LeandroIsabela não deu mais notícias, e isso está me matando. Ficar de mãos atadas, sabendo que ela pode estar nas mãos dos traficantes ou, pior, morta, me consome por dentro. Meu lugar era ao lado da equipe, liderando a investigação, entrando naquele morro para tirá-la de lá. Mas, em vez disso, estou preso aqui, resolvendo malditos assuntos internos. Um obstáculo burocrático enquanto ela pode estar correndo perigo.Na sala de reuniões, o clima é tenso. O mapa do Morro de Ouro está projetado na tela, com as rotas de acesso e os pontos críticos dominados por Zoio. O comandante Carlos anda de um lado para o outro, os braços cruzados, a expressão sombria. Os agentes analisam os relatórios em silêncio, enquanto cada segundo perdido aumenta a angústia no meu peito.— Precisamos de um motivo oficial para entrar — Carlos diz, cortando o silêncio com sua voz grave. — Se entrarmos só para buscar Isabela, colocamos a cabeça dela a prêmio. Se Dante ainda não sabe quem ela é, vai saber. E se ele
Enquanto ele desaparece na viela, sinto meu corpo fraquejar. O mundo gira, e a única coisa que me mantém consciente é um único pensamento: Isabela.Mas não há tempo para me entregar à dor. Antes que eu possa reagir, sinto mãos brutas me puxando, me jogando contra o chão com força. O gosto de poeira e sangue invade minha boca.— Achamos o chefe! — Uma voz ríspida e zombeteira ecoa.Um chute violento atinge minhas costelas, me fazendo grunhir de dor. Outros homens se juntam ao redor, rindo, escarnecendo. Eles não querem apenas me prender. Querem me humilhar.— E aí, grandão? O rei do morro tá no chão agora? Cadê sua pose de mandachuva?Cuspo sangue e ergo os olhos para o policial que falou. Minha voz sai rouca, mas firme:— Eu não tenho nada a ver com isso. Zoio era o chefe. Ele que comandava tudo.Outro golpe, desta vez no rosto. Meu pescoço estala para o lado com o impacto, mas não reajo. Preciso guardar minhas forças. Sei como funciona esse jogo.— Então me diz, bonitão, por que a gen
Leandro aperta os olhos por um instante, como se estivesse tentando processar minha resposta. Ele engole seco, e percebo a luta interna em seu olhar. Ele me amou em silêncio por tempo demais, e a angústia da minha ausência ainda pesa sobre seus ombros.— Eu esperei sua ligação todos os dias — ele confessa, sua voz carregada de saudade e frustração. — Você não faz ideia do que foi ficar sem notícias, imaginando onde você estava, se estava bem... ou se estava viva.Minha garganta se aperta. Eu queria dizer a verdade, queria contar tudo, mas as palavras não saem. Ele leva a mão até meu rosto, seu toque suave, mas intenso.— Eu precisava ouvir sua voz, Isabela — ele continua, sua respiração pesada. — E quando o telefone finalmente tocou, eu quase não acreditei. Achei que fosse um sonho.Eu o abraço forte, tentando afastar a culpa e esconder minha própria dor, mas ele entende o gesto de outra forma. Seus braços me apertam ainda mais, como se temesse que eu desaparecesse novamente. Seus olho
IsabelaOs dias passam, e eu retorno ao BOPE. Sou recebida com palmas, cumprimentos e palavras de alívio, mas tudo parece distante, como se eu estivesse ali apenas de corpo presente. Sorrisos se abrem ao meu redor, apertos de mão me são oferecidos, e vozes amigas expressam o quanto é bom me ver de volta. Mas nada disso consegue atravessar o muro invisível que ergui dentro de mim. O eco dos últimos acontecimentos ainda me acompanha, me mantendo presa em um lugar que ninguém mais pode alcançar.No dia em que Ronilson me deu o celular, ele deixou seu número, dizendo que eu poderia ligar caso quisesse saber de Dante, saber se ele estava bem, se estava se recuperando. Desde então, todos os dias segurei o aparelho nas mãos, o polegar pairando sobre a tela, hesitante. Mas nunca tive coragem de ligar. Porque se eu ligasse, Dante saberia.Tento me ocupar com o trabalho, forço-me a acreditar que posso simplesmente seguir em frente, apagar Dante da minha vida, dos meus pensamentos. Mas a verdade
Dante está ali. Aqui.Meus olhos se prendem à figura do outro lado da porta.O sangue martela nos meus ouvidos. Isso não pode estar acontecendo.Mas está.Dante Ferreira de Souza está parado no corredor do meu prédio, vestindo uma camisa escura que se ajusta ao seu corpo largo. A luz fraca desenha suas feições marcantes, sombras deslizando por seu rosto. Mas os olhos… os olhos estão fixos na porta.Como se sentisse minha presença. Como se soubesse que estou aqui.Meus dedos ainda estão na fechadura. Trêmulos.Ele passou pela portaria. Como?A segurança é rígida. Meu prédio não é um lugar onde qualquer um pode entrar sem identificação.Mas Dante não é qualquer um. Se ele quis estar aqui, encontrou um jeito.— Isabela, abra a porta. Sei que está aí.O som da voz dele me faz sobressaltar.Meu corpo inteiro entra em alerta. Medo? Não.Ansiedade. Expectativa.Porque a verdade cruel, aquela que tento afogar dia após dia, é que uma parte de mim queria vê-lo de novo.Eu só não esperava que fos
Uma onda de desconforto me atinge como um soco no estômago, roubando o ar dos meus pulmões. A lembrança do sofrimento de Leandro ressurge sem aviso, como um fantasma cruel. Vejo as noites em claro, os olhos dele carregados de desespero, a angústia de não saber se eu estava viva ou morta. O medo o consumindo, enquanto eu... enquanto eu era mantida presa naquele jogo sujo. E agora, quando ele finalmente encontrou um breve respiro, quando eu estava ali, tentando ser o apoio que ele precisava depois de perder o pai, Dante surge. Como um furacão devastador, ele invade tudo, atropela todos, como se nada além de sua vontade importasse. Como se eu fosse um objeto a ser reivindicado. A indignação me toma por inteiro. Meu sangue ferve, e meus olhos queimam com lágrimas que se recusam a cair. Minha voz treme, mas não de fraqueza. Dessa vez, é de raiva. — Você acha que o mundo gira ao seu redor, não é? — minha voz é um trovão no silêncio pesado entre nós. — Que pode simplesmente aparecer e deci
Meu peito aperta ao ouvir sua confissão. A rouquidão em sua voz carrega um peso que me atinge como um soco. Suas palavras não são apenas um desabafo. São uma rendição. Como se, pela primeira vez, ele admitisse algo que sempre tentou ignorar.— Para com isso, Dante… — minha voz sai mais baixa do que eu esperava. Por mais que eu tente manter a raiva, algo dentro de mim cede ao vê-lo nesse estado.Ele ri, um som seco, sem humor. Tenta se erguer, mas seus braços tremem sob o próprio peso.— Eu tô falando sério, Isabela… — sua respiração sai pesada. — Ele disse que nem minha menina perguntou de mim, que não sentiu minha falta.Ele solta um suspiro cansado, fechando os olhos por um instante, como se aquilo fosse o golpe final.— Rafael me odeia… e você… — Sua voz vacila. Ele balança a cabeça, tentando afastar o que quer que esteja lhe nublando os pensamentos. — Você também quer me ver longe, não quer?Engulo em seco. O olhar dele me prende, os olhos verdes carregados de algo que me desconcer
Meu coração martela contra o peito, minha mente um turbilhão de sentimentos conflitantes. Mas antes que ele atravesse a porta, as palavras escapam dos meus lábios:— Tudo bem…Dante para no mesmo instante. Seu corpo enrijece, como se estivesse segurando a respiração. Lentamente, ele se vira para mim, seus olhos varrendo meu rosto, buscando entender o que aquilo significa.Respiro fundo, reunindo coragem. Dou um passo em sua direção. Meu coração está uma bagunça, mas sei que não posso deixá-lo partir sem dizer isso.— Mas será do meu jeito.Seus olhos se estreitam. Ele não fala nada, apenas me observa, como se esperasse que eu o destruísse ou o salvasse de vez.Seguro seu braço, sentindo o calor febril de sua pele.— Vem, se senta no sofá e eu explico tudo.Ele se deixa levar ao sofá de três lugares. Dante se senta pesadamente ao meu lado, os ombros rígidos, o peito subindo e descendo em respirações pesadas. Seu corpo ainda oscila, a febre cobrando seu preço, mas ele se mantém firme, me