Mariana mal notou o carro de Gabriel se aproximando até que ele parou ao seu lado. O vidro se abaixou lentamente, revelando sua expressão impassível.— Entra no carro — disse ele, sem rodeios.Mariana parou e o encarou por alguns segundos, processando a situação. Seus pensamentos estavam lentos, e ela sabia que parte disso era o cansaço extremo.— Não precisa, doutor. Eu... eu só vou pegar o ônibus e vou direto pra casa. Estou bem — respondeu ela, tentando manter um tom firme, embora fosse óbvio que estava exausta.Gabriel ergueu uma sobrancelha, o olhar penetrante como sempre.— Você está longe de estar bem, Mariana. Entra no carro. Não vou repetir.Havia algo no tom de voz dele que não deixava espaço para discussão. Era uma ordem, e ela sabia que discutir com ele não levaria a lugar algum.Ela suspirou fundo e cedeu, entrando no carro. Ele não disse mais nada enquanto ela colocava o cinto, apenas acelerou e seguiu pela rua.O silêncio entre eles era pesado, mas não desconfortável. G
Os trovões ribombavam, e a chuva batia com força contra as janelas. Mariana tentava se acalmar, mas o medo que sempre sentira de tempestades começava a se intensificar. Encolhida debaixo das cobertas, ela apertava os olhos, tentando ignorar os relâmpagos, mas a cada trovão, seu corpo tremia. O som da tempestade lá fora não parecia dar trégua, e logo ela percebeu que não conseguiria dormir. Tomando uma decisão impulsiva, Mariana saiu da cama, envolta em um cobertor, e foi em direção ao quarto de Gabriel. Estava hesitante, mas algo a empurrava para frente. Sabia que ele não era do tipo que oferecia conforto, mas a ideia de ficar sozinha naquela situação era insuportável. Parando à porta do quarto dele, ela bateu levemente. Por um momento, pensou em voltar, mas antes que pudesse decidir, ouviu a voz baixa e direta de Gabriel. — Entre. Mariana entrou devagar, ainda segurando o cobertor em volta do seu corpo. Gabriel estava sentado na cama, com o notebook no colo. Ele levantou os ol
Mariana saiu da casa de Gabriel sentindo o corpo mais leve, mas a mente ainda confusa com os acontecimentos da noite anterior. Não houve nada de particularmente íntimo, mas a presença de Gabriel sempre a deixava em um estado de alerta emocional.Pegou um táxi e, ao chegar em casa, se deu conta de que ainda precisava resolver algumas coisas antes de começar o próximo plantão.A tarde passou sem grandes surpresas. Mariana foi ao supermercado, comprou algumas coisas que precisava e até conseguiu descansar um pouco no meio da tarde. No entanto, a noite estava chegando, e ela sabia que teria que ir para a casa dos Vilela cuidar de Dona Elisa.Mariana chegou à casa dos Vilela no início da noite, como de costume. Matheus estava lá para recebê-la, com seu jeito sempre cordial.— Boa noite, Mariana. Tudo certo? — perguntou ele, abrindo a porta para que ela entrasse.— Tudo sim, senhor Vilela. Como está Dona Elisa? — respondeu ela, sempre mantendo a formalidade.— Está dormindo desde cedo, e
Gabriel caminhava ao lado de Dr. Marcelo, chefe do departamento de neurocirurgia, discutindo sobre o caso do paciente com aneurisma. — O paciente está estável para a cirurgia, mas os exames não foram conclusivos. Vamos precisar improvisar — disse Gabriel. — Com você liderando, sei que será certeiro — respondeu Marcelo com um sorriso, confiante nas habilidades de Gabriel. Enquanto caminhavam pelo corredor, Gabriel avistou Mariana mais à frente, resolvendo questões de rotina. Ele desviou o olhar rapidamente, mas Dr. Marcelo, que conhecia Gabriel há anos, percebeu o breve gesto. — E então, Gabriel, algo acontecendo com ela? — perguntou Marcelo, com um sorriso de canto de boca. Gabriel manteve o semblante impassível. — Apenas pensando em mantê-la sob controle. Você sabe como as coisas podem sair dos trilhos por aqui — respondeu, evasivo. Marcelo riu levemente. — Controle, é? Mas você sabe que ela tem algo com o Lucas, não sabe? E Lucas não é o tipo que vai deixar barato se
Eles saíram do restaurante e entraram no carro de Gabriel. O caminho até a casa de Mariana foi tranquilo, sem muita conversa. O som suave do motor e o silêncio da noite eram interrompidos apenas pelo ruído distante da cidade. Eles seguiram em silêncio por alguns minutos, até que Gabriel perguntou: — Tudo bem? Mariana olhou pela janela, ainda absorvendo o jantar e o que estava acontecendo entre eles. Ela sabia que algo estava mudando, mas não tinha certeza do que ou como isso a fazia sentir. — Sim... só cansada — respondeu, tentando disfarçar.O carro de Gabriel deslizou pelas ruas silenciosas.O caminho foi silencioso por vários minutos, com o som suave do motor e o ritmo constante da respiração dela preenchendo o espaço entre eles. Gabriel mantinha os olhos na estrada, focado, enquanto Mariana desviava o olhar para a janela, tentando evitar qualquer tipo de tensão no ar.Quando eles estavam a algumas quadras de sua casa, ela sentiu um aperto no peito ao ver uma figura famil
Mariana chegou ao hospital às sete da manhã, após uma noite exaustiva na casa do Dr. Martins. O plantão começava a todo vapor, com médicos e enfermeiros entrando e saindo, organizando os primeiros atendimentos do dia. Por volta das nove, enquanto Mariana e a equipe finalizavam uma cirurgia de emergência, a chefe de enfermagem entrou na sala e chamou a atenção de todos. — Pessoal, temos uma novidade. A doutora Alice Magalhães está se juntando à nossa equipe como cirurgiã cardíaca. Alice entrou na sala logo depois, cumprimentando a todos com um sorriso educado. Ela era alta, confiante e demonstrava experiência. — É um prazer fazer parte deste time. Espero contribuir bastante nas cirurgias e no atendimento aos pacientes — disse ela. A equipe respondeu com aplausos discretos, mas Gabriel, que também estava na sala, não fez qualquer movimento. Sem dizer uma palavra, ele observou a cena e saiu logo em seguida, voltando às suas responsabilidades. O dia seguiu normalmente, com a r
Sala de Gabriel e parou em frente à mesa, enquanto ele se sentava calmamente, revisando alguns papéis. A luz suave da sala criava uma atmosfera tranquila, quase íntima, contrastando com o ritmo frenético do hospital. O leve zumbido do ar-condicionado era o único som que os acompanhava naquele momento. Gabriel, com seu semblante concentrado, olhou para ela e foi direto ao assunto.— O paciente do leito 38... — começou ele, com a voz firme, enquanto observava alguns documentos. — Como está a evolução dele?Mariana, ainda de pé diante dele, respondeu com firmeza, descrevendo os detalhes do caso. Ela sabia que Gabriel queria todas as informações, especialmente porque era ele quem havia supervisionado parte da cirurgia. Enquanto falava, suas mãos moviam-se nervosamente ao lado do corpo, e Gabriel levantou o olhar para encontrar o dela, e, por um breve instante, o ambiente pareceu carregar algo mais além do profissionalismo. Seus olhares se cruzaram por um segundo a mais, e Mariana pôde sen
Mariana permaneceu de pé, o toque sutil dos dedos de Gabriel em sua mão ainda fazendo sua respiração vacilar. O ambiente entre eles estava carregado, e ela sabia que estava pisando em terreno delicado.— E quanto aos outros casos? — Gabriel perguntou, sua voz baixa e calma, como se estivesse tentando prolongar o momento.A pergunta parecia banal, mas ambos sabiam que era apenas uma desculpa para manter o diálogo, para evitar que aquele espaço entre eles se desfizesse tão rapidamente.— Eles estão sob controle... — respondeu Mariana, sua voz levemente hesitante, refletindo a tensão crescente entre eles.Os olhares se encontraram com mais intensidade agora, como se as palavras fossem desnecessárias. O silêncio que se seguiu era denso, e a expectativa preenchia o ar, cada segundo aumentando a sensação de que algo estava para acontecer.Gabriel deslizou os dedos para mais perto dos dela sobre a mesa, o toque agora mais firme, mais deliberado. Era um gesto silencioso, mas cheio de signific