— Ele desmaiou! Pressão despencando! — anunciou o paramédico, com uma urgência que fez Mariana estremecer.— Aumente o oxigênio e prepare os fluidos intravenosos. Precisamos estabilizá-lo antes de chegarmos ao hospital — respondeu a paramédica ao lado, ajustando o monitor portátil preso à maca de Gabriel.Mariana tentou se mover para alcançá-lo, mas uma onda de dor no abdômen a fez gemer alto. Uma paramédica se aproximou rapidamente.— Senhora, por favor, tente ficar calma. Estamos cuidando dele e também de você. Não se mexa, isso pode piorar sua condição.— Ele… ele está bem? — perguntou Mariana, ignorando o desconforto crescente.A mulher hesitou antes de responder, lançando um olhar para o colega que trabalhava em Gabriel.— Estamos fazendo tudo o que podemos. Agora, preciso que a senhora respire fundo e confie em nós. Seu bebê também precisa que você fique calma — disse a paramédica, segurando a mão de Mariana de forma firme, mas reconfortante.---Quando os dois foram finalmente
Mariana arqueou o corpo sobre a maca quando uma nova onda de dor atravessou seu abdômen. A respiração curta e descompassada a fez soltar um gemido involuntário, enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.— Eu… eu acho que estou sangrando mais! — disse ela, quase em um grito, sentindo o desespero tomar conta.O obstetra parou imediatamente o que fazia e trocou um olhar rápido com a enfermeira. Eles se moveram com precisão, como se cada segundo fosse precioso.— Verifiquem o sangramento. Rápido! — ordenou ele, enquanto ajustava o transdutor do ultrassom.A enfermeira levantou o lençol cuidadosamente, confirmando a presença de sangue. Mariana sentiu um arrepio frio quando a mulher olhou para o médico com uma expressão de alerta.— Está aumentando — disse a enfermeira, já se movendo para ajustar os equipamentos.— Vamos administrar progesterona. Preparem um tocolítico e inicie fluidos intravenosos imediatamente — ordenou o obstetra, mantendo a voz firme.Mariana segurou o lençol com força,
O corredor da emergência fervilhava de atividade. Os paramédicos empurravam a maca com urgência, enquanto relatavam o caso. — Trauma craniano severo, possível hemorragia interna. Ombro deslocado. Saturação instável no transporte, estabilizada na chegada — disse o paramédico, ofegante, enquanto corria ao lado da maca. Doutor Marcelo, já de máscara e luvas, esperava na entrada. Ele manteve a postura calma, mas o impacto de ver Gabriel naquele estado o atingiu profundamente. Gabriel era mais que um colega. Era um amigo e um dos melhores neurocirurgiões do hospital. "Quantas vezes ele esteve nesse mesmo corredor, recebendo pacientes graves? Agora é ele quem precisa de nós." — Levem-no para a tomografia imediatamente. Precisamos da dimensão completa do dano antes de qualquer intervenção — disse Marcelo, sua voz carregada de autoridade. Enquanto a equipe movia Gabriel, Marcelo sentiu uma onda de culpa o atingir. Ele lembrava das conversas informais com Gabriel no refeitório, sobre
Após a saída de Marcelo, Gabriel ficou em silêncio, com os olhos fixos no teto. O som dos monitores cardíacos ecoava na sala vazia, criando uma batida constante que fazia seu coração acelerar."Eu preciso vê-la. Eu preciso me levantar."Mas seu corpo não respondia como deveria. A dor no ombro era intensa, e a pressão surda na cabeça não dava trégua. Ele fechou os olhos e deixou sua mente vagar.As lembranças voltaram em flashes. Ele estava dirigindo... Mariana estava ao lado, sorrindo suavemente enquanto mexia no rádio. O sorriso dela era a última imagem clara que ele conseguia se lembrar.O som estridente dos pneus derrapando. O impacto. O grito de Mariana."Mariana! Meu Deus, Mariana!"O peito de Gabriel apertou enquanto a cena se repetia em sua mente como um pesadelo infinito. Ele tentou afastar a lembrança, mas era impossível.Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, mas ele a enxugou com raiva. Não era hora para fraqueza. Ele precisava ser forte por ela e pelo bebê."Você já
O hospital seguia seu ritmo frenético. Mariana atravessava o corredor com uma pilha de prontuários. Atrás dela, duas enfermeiras trocavam olhares rápidos e cochichavam.— Já soube da história? — murmurou uma, os olhos fixos em Mariana.— Não me diga que é verdade, ele traiu ela realmente — respondeu a outra, disfarçando a curiosidade. — Com a Dra. Cibele da pediatria?Mariana manteve o ritmo firme, as mãos apertando os prontuários com mais força do que o necessário. A mandíbula estava tensa. Ao longe, avistou o Dr. Gabriel Alencar, que passou apressado, lançando um breve olhar em sua direção antes de seguir adiante.As risadas abafadas das enfermeiras ficaram para trás, mas o clima parecia mais pesado a cada passo. Lucas. O nome dele ainda ecoava em sua mente, especialmente desde que soubera da traição com Cibele. As fofocas sobre eles corriam pelo hospital, mas Mariana não deixava transparecer o quanto aquilo a afetava.Ela entrou na sala de prontuários, os movimentos automáticos e e
O carro deslizava pelas ruas silenciosas. Mariana olhava pela janela, observando as luzes da cidade passando rapidamente. O brilho da noite não conseguia acalmar a turbulência que sentia por dentro. Gabriel dirigia com a mesma calma e controle de sempre, as mãos firmes no volante, sem perder o foco. Ele era Dr. Alencar, o médico conhecido por sua frieza e precisão, mas agora estavam indo para um lugar que ela nem sabia ao certo onde era. Seu estômago revirava de ansiedade. O que estou fazendo aqui? A pergunta ecoava em sua mente, mas a resposta parecia distante. Algo nele a atraía, algo além do simples mistério. — Pra onde estamos indo? — perguntou, quebrando o silêncio. Gabriel lançou um rápido olhar para ela, um sorriso leve surgindo em seus lábios. — Para um lugar onde possamos conversar sem interrupções. O silêncio voltou, mas Mariana não conseguia se acalmar. Ela estava exausta das últimas semanas. As fofocas, o estresse, a traição de Lucas ainda pairando em sua mente, mis
Mariana acordou cedo, o corpo ainda pesado do dia anterior. A noite com Gabriel já era passado. Sem arrependimentos, apenas uma sensação de desconforto por saber que as coisas entre eles ficaram sem resolução. Sua prioridade, no entanto, era a reunião com Matheus Vilela, o CEO que estava procurando uma cuidadora para sua mãe. Vestida de forma simples, mas adequada, Mariana se preparou para o compromisso. O trabalho extra parecia a solução para os problemas financeiros que se acumulavam. Chegou ao prédio de Matheus focada: precisava daquele dinheiro. Ao entrar na sala de reuniões, foi surpreendida ao ver Gabriel, distraído com o celular, sentado no canto da sala. Ele mal levantou os olhos quando ela entrou. Mariana tentou ignorar o desconforto e se concentrar. — Mariana, obrigado por vir. — Matheus sorriu ao cumprimentá-la. Ele era jovem, com uma postura confiante e traços fortes. Havia algo nele que chamava atenção, um controle natural sobre as situações. — Como sabe, estou
Mariana acordou cedo, sentindo o peso da responsabilidade nos ombros. O dia seria longo, e seu pai continuava dormindo no quarto ao lado. Desde que ele havia se afundado em problemas, a vida de Mariana se transformara em uma batalha constante. As contas nunca paravam de chegar, e ela sabia que não podia contar com ele para ajudar. Passou pela porta do quarto dele. A respiração pesada e o som do ventilador de teto eram os únicos ruídos. Havia dias que ele mal saía da cama. Mariana sabia que precisava focar no trabalho, já que as preocupações em casa não davam trégua. O segundo emprego como cuidadora de Dona Elisa era sua chance de aliviar um pouco o aperto financeiro. Na cozinha, preparou um café rápido. O olhar perdido na janela enquanto pensava nas contas que ainda precisavam ser pagas. Respirou fundo. Sabia que a jornada seria longa. Depois de ajeitar a casa e terminar as pequenas tarefas, ela se preparou mentalmente para a noite de trabalho. Às 18h, Mariana já estava pront