Dia seguinte...O cheiro forte do café invade meus sentidos antes mesmo que eu abra os olhos. Inspiro fundo, deixando o aroma quente e reconfortante me envolver, afastando lentamente o torpor do sono. A luz suave da manhã atravessa as frestas da cortina, tingindo o quarto com um brilho dourado e delicado.Me espreguiço preguiçosamente, sentindo o corpo ainda pesado da noite anterior. O silêncio do chalé é quebrado apenas pelo som distante de xícaras tilintando. Meu coração aperta por um instante ao lembrar do que aconteceu. De Dante. Das palavras dele. Do jeito como ele me olhou antes de sair do quarto.Respiro fundo e me forço a levantar. Meus pés tocam o chão frio, e um arrepio percorre minha pele. Puxo uma blusa qualquer e sigo o aroma irresistível até a cozinha.Quando chego à porta, a visão me paralisa.Dante está de costas para mim, sem camisa, passando o café. Seu corpo enorme e esculpido se destaca sob a luz matinal que entra pela janela. As tatuagens cobrem seus braços fortes
Meu coração dispara, mas eu seguro firme a xícara, tentando manter uma aparência neutra. Tento não demonstrar que suas palavras me afetam, que sua proximidade me desestabiliza, mas sei que estou falhando miseravelmente. Dante percebe. Claro que percebe. Ele se inclina um pouco mais, apoiando os antebraços na mesa, os olhos verdes cravados nos meus, como se já soubesse exatamente o que estou pensando. — Diga que estou errado, Isabela. — Sua voz é baixa, carregada de um desafio silencioso. Engulo em seco. Meu instinto grita para negar, para me levantar e me afastar desse jogo que ele joga tão bem. Mas meu corpo, minha respiração acelerada, a forma como meus dedos apertam a alça da xícara… tudo me entrega. Eu não respondo. Dante sorri de canto, satisfeito com meu silêncio. Ele pega a própria xícara e dá mais um gole no café, seus olhos ainda presos em mim, analisando cada mínimo movimento. — Você diz que quer tempo, que precisa pensar, mas seu corpo fala outra coisa. — Ele desliz
Ele paira sobre mim por um segundo, observando-me como se gravasse cada detalhe, cada suspiro, cada tremor que percorre minha pele. Suas mãos deslizam lentamente pelos meus braços, subindo até meu rosto, polegares acariciando minhas bochechas.— Você é linda. — Ele murmura, sua voz rouca pelo desejo.Antes que eu possa responder, seus lábios encontram os meus novamente, e o beijo se aprofunda, quente, intenso, como se ele quisesse me devorar por inteiro. Minhas mãos se agarram aos seus ombros, sentindo cada músculo rígido sob minha pele. Ele é puro controle e força, e ainda assim, há algo reverente no jeito que me toca, como se eu fosse ao mesmo tempo o seu vício e a sua salvação.Seus dedos exploram cada curva do meu corpo, descendo lentamente pela lateral da minha cintura, desenhando um caminho ardente. Ele me aperta contra si, como se não suportasse qualquer espaço entre nós. Sua respiração quente encontra meu pescoço, e ele desliza os lábios por ali, deixando beijos molhados, mord
Assim que saímos do chalé, Dante segura minha mão com naturalidade, entrelaçando seus dedos aos meus como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. O toque dele é firme, quente, e por mais que eu tente me convencer de que não significa nada, meu coração responde de outra forma. O caminho até a praia é tranquilo, cercado pelo verde denso da restinga. O cheiro de sal se mistura ao perfume amadeirado de Dante, criando uma combinação viciante. Caminhamos em silêncio por um tempo, apenas sentindo a presença um do outro, até que, enfim, o cenário paradisíaco se revela à nossa frente. A praia é exatamente como ele descreveu: deserta, intocada, um pequeno pedaço de paraíso escondido do mundo. O mar se estende diante de nós em um azul profundo, a brisa salgada acariciando minha pele, e o som das ondas quebrando na areia é a única coisa que preenche o silêncio ao nosso redor. Sinto meu coração desacelerar, como se, por um instante, toda a confusão dentro de mim se dissipasse. — Então? —
A respiração de Dante ainda está descompassada quando nos afastamos, a água salgada escorrendo por nossos corpos quentes. Ele desliza os dedos pelo meu rosto, afastando fios molhados de cabelo da minha pele, e seus olhos verdes brilham com algo que eu não sei nomear.— Vamos sair? O sol está forte e vamos nos queimar.Concordo com um aceno, e caminhamos juntos até a areia. Sinto o vento frio bater contra minha pele quente e me arrepio. Antes que eu possa reagir, Dante pega a camiseta e a veste sobre mim. O tecido largo cobre meu corpo, cheirando a ele, e a sensação me traz um estranho conforto.Ele me observa por um instante, como se estivesse guardando aquela imagem para sempre, e então entrelaça nossos dedos sem dizer nada. Caminhamos de volta ao chalé em silêncio, sentindo a presença um do outro como algo palpável, algo real. Quando entramos, Dante fecha a porta atrás de si e se vira para mim.— Acho que precisamos de um banho. — Ele diz com um sorriso malicioso.Meu coração trop
Dante desliza os dedos lentamente pelo meu rosto, como se quisesse prolongar esse momento, como se temesse que eu desaparecesse se ele soltasse. Mas então, ele suspira, e um pequeno sorriso surge no canto de seus lábios.— Vem, Bela. Vamos fazer o almoço juntos.Pisca para mim com um ar descontraído, e a mudança de tom me pega de surpresa. Depois de tudo que aconteceu, ele quer simplesmente… cozinhar comigo?— Você cozinha? — arqueio uma sobrancelha, cruzando os braços.Ele solta uma risada baixa, daquela que faz um arrepio percorrer minha pele.— Eu me viro. Você vai descobrir que eu sou um homem de muitos talentos.Reviro os olhos, mas não consigo evitar um sorriso. Algo dentro de mim relaxa. Talvez seja exatamente disso que eu precise agora: algo normal, simples… algo que nos tire, pelo menos por um momento, desse turbilhão onde estamos presos.Dante segura minha mão e me guia até a cozinha do chalé. O ambiente é pequeno, rústico, mas acolhedor. Ele abre a geladeira, analisando o q
O silêncio começa a se estender entre nós, pesado, sufocante. O teto branco acima de nossas cabeças parece distante, como se estivéssemos presos em um mundo próprio, onde apenas nossos pensamentos ressoam.Não sei quanto tempo ficamos assim, apenas respirando no mesmo ritmo, corpos relaxados, mas mentes inquietas. Até que, incapaz de suportar mais essa tensão silenciosa, finalmente quebro o silêncio:— Você está preocupado.Minha voz sai baixa, mas certeira. Sei que estou certa. Dante não é um homem que fica inquieto à toa.Ele não responde de imediato. Seus dedos ainda estão entrelaçados aos meus, mas sinto a leve tensão em seu toque. Então, ele suspira, virando o rosto levemente para me olhar.— Com Ronilson. — Ele admite, sua voz carregada de um peso que ele tenta esconder, mas não consegue. — E com a conversa que ele terá com o Zoio. Como esse louco vai reagir.Meu peito aperta ao ouvir esse nome.— Ele já desconfia de você, não é?Dante solta uma risada baixa, sem humor.— Zoio n
Dante está diferente.Ele saiu do quarto há algum tempo e agora está do lado de fora, caminhando de um lado para o outro, como um animal enjaulado. A brasa do cigarro brilha no escuro toda vez que ele leva o filtro aos lábios, tragando fundo, silencioso, perdido demais nos próprios pensamentos para notar minha presença.Encosto-me ao batente da porta, cruzando os braços enquanto o observo. A luz fraca do chalé ilumina parcialmente seu rosto, destacando o maxilar travado, os olhos sombrios e a tensão evidente em cada músculo de seu corpo.Ele está nervoso.Dante só fuma quando algo realmente o incomoda.Ele solta a fumaça devagar, observando o nada, os ombros rígidos, a perna inquieta batendo contra o chão de terra batida. A impaciência dele é quase palpável. Algo está errado. Algo grande. O silêncio da noite torna tudo ainda mais sufocante.Abro a boca para chamá-lo, tentar acalmá-lo, mas antes que eu diga qualquer coisa, o ronco de um motor corta o silêncio.Meus músculos se enrijece