6 - À Beira do Caos

Quando estava prestes a sair, o celular vibrou sobre a mesa. Pegou o telefone sem muita expectativa, mas seu coração disparou ao ver o nome na tela.

Era uma mensagem de seu pai.

Franziu a testa. Mensagens do pai eram raras, especialmente àquela hora. Ao abrir a notificação, as palavras na tela a fizeram congelar no lugar.

"Mariana, eles me encontraram. Estão ameaçando ir atrás de você se eu não pagar. Não posso perder você. Por favor, me ajuda!"

Ela leu e releu a mensagem, o coração acelerando e a respiração ficando irregular. A realidade da ameaça pairava diante dela como uma nuvem densa. O que seu pai havia feito desta vez? As apostas? As dívidas? O desespero subiu à garganta, sufocando-a. Agora, o perigo não era apenas uma possibilidade distante; era iminente.

Sem pensar muito, ela apanhou a bolsa e saiu do apartamento de Gabriel apressada, o som de seus saltos ecoando pelos corredores vazios. O ar da noite era fresco, mas ela mal sentia enquanto seu corpo inteiro era tomado por uma mistura de medo e urgência.

"Por que ele fez isso de novo? Como vou resolver isso?" Pensamentos colidiam em sua mente, e ela sentia o peso das escolhas erradas de seu pai caindo sobre seus ombros.

Ao chegar em casa, viu as luzes acesas. Um nó se formou em sua garganta enquanto abria a porta com cuidado, o coração batendo forte.

— Pai? — chamou, sua voz um misto de preocupação e medo.

Roberto estava sentado no sofá, a cabeça baixa, mãos entrelaçadas. Ele ergueu os olhos para Mariana, visivelmente abatido. O olhar de culpa era quase insuportável de se encarar.

— Mariana... — começou ele, com a voz fraca, carregada de arrependimento.

Mariana entrou na sala, sentindo a tensão aumentar a cada passo.

— O que está acontecendo? — perguntou, tentando controlar o pânico em sua voz. — Quem são essas pessoas que estão atrás de mim?

Roberto passou as mãos no rosto, exausto.

— Eu fiz uma besteira, filha... — Ele suspirou, derrotado. — Me envolvi de novo com apostas, com gente perigosa... e agora eles querem o dinheiro que eu não tenho. Disseram que, se eu não pagar, vão atrás de você. Eu tentei resolver, juro que tentei, mas...

Mariana ouviu as palavras como facadas. Ela sabia que o problema com apostas do pai nunca havia sido resolvido, mas isso... cinquenta mil reais? Como ela conseguiria resolver isso?

— Cinquenta mil? — repetiu, incrédula.

A cabeça de Mariana girava. As contas já estavam se acumulando, e o trabalho extra como cuidadora não cobriria nem de longe aquele valor. Mas o que mais a deixava paralisada era a ameaça direta à sua própria segurança.

Ela respirou fundo, tentando encontrar alguma solução.

— Eu vou tentar resolver isso, pai, mas você tem que prometer que isso nunca mais vai acontecer — disse, a voz firme, mas com o peso da responsabilidade visível em seus olhos.

Roberto assentiu rapidamente, mas Mariana sabia que as promessas dele eram frágeis. Ele já havia feito promessas antes, e sempre as quebrava.

Enquanto pensava em suas opções, Mariana pegou o celular novamente, rolando pelos contatos, mas sem encontrar ninguém a quem pudesse recorrer de imediato. Ela sabia que estava sozinha nessa.

Ela se levantou, caminhando até a janela. O ar da noite parecia frio e distante, refletindo seu estado de espírito. Precisava de um plano, de uma solução, e rápido. Mas a única pessoa que poderia resolver isso era ela mesma.

Deixando o celular de lado, Mariana sentou-se à mesa, o cansaço finalmente tomando conta do seu corpo.

A noite anterior com Gabriel ainda pairava em sua mente, mas os eventos recentes a afastaram completamente desse momento. Ela precisava descansar, mas sabia que seu sono seria leve.

O som do despertador tocou no dia seguinte, mas Mariana já estava acordada. A luz do sol filtrava pelas cortinas do quarto, mas a sensação de cansaço não havia desaparecido.

Ela se levantou devagar, sentindo o peso do dia anterior ainda em seus ombros.

Tinha o dia livre, mas isso não trazia alívio. Pelo contrário, seu dia seria preenchido com a tentativa de resolver o que fosse possível antes de seu plantão na casa de Matheus Vilela à noite.

Mariana preparou um café simples, mas seu apetite estava fraco. Sentou-se na mesa da cozinha, encarando a xícara como se esperasse que ela trouxesse alguma solução mágica para seus problemas.

Sabia que o trabalho de cuidadora não seria suficiente para cobrir a dívida, e ainda tinha que encontrar uma maneira de lidar com isso.

Após terminar o café, ela decidiu organizar sua agenda e resolver o que pudesse durante o dia. Primeiro, tentou fazer algumas ligações, buscando uma saída para a dívida, mas as respostas não foram animadoras.

Cada passo parecia uma tentativa inútil de escapar de uma situação que só piorava. E, apesar de tudo, ela sabia que, naquela noite, teria que se concentrar em Dona Elisa e deixar seus próprios problemas de lado por algumas horas.

Às 18h, Mariana já estava pronta para seu plantão. Vestiu-se de forma prática e confortável, pegou a bolsa e olhou para o celular, esperando alguma resposta que não veio.

Ela suspirou profundamente antes de sair de casa. Mais uma vez, estava sozinha na luta contra as consequências dos erros de seu pai.

Mas ela não tinha escolha. Precisava seguir em frente, um passo de cada vez.

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