Café à Meia Luz

O céu estava alaranjado quando desci do ônibus. O dia tinha sido pesado — não de tragédias, mas de acúmulos. Trabalho, planilhas, fraldas esquecidas na bolsa, e uma dor leve nas costas que vinha me acompanhando como uma velha amiga mal-humorada.

Mas naquele instante, tudo isso parecia dissolver um pouco com o vento fresco da noite.

Caminhei até a confeitaria com passos lentos, quase cuidadosos. Como se o momento precisasse ser protegido de mim mesma. O sino tocou quando entrei, e, por reflexo, meus olhos buscaram a mesa do canto.

Ele já estava lá.

Lorenzo.

Camisa preta, mangas dobradas até os antebraços, o cabelo solto, caindo um pouco sobre o rosto. Estava com os dedos entrelaçados ao redor da xícara de café, o olhar perdido pela janela — mas não distante. Era um olhar de quem está onde quer estar.

E por algum motivo, aquilo me tocou mais do que eu esperava.

— Achei que eu fosse chegar antes — murmurei, me aproximando.<
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