O sol entrou tímido pela janela, iluminando o quarto silencioso. Eveline despertou sozinha. A cama estava fria ao seu lado.
Nenhuma carta. Nenhuma palavra.
Levantou-se em silêncio, vestiu-se e desceu para o café da manhã. Maria já a esperava na cozinha com frutas frescas e pão caseiro.
— O patrão saiu cedo para a lida com os assuntos da fazenda. Disse que tinha muito o que resolver hoje.
— Ele... falou algo sobre mim? — Eveline perguntou, tentando soar indiferente.
— Apenas que você deveria se sentir em casa — respondeu Maria, sorrindo com doçura. — Mas eu conheço aquele homem... tem coisa no coração que ele tenta esconder.
O dia passou devagar. Eveline passeou pela fazenda, caminhou entre as árvores e acabou encontrando o jardim nos fundos da casa principal. Estava um pouco descuidado, mas ainda assim havia rosas, lavandas, jasmim... o cheiro a abraçou como um carinho silencioso. Ela sorriu.
Ali, com a terra entre os dedos, ela sentia paz.
No fim da tarde, ouviu o som dos cascos dos cavalos e dos pneus dos caminhões voltando à fazenda. Marcus chegou pouco depois, suado, com o rosto cansado, a camisa semiaberta mostrando parte do peito atraente coberto por suor e poeira. Ela o viu de longe pela varanda, mas ele sequer olhou em sua direção.
Indiferenca - Aquilo a feriu mais que qualquer grito.
Na hora do jantar, ele surpreendentemente apareceu. Sentou-se diante dela à mesa, silencioso.
— A comida está boa — disse, após a primeira garfada.
Ele a observou brevemente, como se buscasse algo em seu rosto, mas não disse mais nada. O jantar foi silencioso.
Após comer, ele limpou os lábios com o guardanapo e a encarou.
— Me espere no escritório em dez minutos. Tenho algo a dizer.
O escritório era amplo, forrado de livros e cheiro de couro antigo. Eveline entrou devagar. Marcus estava em pé, perto da lareira, com uma taça de uísque na mão.
— Vou viajar amanhã. Negócios a resolver, fico fora por uma semana.
Ela congelou.
— Uma semana?
— Sim. Você ficará aqui. Maria cuidará de tudo. Não saia da fazenda sem autorização, entendeu?
— Eu não sou prisioneira, Marcus.
Ele se aproximou, o olhar frio.
— Não, não é. Mas é minha esposa. E gosto das coisas do meu jeito.
Sem esperar resposta, virou-se e foi embora, deixando Eveline com o coração acelerado e as palavras presas na garganta.
Nos dias seguintes, a ausência dele cresceu como sombra. Eveline passava horas no jardim, cuidando das flores, com os dedos cheios de terra e o coração cheio de saudade.
Saudades daquele que mal conhecia mas que passaou ser a sua unica espera.
À noite, mergulhava nos livros, mas as palavras se perdiam entre as lembranças.
Lembrava do toque dele. Da forma como seus lábios percorriam sua pele. Dos gemidos abafados. Do jeito como ele a fazia se sentir... desejada. Possuída. Viva.
Em mais de uma madrugada, acordava com o corpo em chamas, os lençóis úmidos, a mão entre as pernas tentando acalmar o desejo. Mas nenhum toque era igual ao de Marcus. E aquilo a enlouquecia.
Do outro lado, em sua viagem, Marcus tentava se manter concentrado nos negócios. Mas não conseguia.
À noite, em hotéis luxuosos, sozinho em quartos frios, lembrava do cheiro de Eveline. Do gosto de sua pele. Do calor entre as coxas dela.
Masturbava-se pensando nela. Rápido, intenso, frustrado.
"O que essa garota fez comigo?", murmurava entre dentes, irritado consigo mesmo.
Todos os dias, ligava para Maria.
— Como ela está?
— Bem, patrão. Ela cuida do jardim, lê bastante. Parece... mais quieta hoje.
— Ela perguntou por mim?
— Não diretamente, mas... sinto que sente a sua falta.
Marcus apertava o telefone com força. O silêncio do outro lado dizia mais do que qualquer palavra.
Estava com saudades dela também. E isso o deixava furioso.
O som do motor do carro cruzando os portões da fazenda fez o coração de Eveline acelerar.Ela estava no jardim, ajoelhada junto às roseiras, as mãos sujas de terra, os cabelos presos num coque frouxo, usando um vestido leve que moldava sua silhueta como uma segunda pele.O carro preto estacionou em frente à casa. Marcus desceu com o olhar tenso, a expressão carregada pelo cansaço da viagem. Vestia uma camisa azul escura dobrada nos cotovelos, os primeiros botões abertos. O rosto estava mais fechado que de costume.Mas seus olhos... seus olhos a procuraram imediatamente.Eveline se levantou devagar. Os olhos de Marcus cravaram-se nela como ferro em brasa. Os minutos pareceram se arrastar enquanto ele caminhava em sua direção. Mas ao chegar perto, sua expressão permaneceu rígida.— Como passaram os dias?— Em silêncio — ela respondeu, secando as mãos na barra do vestido. — Como sempre.Ele não disse nada. Apenas entrou.O jantar foi quase mudo. Maria, que percebeu a tensão no ar, foi di
Era uma manhã comum, o sol dourando os campos e a brisa espalhando o cheiro fresco da fazenda. Eveline estava no jardim, como sempre, quando Maria apareceu com um recado:— O patrão pediu que esteja pronta para o almoço. Vai receber um convidado importante hoje.— Quem?— Um amigo de longa data. Empresário, do ramo de genética de gado. Nome bonito... Henrique Vasconcellos.Eveline arqueou uma sobrancelha. Até então, Marcus nunca havia mencionado amigos.Henrique chegou pouco depois do meio-dia, em uma caminhonete de luxo. Era alto, de corpo atlético, sorriso fácil e um charme evidente. Tinha olhos escuros que não escondiam a malícia, e logo que viu Eveline, seus olhos cravaram nela como se ela fosse o prato principal.— Então é você a esposa do Marcus... Eveline, certo? — estendeu a mão, sorrindo de forma lasciva.Ela retribuiu com educação, mas desconfortável.— Sim, prazer.Marcus observava a cena de longe, com o maxilar travado. A tensão em seu corpo era visível.Durante o almoço,
A temperatura havia caído drasticamente naquela noite. A fazenda parecia envolta por uma névoa espessa e o vento assobiava pelas janelas, ameaçando uma tempestade. Marcus, ao retornar do banho, encontrou Eveline encolhida na sala, diante da lareira acesa, com uma taça de vinho nas mãos, vestindo um robe de cetim branco — curto, indecente, revelador, que guardava por dentro uma linda langerir branca desenhada a seu corpo que mas tarde seria arrancada pelos dentes de Marcus.Ela sorriu ao vê-lo.— Quer beber comigo?Ele hesitou. Mas apenas por um segundo.Serviu-se. Sentou ao lado dela. A tensão entre os dois era quase palpável.— Está frio… — ela murmurou, os olhos embriagados e risonhos. O vinho já começava a deixá-la mais solta, mais atrevida.— Está. — Ele concordou, encarando os lábios dela.Sem aviso, ela deslizou para o colo dele, passando as pernas nuas por cima de suas coxas, o robe abrindo-se mais.— Você me aquece?Marcus sorriu, um sorriso enviesado e perigoso.— Não tenho e
O dia amanheceu com o céu nublado e o cheiro de terra molhada no ar. Eveline, deitada entre os lençóis quentes da cama de casal, olhava o teto enquanto o corpo ainda sentia os efeitos da última noite — onde Marcus, mais uma vez, havia sido intenso, porém surpreendentemente doce. Desde a noite da lareira e da declaração inesperada de amor, algo parecia ter mudado entre eles.Naquela manhã, ao sentar-se à mesa para o café, Eveline tomou coragem:— Queria ir até a cidade, conhecer um pouco mais. Talvez comprar algumas flores para o jardim… e uns livros novos. — disse, olhando para Marcus por cima da xícara de chá.Ele hesitou. A cidade, mesmo pequena, era cheia de olhares. E sua máscara ainda cobria parte do rosto. Mas ao ver os olhos dourados de Eveline, cheios de expectativa, ele assentiu com um leve suspiro.— Tudo bem. Vamos hoje à tarde.O carro deslizava pelas estradinhas de terra. Marcus, de camisa azul escura, as mangas dobradas até os cotovelos, dirigia em silêncio. Eveline, de
A ida à cidade foi um pequeno passo para Marcus — e um grande salto para o homem que por tanto tempo viveu recluso. Atendeu ao pedido de Eveline mesmo com o incômodo constante de sair com sua máscara. Caminhar pelas ruas estreitas da cidadezinha, sentir olhares curiosos sobre si... ainda era difícil. Mas ao lado dela, tudo parecia um pouco mais fácil.Eveline sorria ao seu lado como se o mundo fosse um lugar seguro e bonito de se estar. Em uma floricultura charmosa, Marcus comprou um buquê de lírios brancos. Ela adorava flores. Nunca tinha ganhado nenhuma.— São lindas — disse ela, surpresa, segurando as pétalas como se fossem tesouros.Ele apenas assentiu, com um sorriso quase tímido, mas carregado de orgulho. Era como se dar flores à mulher que amava fosse um gesto mais íntimo do que qualquer outro.Na volta para o carro, o salto de Eveline vacilou ao descer uma calçada novamente. Um gemido escapou de seus lábios e ela quase caiu.— Ai... meu tornozelo!Marcus agiu sem pensar. A peg
O aroma das flores recém-colhidas ainda pairava no quarto, como se o tempo tivesse parado ali, congelado na fragilidade daquele instante. O sol da tarde atravessava as cortinas esvoaçantes, tingindo tudo com um dourado suave, quase onírico. Eveline repousava na cama, o tornozelo cuidadosamente enfaixado após a visita atenciosa do médico. Cada gesto havia sido meticulosamente executado por Marcus, que não saíra de seu lado em momento algum. Ele a observava com uma devoção silenciosa, olhos carregados de um cuidado que ela jamais havia visto nele antes.Era como se outro homem houvesse nascido ali, ao lado da cama. O mesmo Marcus que antes parecia distante, quase alheio às delicadezas da vida cotidiana, agora se mostrava gentil, solícito, quase amoroso. O olhar que lançava a ela tinha mudado: não era mais de simples preocupação, mas de algo mais profundo. Como se, de repente, ela fosse o eixo do mundo dele, o centro de um novo universo.Eveline, no entanto, sentia-se estranha — e não ap
A caneta escorregava entre os dedos finos de Eveline Rocha. O papel à sua frente tremia como se denunciasse o que ela não podia dizer em voz alta. Aquela não era uma assinatura de amor. Era um contrato de resgate. Resgate financeiro — não emocional.Sentada à mesa da sala de jantar, Eveline parecia pequena demais para a gravidade daquela decisão. A jovem de pele alva e cabelos negros como a noite encarava o documento com os olhos cor de mel marejados. Seu coração batia tão alto que podia jurar que os outros escutavam.Mas ninguém escutava nada naquela casa.Seu pai, Júlio Rocha, estava de pé ao lado da lareira, com os braços cruzados e a expressão fria como mármore. Desde que a fábrica da família — uma tradicional tecelagem herdada do avô de Eveline — começara a falir, ele já não a olhava como filha. Era uma moeda de troca, e nada mais.— Assine de uma vez, Eveline. Não temos o dia todo — disse ele com voz áspera, sem tirar os olhos do relógio de bolso que herdara como um troféu de te
Eveline observava, pela janela do carro, as vastas paisagens da fazenda, a estrada de terra, ainda um pouco empoeirada pela recente chuva, parecia não ter fim. O coração dela batia acelerado, mas ela tentava controlar as emoções. Era a primeira vez que estava indo para lá, e apesar de tudo, uma sensação de ansiedade misturada com curiosidade dominava seu corpo.Ela não sabia bem o que esperar. As palavras de seu pai, Júlio, ecoavam em sua mente: "Este casamento é sua salvação, Eveline. A nossa única chance." Ele e a madrasta, Claudia, tinham apostado tudo naquele matrimônio. Marcus Castelão não era apenas rico — ele era a última tábua de salvação para os negócios em ruínas da família Rocha. Eveline nunca pensou que um casamento, tão frio e imposto, pudesse ter algo de bom.Ela chegou à fazenda por volta do final da tarde, o céu tingido de laranja, como um aviso de que a noite estava prestes a cair. Quando o carro parou, não havia ninguém à porta esperando por ela, nada que lembrasse u