O hospital seguia seu ritmo frenético. Mariana atravessava o corredor com uma pilha de prontuários. Atrás dela, duas enfermeiras trocavam olhares rápidos e cochichavam.
— Já soube da história? — murmurou uma, os olhos fixos em Mariana. — Não me diga que é verdade, ele traiu ela realmente — respondeu a outra, disfarçando a curiosidade. — Com a Dra. Cibele da pediatria? Mariana manteve o ritmo firme, as mãos apertando os prontuários com mais força do que o necessário. A mandíbula estava tensa. Ao longe, avistou o Dr. Gabriel Alencar, que passou apressado, lançando um breve olhar em sua direção antes de seguir adiante. As risadas abafadas das enfermeiras ficaram para trás, mas o clima parecia mais pesado a cada passo. Lucas. O nome dele ainda ecoava em sua mente, especialmente desde que soubera da traição com Cibele. As fofocas sobre eles corriam pelo hospital, mas Mariana não deixava transparecer o quanto aquilo a afetava. Ela entrou na sala de prontuários, os movimentos automáticos e eficientes. Lá fora, os comentários e olhares continuavam pesando mais do que ela gostaria de admitir. No balcão da recepção, entregou alguns papéis. O olhar das pessoas era insistente, mas ela manteve o foco. Deixou os documentos e seguiu adiante, sem vacilar. Na área comum, Gabriel apareceu ao seu lado, pegando uma prancheta em silêncio. Mariana continuou focada, mas sentia a presença dele. Gabriel sempre parecia distante, quase frio, mas de alguma forma, ele fazia com que o ambiente ao redor se tornasse denso com uma tensão que ela não sabia explicar. Por um momento, ele a olhou de soslaio, avaliando-a. A tensão no ar era clara, mas nenhum dos dois a dissipou. Ela entregou a última ficha e saiu rapidamente, sem olhar para trás. Na copa, Mariana mexia o café distraída. O tilintar da colher contra a xícara era o único som na sala. — Turno pesado? — Gabriel perguntou, sem tirar os olhos da própria xícara. — Como sempre — respondeu Mariana, seca. O silêncio voltou. Gabriel tomou um gole e saiu, sem mais palavras. Mais tarde, Mariana caminhava rapidamente pelos corredores. Seu foco se dividia entre o que acontecera na ala de emergência e o que sentia ao estar perto de Gabriel. Ao chegar à porta da sala dele, bateu levemente antes de entrar. — Dr. Alencar? — chamou, vendo-o concentrado nos prontuários. Ele ergueu o olhar, mantendo a expressão séria. — O que aconteceu? — perguntou, direto. Ela explicou a situação, e ele ouviu, sem desviar os olhos dos papéis por muito tempo. — Certo, eu cuido disso — disse ele, voltando ao trabalho. Ela hesitou por um momento, mas se virou e perguntou: — O que você vai fazer depois do plantão? Gabriel ergueu os olhos lentamente. Um leve sorriso apareceu em seu rosto. — Eu não me envolvo com o namorado de colegas de trabalho — disse ele, mantendo o sorriso. Mariana sentiu a tensão aumentar. O sorriso dele implicava algo mais. Sem hesitar, ela respondeu: — Que bom que não estou mais namorando. O sorriso de Gabriel aumentou, e seus olhos brilharam. Ele a observou por mais alguns segundos antes de inclinar-se levemente e murmurar: — Talvez você não saiba o perigo que está correndo. Mariana congelou por um segundo, surpresa. "Perigo?" A palavra ecoou em sua mente. Algo no tom de Gabriel não parecia apenas brincadeira. Ela o encarou, pensativa. Gabriel se recostou na cadeira, mantendo o olhar fixo nela. — Te espero no meu carro depois do plantão — completou, ainda com aquele sorriso enigmático. Mariana processou a situação por um momento. Intrigada, assentiu com um pequeno sorriso. — Até mais tarde — disse, antes de sair da sala, sentindo o peso das palavras dele. Quando seu turno terminou, Mariana saiu do hospital já escurecendo. O ar fresco da noite a fez respirar mais fundo, como se tentasse aliviar a tensão acumulada. Seu olhar varreu o estacionamento até encontrar o carro de Gabriel, estacionado em um canto mais afastado. Ele já estava lá, esperando, como havia prometido. Por um breve momento, ela hesitou, como se reconsiderasse o que estava prestes a fazer. "Perigo", a palavra dele ainda ecoava em sua mente, mas ela não sabia se era um aviso real ou apenas uma provocação. Com um último suspiro, começou a caminhar em direção ao carro. Gabriel estava no banco do motorista, olhando para frente, mas quando a viu se aproximar, destravou as portas sem dizer uma palavra. Mariana entrou no carro, fechando a porta com um clique suave. O silêncio entre eles foi denso nos primeiros segundos. A luz suave do painel iluminava os traços sérios de Gabriel, que ainda mantinha aquele ar indecifrável. — Acha que isso é uma boa ideia? — Mariana perguntou, quebrando o silêncio. Gabriel lançou um olhar rápido em sua direção, um leve sorriso puxando o canto de seus lábios. — Você acha que é uma má ideia? — devolveu a pergunta, mantendo o tom calmo. Mariana o encarou, tentando decifrar as intenções por trás daquelas palavras. Ele parecia confortável, como se nada daquilo fosse novidade para ele. Ela, por outro lado, sentia seu coração batendo mais rápido do que gostaria de admitir. — Não sei — respondeu ela, sincera. Gabriel finalmente virou o corpo levemente em sua direção, apoiando o braço no volante. — Então, talvez seja melhor descobrir — disse ele, ainda com aquele sorriso enigmático. Mariana desviou o olhar por um momento, processando a resposta. Ela sabia que aquilo não seria simples, que havia algo a mais por trás daquela calma que Gabriel exibia. E talvez fosse isso que a intrigava tanto. O silêncio voltou a cair, mas dessa vez não parecia tão desconfortável. Gabriel ligou o carro e deu partida, enquanto Mariana observava a estrada à sua frente. Ela sabia que, a partir daquele momento, tudo poderia mudar.O carro deslizava pelas ruas silenciosas. Mariana olhava pela janela, observando as luzes da cidade passando rapidamente. O brilho da noite não conseguia acalmar a turbulência que sentia por dentro. Gabriel dirigia com a mesma calma e controle de sempre, as mãos firmes no volante, sem perder o foco. Ele era Dr. Alencar, o médico conhecido por sua frieza e precisão, mas agora estavam indo para um lugar que ela nem sabia ao certo onde era. Seu estômago revirava de ansiedade. O que estou fazendo aqui? A pergunta ecoava em sua mente, mas a resposta parecia distante. Algo nele a atraía, algo além do simples mistério. — Pra onde estamos indo? — perguntou, quebrando o silêncio. Gabriel lançou um rápido olhar para ela, um sorriso leve surgindo em seus lábios. — Para um lugar onde possamos conversar sem interrupções. O silêncio voltou, mas Mariana não conseguia se acalmar. Ela estava exausta das últimas semanas. As fofocas, o estresse, a traição de Lucas ainda pairando em sua mente, mis
Mariana acordou cedo, o corpo ainda pesado do dia anterior. A noite com Gabriel já era passado. Sem arrependimentos, apenas uma sensação de desconforto por saber que as coisas entre eles ficaram sem resolução. Sua prioridade, no entanto, era a reunião com Matheus Vilela, o CEO que estava procurando uma cuidadora para sua mãe. Vestida de forma simples, mas adequada, Mariana se preparou para o compromisso. O trabalho extra parecia a solução para os problemas financeiros que se acumulavam. Chegou ao prédio de Matheus focada: precisava daquele dinheiro. Ao entrar na sala de reuniões, foi surpreendida ao ver Gabriel, distraído com o celular, sentado no canto da sala. Ele mal levantou os olhos quando ela entrou. Mariana tentou ignorar o desconforto e se concentrar. — Mariana, obrigado por vir. — Matheus sorriu ao cumprimentá-la. Ele era jovem, com uma postura confiante e traços fortes. Havia algo nele que chamava atenção, um controle natural sobre as situações. — Como sabe, estou
Mariana acordou cedo, sentindo o peso da responsabilidade nos ombros. O dia seria longo, e seu pai continuava dormindo no quarto ao lado. Desde que ele havia se afundado em problemas, a vida de Mariana se transformara em uma batalha constante. As contas nunca paravam de chegar, e ela sabia que não podia contar com ele para ajudar. Passou pela porta do quarto dele. A respiração pesada e o som do ventilador de teto eram os únicos ruídos. Havia dias que ele mal saía da cama. Mariana sabia que precisava focar no trabalho, já que as preocupações em casa não davam trégua. O segundo emprego como cuidadora de Dona Elisa era sua chance de aliviar um pouco o aperto financeiro. Na cozinha, preparou um café rápido. O olhar perdido na janela enquanto pensava nas contas que ainda precisavam ser pagas. Respirou fundo. Sabia que a jornada seria longa. Depois de ajeitar a casa e terminar as pequenas tarefas, ela se preparou mentalmente para a noite de trabalho. Às 18h, Mariana já estava pront
Mariana mal teve tempo de processar a presença de Gabriel quando ele a puxou para si com uma força controlada, mas irresistível. O toque urgente de Gabriel a fez esquecer qualquer pensamento racional. O desejo tomou conta de ambos.Ele a empurrou contra a parede, os olhos fixos nos dela, a respiração pesada. Sem uma palavra, Gabriel avançou. Suas mãos exploraram cada parte de seu corpo com uma fome que Mariana nunca havia sentido antes.Os lábios dele encontraram os dela de forma feroz. Não havia suavidade, apenas a explosão de um desejo contido. Mariana retribuiu o beijo com a mesma intensidade, suas mãos agarrando a camisa de Gabriel, puxando-o para mais perto.Ele a pressionou ainda mais contra a parede, seu corpo forte moldando-se ao dela. As mãos de Gabriel eram firmes, e ele sabia exatamente o que fazia. O controle que ele tinha sobre a situação era absoluto, e Mariana gostava disso.O quarto, que antes parecia frio e funcional, agora se tornava um cenário de caos e calor. Gabri
Quando estava prestes a sair, o celular vibrou sobre a mesa. Pegou o telefone sem muita expectativa, mas seu coração disparou ao ver o nome na tela.Era uma mensagem de seu pai.Franziu a testa. Mensagens do pai eram raras, especialmente àquela hora. Ao abrir a notificação, as palavras na tela a fizeram congelar no lugar."Mariana, eles me encontraram. Estão ameaçando ir atrás de você se eu não pagar. Não posso perder você. Por favor, me ajuda!"Ela leu e releu a mensagem, o coração acelerando e a respiração ficando irregular. A realidade da ameaça pairava diante dela como uma nuvem densa. O que seu pai havia feito desta vez? As apostas? As dívidas? O desespero subiu à garganta, sufocando-a. Agora, o perigo não era apenas uma possibilidade distante; era iminente.Sem pensar muito, ela apanhou a bolsa e saiu do apartamento de Gabriel apressada, o som de seus saltos ecoando pelos corredores vazios. O ar da noite era fresco, mas ela mal sentia enquanto seu corpo inteiro era tomado por um
Às 19h em ponto, Mariana tocou a campainha da mansão dos Vilela. As luzes externas iluminavam a fachada imponente, conferindo um ar ainda mais grandioso ao local. Embora já estivesse acostumada com a sofisticação daquela casa, sempre sentia um frio na barriga ao passar pela imensa porta de entrada.Dessa vez, foi Matheus quem a recebeu.— Boa noite, Mariana — disse ele, com um sorriso discreto, mas atencioso. — Minha mãe teve um dia tranquilo, mas as noites, como sempre, são mais agitadas.— Boa noite, Sr. Vilela. — Mariana sorriu, tentando manter o tom profissional. — Pode deixar que eu cuido dela.— Eu sei que sim — ele respondeu, observando-a por um breve momento, antes de gesticular para que ela entrasse.Mariana se dirigiu ao quarto de Dona Elisa, e Matheus a seguiu em silêncio. Ao chegarem, encontraram a idosa sentada na poltrona perto da janela, o olhar distante, mas sereno. Mariana começou a conversar com ela suavemente, preparando o ambiente para que a senhora se sentisse m
O relógio marcava 7h30 da manhã quando Mariana entrou no hospital. O ritmo frenético do bloco cirúrgico já era evidente. Médicos e enfermeiros andavam de um lado para o outro, cada um cumprindo suas funções com precisão. Ela sabia que seu turno seria longo, mas a intensidade do trabalho ali sempre a mantinha alerta.Após a troca de plantão, Mariana começou a revisar os prontuários dos pacientes. A cirurgia mais delicada do dia estava marcada para a sala 3 — remoção de um tumor cerebral. Sem perder tempo, ela começou a organizar o espaço, preparando tudo para a chegada do Dr. Gabriel Alencar, o neurocirurgião responsável pelo procedimento.Enquanto verificava os equipamentos, sentiu uma leve agitação na sala. Gabriel havia acabado de entrar. Mariana o percebeu imediatamente, mas não levantou o olhar. Ele caminhou com passos firmes até o centro da sala, passando instruções precisas à equipe. Sua voz era firme e segura, e ele parecia completamente focado no trabalho. Mas havia algo no
Mariana terminou de organizar os prontuários e deu uma rápida olhada no relógio. O plantão estava prestes a acabar, e a expectativa do evento à noite começava a crescer dentro dela.Gabriel ainda estava na sala de cirurgia, mas ela sentia que ele a observava de vez em quando, como se a tensão entre eles estivesse se acumulando a cada momento.Assim que a equipe começou a se dispersar, Mariana aproveitou para dar um último toque nos equipamentos. Gabriel saiu da sala, ainda com a máscara no rosto, e se dirigiu a ela.— Bom trabalho hoje — disse ele, com um tom neutro. — O paciente está estável.Mariana sorriu, satisfeita com o reconhecimento.— Obrigada, Dr. Alencar. Fiz minha parte, mas a equipe trabalhou bem em conjunto.Ele a observou por um momento, um leve aceno de aprovação surgindo.— É bom ouvir isso. Vamos continuar assim.Com isso, ele se despediu e saiu, deixando Mariana sozinha com seus pensamentos. Ela respirou fundo, tentando afastar os sentimentos confusos que ele desper