O silêncio era quase absoluto, quebrado apenas pelo som da respiração irregular de Ivy.Lucian segurava seu corpo frágil com um cuidado incomum, os músculos rígidos como se qualquer movimento brusco pudesse quebrá-la. Ele a deitou sobre a cama lentamente, mantendo os olhos fixos em seu rosto pálido.— Ivy... — ele chamou, a voz carregada de algo que parecia preocupação genuína.Ela piscou algumas vezes, tentando focar a visão. A vertigem ainda pesava sobre seus sentidos, como um resquício da tempestade que tomara sua mente momentos antes.Lucian deslizou a mão por seu rosto, afastando uma mecha de cabelo grudada à sua pele suada. Seus olhos analisavam cada detalhe, cada respiração superficial, cada tremor em seu corpo.— O que aconteceu com você?A pergunta veio baixa, quase um murmúrio, mas carregada de intensidade.Ivy queria responder, mas como? Como explicar algo que nem ela mesma entendia?Ela engoliu em seco, ainda sentindo o eco daquelas palavras em sua cabeça. Ele não pode ter
O céu estava cinzento naquela manhã. Nuvens pesadas pairavam como presságios sombrios sobre a mansão ancestral, ameaçando desabar a qualquer momento. Ivy observava a cena da janela de seu quarto, o coração batendo num ritmo errático.Agora, o vestido de noiva caía perfeitamente sobre seu corpo, juntamente com o véu translúcido cobrindo-lhe os ombros como uma névoa etérea.Uma batida suave interrompeu seus pensamentos.— Ivy, está na hora. — A voz de Helena soou do outro lado da porta, suave, mas carregada de algo que Ivy não soube identificar.Respirando fundo, Ivy se virou para o espelho. O reflexo devolveu-lhe o olhar, mas ela mal se reconhecia. Havia uma palidez incomum em seu rosto, um brilho de temor em seus olhos. E, por um momento, ela achou ter visto uma sombra atrás de si, como uma figura espreitando das profundezas do espelho.De todas as maneiras que um dia ela sonhara em se casar, certamente daquele jeito jamais passara em sua mente. Se casar por conveniência, com medo de
O mundo pareceu parar no instante em que os lábios de Lucian tocaram os de Ivy.Tudo ao redor – os murmúrios da floresta, o crepitar das tochas, os olhares atentos da alcateia – se desfez, restando apenas a sensação avassaladora daquele toque.O beijo não foi como Ivy esperava. Não foi apenas um cumprimento cerimonial ou um gesto ensaiado. Havia algo ali, algo intenso e real. Um calor percorreu seu corpo, um arrepio subindo por sua espinha, como se uma energia antiga corresse por suas veias. Ela sentiu sua alma se agitar, reconhecendo algo profundo e inexplicável.Lucian segurou seu rosto com delicadeza, seus dedos frios contrastando com o calor que ele emanava. Seu toque era firme, mas sua boca se movia suavemente contra a dela, explorando com uma paciência que a fez estremecer. Ivy perdeu a noção do tempo, sentindo-se presa àquele momento, como se nada além dele importasse.Ivy sentiu o coração de Lucian bater em sintonia com o seu, forte e frenético, como o de um lobo prestes a cor
O silêncio que se seguiu ao discurso de Ivy era tão denso que ela podia sentir o peso de cada olhar sobre si. O seu coração ainda estava disparado, as emoções fervendo em seu peito. Por um momento, temeu que suas palavras tivessem sido em vão, que ninguém acreditasse nela, que a guerra continuaria apesar de seus apelos.Mas então, um dos anciãos deu um passo à frente. Ele tinha o rosto marcado pelo tempo, rugas profundas de sofrimento e experiência. Seus olhos estavam marejados enquanto ele a olhava, a cabeça inclinada em respeito. Sem dizer uma palavra, ele se ajoelhou, colocando a mão sobre o coração em um gesto de submissão e paz.— Vejo nos seus olhos a coragem dos que sacrificam tudo pela paz... e no seu coração, a força de uma verdadeira Luna. Hoje, nos curvamos não apenas diante de você, mas diante do futuro que escolheu construir.Um murmúrio percorreu a multidão, e um a um, outros lobos seguiram o exemplo do ancião. Jovens guerreiros, mães com seus filhos, líderes de clãs.
Lucian sequer hesitou.Assim que os rebeldes avançaram sobre o altar, ele saltou na frente de Ivy, suas garras surgindo enquanto um rosnado animalesco escapava de seus lábios. Seus olhos brilhavam com uma fúria implacável, o lobo dentro dele à beira de se libertar.— Traidores... — Lucian rosnou, a voz baixa e mortal.E foi então que Ivy encarou Feroz parado no meio do caos, um sorriso frio nos lábios e os braços cruzados diante do peito. Seus olhos brilhavam com um brilho cruel enquanto observava a destruição ao redor como se fosse um espetáculo criado apenas para ele.— Você... — Lucian murmurou, a voz carregada de incredulidade e raiva.Ferox arqueou as sobrancelhas, fingindo surpresa. — O que foi, alfa? Esperava lealdade? Depois de tomar tanto dessa gente? Você é ainda mais ingênuo do que pensei.Lucian cerrou os punhos, os músculos tremendo de fúria. — Você se aliou aos rebeldes...— Alguém precisava dar o golpe final. — Ferox sorriu, um brilho perverso dançando em seus olhos.
— Lucian, por favor... fique comigo... — Ivy continuava a sussurrar, sua voz embargada, o rosto molhado de lágrimas. — Eu... eu preciso de você...O peito de Lucian subiu e desceu em um suspiro fraco, seus olhos se fixando nos de Ivy por um breve momento. Ela viu uma centelha de emoção neles – algo profundo, algo que ele nunca conseguiu dizer em palavras.Mas então, seus olhos começaram a fechar.— Não... Lucian! — Ivy o balançou, desesperada. — Não feche os olhos! Fique comigo!Mas a vida estava escapando dele, lentamente, cruelmente. O som da batalha ao redor desapareceu, o mundo de Ivy se fechando em um vazio escuro e frio.Ela continuou chamando por ele, segurando-o com todas as forças, recusando-se a acreditar que o perderia. Mas mesmo assim, o peito de Lucian ficou imóvel, sua pele perdendo a cor, e a dor no coração de Ivy se tornou insuportável.Tudo o que ela conhecia, tudo o que tinha, estava escapando por entre seus dedos, junto com a vida do homem que aprendeu a amar.Ivy
Ivy ficou ali, imóvel, encarando o que restava do santuário. A poeira ainda pairava no ar, misturando-se com o cheiro de pedra queimada e sangue. Tudo estava destruído – o que antes era um local sagrado agora não passava de ruínas e cinzas. O eco da explosão ainda retumbava em seus ouvidos, e sua mente se recusava a aceitar o que tinha acabado de acontecer.— Não. Não tenho tempo para ficar parada. — Ivy falou de repente, se levantando em meios aos destroços e sua dor. — Não posso ficar quando tantos precisavam de ajuda. Não quando Lucian... — Ela engoliu em seco, incapaz de continuar.Um nó doloroso apertou sua garganta, mas Ivy o empurrou para o fundo de sua mente. Ela precisava se concentrar.Respirando fundo, forçou-se a ficar ereta, apesar da dor nas costelas. Seu corpo doía de forma lancinante, mas a necessidade de ajudar era maior.Principalmente porque ao olhar ao redor, percebeu que sobreviventes gemiam, enquanto inúmeros feridos estavam espalhados pelo campo de batalha. Al
Lucian não respondeu, mas seus olhos percorreram o rosto de Ivy, como se estivesse tentando absorver cada detalhe.Os olhos dele brilhavam sob a luz suave que vinha da janela, a intensidade de seu olhar perfurando a alma de Ivy. Ele estava ali, tão real quanto a dor que ela carregava no peito, tão sólido quanto as lembranças que a atormentavam.Ivy deu um passo à frente, seus pés descalços tocando o chão frio, o coração disparando no peito.Ela piscou novamente, esperando que sua mente estivesse pregando uma peça cruel, mas Lucian não desapareceu. Ele continuava parado, imóvel, o rosto sério, as sombras dançando em suas feições angulosas.— Você... você está aqui? — A voz dela saiu trêmula, um sussurro impregnado de incredulidade e esperança.Lucian não respondeu de imediato. Seus olhos escuros se moveram lentamente, percorrendo o rosto de Ivy, depois descendo pela camisa larga que ela usava – sua camisa. Uma onda de emoções passou por seu olhar, rápidas demais para serem identificad