Assim que saímos do chalé, Dante segura minha mão com naturalidade, entrelaçando seus dedos aos meus como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. O toque dele é firme, quente, e por mais que eu tente me convencer de que não significa nada, meu coração responde de outra forma. O caminho até a praia é tranquilo, cercado pelo verde denso da restinga. O cheiro de sal se mistura ao perfume amadeirado de Dante, criando uma combinação viciante. Caminhamos em silêncio por um tempo, apenas sentindo a presença um do outro, até que, enfim, o cenário paradisíaco se revela à nossa frente. A praia é exatamente como ele descreveu: deserta, intocada, um pequeno pedaço de paraíso escondido do mundo. O mar se estende diante de nós em um azul profundo, a brisa salgada acariciando minha pele, e o som das ondas quebrando na areia é a única coisa que preenche o silêncio ao nosso redor. Sinto meu coração desacelerar, como se, por um instante, toda a confusão dentro de mim se dissipasse. — Então? —
A respiração de Dante ainda está descompassada quando nos afastamos, a água salgada escorrendo por nossos corpos quentes. Ele desliza os dedos pelo meu rosto, afastando fios molhados de cabelo da minha pele, e seus olhos verdes brilham com algo que eu não sei nomear.— Vamos sair? O sol está forte e vamos nos queimar.Concordo com um aceno, e caminhamos juntos até a areia. Sinto o vento frio bater contra minha pele quente e me arrepio. Antes que eu possa reagir, Dante pega a camiseta e a veste sobre mim. O tecido largo cobre meu corpo, cheirando a ele, e a sensação me traz um estranho conforto.Ele me observa por um instante, como se estivesse guardando aquela imagem para sempre, e então entrelaça nossos dedos sem dizer nada. Caminhamos de volta ao chalé em silêncio, sentindo a presença um do outro como algo palpável, algo real. Quando entramos, Dante fecha a porta atrás de si e se vira para mim.— Acho que precisamos de um banho. — Ele diz com um sorriso malicioso.Meu coração trop
Dante desliza os dedos lentamente pelo meu rosto, como se quisesse prolongar esse momento, como se temesse que eu desaparecesse se ele soltasse. Mas então, ele suspira, e um pequeno sorriso surge no canto de seus lábios.— Vem, Bela. Vamos fazer o almoço juntos.Pisca para mim com um ar descontraído, e a mudança de tom me pega de surpresa. Depois de tudo que aconteceu, ele quer simplesmente… cozinhar comigo?— Você cozinha? — arqueio uma sobrancelha, cruzando os braços.Ele solta uma risada baixa, daquela que faz um arrepio percorrer minha pele.— Eu me viro. Você vai descobrir que eu sou um homem de muitos talentos.Reviro os olhos, mas não consigo evitar um sorriso. Algo dentro de mim relaxa. Talvez seja exatamente disso que eu precise agora: algo normal, simples… algo que nos tire, pelo menos por um momento, desse turbilhão onde estamos presos.Dante segura minha mão e me guia até a cozinha do chalé. O ambiente é pequeno, rústico, mas acolhedor. Ele abre a geladeira, analisando o q
O silêncio começa a se estender entre nós, pesado, sufocante. O teto branco acima de nossas cabeças parece distante, como se estivéssemos presos em um mundo próprio, onde apenas nossos pensamentos ressoam.Não sei quanto tempo ficamos assim, apenas respirando no mesmo ritmo, corpos relaxados, mas mentes inquietas. Até que, incapaz de suportar mais essa tensão silenciosa, finalmente quebro o silêncio:— Você está preocupado.Minha voz sai baixa, mas certeira. Sei que estou certa. Dante não é um homem que fica inquieto à toa.Ele não responde de imediato. Seus dedos ainda estão entrelaçados aos meus, mas sinto a leve tensão em seu toque. Então, ele suspira, virando o rosto levemente para me olhar.— Com Ronilson. — Ele admite, sua voz carregada de um peso que ele tenta esconder, mas não consegue. — E com a conversa que ele terá com o Zoio. Como esse louco vai reagir.Meu peito aperta ao ouvir esse nome.— Ele já desconfia de você, não é?Dante solta uma risada baixa, sem humor.— Zoio n
Dante está diferente.Ele saiu do quarto há algum tempo e agora está do lado de fora, caminhando de um lado para o outro, como um animal enjaulado. A brasa do cigarro brilha no escuro toda vez que ele leva o filtro aos lábios, tragando fundo, silencioso, perdido demais nos próprios pensamentos para notar minha presença.Encosto-me ao batente da porta, cruzando os braços enquanto o observo. A luz fraca do chalé ilumina parcialmente seu rosto, destacando o maxilar travado, os olhos sombrios e a tensão evidente em cada músculo de seu corpo.Ele está nervoso.Dante só fuma quando algo realmente o incomoda.Ele solta a fumaça devagar, observando o nada, os ombros rígidos, a perna inquieta batendo contra o chão de terra batida. A impaciência dele é quase palpável. Algo está errado. Algo grande. O silêncio da noite torna tudo ainda mais sufocante.Abro a boca para chamá-lo, tentar acalmá-lo, mas antes que eu diga qualquer coisa, o ronco de um motor corta o silêncio.Meus músculos se enrijece
E, pior ainda… percebo o quanto eu não estou pronta para perdê-lo.Ele suspira, passando as mãos pelo rosto antes de seu olhar se encontrar com o meu. Vejo a determinação ali, misturada com uma sombra de preocupação.— Amanhã vou marcar um encontro com os Bolivianos e farei o pagamento, como acordado. Será o último encontro com eles, acabou essa vida. Quero ser um trabalhador comum ao seu lado. — O jeito como ele diz isso me faz sentir um arrepio na espinha. Ele não está apenas encerrando um ciclo, está selando seu destino. Sair dessa vida. —E seu homem? O que pensa sobre isso? —Vou passar meu bar e minha oficina para o nome dele e por isso ele ficará ao meu lado até o fim disso tudo. Sim, Dante está realmente disposto mudar e isso é o suficiente para mim. Se hesitar, racionalizar, eu o beijo. É um beijo de morado, forte, entregue. Dante corresponde, suas mãos deslizando para minha cintura, me puxando para mais perto. E ali, em meio à penumbra do quarto, tudo o que nos cerca desap
LeandroIsabela não deu mais notícias, e isso está me matando. Ficar de mãos atadas, sabendo que ela pode estar nas mãos dos traficantes ou, pior, morta, me consome por dentro. Meu lugar era ao lado da equipe, liderando a investigação, entrando naquele morro para tirá-la de lá. Mas, em vez disso, estou preso aqui, resolvendo malditos assuntos internos. Um obstáculo burocrático enquanto ela pode estar correndo perigo.Na sala de reuniões, o clima é tenso. O mapa do Morro de Ouro está projetado na tela, com as rotas de acesso e os pontos críticos dominados por Zoio. O comandante Carlos anda de um lado para o outro, os braços cruzados, a expressão sombria. Os agentes analisam os relatórios em silêncio, enquanto cada segundo perdido aumenta a angústia no meu peito.— Precisamos de um motivo oficial para entrar — Carlos diz, cortando o silêncio com sua voz grave. — Se entrarmos só para buscar Isabela, colocamos a cabeça dela a prêmio. Se Dante ainda não sabe quem ela é, vai saber. E se ele
Enquanto ele desaparece na viela, sinto meu corpo fraquejar. O mundo gira, e a única coisa que me mantém consciente é um único pensamento: Isabela.Mas não há tempo para me entregar à dor. Antes que eu possa reagir, sinto mãos brutas me puxando, me jogando contra o chão com força. O gosto de poeira e sangue invade minha boca.— Achamos o chefe! — Uma voz ríspida e zombeteira ecoa.Um chute violento atinge minhas costelas, me fazendo grunhir de dor. Outros homens se juntam ao redor, rindo, escarnecendo. Eles não querem apenas me prender. Querem me humilhar.— E aí, grandão? O rei do morro tá no chão agora? Cadê sua pose de mandachuva?Cuspo sangue e ergo os olhos para o policial que falou. Minha voz sai rouca, mas firme:— Eu não tenho nada a ver com isso. Zoio era o chefe. Ele que comandava tudo.Outro golpe, desta vez no rosto. Meu pescoço estala para o lado com o impacto, mas não reajo. Preciso guardar minhas forças. Sei como funciona esse jogo.— Então me diz, bonitão, por que a gen