Dante desliza os dedos lentamente pelo meu rosto, como se quisesse prolongar esse momento, como se temesse que eu desaparecesse se ele soltasse. Mas então, ele suspira, e um pequeno sorriso surge no canto de seus lábios.— Vem, Bela. Vamos fazer o almoço juntos.Pisca para mim com um ar descontraído, e a mudança de tom me pega de surpresa. Depois de tudo que aconteceu, ele quer simplesmente… cozinhar comigo?— Você cozinha? — arqueio uma sobrancelha, cruzando os braços.Ele solta uma risada baixa, daquela que faz um arrepio percorrer minha pele.— Eu me viro. Você vai descobrir que eu sou um homem de muitos talentos.Reviro os olhos, mas não consigo evitar um sorriso. Algo dentro de mim relaxa. Talvez seja exatamente disso que eu precise agora: algo normal, simples… algo que nos tire, pelo menos por um momento, desse turbilhão onde estamos presos.Dante segura minha mão e me guia até a cozinha do chalé. O ambiente é pequeno, rústico, mas acolhedor. Ele abre a geladeira, analisando o q
O silêncio começa a se estender entre nós, pesado, sufocante. O teto branco acima de nossas cabeças parece distante, como se estivéssemos presos em um mundo próprio, onde apenas nossos pensamentos ressoam.Não sei quanto tempo ficamos assim, apenas respirando no mesmo ritmo, corpos relaxados, mas mentes inquietas. Até que, incapaz de suportar mais essa tensão silenciosa, finalmente quebro o silêncio:— Você está preocupado.Minha voz sai baixa, mas certeira. Sei que estou certa. Dante não é um homem que fica inquieto à toa.Ele não responde de imediato. Seus dedos ainda estão entrelaçados aos meus, mas sinto a leve tensão em seu toque. Então, ele suspira, virando o rosto levemente para me olhar.— Com Ronilson. — Ele admite, sua voz carregada de um peso que ele tenta esconder, mas não consegue. — E com a conversa que ele terá com o Zoio. Como esse louco vai reagir.Meu peito aperta ao ouvir esse nome.— Ele já desconfia de você, não é?Dante solta uma risada baixa, sem humor.— Zoio n
Dante está diferente.Ele saiu do quarto há algum tempo e agora está do lado de fora, caminhando de um lado para o outro, como um animal enjaulado. A brasa do cigarro brilha no escuro toda vez que ele leva o filtro aos lábios, tragando fundo, silencioso, perdido demais nos próprios pensamentos para notar minha presença.Encosto-me ao batente da porta, cruzando os braços enquanto o observo. A luz fraca do chalé ilumina parcialmente seu rosto, destacando o maxilar travado, os olhos sombrios e a tensão evidente em cada músculo de seu corpo.Ele está nervoso.Dante só fuma quando algo realmente o incomoda.Ele solta a fumaça devagar, observando o nada, os ombros rígidos, a perna inquieta batendo contra o chão de terra batida. A impaciência dele é quase palpável. Algo está errado. Algo grande. O silêncio da noite torna tudo ainda mais sufocante.Abro a boca para chamá-lo, tentar acalmá-lo, mas antes que eu diga qualquer coisa, o ronco de um motor corta o silêncio.Meus músculos se enrijece
Vamos até o quartinho de Alice, onde me deito na cama com ela. Pego um livrinho de histórias e começo a contar uma historinha, minha voz suave, tentando me concentrar na tarefa e não na presença dele. Dante está sentado na poltrona em frente a nós, com as pernas abertas, observando. Ele está se divertindo. Seu sorriso é torto, os olhos fixos em mim com um brilho de desafio. Ele é incrivelmente sexy, quase perigoso. Não posso negar, ele é o próprio demônio sedutor. Com aqueles olhos penetrantes, aquele corpo musculoso, e os braços que parecem feitos para me dominar. Ele é um monstro de bonito, impossível não perceber.Não se culpe, isso que você sente é apenas atração. Você não gosta dele!Quando Alice adormece, eu a cubro cuidadosamente. Me levanto da cama e, ao olhar para Dante, encontro seus olhos fixos em mim. Ele sorri de forma preguiçosa, seus lábios se esticando de um jeito que me desconcentra.Desvio os olhos, o coração batendo forte dentro do peito. Saímos do quarto, mas no co
Isabela— Caramba! Nem parece a mesma pessoa. — Ouço a voz de Tânia entrando no vestiário do BOPE. Ela está visivelmente impressionada com a transformação. É a minha primeira missão real em campo, e estou decidida a provar que sou mais do que apenas uma especialista em relatórios. Passei um ano inteiro observando e analisando comportamentos, treinando infiltrações simuladas e estudando os perfis de traficantes e líderes de facções criminosas. Agora, finalmente, chegou a hora de colocar tudo isso em prática.Sorrio nervosamente e me avalio no espelho. Caracterizada como uma mulher fatal, meu objetivo é me infiltrar em uma festa promovida por Rafael Ferreira, num clube exclusivo. A festa é conhecida por atrair empresários, influenciadores e, especialmente, os nomes mais perigosos do tráfico local. Rafael é suspeito de usar sua fachada de empresário para lavar dinheiro e facilitar o transporte de cargas de drogas. Mas ele não é o verdadeiro alvo.O alvo real é seu irmão, Dante Ferreira d
Leandro bate com uma das mãos em um armário e o faz vibrar. Os olhos dele chispam quando ele se volta para mim. Encaro-o, mantendo a calma, tentando manter meu foco no objetivo. Leandro bufa, mas recua, visivelmente frustrado. Ele respira fundo e então diz, com um tom de voz mais calmo. — Tudo bem. Mas lembre-se: o foco é me infiltrar. Você é apenas o primeiro passo. Então você sairá de cena. Nem que você me apresente como seu meio-irmão. Eu sorrio achando graça nas palavras dele. Seus olhos têm um puxadinho dos orientais. —Leandro, você não se parece com meu meio-irmão. Ele fecha os olhos, parecendo exercitar a paciência comigo. —Tudo bem. Mas foque no nosso objetivo. Você o abordará e de alguma maneira me apresentará a ele. —Ok! —Digo. Ergo os olhos para ele. Leandro sorri, e seu sorriso, apesar de rude, se torna incrivelmente atraente. Eu fico sem jeito e desvio o olhar, sentindo um arrepio percorrer a espinha. Por um momento, fico acovardada, como se ele estivesse me d
O tom na voz de Leandro carrega uma mistura de preocupação e uma tensão que eu não consigo identificar completamente. Ele mantém os olhos fixos na estrada, mas há algo de inquietante na maneira como suas mãos apertam o volante, como se tentasse se agarrar a algum tipo de controle que escapa por entre seus dedos.— Não vou desistir, Leandro. — Respondo com firmeza, minha voz cortando o silêncio abafado do carro. — Rafael é a nossa melhor chance, e você sabe disso.Ele bufa, um som baixo e contido que mais parece uma explosão controlada. Não responde imediatamente, mas a linha de sua mandíbula fica mais tensa, e seus olhos escuros brilham com algo entre frustração e resignação.— Você não entende o que está arriscando. — Ele finalmente fala, a voz grave como um trovão à distância. — Esse mundo… essas pessoas… Não é brincadeira, Isabela. Você acha que está no controle, mas eles… eles jogam sujo. Sempre.Por um momento, o peso das suas palavras me atinge. Sei que ele está certo, mas já to
— Entraremos juntos, e lá nos separamos. Caso consiga seu objetivo com o nosso alvo, me chame, e me apresente ao Rafael, como quem não quer nada. Eu tentarei me infiltrar. E lembre-se, você é Rebeca Silva, uma secretária desempregada, e eu sou Ricardo Félix, seu amigo de infância. Estou procurando emprego. Se ele perguntar como conseguimos o convite, já sabe o que dizer: uma amiga desistiu de ir à boate com o namorado e nos deu a vaga.Eu suspiro, engolindo a ansiedade.— Esta certo. E você tem tanta certeza assim que eu vou conseguir alcançar nosso objetivo?Ele me observa com um olhar sério e profundo.— Deus! Você ainda pergunta? Não percebe o quanto é bonita? E, mais, você é inteligente o suficiente para despertar a atenção de qualquer um. — Ele respira fundo, com um semblante que, apesar de preocupado, tem uma ponta de confiança. — Você vai conseguir.— Se sou inteligente como diz, por que teme?— Por isso mesmo... — Ele parece soltar um suspiro tenso, como se fosse uma luta inte