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Entre balas e o cotidiano
Entre balas e o cotidiano
Por: Kathia Mist
O Encontro com o Perigo

Minha rotina era simples. Acordar cedo, pegar o mesmo ônibus lotado, sorrir para clientes mal-humorados e repetir o processo no dia seguinte. Eu nunca esperei que minha vida mudasse drasticamente em uma noite qualquer, muito menos que uma simples maleta jogada no lugar errado pudesse virar meu mundo de ponta-cabeça.

Era tarde quando saí do supermercado. Meu turno se estendeu por tempo demais, como sempre acontecia quando o gerente resolvia me sobrecarregar. Caminhei para casa com os fones de ouvido e os pensamentos vagando entre o que faria para jantar e o quanto desejava um banho quente. A rua estava deserta, apenas alguns postes piscando intermitentemente iluminavam o caminho. Foi quando tropecei.

Olhei para baixo, confusa. Algo duro havia esbarrado no meu pé. A luz fraca revelou uma maleta preta, aparentemente intacta, de couro reluzente. Não havia ninguém por perto. Ela estava ali, como se tivesse sido esquecida por alguém com muita pressa.

Meu coração disparou com uma mistura de excitação e receio. Eu devia ignorar e seguir em frente. Era o certo a se fazer. Mas alguma coisa me impediu. Curiosidade? Talvez. Ou talvez fosse apenas uma necessidade infantil de quebrar a monotonia da minha existência. Engoli em seco antes de me agachar e puxar o fecho da maleta.

O clique ecoou pelo beco silencioso.

Dentro, pilhas e pilhas de dinheiro estavam organizadas com perfeição. Notas de cem e cinquenta, agrupadas de forma meticulosa, ao lado de envelopes lacrados. Meu olhar se fixou em um celular descartável de modelo antigo, jogado entre os maços de notas, como se estivesse ali para ser usado apenas uma vez. Entre os documentos, pastas grossas com papéis cobertos por anotações codificadas e nomes que eu não reconhecia. Alguns tinham fotos anexadas, homens de terno e olhar severo, e o que parecia ser um relatório detalhado de suas rotinas.

Meus dedos tremeram ao folhear rapidamente o conteúdo. Isso não era normal. Isso não era de uma pessoa comum. Era como se eu tivesse aberto um portal para um mundo que nunca deveria ter conhecido. Um mundo perigoso. Um mundo onde segredos valiam mais do que vidas.

Foi quando percebi.

Eu estava sendo observada.

Um arrepio gelado percorreu minha espinha antes mesmo de ouvir o primeiro som de passos ecoando pelo beco. Levantei a cabeça rápida demais e me vi cercada por três homens. O que estava no centro tinha uma postura tensa, um olhar que imediatamente me disse que eu havia cometido um erro grave.

— A maleta. — A voz do homem era firme, sem pressa, como se já tivesse decidido o que fazer comigo.

Meu estômago revirou. Eu sabia que correr não era uma opção. O suor frio se acumulava na minha testa quando levantei as mãos em um gesto de rendição.

— Eu... Eu só encontrei aqui. Não peguei nada! — Minha voz saiu fraca, mas sincera.

O homem não pareceu convencido. Deu um passo à frente, e eu automaticamente dei um para trás. O metal de uma arma brilhou na luz fraca do poste. Meu coração batia tão rápido que parecia que eu iria desmaiar ali mesmo.

— Você abriu, não foi?

Engoli em seco. Mentir não ia me salvar.

— Eu não vi nada! Só dinheiro... Eu não vou contar para ninguém, eu juro!

O homem trocou um olhar com os outros dois. Algo foi decidido sem palavras, porque antes que eu pudesse piscar, senti as mãos fortes de um deles segurando meu braço e me puxando para longe do beco. Um grito se formou na minha garganta, mas morri de medo de soltá-lo.

Eu não sabia quem eram, mas sabia o suficiente para ter certeza de que minha vida estava em risco.

Me jogaram dentro de um carro preto, e o homem que havia falado comigo entrou no banco do passageiro. O motor roncou, e logo eu estava sendo levada para longe do único mundo que conhecia.

**

Não sei quanto tempo passou antes do carro parar. Meus nervos estavam em frangalhos quando as portas foram abertas e fui puxada para fora. Um prédio discreto, sem placas, mas com uma presença intimidadora, ergueu-se à minha frente. Me arrastaram para dentro sem cerimônia, me jogando em uma sala mal iluminada com uma única poltrona de couro no centro.

E foi então que ele apareceu.

Dante Vasquez.

Ele entrou na sala com a presença de um rei em seu próprio castelo. Alto, com um porte imponente, vestindo um paletó bem ajustado que denunciava poder. Mas não era a roupa que o fazia ameaçador. Era o olhar. Intenso, calculista, letal.

Ele caminhou até a poltrona e sentou-se com calma, como se já estivesse acostumado a decidir o destino de pessoas em sua posição.

— Seu nome.

— C-Clara. — Minha voz falhou, mas consegui responder.

Ele tamborilou os dedos na lateral da poltrona, me analisando com um interesse que não soube decifrar de imediato. Então, um sorriso lento se formou em seus lábios.

— Me disseram que você abriu a minha maleta.

Senti minha garganta secar.

— Não queria causar problemas... Eu só...

— Mas causou. — Ele me interrompeu, ainda sorrindo. — E agora preciso decidir o que fazer com você.

O silêncio que seguiu foi ensurdecedor. O peso de sua presença me esmagava, mas foi ali, naquele instante, que algo clicou dentro de mim.

Se eu demonstrasse fraqueza, estaria morta.

Então, fiz a única coisa que poderia me salvar: mantive a compostura, ergui o queixo e joguei com a única vantagem que tinha.

Minha ingenuidade.

— Eu posso ser mais útil viva do que morta.

Ele arqueou uma sobrancelha, como se estivesse intrigado.

E assim, sem saber, eu havia acabado de entrar no mundo de Dante Vasquez.

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