Mêses atrás
Eu estava diante de Giovanni Mancini, o Capo da Cosa Nostra, muito atento a qualquer movimento dele, afinal sabia que ele era capaz de muitas coisas.
A última vez que nossa gente tinha se encontrado foi há dois anos, quando selamos nossa trégua para focarmos nos nossos inimigos em comum, na época meu pai ainda era o Capo da Camorra, agora esse titulo era meu e o assunto é ainda mais urgente.
— Os russos estão fazendo alianças, se casando e unindo as organizações. Não podemos ficar apenas os atacando para na próxima semana enviarem mais de seus homens para cá. — falei calmo e direto, meus dedos entrelaçados sobre a mesa, demonstrando uma tranquilidade que eu não sentia, afinal ainda éramos inimigos mesmo em trégua.
— Concordo com você. Soube que eles estão fazendo laços com os carteis e estão com planos de se juntar aos japoneses, não podemos deixar isso acontecer ou será uma guerra ainda mais sangrenta.
Ao menos ele era sensato, eu sabia que Giovanni era implacável, não se intimidava com guerras e novos desafios, ele fazia qualquer coisa colocando a famiglia em primeiro lugar, por isso esperava que o assunto de hoje fosse resolvido de forma rápida e fácil.
— É por isso que essa é a hora de alongarmos essa trégua, unindo Camorra e Cosa Nostra, aumentando nosso território e poder de fogo! — afirmei o surpreendendo, as sobrancelhas grisalhas do homem se ergueram mostrando que ele não esperava por isso. — Casamento, uniremos nossos povos com uma união sagrada que dará aos dois lados filhos, frutos que selaram o futuro do nosso império.
— Casamento? E quem se casaria? — ele perguntou parecendo realmente interessado no assunto. — Você é o Capo e está em uma ótima idade para se casar, mas seu irmão também é um ótimo partido para esse acordo.
Nero se mexeu atrás de mim, provavelmente incomodado com a ideia de se casar, já que ele tinha verdadeira aversão a relacionamentos. Eu também compartilhava do sentimento, qualquer pensamento de estar preso a uma única mulher me fazia querer arrancar meus olhos, mas os tempos pediam medidas drásticas, mesmo que desconfortáveis.
— Serei eu a me casar, Mancini. Eu estou propondo me casar com sua filha!
Ele semicerrou os olhos me analisando, enquanto eu mantive minha expressão neutra, como se aquilo fosse algo corriqueiro do dia a dia. Mas a verdade é que eu já havia planejado tudo, tinha revisto todos os prós e contras.
Não podia negar que ver as fotos de Angela Mancini me ajudou a tomar aquela decisão, a mulher era uma visão para os olhos, delicada, linda, com olhos que seduziam apesar de toda a inocência que ela exalava. Eu estava ansioso para conhecê-la, para ficar próximo a ela, pois tudo o que descobri não foi suficiente para ter uma noção de quem realmente era Angela, eram apenas migalhas sobre a filha do Capo.
— E você espera que eu entregue minha filha a você, para que tome também toda a nossa organização? — ele acusou e pelo canto do olho eu vi Frank deslizar a mão para dentro do terno, onde eu sabia que meu segundo em comando carregava armas e facas.
— Está me acusando de tentar lhe dar um golpe, Mancini? — perguntei aprofundando meu tom e deixando que ele tirasse as conclusões do que aconteceria aqui se ele não medisse as palavras, afinal estavam no meu território.
— Não me entenda mal, mas é isso o que me parece. Angela é minha primogênita, mas um dia tudo deveria passar para o meu menino e não para o marido da minha filha. Mas você é influente, já tem muito poder e poderia influenciar todos a seu favor.
— Eu não o chamei aqui para isso, se não confia em seus homens é um problema seu, não meu. O que estou lhe propondo é uma aliança, uma união para vencermos essa guerra e estendermos o nosso território.
Giovanni me encarou em silêncio me irritando além do limite, eu sabia que ele não se importava com a menina, Angela não tinha serventia para ele além de um bom casamento e eu duvidava muito que ele fosse casá-la com alguém de fora do nosso mundo sombrio.
E isso tudo só me levava a pensar que ele estava armando outra coisa, tramando um plano naquela cabecinha suja dele.
— Vou discutir isso com o conselho. — ele disse por fim se levantando e estendendo a mão na minha direção. — Te dou uma resposta até amanhã!
Apertei a mão dele e acenei com a cabeça em resposta antes que ele deixasse o escritório da boate, a porta se fechou e meus homens voltaram aos seus postos e eu finalmente soltei o ar e me joguei de qualquer forma na poltrona.
— Você acha mesmo que ele vai falar com o conselho? — Frank perguntou enquanto meu irmão já nos servia uma dose de whiskey.
— Vai, mas com certeza é por outro motivo. Tenho quase certeza de que Giovanni vai fazer essa mesma proposta a outra organização apenas por despeito. — murmurei pegando o copo e encarando o liquido âmbar tão parecido com os olhos de Angela.
O nome dela remetia a anjo, condizia com a aparência dela, já eu era visto como um demônio, o homem mais temido e sanguinário da Camorra.
— Vou avisar ao nosso informante. — Frank falou saindo, já indo garantir que as novas informações chegassem até nós.
— Você também pode fazer essa proposta a outras organizações. — meu irmão se jogou na cadeira que a pouco Giovanni ocupava. — Porque não faz para os Japoneses antes que se aliem aos Russos? Ou fale direto com a Bratva, uma esposa loira não seria tão mal assim.
Sorri para ele tomando um gole do whiskey. Sim eu poderia fazer isso, mas não era o que eu queria, não tinha nada com os russos além de ódio, não queria associações no momento. Embora não fosse uma má ideia o que Nero propôs, meu foco era outro.
E não demorou nem dois dias para que nossas suspeitas fossem confirmadas, nosso informante entregou a localização de Mancini, nos garantindo que tinha ido se encontrar com os chefes da 'Ndrangheta.
— Ele vai pagar caro por isso, vai desejar ter aceitado o meu acordo. — rosnei assistindo os desgraçados se despedirem depois de firmarem um acordo.
Sorrindo e apertando as mãos, felizes com a porra da negociação ter terminado bem, mas eu só conseguia ver os desgraçados rindo por terem me passado para trás nessa merda.
— Você sabe que ele nos detesta, desde que o nosso pai matou o pai dele durante a guerra e você ter matado o irmão dele por... — ele deixou as palavras morrerem, sabendo que não deveria repetir aquele momento das nossas vidas.
— Era guerra Nero, o que você queria? Pessoas morrem dos dois lados, ele não deveria ser tão orgulhoso a ponto de ser burro e se aliar com pessoas fracas. Se alguém tem motivos para odiá-los somos nós! — falei trincando os dentes e tomando uma decisão. — Nós vamos buscá-la. Vamos roubar Angela Mancini de baixo dos narizes desses filhos da puta, bem no dia do casamento.
— Enlouqueceu Marco? — meu irmão insistiu. — Faça a mesma proposta para a Bratva, case com uma russa e os faça sofrer!
— Talvez devesse ouvir seu consigliere. — Frank falou do banco da frente enquanto nós assistíamos eles irem embora. — Deixe eles pensarem que venceram e nós apareceremos ainda mais fortes.
Não! Eu não podia deixar que a entregassem para aquele verme, o pequeno anjo seria meu, em breve se chamaria Angela Falcone, carregando meu nome, mostrando a todos que me pertencia e que era tão ruim quanto eu. Faria ela se transformar na própria Diaba da Camorra e tomaríamos a Cosa Nostra de baixo de sangue.
— Se é tão sensato assim case-se com uma russa você, estaria mais do que orgulhoso em fazer esse acordo no seu nome Nero. — essa era minha última palavra. — Avisem do ataque, temos um mês para planejar tudo e não quero falhas.
Quando meu pai me disse que eu ia casar com Filippo para que nós tornássemos aliados e assim pudéssemos ganhar a guerra contra os russos eu não discuti, aquela era a primeira vez que meu pai falava qualquer coisa sobre os assuntos da máfia comigo.Mulheres não deveriam saber dessas coisas, não podíamos aprender a lutar, ou ir para a faculdade. Nossa função era apenas casar, ser uma esposa atenciosa e obediente, submissa a todos as vontades do marido.Era isso que éramos ensinadas desde pequenas. Essa era a forma de garantirem que não nos envolveríamos nos negócios da famiglia, nos portaríamos como bela esposas e mães obedientes.Mas desde que eu tinha encontrado com Marco Falcone algo me impulsionava a fazer as perguntas que estavam em minha cabeça. Pela primeira vez eu não me sentia forçada a guardar meus pensamentos para mim mesma.Ele me desafiava até mesmo com o olhar e as palavras dele não saíam da minha cabeça: Você pode ser a própria Diaba da Camorra ao meu lado. Aquelas palavr
Os lábios carnudos se moldaram aos meus se rendendo tão facilmente ao meu toque, eu segurava o rosto dela, mas queria mesmo estar tocando suas curvas. Maldita a hora em que prometi que me comportaria e ganharia sua confiança.Mordi o lábio inferior de Angela, querendo que ela abrisse a boca e me deixasse deslizar minha língua ali, mostrando como logo faria por todo seu corpo. O gemido que ouvi escapar dela me deixou ainda mais excitado, meu pau se apertou dentro da calça social e eu me amaldiçoei por ser levado por tão pouco com aquela garota.— Abra a boca Angel, me deixe mostra como faz. — meu pedido fez seu corpo inteiro endurecer.Mas que porra? Eu estava tentando não assustá-la, mas já parecia que ela tinha sido aterrorizada.— Para Filippo! Por favor.O nome dele deixou os lábios dela com verdadeiro medo e as feições dela estavam tomadas por nojo, bem diferente da mulher que tinha me pedido para ensiná-la a beijar.Mas agora meu pensamento estava correndo para outro lugar, imagi
Eu fiquei ali parada no banheiro sem entender porque Marco saiu rapidamente, praticamente fugindo de mim. Em um segundo o homem parecia não ser capaz de me deixar em paz, eu cheguei até a pensar que ele ficaria ali enquanto eu tomava banho.Mas no minuto seguinte ele saiu correndo, como se eu fosse seu pior inimigo. O que tinha dado nele pra sair assim?Minhas perguntas ficaram em segundo plano, pois quando virei me deparei com meu real estado no espelho. O cabelo que antes estava em penteado perfeito, agora estava bagunçado e jogado em todas as direções, meu vestido sujo e rasgado, minha maquiagem completamente arruinada.— Como é que ele quis me beijar eu estando desse jeito? — falei comigo mesma no espelho enquanto arrancava todos os grampos que ainda restavam no meu cabelo.Eu estava horrível, como um homem como Marco iria se interessar por mim? Só podia mesmo estar interessado em atingir meu pai ou Filippo. Isso ficou óbvio quando conversávamos no escritório.Marco sabia que não
Eu precisei sair do banheiro no momento em que ela perguntou sobre minha cicatriz. Eu tinha um monte delas, mas aquela em particular significava muito para mim, foi onde se deu início a minha fama de demônio da Camorra.A última coisa que eu queria naquele momento era falar sobre aquilo com ela, contar como me tornei um assassino tão novo. Eu precisava ganhar a confiança dela, já bastava todas as coisas que o pai dela havia contado fora de contexto.Mas não consegui me manter longe, mesmo que a porra do mundo estivesse pegando fogo lá fora, todos em busca de descobrirem quem tinha invadido o grande casamento da Coisa Nostra, eu só queria manter meus olhos no anjo que seria minha perdição.Eu entrei no quarto dela e assumi o lugar da minha irmã, penteando os cabelos dela. Precisava me manter perto dela o tempo todo, porque quanto antes Angela tomasse sua decisão melhor seria, tudo se resolveria bem mais rápido.— Me conte o que está acontecendo. — ela falou, mesmo que eu estivesse sent
Eu estava contra a parede, as pernas em volta do quadril de Marco sentindo todo meu corpo ser pressionado entre a parede e seu corpo, mas mesmo assim não parecia ser suficiente.Sentia uma necessidade dentro de mim clamando, implorando por mais. Mas ao mesmo tempo uma voz dentro de mim gritava me lembrando de que não tinha sido criada assim.— O que estamos fazendo? — minha voz saiu falhada quando desviei os lábios dele, recuperando meu fôlego novamente.— Quer que eu pare pequeno anjo? — ele questionou segurando meu olhar e fazendo a onda de calor se alastrar por meu corpo. — É só dizer uma palavra que eu paro.Eu não sabia o que responder, uma parte de mim gritava para continuar e descobrir até onde ele poderia me levar, o que ele me faria sentir com aqueles toques, com a boca.Porém minha parte racional gritava para por um fim naquilo e me afastar, dizendo que eu deveria me dar o respeito como minha mãe tinha me ensinado.Mas no final eu me peguei acenando de maneira negativa para
Sair de perto dos beijos quentes e do corpo macio de Angela, para ir direito aos ataques daquele dia, era um verdadeiro inferno. Aquela era a última coisa que eu teria escolhido fazer, mas a culpa era minha se os ataques estavam acontecendo, eu teria que lidar com ele agora. — Como eles invadiram nosso armazém com tanta facilidade? — questionei encarando as imagens do vídeo onde os homens da Cosa Nostra invadiam um dos nossos armazéns de drogas, matando nossos homens e saqueando nossas mercadorias. — O pessoal estava reduzido, não havia nenhuma movimentação marcada para hoje. — Nero foi o corajoso a responder e eu bufei querendo socar cada um deles. — Eles levaram dois soldados e a meia tonelada de cocaína que estava lá. Porra! Aquilo não deveria estar acontecendo, não no meio do inferno que já estávamos enfrentando com os russos e com os japoneses. Não podíamos errar assim! — Será que preciso desenhar para vocês cada pequena coisa que temos que fazer? — bati os punhos na mesa. — D
— Ainda voto para atacarmos ele na próxima semana, precisamos de alguns dias ao menos antes de outro confronto.Já era quase manhã, o dia estava prestes a raiar e estávamos nós três a entrar no lugar da reunião, viemos como Mancini havia pedido, apenas os três e em paz. Eles só não sabiam do batalhão de homens que estavam disfarçados a uma distância segura.— Eu quero rir na cara dele, me deixe fazer isso. — murmurei enquanto adentrávamos o pátio, avistando o carro dele bem perto. — Mancini, resolveu querer conversar como homens?— Não brinque comigo Falcone! Você pegou a minha filha, sequestrou a minha menininha no dia do casamento dela! Que honra você tem?Eu quis rir ao ouvi-lo falar de forma tão afetiva da garota por quem ele não tinha o menos apego, mas me contive em manter a conversa apenas no que era necessário.— Quer mesmo falar de honra? Logo você que não respondeu a minha proposta depois de toda a conversa pacífica que tivemos. Além de não me responder você foi fazer a prop
— Foi meu pai não foi? Ele atacou vocês em retaliação por ter me sequestrado? Ou Filippo fez isso? — tentei tocar o abdômen machucado, onde estavam às marcas redondas e arroxeadas, mas ele se afastou agarrando meu pulso e me impedindo de tocá-lo.— Não ouse nunca mais falar o nome daquele verme fraco, ele jamais teria a capacidade de chegar tão perto de mim para me ferir, estaria morto muito antes. — encarei o olhar duro que ele tinha, mesmo misturado a dor Marco conseguia parecer assustador. — Eu e seu pai tivemos uma rápida conversa ontem a noite. Agora suba o doutor vai subir e ver seu pé nesse exato momento.Ele acenou com a mão para um homem que suturava um de seus homens que correu para onde estávamos.— Não vou a lugar nenhum. — ergui o queixo mostrando que não aceitaria suas ordens. — Esses homens precisam de mais cuidados do que eu, posso lidar com um joelho ralado.Marco semicerrou os olhos me dando uma longa olhada, como se aquilo fosse ser capaz de me intimidar, já estava