Capítulo 1 - Marco

Angela me olhava aterrorizada, com as mãos estendidas em frente ao corpo tentando manter alguma distancia entre nossos corpos, mesmo que a um segundo atrás ela estivesse com o corpo aconchegado contra o meu, tão relaxada depois de ter sido salva, que eu conseguia sentir cada curva dela.

Não foi difícil encontrar a mulher de branco caída no chao, sendo pisoteada por todos os outros a sua volta. Um minuto antes de entrarmos ali ela era a salvação deles de uma guerra ou da total ruína, Angela estava ali para se casar pela famiglia e eles mostraram quanto valor isso tinha a eles: nenhum!

Até mesmo o desgraçado do noivo dela não foi capaz de protegê-la, Filippo a empurrou no chão antes de correr por sua vida e eu vi tudo isso muito claramente.

— O que querem? O que vão fazer comigo? — ela perguntou afobada, com a voz quase perdendo o folego enquanto olhava para o meu irmão Nero e Frank no banco ao meu lado. — Tenho certeza que papai pagará qualquer valor para me ter de volta intacta. Por favor, não me machuquem!

Os olhos doces e castanhos voltaram para mim e eu quis sorrir diante da ironia que eram aquelas palavras.

— Até onde eu sei eram os seus que a estavam pisoteando naquela igreja, nós fomos os mocinhos, te salvamos! — falei erguendo uma sobrancelha e ganhando um olhar de revolta dela.

— Tudo estava indo bem até vocês jogarem bombas lá dentro e atacarem a todos! — ela bradou de volta, mostrando que talvez não fosse apenas a princesinha que todos pensavam ser.

— Claro, você só estava sendo entregue em casamento a um escroto que já fodeu metade da cidade. — Nero resmungou ao meu lado, parecendo entediado com o assunto, mas quando vi o olhar horrorizado dela tive que dar uma cotovelada nele para que controlasse. — O que? Estou dizendo apenas a verdade, ela como noiva dele não deveria estar tão surpresa com o babaca. Ontem mesmo ele ficou até duas da manhã comendo as putas no bordel do pai.

Angela arfou em choque encarando meu irmão com a boca aberta, isso finalmente pareceu calar o idiota. Ele podia estar certo sobre isso, Filippo não prestava, nem mesmo para os padrões da máfia. Mas eu duvidava que Angela estivesse tão familiarizada com esse tipo de linguaja baixo, saber sobre sexo já devia ser algo improvável para alguém como ela.

Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela se recuperou erguendo o queixo de forma altiva.

— Como se vocês fossem santos imaculados, todos vocês são farinha do mesmo saco! Todos vocês acham que nós mulheres somos propriedades, fantoches, que podem fazer o que quiserem! — ela gritou com toda a sua fúria e eu tive certeza de que aquilo vinha sendo guardado dentro dela por muito tempo.

O silencio reinou dentro do carro, todos ficamos ali paralisados a encarando, enquanto na minha mente só pensava o que ela teria sofrido nas mãos do pai, o que Angela teria visto e pior, o que Filippo poderia ter feito com ela.

— Queria que minha mulher pensasse desse jeito. — Frank foi o primeiro a falar, quebrando o gelo e nos fazendo rir.

— Minha irmã nunca vai pensar assim, ela pode ser uma Rossi agora, mas tem sangue Falcone naquelas veias! — Nero afirmou, e eu tinha que concordar, Melissa sempre foi a mais cabeça dura de nós três, não é atoa que se casou antes de nós dois.

— Deus me ajude quando a nossa filha nascer, que ela não tenha o gênio da mãe! — ele disse erguendo as mãos para o céu.

Angela encarou os dois parecendo interessada de mais na conversa, quase como se não acreditasse nas palavras deles. Então ela balançou a cabeça em negação e deu uma risada sarcástica, aumentando a cada segundo até chamar a atenção dos outros.

— Nós prezamos pelas nossas mulheres, Angel. — ela semicerrou os olhos me enfrentando. — Podemos ser sanguinários com nossos inimigos e com traidores, impiedosos e duros com nossos homens, mas nossas mulheres são sagradas. Não as forçamos a nada e é por isso que se casam de bom grado e escolhem sempre homens que vão honrar a Camorra. Bem diferente do marido escolhido para você.

— O que você sabe sobre Filippo? Não sabe nada sobre ele, nem sobre a forma como meu pai trata as mulheres ou a famiglia!

— Sei bem mais do que você, Angel...

— Não me chame assim! — ela rosnou trincando os dentes e franzindo a testa.

— Seu pai tem mais amantes do que um dono de puteiro! E Filippo é tão podre quanto ele! — gritei cansado de tentar manter a calma enquanto ela se negava a enxergar o óbvio. — Nenhum dos dois presta, nenhum dos homens da famiglia cuida direito de suas mulheres e do que elas fazem por eles! Do contrário não a teriam deixado caída no chão sendo machucada, a teriam protegido primeiro e depois pensado em suas próprias vidas, dariam suas vidas protegendo você, que os estava livrando de uma guerra e trazendo mais aliados a eles!

Ela me encarou com os olhos arregalados parecendo chocada com tudo o que eu disse, nem mesmo Frank ou Nero abriram a boca nesse momento, vendo que minha paciência tinha se acabado.

— Você se acha superior... a eles, mas acabou de me sequestrar... e já estava dizendo que sou sua futura esposa. — ela falou com a voz falhando, quase como se estivesse com medo de mim, o mesmo medo que vi em seus olhos quando percebeu quem eu era.

— Sim, você é minha futura esposa, mas porque eu tenho certeza de que você vai querer se casar comigo quando ver o que sua vida pode se tornar.

— E eu tenho certeza de que você vai abusar de mim como fez com as outras mulheres que fugiram da Cosa Nostra. — ela disse tão baixo que eu quase não fui capaz de escutar, Nero e Frank também se aproximaram querendo ouvir.

— O que? — sim eu sabia das mulheres que fugiram e todas elas foram abrigadas e colocadas em segurança onde queriam. — Do que está falando?

— Você... você as estuprou e torturou... até que elas te dessem todas as informações que queriam... e então as matou sem nenhuma piedade. — o queixo dela tremeu e ela olhou com pavor para os dois homens ao meu lado, enquanto eu ainda estava atordoado processando o que ela tinha dito. — É isso o que vão fazer comigo, não é?

O carro parou e Angela olhou para fora parecendo ainda mais aterrorizada. Assim que meu motorista desceu do carro e abriu a porta, a mulher saiu correndo disparada.

— Senhor perdão, quer que eu vá atrás dela? — ele disse enquanto encarávamos ela correr no caminho de cascalho, segurando o vestido de noiva de qualquer jeito.

— Não, eu mesmo vou atrás dela.

— Parece que não vou ser o único a ter uma mulher de fibra por muito tempo. — ouvi Frank falar enquanto eu começava a correr atrás da maluca.

Ela não ia longe, não com os saltos que ela estava usando e mesmo que não estivesse com eles, ainda haviam os portões e os seguranças. Não tinha ideia o que Angela tinha pensado que ia conseguir ao sair correndo.

Eu estava quase alcançando quando a criatura complicada se virou para trás me procurando e dando de cara comigo a distancia de um braço dela. O pequeno anjo tropeçou na renda do vestido e estava prestes a cair no chão quando eu a agarrei pela cintura, girando seu corpo junto ao meu, caindo nos cascalhos com minhas costas, evitando que ela se machucasse.

Seu corpo ficou por cima do meu, meus braços apertados em torno de sua cintura a mantinham presa ali. O olhar surpreso dela encontrou o meu e mesmo com os cabelos no rosto eu conseguia ver as bochechas vermelhas pela corrida, os lábios entre abertos com a respiração descompassada.

Porra, ela era linda e agora parecia uma anjinha excitada e pronta para ser fodida. Caralho, eu não podia pensar nisso agora, não antes de ter finalmente casado com ela e poder esfregar isso na cara de seu pai.

— Pronta para deixar de ser maluca e conversar como uma pessoa normal?

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