Mariana acordou cedo, o corpo ainda pesado do dia anterior. A noite com Gabriel já era passado.
Sem arrependimentos, apenas uma sensação de desconforto por saber que as coisas entre eles ficaram sem resolução. Sua prioridade, no entanto, era a reunião com Matheus Vilela, o CEO que estava procurando uma cuidadora para sua mãe. Vestida de forma simples, mas adequada, Mariana se preparou para o compromisso. O trabalho extra parecia a solução para os problemas financeiros que se acumulavam. Chegou ao prédio de Matheus focada: precisava daquele dinheiro. Ao entrar na sala de reuniões, foi surpreendida ao ver Gabriel, distraído com o celular, sentado no canto da sala. Ele mal levantou os olhos quando ela entrou. Mariana tentou ignorar o desconforto e se concentrar. — Mariana, obrigado por vir. — Matheus sorriu ao cumprimentá-la. Ele era jovem, com uma postura confiante e traços fortes. Havia algo nele que chamava atenção, um controle natural sobre as situações. — Como sabe, estou procurando alguém para cuidar da minha mãe. Ela tem Alzheimer, então o trabalho exige paciência e cuidado — explicou Matheus. Mariana assentiu. — Entendo. Qual seria o horário? — Escala 12x36. Você trabalharia nas folgas do cuidador principal. Minha mãe precisa de supervisão constante. — O tom de Matheus era prático, mas o peso da situação era visível em seu rosto. Mariana sabia que não seria fácil, mas precisava do trabalho. — Eu tenho experiência com cuidados delicados. Posso ajudar — disse ela, mantendo o tom profissional. Gabriel se levantou e pegou as chaves na mesa, sem olhar para Mariana. — Vou indo, Matheus. Nos vemos depois — disse ele, saindo da sala sem qualquer expressão. Gabriel saiu sem sequer reconhecer a presença dela, como se ela fosse invisível. Tão frio, tão distante. Ele agia como se nada no mundo o afetasse. Matheus observou Gabriel sair e voltou-se para Mariana. — Então, o que acha? Podemos contar com você? — Sim, claro. — O trabalho era uma chance que ela não podia perder. No dia seguinte, Mariana voltou ao hospital. O ambiente a ajudava a focar no trabalho, deixando os problemas pessoais em segundo plano. Enquanto organizava alguns prontuários, viu Lucas, seu ex-namorado, vindo em sua direção com passos rápidos. Antes que pudesse reagir, ele a puxou pelo braço, conduzindo-a até a escada de emergência. — O que você está fazendo?! — Mariana tentou se soltar, mas Lucas a segurou firmemente até estarem na escadaria. — O que está acontecendo, Mariana? — perguntou ele, visivelmente irritado. — Você me bloqueou de tudo! Estou tentando falar com você há dias. Mariana cruzou os braços, encarando-o. — O que você quer, Lucas? Já acabou. — Não pode ser assim! Eu errei, mas você nem me deu a chance de explicar. Eu mereço uma segunda chance! — insistiu ele, cada vez mais desesperado. Mariana deu um passo para trás, firme. — Você traiu minha confiança, Lucas. Isso não tem volta. Lucas passou a mão pelos cabelos, nervoso. — Foi um erro! Eu me arrependi no minuto que aconteceu. Eu te amo, Mariana. Eu preciso de você. Mariana o encarou, sem se abalar. — Amar? Você chama isso de amor? Trair alguém no trabalho com uma colega? Não me peça perdão, porque você não vai ter. A porta da escada se abriu, interrompendo a discussão. Era Gabriel. Ele passou por eles, indiferente à tensão. Seus olhos não pararam em Mariana ou Lucas. Desceu as escadas com a mesma calma habitual, mas sua presença fez Lucas soltar o braço de Mariana e recuar. Quando Gabriel passou por eles na escada, a presença dele era inegável, mas sua frieza ainda mais. Ele não disse uma palavra, nem sequer olhou diretamente para ela. Tudo nele era calculado, controlado, como sempre. E por algum motivo, aquilo a incomodava mais do que a própria discussão com Lucas. O silêncio entre eles ficou pesado. Lucas olhou para Mariana, menos seguro de si. — Mariana, me dá uma chance. Eu sei que errei, mas podemos consertar isso — insistiu, com a voz baixa. — Não, Lucas. Não há nada para consertar. Acabou. Sem dizer mais nada, Lucas saiu pela porta, deixando Mariana sozinha. Ela respirou fundo, aliviada por aquele confronto ter terminado, pelo menos por agora. Após o confronto com Lucas, Mariana voltou, apesar de tentar retomar suas tarefas, sua mente ainda estava agitada. Ela seguia organizando prontuários e ajustando os soros, mas seus pensamentos voltavam para a cena na escada de emergência. Assim que terminou de checar um paciente, sua amiga de trabalho, Clara, apareceu ao seu lado. Clara era uma enfermeira do hospital, sempre animada e direta. — Mariana! Eu vi o Lucas te puxando pra escada. O que ele queria? — Clara perguntou, curiosa e preocupada. Mariana suspirou, cansada da situação. — Ele quer conversar, mas não tem mais nada a ser dito. A história já terminou. Clara cruzou os braços, observando Mariana com atenção. — Você parece cansada. Esse cara não te deixa em paz, hein? — Nem um pouco. E o pior é que ele acha que pedir desculpas vai resolver tudo — respondeu Mariana, tentando manter o tom firme. Clara fez uma careta, mostrando o que pensava de Lucas. — Não dá mole pra ele. Você merece coisa melhor. Falando nisso, ouvi dizer que vai começar um trabalho extra, é verdade? Mariana assentiu, aliviada pela mudança de assunto. — Sim, vou cuidar da mãe do sr. Matheus Vilela. Ela tem Alzheimer, então vai ser desafiador. Preciso do dinheiro, sabe? Clara sorriu, incentivando-a. — Ah, com certeza! E você é ótima com pacientes. Vai tirar isso de letra. Além disso, um trabalho extra vai te ajudar a distrair dessa confusão toda com Lucas. Mariana sorriu de volta, grata pelo apoio de Clara. — Tomara que sim. Amanhã começo às 19h, então vou ter que correr. — Vai lá, garota. Foco no que importa — disse Clara, dando um leve tapinha no braço de Mariana antes de seguir para sua próxima tarefa. Com isso, o restante do turno de Mariana foi mais tranquilo, e ela terminou o dia focada em se preparar para o compromisso no dia seguinte.Mariana acordou cedo, sentindo o peso da responsabilidade nos ombros. O dia seria longo, e seu pai continuava dormindo no quarto ao lado. Desde que ele havia se afundado em problemas, a vida de Mariana se transformara em uma batalha constante. As contas nunca paravam de chegar, e ela sabia que não podia contar com ele para ajudar. Passou pela porta do quarto dele. A respiração pesada e o som do ventilador de teto eram os únicos ruídos. Havia dias que ele mal saía da cama. Mariana sabia que precisava focar no trabalho, já que as preocupações em casa não davam trégua. O segundo emprego como cuidadora de Dona Elisa era sua chance de aliviar um pouco o aperto financeiro. Na cozinha, preparou um café rápido. O olhar perdido na janela enquanto pensava nas contas que ainda precisavam ser pagas. Respirou fundo. Sabia que a jornada seria longa. Depois de ajeitar a casa e terminar as pequenas tarefas, ela se preparou mentalmente para a noite de trabalho. Às 18h, Mariana já estava pront
Mariana mal teve tempo de processar a presença de Gabriel quando ele a puxou para si com uma força controlada, mas irresistível. O toque urgente de Gabriel a fez esquecer qualquer pensamento racional. O desejo tomou conta de ambos.Ele a empurrou contra a parede, os olhos fixos nos dela, a respiração pesada. Sem uma palavra, Gabriel avançou. Suas mãos exploraram cada parte de seu corpo com uma fome que Mariana nunca havia sentido antes.Os lábios dele encontraram os dela de forma feroz. Não havia suavidade, apenas a explosão de um desejo contido. Mariana retribuiu o beijo com a mesma intensidade, suas mãos agarrando a camisa de Gabriel, puxando-o para mais perto.Ele a pressionou ainda mais contra a parede, seu corpo forte moldando-se ao dela. As mãos de Gabriel eram firmes, e ele sabia exatamente o que fazia. O controle que ele tinha sobre a situação era absoluto, e Mariana gostava disso.O quarto, que antes parecia frio e funcional, agora se tornava um cenário de caos e calor. Gabri
Quando estava prestes a sair, o celular vibrou sobre a mesa. Pegou o telefone sem muita expectativa, mas seu coração disparou ao ver o nome na tela.Era uma mensagem de seu pai.Franziu a testa. Mensagens do pai eram raras, especialmente àquela hora. Ao abrir a notificação, as palavras na tela a fizeram congelar no lugar."Mariana, eles me encontraram. Estão ameaçando ir atrás de você se eu não pagar. Não posso perder você. Por favor, me ajuda!"Ela leu e releu a mensagem, o coração acelerando e a respiração ficando irregular. A realidade da ameaça pairava diante dela como uma nuvem densa. O que seu pai havia feito desta vez? As apostas? As dívidas? O desespero subiu à garganta, sufocando-a. Agora, o perigo não era apenas uma possibilidade distante; era iminente.Sem pensar muito, ela apanhou a bolsa e saiu do apartamento de Gabriel apressada, o som de seus saltos ecoando pelos corredores vazios. O ar da noite era fresco, mas ela mal sentia enquanto seu corpo inteiro era tomado por um
Às 19h em ponto, Mariana tocou a campainha da mansão dos Vilela. As luzes externas iluminavam a fachada imponente, conferindo um ar ainda mais grandioso ao local. Embora já estivesse acostumada com a sofisticação daquela casa, sempre sentia um frio na barriga ao passar pela imensa porta de entrada.Dessa vez, foi Matheus quem a recebeu.— Boa noite, Mariana — disse ele, com um sorriso discreto, mas atencioso. — Minha mãe teve um dia tranquilo, mas as noites, como sempre, são mais agitadas.— Boa noite, Sr. Vilela. — Mariana sorriu, tentando manter o tom profissional. — Pode deixar que eu cuido dela.— Eu sei que sim — ele respondeu, observando-a por um breve momento, antes de gesticular para que ela entrasse.Mariana se dirigiu ao quarto de Dona Elisa, e Matheus a seguiu em silêncio. Ao chegarem, encontraram a idosa sentada na poltrona perto da janela, o olhar distante, mas sereno. Mariana começou a conversar com ela suavemente, preparando o ambiente para que a senhora se sentisse m
O relógio marcava 7h30 da manhã quando Mariana entrou no hospital. O ritmo frenético do bloco cirúrgico já era evidente. Médicos e enfermeiros andavam de um lado para o outro, cada um cumprindo suas funções com precisão. Ela sabia que seu turno seria longo, mas a intensidade do trabalho ali sempre a mantinha alerta.Após a troca de plantão, Mariana começou a revisar os prontuários dos pacientes. A cirurgia mais delicada do dia estava marcada para a sala 3 — remoção de um tumor cerebral. Sem perder tempo, ela começou a organizar o espaço, preparando tudo para a chegada do Dr. Gabriel Alencar, o neurocirurgião responsável pelo procedimento.Enquanto verificava os equipamentos, sentiu uma leve agitação na sala. Gabriel havia acabado de entrar. Mariana o percebeu imediatamente, mas não levantou o olhar. Ele caminhou com passos firmes até o centro da sala, passando instruções precisas à equipe. Sua voz era firme e segura, e ele parecia completamente focado no trabalho. Mas havia algo no
Mariana terminou de organizar os prontuários e deu uma rápida olhada no relógio. O plantão estava prestes a acabar, e a expectativa do evento à noite começava a crescer dentro dela.Gabriel ainda estava na sala de cirurgia, mas ela sentia que ele a observava de vez em quando, como se a tensão entre eles estivesse se acumulando a cada momento.Assim que a equipe começou a se dispersar, Mariana aproveitou para dar um último toque nos equipamentos. Gabriel saiu da sala, ainda com a máscara no rosto, e se dirigiu a ela.— Bom trabalho hoje — disse ele, com um tom neutro. — O paciente está estável.Mariana sorriu, satisfeita com o reconhecimento.— Obrigada, Dr. Alencar. Fiz minha parte, mas a equipe trabalhou bem em conjunto.Ele a observou por um momento, um leve aceno de aprovação surgindo.— É bom ouvir isso. Vamos continuar assim.Com isso, ele se despediu e saiu, deixando Mariana sozinha com seus pensamentos. Ela respirou fundo, tentando afastar os sentimentos confusos que ele desper
— Está acompanhando o Lucas, suponho? — disse Gabriel, com a voz baixa, mas firme, aproximando-se devagar. Mariana, surpresa com a presença dele ali, hesitou por um momento antes de responder. — Estou... mas não é como você está pensando — disse ela, tentando explicar. Gabriel a encarou, com um leve sorriso frio no canto dos lábios. — Eu não penso, Mariana. Eu só observo. A resposta dele a deixou sem palavras. Era típico de Gabriel não se envolver emocionalmente, apenas assistir de longe, sem revelar muito. Ele se aproximou um pouco mais, ficando perigosamente perto dela. — Você parece desconfortável — comentou ele, quase casualmente, mas sem desviar o olhar. Mariana sentiu o calor subir ao rosto. Havia algo na maneira como ele a observava, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo, mas preferisse deixar as palavras não ditas. — Talvez — respondeu ela, tentando manter a compostura. Gabriel não disse mais nada. Ficou ali por alguns segundos, observando-a de
Mariana chegou à casa dos Vilela pontualmente às 19h. Ela gostava da rotina e da previsibilidade de cuidar de Dona Elisa, especialmente após os dias tumultuados no hospital. Era seu momento de paz e trabalho, algo que a mantinha focada. Ao atravessar o portão e entrar na mansão, sentiu o familiar ar de tranquilidade que o lugar proporcionava. Ao entrar pela porta da frente, notou de imediato Matheus e Gabriel sentados na sala de estar. A iluminação suave da sala dava um tom acolhedor, mas a presença de Gabriel a deixou levemente desconcertada. Ele estava ali, ao lado de Matheus, com uma postura relaxada, mas o olhar sério e atento de sempre. Mesmo fora do hospital, ele parecia carregar aquela aura de controle e distanciamento. Mariana respirou fundo, ajustando-se ao ambiente. Não esperava encontrar Gabriel ali, embora soubesse que os dois eram próximos. Caminhou em direção aos dois, mantendo uma postura educada e formal. — Boa noite, senhor Vilela, doutor Alencar — disse ela,