Eveline observava, pela janela do carro, as vastas paisagens da fazenda, a estrada de terra, ainda um pouco empoeirada pela recente chuva, parecia não ter fim. O coração dela batia acelerado, mas ela tentava controlar as emoções. Era a primeira vez que estava indo para lá, e apesar de tudo, uma sensação de ansiedade misturada com curiosidade dominava seu corpo.
Ela não sabia bem o que esperar. As palavras de seu pai, Júlio, ecoavam em sua mente: "Este casamento é sua salvação, Eveline. A nossa única chance." Ele e a madrasta, Claudia, tinham apostado tudo naquele matrimônio. Marcus Castelão não era apenas rico — ele era a última tábua de salvação para os negócios em ruínas da família Rocha. Eveline nunca pensou que um casamento, tão frio e imposto, pudesse ter algo de bom.
Ela chegou à fazenda por volta do final da tarde, o céu tingido de laranja, como um aviso de que a noite estava prestes a cair. Quando o carro parou, não havia ninguém à porta esperando por ela, nada que lembrasse uma recepção calorosa. O silêncio era imenso, quase pesado. A única pessoa que a olhou com um sorriso caloroso foi Maria, a governanta, que a recebeu com um olhar acolhedor, mas o resto parecia não se importar.
Marcus Castelão observava a cena da janela de seu escritório.Ela era linda; Muito mais do que ele esperava, pensou Marcus.
Alta, de pele branca, seu corpo revelava curvas desenhadas, com a postura firme de quem não se deixava quebrar fácil. Seus cabelos negro voava com o vento, e o jeito como sorria para Maria... Aquilo mexeu com ele. Contra sua vontade.
Mas Marcus era um homem ferido. E feridas doíam mais quando se apaixonava.— Seja bem-vinda, minha querida. Eu sou Maria — disse ela, com a voz doce e calorosa. — A casa agora também é sua.
Eveline forçou um sorriso. Aquela foi a primeira gentileza recebida em muito tempo. Quase lhe escapou uma lágrima, mas conteve.
— Obrigada, dona Maria.
— Só Maria, por favor. Pode me chamar assim. — Ela se aproximou, pegou uma das malas com leveza e olhou nos olhos da jovem. — Você deve estar assustada. Mas... nem todo mundo aqui é tão frio quanto dizem, viu?
Eveline assentiu, sem saber exatamente o que aquilo queria dizer. Entraram na casa juntas. O interior era uma mistura de luxo rústico e austeridade. Móveis de madeira escura, tapetes caros, paredes com quadros antigos e... silêncio. Um silêncio denso, carregado.
— O senhor Marcus a verá mais tarde. Está no escritório. Ele pediu que a deixássemos descansar um pouco antes de apresentá-la a ele.
“Apresentá-la a ele.” Como se ela fosse uma aquisição. Uma peça nova na propriedade.
Maria mostrou o quarto. Era amplo, com uma enorme cama de madeira talhada, lençóis brancos e janelas abertas para o campo. Mas tudo ali parecia frio demais para ser confortável.
Eveline se sentou na beira da cama e, por um instante, deixou o corpo pesar. O colchão macio contrastava com a tensão que ela carregava nos ombros.
“É aqui que eu vou começar de novo? Ou terminar de me perder?”
Tomou um banho rápido, escolheu um vestido leve de algodão branco, com mangas que caiam suavemente pelos ombros e a saia marcada na cintura, como gostava de usar. Claudia teria preferido algo mais provocante, mas naquele momento Eveline queria apenas parecer... limpa. Nova.
Já anoitecia quando Maria bateu levemente à porta.
— O senhor Marcus está pronto para vê-la.
Eveline respirou fundo. A garganta apertada. As mãos geladas.
Desceu as escadas em silêncio, seguindo Maria até uma porta de madeira escura no fim do corredor. A governanta bateu uma vez, e uma voz grave e autoritária respondeu:
— Entre.
Maria abriu a porta e fez um gesto para que Eveline entrasse. Ela obedeceu, sentindo cada passo como se andasse sobre brasas. A porta se fechou atrás de si, isolando-a naquele cômodo amplo e carregado de sombras.
Marcus Castelão estava de pé, de costas para ela, olhando pela janela. Era alto, ombros largos, vestia uma camisa preta de linho e calças sociais bem cortadas. O que chamou sua atenção de imediato, porém, foi a máscara. Uma meia-máscara preta cobria parte do lado esquerdo do seu rosto, deixando visível apenas o lado direito — forte, marcado por uma barba bem-feita e uma expressão tensa.
Ele se virou lentamente, e os olhos verdes a encararam com intensidade.
— Eveline Rocha. — Sua voz era firme, rouca, como se cada palavra escondesse algo.
Ela ficou imóvel, o coração acelerado.
— Sim, senhor.
Ele se aproximou, os passos lentos, mas firmes. Os olhos percorreram seu corpo — não com luxúria, mas como quem avalia. Ela notou, no entanto, que ele hesitava em se aproximar demais, como se um abismo invisível os separasse.
— Não gosto de toques. Nem de aproximações desnecessárias — ele disse, direto. — Esta casa tem regras. Você irá obedecê-las. E sua função aqui é clara: ser minha esposa. E me dar um filho.
O choque não veio das palavras — que ela já esperava —, mas da frieza com que ele as disse.
E ainda assim, quando seus olhares se encontraram novamente, algo diferente percorreu o corpo de Eveline. Não era medo, embora ela estivesse assustada. Era uma tensão estranha, uma faísca confusa, como se algo ali... tivesse acabado de começar.
O jantar foi silencioso.Eveline sentou-se à mesa longa, comendo sob o olhar atento de Maria e os poucos funcionários que transitavam discretamente pela casa. Marcus não apareceu para comer com ela. A mesa, embora farta, parecia um palco vazio. Nada ali era acolhedor, e cada mordida parecia feita por obrigação.Depois do jantar, Maria levou-a de volta ao quarto. As malas já estavam no lugar, as roupas cuidadosamente organizadas no armário. A noite estava quente, e uma brisa morna entrava pela janela, balançando levemente as cortinas.Eveline trocou-se por uma camisola leve de seda vermelha, que Claudia fizera questão de colocar no fundo da mala. O tecido macio grudava em seu corpo como uma segunda pele, destacando sua silhueta. Ela hesitou em se olhar no espelho, mas o fez. Pela primeira vez, se viu com os olhos de um homem. Um homem como Marcus.Será que ele me deseja? Ou só me escolheu pelo ventre?Bateu à porta. Um toque firme. Ela se sobressaltou.Maria entrou.— O senhor Marcus e
O corpo de Eveline ainda tremia. A primeira vez deixara marcas que ela jamais esqueceria. Marcus, mesmo com seu jeito contido e palavras frias, havia sido intenso, dominador... e surpreendentemente carinhoso durante o ato. Mas, assim que seus corpos se separaram, a distância entre eles voltou a se instalar.Ela observava de lado, deitada nua entre os lençóis, o homem que agora se levantava da cama, recolocava a camisa e virava de costas.— Você pode ficar aqui. Amanhã, Maria irá te mostrar o resto da casa. — A voz dele voltou ao tom seco, formal. Quase impessoal.Eveline sentou-se lentamente, os cabelos caindo sobre os ombros nus, os seios ainda sensíveis. A frieza dele depois de tanta entrega era como um tapa.— É só isso? — a pergunta escapou de seus lábios sem que ela planejasse.Marcus virou-se devagar, os olhos verdes a examinando como se ponderasse cada palavra.— O que você esperava?Ela baixou os olhos, engolindo o gosto amargo do silêncio que se seguiu. Ele não disse mais nad
O sol entrou tímido pela janela, iluminando o quarto silencioso. Eveline despertou sozinha. A cama estava fria ao seu lado.Nenhuma carta. Nenhuma palavra.Levantou-se em silêncio, vestiu-se e desceu para o café da manhã. Maria já a esperava na cozinha com frutas frescas e pão caseiro.— O patrão saiu cedo para a lida com os assuntos da fazenda. Disse que tinha muito o que resolver hoje.— Ele... falou algo sobre mim? — Eveline perguntou, tentando soar indiferente.— Apenas que você deveria se sentir em casa — respondeu Maria, sorrindo com doçura. — Mas eu conheço aquele homem... tem coisa no coração que ele tenta esconder.O dia passou devagar. Eveline passeou pela fazenda, caminhou entre as árvores e acabou encontrando o jardim nos fundos da casa principal. Estava um pouco descuidado, mas ainda assim havia rosas, lavandas, jasmim... o cheiro a abraçou como um carinho silencioso. Ela sorriu.Ali, com a terra entre os dedos, ela sentia paz.No fim da tarde, ouviu o som dos cascos dos
O som do motor do carro cruzando os portões da fazenda fez o coração de Eveline acelerar.Ela estava no jardim, ajoelhada junto às roseiras, as mãos sujas de terra, os cabelos presos num coque frouxo, usando um vestido leve que moldava sua silhueta como uma segunda pele.O carro preto estacionou em frente à casa. Marcus desceu com o olhar tenso, a expressão carregada pelo cansaço da viagem. Vestia uma camisa azul escura dobrada nos cotovelos, os primeiros botões abertos. O rosto estava mais fechado que de costume.Mas seus olhos... seus olhos a procuraram imediatamente.Eveline se levantou devagar. Os olhos de Marcus cravaram-se nela como ferro em brasa. Os minutos pareceram se arrastar enquanto ele caminhava em sua direção. Mas ao chegar perto, sua expressão permaneceu rígida.— Como passaram os dias?— Em silêncio — ela respondeu, secando as mãos na barra do vestido. — Como sempre.Ele não disse nada. Apenas entrou.O jantar foi quase mudo. Maria, que percebeu a tensão no ar, foi di
Era uma manhã comum, o sol dourando os campos e a brisa espalhando o cheiro fresco da fazenda. Eveline estava no jardim, como sempre, quando Maria apareceu com um recado:— O patrão pediu que esteja pronta para o almoço. Vai receber um convidado importante hoje.— Quem?— Um amigo de longa data. Empresário, do ramo de genética de gado. Nome bonito... Henrique Vasconcellos.Eveline arqueou uma sobrancelha. Até então, Marcus nunca havia mencionado amigos.Henrique chegou pouco depois do meio-dia, em uma caminhonete de luxo. Era alto, de corpo atlético, sorriso fácil e um charme evidente. Tinha olhos escuros que não escondiam a malícia, e logo que viu Eveline, seus olhos cravaram nela como se ela fosse o prato principal.— Então é você a esposa do Marcus... Eveline, certo? — estendeu a mão, sorrindo de forma lasciva.Ela retribuiu com educação, mas desconfortável.— Sim, prazer.Marcus observava a cena de longe, com o maxilar travado. A tensão em seu corpo era visível.Durante o almoço,
A temperatura havia caído drasticamente naquela noite. A fazenda parecia envolta por uma névoa espessa e o vento assobiava pelas janelas, ameaçando uma tempestade. Marcus, ao retornar do banho, encontrou Eveline encolhida na sala, diante da lareira acesa, com uma taça de vinho nas mãos, vestindo um robe de cetim branco — curto, indecente, revelador, que guardava por dentro uma linda langerir branca desenhada a seu corpo que mas tarde seria arrancada pelos dentes de Marcus.Ela sorriu ao vê-lo.— Quer beber comigo?Ele hesitou. Mas apenas por um segundo.Serviu-se. Sentou ao lado dela. A tensão entre os dois era quase palpável.— Está frio… — ela murmurou, os olhos embriagados e risonhos. O vinho já começava a deixá-la mais solta, mais atrevida.— Está. — Ele concordou, encarando os lábios dela.Sem aviso, ela deslizou para o colo dele, passando as pernas nuas por cima de suas coxas, o robe abrindo-se mais.— Você me aquece?Marcus sorriu, um sorriso enviesado e perigoso.— Não tenho e
O dia amanheceu com o céu nublado e o cheiro de terra molhada no ar. Eveline, deitada entre os lençóis quentes da cama de casal, olhava o teto enquanto o corpo ainda sentia os efeitos da última noite — onde Marcus, mais uma vez, havia sido intenso, porém surpreendentemente doce. Desde a noite da lareira e da declaração inesperada de amor, algo parecia ter mudado entre eles.Naquela manhã, ao sentar-se à mesa para o café, Eveline tomou coragem:— Queria ir até a cidade, conhecer um pouco mais. Talvez comprar algumas flores para o jardim… e uns livros novos. — disse, olhando para Marcus por cima da xícara de chá.Ele hesitou. A cidade, mesmo pequena, era cheia de olhares. E sua máscara ainda cobria parte do rosto. Mas ao ver os olhos dourados de Eveline, cheios de expectativa, ele assentiu com um leve suspiro.— Tudo bem. Vamos hoje à tarde.O carro deslizava pelas estradinhas de terra. Marcus, de camisa azul escura, as mangas dobradas até os cotovelos, dirigia em silêncio. Eveline, de
A ida à cidade foi um pequeno passo para Marcus — e um grande salto para o homem que por tanto tempo viveu recluso. Atendeu ao pedido de Eveline mesmo com o incômodo constante de sair com sua máscara. Caminhar pelas ruas estreitas da cidadezinha, sentir olhares curiosos sobre si... ainda era difícil. Mas ao lado dela, tudo parecia um pouco mais fácil.Eveline sorria ao seu lado como se o mundo fosse um lugar seguro e bonito de se estar. Em uma floricultura charmosa, Marcus comprou um buquê de lírios brancos. Ela adorava flores. Nunca tinha ganhado nenhuma.— São lindas — disse ela, surpresa, segurando as pétalas como se fossem tesouros.Ele apenas assentiu, com um sorriso quase tímido, mas carregado de orgulho. Era como se dar flores à mulher que amava fosse um gesto mais íntimo do que qualquer outro.Na volta para o carro, o salto de Eveline vacilou ao descer uma calçada novamente. Um gemido escapou de seus lábios e ela quase caiu.— Ai... meu tornozelo!Marcus agiu sem pensar. A peg