento forçado. Devemos aparentar ser um casal apaixonado?

— Boa sorte com isso. Ryuu nem tem coração — zombou Nitta. Embora irritante, pelo menos aliviou um pouco a tensão.

— Talvez se você passasse mais tempo trabalhando como Ryuu e menos tempo flertando, ganharia mais respeito — resmungou Fukui.

— Respeito? Acha que ele recebe algum respeito? — respondeu Nitta com um tom irônico e ligeiramente irritado.

— Bom, é o que menos você recebe — rebateu Fukui, e sua voz carregava uma nota de desprezo.

Nitta encarou o irmão, e seu sorriso desapareceu, tornando-se uma linha sombria e tensa. Fukui, satisfeito, tomou um gole de sua bebida antes de se voltar para o pai: 

— Beatrice está certa. Os dois vão precisar se acostumar um com o outro, a menos que você queira que as pessoas comecem a comentar — disse ele, acenando na nossa direção.

— Tenho certeza de que Beatrice e Ryuu sabem se comportar adequadamente em público — respondeu Gojou ao segundo filho, chamando minha atenção. — Tenho fé de que tudo correrá bem. 

Havia uma ameaça velada nas palavras de Gojou, e eu senti o peso delas.

— O casamento será realizado aqui, apenas a família imediata ficará nas outras casas da ilha.

— Aqui? — ofeguei, soltando os talheres. Uma onda de tontura me envolveu. Meu pai tinha planejado duas semanas na ilha, e isso significava

— Oito dias — confirmou Gojou, com uma centelha de humor no olhar ao observar minha reação.

— Pois bem — murmurei, engolindo a raiva, sem saber como responder sem me levantar e gritar com meu pai.

Terminei rapidamente minha refeição, sem voltar a falar, ouvindo as provocações entre Fukui e Nitta e a conversa educada entre meu pai, avô e Gojou. Pareciam já uma família feliz e organizada, e, claro, ninguém se importava com minha opinião sobre o assunto. Eu sentia o olhar de Ryuu sobre mim, mas não podia encará-lo, com medo de que ele visse as lágrimas que ameaçavam cair dos meus olhos. Em vez disso, mantive a cabeça baixa até limpar o prato.

Assim que terminei, pedi licença, sem esperar uma confirmação dos outros à mesa. Minha voz saiu fraca, quase submissa, e odiei isso. Meu avô me lançou um sorriso reconfortante do outro lado da mesa. Percebi os olhares curiosos dos dois irmãos mais novos.

— Nos vemos de manhã. Aproveite seu descanso — disse meu avô, em tom amável.

Eu só queria desaparecer.

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