No susto, tateei a parede em busca do interruptor de luz e, quando o encontrei, meus olhos se depararam com a jovem Ana, nua a meu lado. Ela ficou surpresa, mas não por mim, é claro.
— Ana! O quê...
Nem pude completar a pergunta, diante da mocinha pelada em minha cama...
— Você está comendo a minha irmã?! — questionou a garota.
Sem importa-se com seus seios à mostra, já que a parte de baixo estava sob o edredom, Ana — apoiada sobre o antebraço direito — me fuzilava com a questão. Rapidamente levantei, ainda com a “barraca armada”, e a indaguei:
— O que você está fazendo aqui?
— Eu perguntei primeiro: você está comendo a Dea?
— Fala baixo Ana!
— Agora tá com medinho, né?
— Calma! Eu posso explicar...
Como explicar o inexplicável? Poderia dizer que fora um sonho? Ou que ela havia entendido errado? Estava nervoso e não sabia o que realmente responder. Sentada na cama e com os seios descobertos, Ana cruzou o
No dia seguinte, levantei com pressa, pois, estava atrasado pelo menos meia hora. Nem tomei banho e desci correndo para engolir o café. Ao entrar na cozinha, Andrea já estava à mesa, virando uma xícara de café. Seu rosto sereno mudou ao me ver apressado.— Gui, o que houve?— Atrasado!— Calma! Eu te levo de carro.— Será que dá tempo?— Dá sim, confie em mim. Senta aí e toma seu café.A confiança de Andrea no horário me tranquilizou, mas algo mais me preocupava além do relógio…— Ana já levantou?— Ana? Ah! Aquela acorda meio-dia se deixar…— Tendi…— Você dormiu bem?— Sim, mas aquele assunto ainda me perturba…Andrea ia dizer algo, mas Joice entrou na cozinha, cumprimentando-me. Rapidamente, fiz meu de
As bolhas se faziam aos borbotões diante de meus olhos a cada mergulho provocado pelos vagalhões, soprados pelo vento forte naquele mar sombrio. A cada vislumbre da morte com os braços abertos, como os de uma sereia, eu pensava em como deixaria de viver minha vida.Um sonho recorrente me assombrava com a morte em uma forma submersa, esperando por meu último fôlego, naqueles dias de hospital. Assustado, fui acalentado pelo anjo alemão, sempre ao meu lado. No entanto, na terceira noite, não pude contar com ela…— O que acontece aqui?! — indagou Martha, surpresa.Andrea, sobressaltada com a presença não detectada da amada de seu primo, não sabia o que dizer, mas tentou…— Martha? Olha, não é o que você tá pensando…— Não é o que, hein, Andrea?!Busquei salvar a situação.
Meu mergulho no mar revolto trouxe mais complicações que eu poderia imaginar, afetando não somente a mim, mas também meus pais. Como já dito, minha traição não passou impune diante de Wolfgang, que me demitiu do Desert Rose.Proibindo-me de visitar Diana, o alemão trouxe consigo outra corrente contrária, mas disso falarei adiante. A questão agora era Andrea, a qual estava sendo enganada. Então, por que eu haveria de manipular os sentimentos da ruiva?A motivação, igualmente já comentada, não vinha de minha própria vontade, mas de outra pessoa, muito interessada em se aproveitar do momento. Isso se deu por um ato involuntário que acreditei não me afetar mais, após o ocorrido com Diana.Ocorreu em 29 de dezembro de 1993, quando eu acabara de voltar para casa de Felipe Ruiter. Ao atender ao telefone, Joic
Enquanto Ana assumia o protagonismo na história, sem ser convidada, Wolf iniciava um movimento dentro da Triton. O alemão, ofendido novamente pela minha traição, finalmente uniu a família, mas contra mim. Diana e Martha não tinham porque estar ao meu lado.Traí as duas, seja por relacionamento no primeiro caso, seja por amizade, no segundo. Ingrid já não gostava de mim mesmo e Bertha, bem, menos ainda… Assim, a família Niechtenbahl queria me ver longe, porém, isso se ampliou e a culpa, indiretamente, recaiu sobre Ana.Em seu plano maquiavélico, a garota convenceu Andrea a se reaproximar de mim, o que não passou batido. De Diana até minha mãe, de alguma forma, todos acabaram descobrindo que a ruiva voltara a me ver. Logicamente, Mauro também…Mesmo repreendendo-a, o chefe dos Ruiter não tinha poder para dominar a filha
Quando Andrea mudou-se para a casa do primo, contra a vontade dos pais, veio também com a decisão de ficar comigo. Ainda assim, mesmo sob a chantagem de Ana, foi inevitável não tê-la na cama por vontade própria, afinal, ela ainda me atraía muito. Todavia, essa não era a vida que queria.Assim, no dia 18 de janeiro, levantei muito cedo, pouco antes das 6h da manhã, tomei um banho e me vesti. Após arrumar rapidamente minha mochila com o básico, mirei-a sob os lençóis, em pleno sono. Senti um frio na barriga por deixar a segurança de seus braços e sua proteção.No entanto, precisava dar “paz” para a vida dela, de Felipe e de todos, especialmente de Diana. Desci e encontrei Joice na cozinha, logo cedo. Cumprimentei a esposa do caseiro, que me ofereceu uma xícara de café. Falei que iria para uma entrevista de emprego p
Ainda no ônibus, Maria Clara contou mais de si. Disse morar num bairro chamado Bocaina e residia ali com a mãe, assim como com a irmã Maria Lúcia. O pai, já falecido, trabalhou na estrada de ferro Santos-Jundiaí.Com a noite já posta no horizonte, o balançar do ônibus que se encheu rápido e a demora para chegar ao centro, eu geralmente já estaria caindo pelas tabelas. Todavia, o resumo da história de Clara me manteve estranhamente preso a ela.Atento aos detalhes, fiquei vislumbrando aquela garota de 20 anos, que tinha muita vivacidade. Até então não sabia, mas Maria Clara gostava de falar. No restaurante ela não era dada a tanto diálogo, mas sentada ao meu lado naquele banco do ônibus, a jovem estava à vontade.— Estou aqui falando tanto… Você já deve estar cansado de me ouvir.— C
Lembro-me bem deste dia, um ensolarado domingo, dia 8 de maio de 1994. Era o Dia das Mães. Fazia uma semana que Ayrton Senna havia nos deixado e duas semanas que forjei forte amizade com Maria Clara.Pela primeira vez desde que parti para meu “exílio” na Borda do Campo, liguei para minha mãe. Foi bem cedo que usei um orelhão na Cata Preta. Ao atender e ouvir minha voz, Eliza começou a chorar alto, o que cortou meu coração.Percebi o quanto fazia falta para minha mãe e também o quanto ela deixava um vazio em meu peito. Foi difícil falar, mas precisei.— Feliz Dia das Mães!— Guilherme…Eliza não conseguia falar, somente chorar. Eu, todavia, precisava ser rápido naquele orelhão azul da CTBC.— Mãe, não chore, estou bem! Te amo muito, viu?! Estou trabalhando muito!Com a voz en
Naquele emocionante Dia das Mães, voltei para a cozinha do restaurante com um anúncio que não seria agradável à Maria Clara. Ao entrar, mecanicamente terminei minhas obrigações, enquanto a jovem me olhava a distância. Parecia preocupada e talvez já estivesse antevendo os acontecimentos.Temendo ouvir o que não queria, Clara limitava-se em sorrir, mas sua feição não escondia seu estado. Percebi e compreendi que não seria fácil, mas precisava assumir meus erros e cumprir minhas obrigações. Ao encerrar as atividades, falei com Rubens e pedi as contas.Ele lamentou e ainda me indagou sobre a visita da minha “família”. Concordei em responder e afirmei precisar ir. Pelo meu bom trabalho lá, decidiu me despedir sem justa causa, o que me ajudaria na fase de desempregado que se seguiria.Sai do escritório e Clara já