Capítulo 2 - Angela

Ficar naquele carro rodeada daqueles homens só me fazia lembrar do meu encontro com Filippo na noite que fomos oficialmente apresentados como noivos. Mesmo que por um segundo eu quase tivesse esquecido de toda a maldade que eles podiam fazer, apenas por ouvir eles falando que uma suposta mulher não era uma submissa completa.

Mas era claro que aquilo era só uma distração, uma forma de me deixar cair fácil nas garras da Camorra, e eles terem falado mal do meu pai e de Filippo era uma prova disso, queriam me fazer passar para o lado deles, mas isso não ia acontecer! Por isso quando a porta do carro foi aberta eu corri.

Não que eu acreditasse que meu pai e seus aliados prestassem ou fossem boas pessoas, eu sabia bem quem Giovanni Mancini era, ele me vendeu sem nem pensar duas vezes.

Duvidava muito que não fossem me confundir com uma prostituta vestida como uma, afinal meu pai tinha me feito usar aquele vestidinho apertado e decotado para mostrar a Filippo o que ele ganharia com o casamento.

Eu tinha nojo de tudo aquilo, sentia nojo de mim mesma por estar me deixando ser entregue dessa forma, tão entregue, sem lutar ou brigar, apenas me deixando ser exposta como uma das mulheres que tiravam a roupa na boate que eu sabia que meu pai e seus homens frequentavam.

A única diferença entre elas e eu era que eu estava sendo obrigada a fazer isso, não receberia nada em troca e só poderia fazer isso para o meu marido, um homem que eu nem mesmo escolhi.

O vestido vermelho era justo no bumbum e na cintura, e terminava no alto das minhas coxas, deixando minhas pernas de fora, a parte de cima tinha um decote enorme que deixava boa parte de meus seios de fora, me obrigando a não usar um sutiã e meus seios eram sustentados apenas pelo aro no bojo do vestido.

Meu cabelo foi solto em ondas, cobrindo a o chão. Queria poder usar algo tão recatado.

— Você parece uma mulher. — Enrico murmurou me olhando de com confusão e só aquilo poderia me fazer sorrir nessa situação.

— Eu sou uma mulher, Rico. O que pensou que eu fosse?

— Não, você era minha amiga, agora está parecendo uma mulher adulta e chata.

Eu gargalhei alisando mais uma vez o tecido querendo que ele crescesse de alguma forma e cobrisse minhas coxas ao menos, me cobrindo até os joelhos, mas isso não aconteceria, hoje era a noite de minha exibição e se meu pai quisesse eu usaria um maldito biquíni.

— Com certeza chata é a última coisa que os homens lá em baixo vão pensar da nossa irmãzinha. — Alessia finalmente chegou mais perto, aparecendo ao meu lado no reflexo do espelho.

— Isso não é para os outros homens, nenhum deles vai ousar olhar para ela com outras intenções! — minha mãe interveio. — Isso é para Filippo, sua irmã está apenas mostrando que é uma mulher, linda, sensual e confiante, mostrando que é perfeita para ser mulher de um futuro capo.

Eu tinha certeza de que Filippo ia gostar, meu primo tinha me mandado mensagem contando sobre a vida promiscua do meu futuro marido. Um desgraçado que saía com mais mulheres que do que deveria ser respeitoso, o homem não prestava, mas o que eu podia fazer? Até mesmo meu pai agia dessa forma, ainda mantendo uma longa linha de amantes, mesmo sendo casado há tantos anos e com tantos filhos.

— Tome. — Mamãe me entregou um par de sandálias de salto alto e sem discutir eu deslizei meus pés dentro delas e tive a ajuda de Alessia para amarrar em torno do meu tornozelo.

Mamãe forçou um sorriso falso e sorriu para mim como se aprovasse o que estava a sua frente, quando nós duas sabíamos que não era verdade.

— Mamãe... — falei hesitante, mas ela deu um passo atrás indo até a porta e a abrindo.

— Vamos, chegou a hora, não podemos mais deixa-los esperando. — eu me movi para fora do quarto, sendo seguida por meus irmãos enquanto ela ditava o caminho. — Vou entrar pela lateral com seus irmãos, você deve aparecer sozinha. Seu pai a apresentará oficialmente a Filippo e depois lhe dará alguns minutos sozinha com ele.

— O que? — perguntei perplexa, pois não tinham me contado aquela parte.

Muito bom me vestirem como uma vadia e me jogarem em uma sala sozinha com um homem que deveria me aprovar como sua nova aquisição. Eu nem conseguia imaginar o que ele poderia fazer comigo.

— Se acalme, não vão demorar sozinhos ali, nós estaremos esperando por vocês na sala de jantar. — ela colocou as mãos sobre a minha em solidariedade com meu tremor. — Ele provavelmente vai te beijar, não tente se afastar filha, ele é seu noivo a partir do momento em que seu pai lhes apresentar.

— Mãe eu nunca beijei ninguém na vida!

— Ele vai aprovar isso, vai ficar mais feliz em ser seu primeiro! Só o agrade, deixe que ele faça tudo e quando se sentir pronta corresponda. — eu abri minha boca em choque, não acreditava que aquela conversa estava realmente acontecendo. — Lembre-se o que está em jogo hoje, não o desafie e nem faça o acordo ser cancelado, as coisas podem ficar bem feias.

Por um instante, eu quis pegar sua mão e implorar que ela ficasse comigo, que não me deixasse sozinha com aquele homem, mas em vez disso suspirei e ergui o rosto me fazendo de durona.

— Boa sorte! — Alessia gritou enquanto mamãe a arrastava para o corredor que ladeava a sala de visitas.

Eu fiquei ali em frente à porta com o coração quase saindo pela garganta, pensando em mil e uma maneiras de como aquela noite poderia ser arruinada, em como aquele casamento poderia acabar não acontecendo e, em especial, em quantas formas diferentes Filippo poderia me beijar e ser grosseiro.

Risadas masculinas ecoavam por trás dela, eram de meu pai e do meu futuro marido, um ambiente repleto dos mais poderosos e perigosos homens do país, e eu deveria entrar. Um cordeiro sozinho em meio aos lobos.

Sem pensar mais eu segurei a maçaneta girando e abrindo a porta, antes mesmo que entrasse ali já sentia os olhos sobre mim. Ainda sem olhar para ninguém em particular eu andei um pouco, meus passos vacilando, até que meu pai surgiu a minha frente.

A conversa havia morrido, não se ouvia mais risadas, todos apenas me encaravam, ele segurou minha mão sem nenhuma palavra e me levou ainda mais para o fundo do salão, passando pelas pessoas eu vi minha mãe conversando em um canto com outras esposas da máfia.

Quando os passos do meu pai diminuíram voltei meus olhos para frente e dei de cara com Filippo na minha frente, seu olhar penetrante me deixou sem reação. Ele esquadrinhou cada curva em meu corpo de forma devassa, como se me despisse, então largou o copo de whisky antes de se aproximar de mim.

Analisei rapidamente os rostos dos homens reunidos, todos me encarando como se nunca tivessem me visto e talvez fosse verdade, afinal eu nunca me vesti dessa forma.

— Essa é minha Angela! — meu pai apresentou como se todos não soubessem e colocou uma mão em minhas costas, me empurrando levemente para frente.

Meu pai analisava o rosto de Filippo, em busca de aprovação, como se esperasse que Luca caísse de joelhos em admiração, mas ver o desejo cru e sujo no rosto daquele babaca fazia meu estomago se revirar.

— Não exagerou mesmo ao dizer que a pequena Angela havia crescido e se tornado uma bela mulher. — Filippo lambeu os lábios e se aproximou ainda mais pegando minha mão e plantando um beijo.

Não acreditava que meu pai tinha dito essas coisas sobre mim para ele, me oferecendo como se eu fosse um pedaço de carne muito caro que ele estava comprando.

Aquilo era sobre a guerra, ele deveria estar feliz em se unirem e terem assim mais chances contra a Bratva, mas aparentemente só se importavam comigo.

— Por que não deixamos os futuros noivos sozinhos por uns minutos? — meu pai anunciou com um sorriso e meus batimentos dispararam.

Olhei em volta procurando alguma objeção ou outro comentário, mas todos começaram a sair da sala, assim como meu pai, que sorria vitorioso. Alessia e Enrico foram os últimos a sair, sendo puxados por minha mãe e então a porta se fechou atrás deles, quase me fazendo pular no lugar.

— É bom poder ficar a sós com você noivinha. — Filippo disse começando a andar em volta de mim me avaliando. — Sonhei com isso a semana toda.

A mão deslizou sobre minha bunda e eu pulei no lugar desviando dele, assustada com a ousadia dele, sabendo que todos estavam na sala ao lado. Filippo ergueu os lábios em um sorriso doentio e deu um passo para frente acabando com nossa distância, ele segurou minha cintura e me manteve apertada no celular antes de descer o rosto em direção ao meu.

Seus lábios tocaram os meus e o cheiro de álcool invadiu minhas narinas me dando uma ânsia de vomito. Antes que pudesse assimilar o corpo dele perto do meu, sua boca e seu cheiro, a língua dele se forçou contra meus lábios me deixando ainda mais enojada.

— O que foi? Abra a boca noivinha!

— Eu... eu nunca beijei antes. — murmurei sem graça torcendo para que isso o fizesse ir com mais calma.

— Isso vai ser engraçado, mas não se preocupe, vou te ensinar tudo o que gosto na cama e te treinar para me agradar. — ele levou uma mão ao meu queixo e segurou firme antes de esfregar dois dedos sobre meu lábio. — Abra a porra da boca. — ele forçou dois dedos ali me obrigando a entre abrir os lábios e enfiou seus dedos em minha boca. — Vai ser perfeita para engolir meu pau.

Nojo me invadiu, mas me lembrei do que minha mãe disse, não podia fazer nada que pudesse começar mais uma guerra hoje. Então ele se curvou novamente e retirou os dedos substituindo por sua língua asquerosa.

Eu fiquei lá esperando que ele acabasse logo, mas Filippo tinha outra ideia, sua mão em minha cintura agarrou minha bunda e eu protestei tentando me afastar enquanto seus dedos apertavam minha carne. A outra mão dele deslizou por sobre meu busto contornando o decote do vestido e eu fui tomada por medo do que ele faria a seguir.

Me sacudi com força e ergui as mãos apoiando-as em seu peito o empurrando para longe até conseguir me livrar de sua boca.

— O que está fazendo? — questionei me afastando ainda mais.

Antes que eu fosse longe o suficiente Filippo agarrou minha mão e me puxou para contra seu peito com força.

— Estou tocando o que vai ser meu! — ele rosnou deslizando a mão por meu corpo novamente, parecendo se divertir com meu incomodo. — Quero ver você fugir de mim assim quando estivermos casados, você vai ser minha e vou fazer o que quiser com você.

Aquilo só serviu para me deixar ainda mais nervosa. Então ele me soltou me empurrando sem nenhum cuidado e colocou a mão por dentro de seu terno e por um ridículo segundo eu realmente pensei que fosse sacar uma arma.

Mas em vez disso ele tirou uma caixinha preta de veludo, a abriu parecendo entediado enquanto eu seguia seus movimentos. Ele tirou um anel solitário, com um grande diamante, era isso, um anel de noivado.

Filippo agarrou minha mão e enfiou no meu dedo, empurrando com mais força quando viu que ele tinha ficado apertado, não se importou em medir a força e por um instante achei que quebraria meu dedo.

— Obrigado. — senti a obrigação de agradecer e até mesmo de olhar para ele, que estava impassível, embora o mesmo não possa ser dito sobre os seus olhos. Eles pareciam furiosos.

— A prova de que logo será minha, só preciso esperar ate o fim do mês! — ele estendeu o braço, me obriguei a segurar em seu braço e deixar que ele nos levasse para fora dali.

Mas eu tinha que me lembrar quem era Marco Falcone, ele era conhecido como demônio da Camorra e não era apenas por cortesia de seus homens, Marco tinha feito por merecer a fama e meu pai tinha me contado histórias.

Logo depois que o noivado foi firmado meu pai me chamou para conversar e mostrou as atrocidades que eles estavam fazendo com as mulheres que buscavam abrigo da guerra entre as máfias. Meu pai me contou as histórias, aquele era um dos principais motivos para o meu casamento com Filippo.

— Conversar ou torturar? — respondi a pergunta de Marco com outra pergunta.

Os braços dele estavam enrolados em minha cintura e ele estava em baixo de mim, quando eu tropecei ele me agarrou impedindo que eu caísse no chão, mas sim em cima do seu corpo.

Aquilo era inapropriado de tantas formas que eu nem podia dizer, nossa proximidade era errada, mas ainda sim não me movi para afastá-lo ou para me levantar.

— Não sei de onde tirou essa ideia de que torturo mulheres, mas vou ficar mais do que feliz em mostrar a você as minhas habilidades. — ele deslizou um dedo por minha bochecha, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto e colocando atrás da orelha, me fazendo engolir em seco.

— Suas habilidades de tortura? — minha voz saiu por um fio, enquanto os dedos dele permaneciam em meu cabelo.

— Sim, se quiser aprender eu posso te ensinar todos os truques de como torturar uma pessoa, desde o mais simples até o mais duro. — meus olhos desviaram do olhar escuro dele e se focaram nos lábios carnudos. — Você pode ser a própria Diaba da Camorra ao meu lado.

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