Quando a cidade dorme

A cidade muda quando dorme.

As buzinas somem, as luzes perdem a pressa, e até o vento parece andar mais devagar. É como se o mundo segurasse a respiração, só por algumas horas, pra dar espaço ao que não consegue existir durante o dia.

Era quase duas da manhã quando me levantei da cama sem pensar. O quarto estava mergulhado naquela escuridão azulada que antecede o amanhecer, e Yves dormia com o punho fechado sobre o rosto, em paz. Tudo nele era calmo, macio, inteiro. Um mundo que dependia do meu.

Mas naquela madrugada... meu mundo tinha outras vozes.

Fui até a cozinha no escuro. Não acendi nenhuma luz. Apenas deixei a claridade da rua filtrar pelas frestas da janela. A cidade lá fora parecia me observar — atenta, silenciosa, cúmplice.

Abri a geladeira, bebi um gole de água e encarei meu próprio reflexo no vidro da porta. Era eu, mas... não só eu. Os olhos estavam mais fundos, mais vivos. Como se outra versão minha tivesse acordado junto.

Sara.

Ela não precisava dizer nada. Eu a
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