O mundo pareceu parar no instante em que os lábios de Lucian tocaram os de Ivy.Tudo ao redor – os murmúrios da floresta, o crepitar das tochas, os olhares atentos da alcateia – se desfez, restando apenas a sensação avassaladora daquele toque.O beijo não foi como Ivy esperava. Não foi apenas um cumprimento cerimonial ou um gesto ensaiado. Havia algo ali, algo intenso e real. Um calor percorreu seu corpo, um arrepio subindo por sua espinha, como se uma energia antiga corresse por suas veias. Ela sentiu sua alma se agitar, reconhecendo algo profundo e inexplicável.Lucian segurou seu rosto com delicadeza, seus dedos frios contrastando com o calor que ele emanava. Seu toque era firme, mas sua boca se movia suavemente contra a dela, explorando com uma paciência que a fez estremecer. Ivy perdeu a noção do tempo, sentindo-se presa àquele momento, como se nada além dele importasse.Ivy sentiu o coração de Lucian bater em sintonia com o seu, forte e frenético, como o de um lobo prestes a cor
O silêncio que se seguiu ao discurso de Ivy era tão denso que ela podia sentir o peso de cada olhar sobre si. O seu coração ainda estava disparado, as emoções fervendo em seu peito. Por um momento, temeu que suas palavras tivessem sido em vão, que ninguém acreditasse nela, que a guerra continuaria apesar de seus apelos.Mas então, um dos anciãos deu um passo à frente. Ele tinha o rosto marcado pelo tempo, rugas profundas de sofrimento e experiência. Seus olhos estavam marejados enquanto ele a olhava, a cabeça inclinada em respeito. Sem dizer uma palavra, ele se ajoelhou, colocando a mão sobre o coração em um gesto de submissão e paz.— Vejo nos seus olhos a coragem dos que sacrificam tudo pela paz... e no seu coração, a força de uma verdadeira Luna. Hoje, nos curvamos não apenas diante de você, mas diante do futuro que escolheu construir.Um murmúrio percorreu a multidão, e um a um, outros lobos seguiram o exemplo do ancião. Jovens guerreiros, mães com seus filhos, líderes de clãs.
Lucian sequer hesitou.Assim que os rebeldes avançaram sobre o altar, ele saltou na frente de Ivy, suas garras surgindo enquanto um rosnado animalesco escapava de seus lábios. Seus olhos brilhavam com uma fúria implacável, o lobo dentro dele à beira de se libertar.— Traidores... — Lucian rosnou, a voz baixa e mortal.E foi então que Ivy encarou Feroz parado no meio do caos, um sorriso frio nos lábios e os braços cruzados diante do peito. Seus olhos brilhavam com um brilho cruel enquanto observava a destruição ao redor como se fosse um espetáculo criado apenas para ele.— Você... — Lucian murmurou, a voz carregada de incredulidade e raiva.Ferox arqueou as sobrancelhas, fingindo surpresa. — O que foi, alfa? Esperava lealdade? Depois de tomar tanto dessa gente? Você é ainda mais ingênuo do que pensei.Lucian cerrou os punhos, os músculos tremendo de fúria. — Você se aliou aos rebeldes...— Alguém precisava dar o golpe final. — Ferox sorriu, um brilho perverso dançando em seus olhos.
— Lucian, por favor... fique comigo... — Ivy continuava a sussurrar, sua voz embargada, o rosto molhado de lágrimas. — Eu... eu preciso de você...O peito de Lucian subiu e desceu em um suspiro fraco, seus olhos se fixando nos de Ivy por um breve momento. Ela viu uma centelha de emoção neles – algo profundo, algo que ele nunca conseguiu dizer em palavras.Mas então, seus olhos começaram a fechar.— Não... Lucian! — Ivy o balançou, desesperada. — Não feche os olhos! Fique comigo!Mas a vida estava escapando dele, lentamente, cruelmente. O som da batalha ao redor desapareceu, o mundo de Ivy se fechando em um vazio escuro e frio.Ela continuou chamando por ele, segurando-o com todas as forças, recusando-se a acreditar que o perderia. Mas mesmo assim, o peito de Lucian ficou imóvel, sua pele perdendo a cor, e a dor no coração de Ivy se tornou insuportável.Tudo o que ela conhecia, tudo o que tinha, estava escapando por entre seus dedos, junto com a vida do homem que aprendeu a amar.Ivy
Ivy ficou ali, imóvel, encarando o que restava do santuário. A poeira ainda pairava no ar, misturando-se com o cheiro de pedra queimada e sangue. Tudo estava destruído – o que antes era um local sagrado agora não passava de ruínas e cinzas. O eco da explosão ainda retumbava em seus ouvidos, e sua mente se recusava a aceitar o que tinha acabado de acontecer.— Não. Não tenho tempo para ficar parada. — Ivy falou de repente, se levantando em meios aos destroços e sua dor. — Não posso ficar quando tantos precisavam de ajuda. Não quando Lucian... — Ela engoliu em seco, incapaz de continuar.Um nó doloroso apertou sua garganta, mas Ivy o empurrou para o fundo de sua mente. Ela precisava se concentrar.Respirando fundo, forçou-se a ficar ereta, apesar da dor nas costelas. Seu corpo doía de forma lancinante, mas a necessidade de ajudar era maior.Principalmente porque ao olhar ao redor, percebeu que sobreviventes gemiam, enquanto inúmeros feridos estavam espalhados pelo campo de batalha. Al
Lucian não respondeu, mas seus olhos percorreram o rosto de Ivy, como se estivesse tentando absorver cada detalhe.Os olhos dele brilhavam sob a luz suave que vinha da janela, a intensidade de seu olhar perfurando a alma de Ivy. Ele estava ali, tão real quanto a dor que ela carregava no peito, tão sólido quanto as lembranças que a atormentavam.Ivy deu um passo à frente, seus pés descalços tocando o chão frio, o coração disparando no peito.Ela piscou novamente, esperando que sua mente estivesse pregando uma peça cruel, mas Lucian não desapareceu. Ele continuava parado, imóvel, o rosto sério, as sombras dançando em suas feições angulosas.— Você... você está aqui? — A voz dela saiu trêmula, um sussurro impregnado de incredulidade e esperança.Lucian não respondeu de imediato. Seus olhos escuros se moveram lentamente, percorrendo o rosto de Ivy, depois descendo pela camisa larga que ela usava – sua camisa. Uma onda de emoções passou por seu olhar, rápidas demais para serem identificad
Ivy encarou Lucian profundamente. O seu peito subia e descia com a respiração acelerada, a frustração e a raiva fervilhando dentro dela.— Pare de brincar comigo, Lucian! — ela explodiu, os olhos faiscando. — Eu sei que você é um lobo, mas apenas isso?Lucian inclinou levemente a cabeça, um sorriso provocador brincando em seus lábios.— Você sabe que sou um lobo — ele repetiu lentamente, como se estivesse saboreando as palavras. Então, arqueou uma sobrancelha, os olhos dourados brilhando com algo perigoso. — Mas apenas isso?O coração de Ivy martelou forte. O tom dele era quase divertido, mas havia algo mais ali — algo sombrio, como se ele estivesse testando os limites dela.Ela estreitou os olhos, cruzando os braços com força.— Pare de enrolar e fale sério, Lucian. O que você é, de verdade?Ele não respondeu imediatamente. Apenas observou Ivy com um olhar intenso, como se decidisse o quanto poderia revelar. Então, inclinou-se ligeiramente para frente.— Você se lembra da vez em que
Lucian não disse nada.E o silêncio que se alongava entre eles era ainda mais pesado, denso.Ivy sentiu um arrepio percorrer sua pele enquanto encarava Lucian, esperando desesperadamente que ele dissesse algo, qualquer coisa, que confirmasse ou negasse o que estava óbvio diante dela.A mandíbula dele permaneceu travada, e os olhos dourados, sempre tão provocadores, agora pareciam sombrios, opacos, carregando um peso que Ivy não sabia nomear.O coração dela martelava forte.— Lucian — ela insistiu, a voz saindo mais baixa do que pretendia. — Você é imortal?Ele continuou olhando para ela, mas não respondeu novamente. Aquele silêncio foi pior do que qualquer resposta.Ivy sentiu um nó se formar em sua garganta. A realidade se desenrolava diante dela como um novelo de fios soltos, e cada peça se encaixava de um jeito assustador.Ivy nunca o vira doente. Ele nunca parecia fraco. O veneno letal que não o afetou. E todo o sangue que ele havia derramado, a adega que ela viu atravessando o se