Na manhã seguinte, Daniel chegou em casa e encontrou Eveline na varanda, tomando um chá.— Eveline — disse ele com voz calma —, precisamos conversar. Pode vir comigo até o escritório?Ela assentiu, preocupada com a expressão dele. Sentou-se em frente à mesa de trabalho, onde Daniel já aguardava com o semblante sério.— Marcus me procurou ontem. Ele já sabe onde você está.Eveline ficou em silêncio. Um segundo depois, desviou o olhar para a janela.— Eu imaginava que não duraria muito...— A decisão é sua — continuou Daniel. — Eu jamais vou forçar nada. Se quiser falar com ele, se quiser vê-lo, se quiser voltar... eu vou respeitar. Mas se quiser seguir aqui, comigo, com as crianças... eu também vou estar aqui.Ela assentiu, pensativa, o coração apertado. Não respondeu de imediato, apenas se levantou com um leve suspiro e saiu do escritório em silêncio.Horas depois, Eveline assistia a um programa de TV enquanto organizava algumas roupas do bebê. Uma matéria especial sobre os bilionário
O sol já se punha quando Marcus acordou no flat da família, com a cabeça latejando e a boca seca. O quarto ainda exalava o perfume adocicado de Giovana, mas ela já não estava ali. A garrafa de uísque aberta sobre a mesa de canto era a única testemunha da noite anterior.Ele se levantou devagar, sentindo o peso de cada passo. No espelho, o reflexo de um homem abatido o encarava. Olhos vermelhos, barba por fazer, camisa amassada. Um completo contraste daquele herdeiro bilionário que figurava nas capas de revista.Ao ligar a televisão para se distrair, sua imagem tomou conta da tela em um programa de fofocas matinal:"Marcus Castelão é flagrado em clima de romance com nova companhia. O bilionário foi visto em um bar luxuoso da capital acompanhado da bela Giovana Arrais, Curadora, colunista da revista Estilo & Alma.A reportagem seguia, mostrando os dois se beijando, rindo e trocando carícias. O barulho da sua própria risada gravada ecoou pela sala como um tapa. Ele desligou a TV com raiv
A caneta escorregava entre os dedos finos de Eveline Rocha. O papel à sua frente tremia como se denunciasse o que ela não podia dizer em voz alta. Aquela não era uma assinatura de amor. Era um contrato de resgate. Resgate financeiro — não emocional.Sentada à mesa da sala de jantar, Eveline parecia pequena demais para a gravidade daquela decisão. A jovem de pele alva e cabelos negros como a noite encarava o documento com os olhos cor de mel marejados. Seu coração batia tão alto que podia jurar que os outros escutavam.Mas ninguém escutava nada naquela casa.Seu pai, Júlio Rocha, estava de pé ao lado da lareira, com os braços cruzados e a expressão fria como mármore. Desde que a fábrica da família — uma tradicional tecelagem herdada do avô de Eveline — começara a falir, ele já não a olhava como filha. Era uma moeda de troca, e nada mais.— Assine de uma vez, Eveline. Não temos o dia todo — disse ele com voz áspera, sem tirar os olhos do relógio de bolso que herdara como um troféu de te
Eveline observava, pela janela do carro, as vastas paisagens da fazenda, a estrada de terra, ainda um pouco empoeirada pela recente chuva, parecia não ter fim. O coração dela batia acelerado, mas ela tentava controlar as emoções. Era a primeira vez que estava indo para lá, e apesar de tudo, uma sensação de ansiedade misturada com curiosidade dominava seu corpo.Ela não sabia bem o que esperar. As palavras de seu pai, Júlio, ecoavam em sua mente: "Este casamento é sua salvação, Eveline. A nossa única chance." Ele e a madrasta, Claudia, tinham apostado tudo naquele matrimônio. Marcus Castelão não era apenas rico — ele era a última tábua de salvação para os negócios em ruínas da família Rocha. Eveline nunca pensou que um casamento, tão frio e imposto, pudesse ter algo de bom.Ela chegou à fazenda por volta do final da tarde, o céu tingido de laranja, como um aviso de que a noite estava prestes a cair. Quando o carro parou, não havia ninguém à porta esperando por ela, nada que lembrasse u
O jantar foi silencioso.Eveline sentou-se à mesa longa, comendo sob o olhar atento de Maria e os poucos funcionários que transitavam discretamente pela casa. Marcus não apareceu para comer com ela. A mesa, embora farta, parecia um palco vazio. Nada ali era acolhedor, e cada mordida parecia feita por obrigação.Depois do jantar, Maria levou-a de volta ao quarto. As malas já estavam no lugar, as roupas cuidadosamente organizadas no armário. A noite estava quente, e uma brisa morna entrava pela janela, balançando levemente as cortinas.Eveline trocou-se por uma camisola leve de seda vermelha, que Claudia fizera questão de colocar no fundo da mala. O tecido macio grudava em seu corpo como uma segunda pele, destacando sua silhueta. Ela hesitou em se olhar no espelho, mas o fez. Pela primeira vez, se viu com os olhos de um homem. Um homem como Marcus.Será que ele me deseja? Ou só me escolheu pelo ventre?Bateu à porta. Um toque firme. Ela se sobressaltou.Maria entrou.— O senhor Marcus e
O corpo de Eveline ainda tremia. A primeira vez deixara marcas que ela jamais esqueceria. Marcus, mesmo com seu jeito contido e palavras frias, havia sido intenso, dominador... e surpreendentemente carinhoso durante o ato. Mas, assim que seus corpos se separaram, a distância entre eles voltou a se instalar.Ela observava de lado, deitada nua entre os lençóis, o homem que agora se levantava da cama, recolocava a camisa e virava de costas.— Você pode ficar aqui. Amanhã, Maria irá te mostrar o resto da casa. — A voz dele voltou ao tom seco, formal. Quase impessoal.Eveline sentou-se lentamente, os cabelos caindo sobre os ombros nus, os seios ainda sensíveis. A frieza dele depois de tanta entrega era como um tapa.— É só isso? — a pergunta escapou de seus lábios sem que ela planejasse.Marcus virou-se devagar, os olhos verdes a examinando como se ponderasse cada palavra.— O que você esperava?Ela baixou os olhos, engolindo o gosto amargo do silêncio que se seguiu. Ele não disse mais nad
O sol entrou tímido pela janela, iluminando o quarto silencioso. Eveline despertou sozinha. A cama estava fria ao seu lado.Nenhuma carta. Nenhuma palavra.Levantou-se em silêncio, vestiu-se e desceu para o café da manhã. Maria já a esperava na cozinha com frutas frescas e pão caseiro.— O patrão saiu cedo para a lida com os assuntos da fazenda. Disse que tinha muito o que resolver hoje.— Ele... falou algo sobre mim? — Eveline perguntou, tentando soar indiferente.— Apenas que você deveria se sentir em casa — respondeu Maria, sorrindo com doçura. — Mas eu conheço aquele homem... tem coisa no coração que ele tenta esconder.O dia passou devagar. Eveline passeou pela fazenda, caminhou entre as árvores e acabou encontrando o jardim nos fundos da casa principal. Estava um pouco descuidado, mas ainda assim havia rosas, lavandas, jasmim... o cheiro a abraçou como um carinho silencioso. Ela sorriu.Ali, com a terra entre os dedos, ela sentia paz.No fim da tarde, ouviu o som dos cascos dos
O som do motor do carro cruzando os portões da fazenda fez o coração de Eveline acelerar.Ela estava no jardim, ajoelhada junto às roseiras, as mãos sujas de terra, os cabelos presos num coque frouxo, usando um vestido leve que moldava sua silhueta como uma segunda pele.O carro preto estacionou em frente à casa. Marcus desceu com o olhar tenso, a expressão carregada pelo cansaço da viagem. Vestia uma camisa azul escura dobrada nos cotovelos, os primeiros botões abertos. O rosto estava mais fechado que de costume.Mas seus olhos... seus olhos a procuraram imediatamente.Eveline se levantou devagar. Os olhos de Marcus cravaram-se nela como ferro em brasa. Os minutos pareceram se arrastar enquanto ele caminhava em sua direção. Mas ao chegar perto, sua expressão permaneceu rígida.— Como passaram os dias?— Em silêncio — ela respondeu, secando as mãos na barra do vestido. — Como sempre.Ele não disse nada. Apenas entrou.O jantar foi quase mudo. Maria, que percebeu a tensão no ar, foi di