Repreendo a mim mesma e simplesmente ignoro o fato de ter pensado nas luas de Illinea. As entidades mágicas, pilares de um reino que já não faço parte. Deveria ter parado de fazer preces a elas há seis anos.
A carruagem. A torre. A morte. Um carro guiado por cavalos carregando seu soberano, uma torre única de pedras desmoronando e levando junto os moradores e um ser cadavérico ceifando com sua foice afiada a vida dos que o cercam.
— Três dos arcanos maiores que representam uma mudança drástica. – A mulher suspira de pesar. — Detesto a torre.
A lembrança do calabouço do castelo, da cela pequena, escura e suja em que fiquei presa por dois séculos, antes da rainha decidir me levar a julgamento arrepia todos os pelinhos presentes em meu corpo, gelando a alma e somando mais duzentos anos aos meus quatrocentos. Foi nessa época que parei de contar, mas os anos passaram igual. Abaixo os olhos para o baralho revelado. Péssimo!
— Você amava o seu lar, mas foi obrigada a deixa-lo como consequência dos atos imprudentes e precipitados. Os sentimentos a controlando desde sempre, verdade? Ilusões e mais ilusões e então, a queda brusca. – Sou tomada pelas palavras da cartomante, dolorosas e frias, chegam a ser cruéis em certo ponto, um ponto que ela não tem o dever de saber que é o meu limite. Permito que prossiga me olhando, enquanto fala o meu destino desastroso: — A carta da morte te aconselha a superar o passado e aceitar as mudanças, se abrir para o novo horizonte que está diante de você, mesmo que doa. Quando nos permitimos queimar pelos nossos pecados é preciso renascer das cinzas.
— Ninguém aprecia sair da sua zona de conforto. – Forço um sorriso e praguejo pelos cantos dos lábios que estremecem, demonstrando o quanto estou nervosa e ansiosa com tudo aquilo. Deveria ter ido embora, deveria estar em casa, confortável e cega sobre o que me espera. Mas, por que não cutucar o futuro e fazê-lo se revelar para atormentar meus pesadelos? Genial, Amara!
O olhar vago da cartomante – longe e perdido, onde quer que esteja – ganha foco e ela sorri de volta. Um lampejo triste banha as pupilas negras dilatadas e profundas. As pálpebras úmidas e acumulando gotinhas salgadas, uma delas escorre pelas maçãs do rosto e aquelas pupilas agarram as minhas com uma força sobrenatural, invisível e intensa. Aquilo é magia, magia de verdade, do tipo que eu não vejo há anos, desde que perdi a minha.
Desde que a arrancaram de mim. Seus olhos pairam de novo sobre o pingente em meu pescoço e sobem aos meus.
— Sinto muito pela sua perda, Amara.
Engulo a pena dela e o bolo arranha a garganta, batendo fundo no estômago. É o suficiente. Aquela frase desperta cada nervo sob a pele e uma corrente elétrica os percorre, sendo incômoda nas costas, ardendo nas cicatrizes como um leve formigamento. Desencosto da cadeira e os músculos reclamam os movimentos. Um lembrete da dor e do sofrimento do dia em que cortaram minhas asas e roubaram minha magia. Minha essência feérica se fora há anos e ainda dói. Dói não, lateja nas finas linhas entre as omoplatas.
Sinto o sangue gelar e a sensação de que algo está errado nos arredores inunda meu cérebro, ativando um tipo de alerta que ecoa cada vez mais alto e somente eu posso escutá-lo. Como uma esponja, meu interior suga a energia negativa fluindo de uma das ruas ao redor da praça, afogando cada gota de positividade e calma.
— Não me lembro de ter mencionado meu nome. – Digo e a bruxa seca a lágrima solitária rapidamente, mandando o resto delas embora. Mais um sorriso.
— O que você chama de intuição, alguns chamam de magia. – Ela arruma as cartas em um monte só e as deixa ao lado da vela branca queimando.
Insuportável. A dor nas cicatrizes feito pontadas de facas as abrindo novamente.
— E do que você chama? – Pergunto correndo os olhos pela praça, a procura do que desencadeou as dores, a aflição e a negatividade.
— Trabalho. – A resposta soa divertida, mesmo por cima da minha desconfiança momentânea e dos últimos minutos constrangedores. A cartomante vira mais do meu passado que eu pretendia, mais do que ela mesma achava necessário para esclarecer o futuro e interpretar o tarô. Ela sabia que pessoas importantes morreram, que eu fui responsável pela morte delas e por isso sentira muito. Minha mão é pega pelos dedos dela e eles começam a passear pelas linhas da palma.
Avisto o motivo das energias ruins que me atingem, perseguindo um garoto desatento e perdido no próprio mundo com seus fones de ouvidos e moletom. Por um instante, imagino se aquelas roupas são adequadas para um fim de tarde quente, mas logo retomo ao ponto principal. Ele é seguido por uma coisa má. Muito ruim.
Volto-me para a cartomante e sorrio puxando a mão sem parecer rude.
— Desculpe, preciso ir. – Falo procurando algumas notas dentro da bolsa que pagariam o serviço dela. As entrego e recebo um gesto de negação.
— Não precisa. Considere como um presente, por ter me ajudado antes. – Ela dá a volta na mesa e estica a mão para mim. — A propósito, sou Freya.
— Obrigada, Freya. – Agradeço a gentileza ao apertar sua mão calejada.
— Até breve, Amara.
Dou as costas e contenho a pressa em correr até estar longe o bastante para me embrenhar na multidão longe das mesinhas. Acelero os passos para atravessar a rua e os toldos cobrem a luz do sol nas calçadas estreitas dos bares que começam a encher como início da noite. Mantenho os olhos no garoto e na mulher que o persegue, alta e loira dentro de um vestido de paetê dourado e curto demais. As botas pretas e altas dela sobem contornando as penas torneadas deixando-a mais alta do que realmente é.
Ele é conduzido para um beco um pouco distante de onde eu estava três minutos atrás, mal iluminado e úmido com algumas latas de lixo na porta dos fundos de algum bar. O cheiro de bebida velha, restos de comida, cigarro e urina me atingem e franzo o nariz repudiando o odor horrível. Apoiada contra a parede, espio a situação para entender do que se trata. As pontadas e o formigamento ainda fortes me dizem que estou no lugar certo, mas que nada de bom sairá dali se não a impedir.
A garota tem um rosto bonito e sexy o suficiente para encantá-lo. Jovem demais para uma mulher adulta e experiente demais para uma adolescente rebelde qualquer. Ela o apoia nas lixeiras e meu estômago enjoa com a sequência de beijos quentes e mãos bobas.
Eu ainda tento entender o porquê das malditas pontadas quando aquilo se parece mais como dois adolescentes se pegando em um beco qualquer depois de encherem a cara de bebida barata e outros narcóticos. Até que vejo. Vejo os dentes afiados como presas saírem das gengivas quando a garota aproxima o pulso dele dos lábios, camuflando sua verdadeira intenção com os beijos sedutores e lotados do veneno que atordoa a mente humana e amortece o tecido nervoso para que suas vítimas não sintam a dor da mordida e do sangue deixando as veias.
— Eu não faria isso se fosse você. – Interfiro à vista deles com passos cautelosos. Ela é uma vampira e eu uma fada sem magia.
Estúpida ou estúpida por enfrentar um ser como ela sem ter meios de defesa?
A vampira apenas me encara por alguns segundos antes de enfiar as presas no pulso do garoto anestesiado. Seus olhos presos em mim, desafiadores e inconsequentes. Ela solta o braço dele depois de beber o que julgou necessário para me afrontar e se coloca a frente dele.
— Ops! Eu já fiz. – Desdenha mostrando os dentes avermelhados. O liquido espesso e escarlate escorre do queixo e pinga no chão. — E agora vou fazer com você.
Em uma rajada de vento e perfume doce, a loira fica a menos de dois centímetros de distância e sua respiração aquece o espaço entre minha clavícula e orelha. Meus músculos se tencionam e praguejo por meu coração acelerar para atiçar mais a vampira a me morder como fez com o garoto inocente. Ela me fareja, franze o nariz e se afasta.
— Você não é humana. – Constata passando os olhos sobre mim com certa repulsa. Permaneço com a cabeça erguida, um pouco arrogante demais para aquele momento, talvez, eu deva ser mais cautelosa e menos imprudente. Mais uma farejada e em outra rajada de vento ela corre para longe de mim e do mortal ainda hipnotizado pelo veneno. Em posição de alerta, ela conclui: — Feérica. Não preciso atrair problemas para o meu clã, principalmente com o seu povo!
— Então sugiro que pare de fazer deles sua geladeira ambulante. – Retruco ficando entre ela e o garoto preparada para qualquer reviravolta que ocorra caso essa conversa civilizada evolua para uma briga feia e sangrenta, na qual eu perderia por motivos óbvios. Mas, a vampira não precisa saber que sua oponente é uma fada que deveria estar morta e sem poderes e que a rainha mal sabe – ou sequer se importa – que sobrevivera.
— Porque vocês feéricos são sempre tão arrogantes com suas leis ridículas e as asinhas sem graça? – A loira resmunga com as mãos na cintura fina. O cabelo longo e liso tocando os dedos. — Elas realmente existem? Nunca vi nenhuma fada voando por aí. Por que vocês não ficam no seu reino, ao invés de virem bisbilhotar aqui?
— Asas são delicadas demais para serem expostas aos olhos alheios.
Como se eu ainda possuísse as minhas!
— É por isso que todos preferem as bruxas! – Ela revira os olhos e sorri sadicamente para a segunda pergunta dela que ignorei. — Elas não se acham superiores e cá entre nós, são bem mais divertidas.
Quando pisco, a vampira some junto com os últimos raios de sol daquele dia. Respiro fundo e noto que sequer respirei antes de ela ter partido. Minha tensão diminui e consigo mover minhas pernas em direção ao garoto. Os joelhos dele cedem e o seguro antes que ele caia como um saco de carne e ossos moles.
Seus dedos se fecham em meus braços, conseguindo o apoio que precisa para se manter em pé e encontro as grandes e brilhantes esmeraldas que são seus olhos. A luz do único poste ali pende sobre nossas cabeças reluzindo os fios dourados do cabelo bagunçado dele e sangue escorre da mordida no pulso, respingando em meus braços e sapatos.
Droga! Meus saltos favoritos!
— Você vai ficar bem. – Tento tranquilizá-lo. Seguro seu rosto com uma das mãos e o faço continuar me olhando. Tudo o que eu não preciso é que esse garoto desmaie bem aqui e agora. Preciso leva-lo para um lugar seguro antes que mais um vampiro apareça e decida acabar com ambos.
Nova Orleans é mais que uma cidade turística tomada pelo Jazz. É também o berço de muitas criaturas como eu. Banidas de suas casas ou não. Criaturas da noite que trazem o caos e o mal por onde passam e criaturas do dia, o que não exclui a possibilidade de serem somente dotadas de boas intenções como Freya. O mal está em todos os lugares e às vezes, se disfarça para conseguir o que quer e causar destruição.
— Temos que te tirar daqui. – O tom emergencial em minha voz o ajuda a se orientar novamente. Mas, para onde? Minha casa? Muito longe e ele precisa de cuidados agora. Um hospital? Não, teríamos que dar explicações que jamais convenceriam os médicos. Minha bolsa pende em meu braço e lembro das chaves da floricultura. — Consegue andar?
Um aceno de cabeça em concordância é tudo o que obtenho. Então, passo o braço dele por cima dos ombros e o meu ao redor dele. A loja fica a algumas quadras e estou torcendo para que ele aguente até lá.
— Mais um pouco, vamos! Estamos quase chegando! O peso dele sobre meu corpo pequeno está indo além do que posso aguentar por muito tempo. Se demorarmos mais um pouco nós dois desabaremos e então estaremos perdidos e cheios de explicações para dar. Nunca soube mentir, no máximo omitir alguns detalhes da verdade, detalhes como, por exemplo, a mordida humana no pulso de um garoto ter sido causada porque um dos amigos dele surtou e o atacou, após usarem drogas. Sério? É tudo que tem, Amara? Como explicaria aos médicos – ou a qualquer um – a quantidade significativa de sangue faltando no corpo dele? Quando finalmente chegamos na floricultura, o apoio contra o vidro quadrado da vitrine para procurar as chaves na bolsa, também manchada de vermelho. Eu o tinha limpado naquela manhã e cinco minutos depois já haviam palmas de mãos sujas que indicavam adornos, flores e vasos de clientes interessados. Alguns entraram e outros apenas almejaram receber flores ou poder com
Devolvo ambos os copos de cristal onde estavam antes, vou para as gavetas da mesa novamente tiro de lá um isqueiro. Abro a cristaleira para tirar de dentro um dos incensos de alecrim e arruda, o apoio no incensário estreito de madeira com pequenos sóis pintados em amarelo e o acendo. Assopro a singela chama na ponta do palito, ciente de que o mortal me observa. O aroma começa a purificar o ar quando guardo o isqueiro na gaveta. Antigamente, o acenderia com apenas um desejo de acendê-lo, um olhar, um pensamento e agora preciso de fogo de verdade, algo que crie as chamas para mim. — Eu senti você. – Apoio as mãos na mesa, inclinando o corpo um pouco para frente. — Na praça. Em um minuto tudo estava limpo e eufórico, mas para uma sexta a tarde é normal. No minuto seguinte foi como se todas as energias boas fossem sugadas de dentro de mim, uma esponja. Soube que havia algo errado quando vi uma vadia loira conduzindo um pobre garoto para um beco nojento o bastante para n
Jogo as chaves sobre o aparador assim que entro em casa. É estranho como qualquer lugar pode vir a ser o seu lar dependendo da situação em que nos encontramos. Seis anos atrás eu despenquei do reino das fadas e, supostamente, deveria ter morrido afogada. Por alguma razão desconhecida, eu sobrevivi e um homem de quase setenta anos, médico e gentil me encontrou flutuando dentro do lado em seu quintal. Ele decidiu que não me deixaria morrer ali. Os meses voaram desde então, imperceptíveis, anos vivendo e confiando em um mortal que, de certa forma, me tratava como um membro da família que não possuía. Sem esposa, sem filhos, sem parentes vivos para lhe fazer companhia, apenas a mim, a jovem estranha com cicatrizes nas costas e cabelo azul que nunca respondeu nenhuma das perguntas pessoais vindas dele. Encaro o quadro pregado na parede de pedras rústicas acima da lareira. A moldura de madeira marrom escura e grossa entorno da foto de um senhor sorridente de feições serena
Acordo incomodada. A raposa me observa sentada em minha barriga e me cutuca com a pata fofa entre os seios. Acorde! Parece dizer. Ela pisca os olhinhos marrons fixos aos meus e inclina levemente a cabecinha para o lado. Pisco para ela também, desnorteada com o despertar e ainda me sinto cansada, como se não tivesse dormido uma hora sequer essa noite. Talvez, não tenha dormido. Cortesia do pesadelo horrível que venho tendo há algumas noites. Jogo as cobertas de lado e coço entre as orelhas de Pandora, que acata o carinho abanando a ponta do rabo foto. Meus pés tocam o chão e mesmo por cima do tapete felpudo o frio irradia pelos dedos. Abro uma pequena fresta da cortina e está escuro lá fora. A floresta dorme profundamente e as nuvens pesadas ameaçam uma tempestade a qualquer minuto. Faço uma careta para o sol que se recusa a esquentar a terra e pela ideia de que preciso sair para trabalhar. Gosto do que faço, mas ninguém merece ter que sair da cama com esse tempo ins
— De jeito nenhum! – Ryan nega balançando a cabeça e a puxa pelo pulso para longe do enfeite. — Por favor, Ryan! Tem um ursinho! A mamãe adora ursinhos! – Ela implora e ele persiste na decisão lançando a ela um olhar amedrontador para uma criança tão pequena e inocente. — Não, Chloe. Você adora ursinhos. As lagrimas brotam nos cílios loiros dela e tenho vontade de abraça-la e confortá-la, de dizer que o irmão dela é um babaca de merda que não sabe como cuidar de uma criança. Porém, por outro lado, ele não tem o dever de saber como cuidar de uma criança se ele não é o pai dela. E, por um terceiro lado, talvez, ele seja obrigado a tomar conta da irmã, porque os próprios pais lavaram as mãos. Fico imaginando cenários para a vida deles e nenhum deles é bom. Ryan percebe que estou presa em pensamentos enquanto os encaro e engole em seco coçando a garganta em voz alta. — Quanto custa? – Pergunta desviando os olhos para qualquer lugar exceto os meus
Deslumbrante. Fico deslumbrante dentro do vestido de franjas finas e douradas, esvoaçantes até metade das minhas coxas. É quase obsceno e curto demais se o tema da festa não fosse os sete pecados capitais escondidos por trás das máscaras. Uma simulação da realidade na Terra, sinceramente. Afinal, todos temos dentro de nós, ao menos um desses pecados, se não mais de um. Sendo franca com meu reflexo no espelho, a luxúria me cai bem. Ajeito as alças finas acima das clavículas graciosamente ressaltadas e iluminadas com o brilho suave de um pó luminoso que passei nos ombros e colo. Meus olhos estão opacos em sombra dourada suave, enquanto o batom marrom queimado chama toda a atenção para meus lábios cheios e contornados. O rosado demarca as bochechas coradas e os cílios alongados as sombreiam, junto a algumas mechas do cabelo, que caem em ondas naturais nas têmporas e nas laterais para esconder as pontas das orelhas. O restante delas estão presas no topo
Mesmo com os pés reclamando dentro do salto alto, começo a caminhas sobre as estrelas que ainda permanecem no céu, em direção à praça Jackson, na esperança de ter algum táxi passando por lá a essa hora. São seis quadras, virando a segunda à direita e depois reto até o fim. A cidade dorme e as ruas estão solitárias, apenas um ou dois carros nos semáforos. Um terceiro parece diminuir a velocidade ao se aproximar e acompanhar meus passos. O vidro do Sedan preto se abaixa revelando a inveja. Ele sorri abaixando a visão para conseguir me ver. — Quer carona? – Pergunta e sigo andando. Sorrio negando com a cabeça, surpresa pela abordagem, mas não tanto assim. — Sabe, é perigoso para uma dama indefesa andar sozinha por essas bandas a essa hora. — Quem te disse que sou uma dama indefesa? – Retruco olhando para o horizonte, para o meu destino final e para a lua que paira nas nuvens entre a arquitetura velha e francesa dos cortiços. — O carro não é bom o bastan
Domingo são dias esquisitamente lentos para mim. Talvez, por que não trabalhe ou sequer saia de casa para alguma coisa. Na verdade, sequer saio da cama para qualquer coisa, apenas para comer e ir ao banheiro quando meu estômago ameaça me trucidar de fome ou minha bexiga ameaça estourar. Essa manhã não foi diferente. Acordo com Pandora enroscada no espaço entre a cintura e o braço, um ninho perfeito nos lençóis cheirando a amaciante. Ela ainda dorme e ronca baixinho pelo focinho quadrado, uma bolinha de água se forma em um dos orifícios e sorrio com o feito. São 12:30 segundo os ponteiros do relógio na cabeceira. Praguejo levando um dos travesseiros ao rosto e afundo nas plumas macias em um suspiro. Lembranças da noite barra madrugada retornam à mente e repasso o que restou – as partes que o álcool permitiu que ficassem – as têmporas latejam. Lembro-me de dançar até quase cair, de flertar com o barmen de pele bronzeada e olhos amendoados. Ta