Rachaduras Silenciosas

O celular vibrou sobre a mesa enquanto eu terminava de organizar as roupinhas de Yves na cômoda. Era sábado, fim de tarde, e o apartamento estava envolto naquele silêncio raro que só se instalava quando o bebê dormia profundamente.

Olhei a tela.

[18:37] Milles: “Posso te ligar daqui a pouco?”

Fazia dias desde a última mensagem. Curtas, sempre. Objetivas. Quase como se ele tentasse manter uma presença mínima, sem se envolver demais.

[18:38] Marina: “Claro. Yves acabou de dormir.”

Esperei com o celular na mão por longos minutos. Caminhei pela sala, dei uma ajeitada no tapete, conferi pela terceira vez se a mamadeira da madrugada já estava pronta. E quando finalmente o aparelho tocou, o som me fez pular.

— Oi — atendi, tentando soar natural.

— Oi, Ma. Tá tudo bem por aí?

A voz dele vinha limpa, como se estivesse num ambiente calmo. Sem ruídos, sem pressa. Havia algo estranho ali — uma leveza que não combinava com a
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