Na grande mesa branca com seis cadeiras, sentei-me ao lado de Diana, junto à vidraça daquele enorme átrio. Wolf e Bertha ficaram nas extremidades, com as duas irmãs de frente para nós. A empregada, Lourdes, uma mulher negra, lá com seus 40 anos, tinha o cabelo coberto por uma touca branca, mesma cor de seu avental.
Posta num vestido preto, a mulher mirou-me com surpresa, mas não disse uma palavra. Serviu-nos com uma salada mista e depois o chamado königsberger klopse, que Bertha chamou kochklopse.
Essa é a famosa almôndega alemã, um prato realmente delicioso. Enquanto eu comia, senti ser observado por muitos olhos naquela mesa, mas apenas os de Diana e Martha eram aceitáveis.
Mantive-me em silêncio inicialmente, mas Diana quebrou o gelo novamente. Antes, havia me explicado sobre a origem do prato.
— Guilherme, está gostando?
—
Ao entrar no casarão de Felipe, vi Andrea posta no sofá, vestindo um shortinho jeans e uma camisa amarela, escrita “Palm Beach”. Com o cabelo ruivo jogado no ombro esquerdo e as pernas dobradas sobre o estofado, mirava séria para a enorme TV de 41 polegadas da Sony.Concentrada no filme “O Nome da Rosa”, reproduzido no videocassete, a garota nem olhou para mim. Ao lado dela, alguém que não via há dias… Ana Ruiter, sua irmã, era muito parecida com Andrea, porém, seu cabelo era castanho e não tinha sardas.Seus olhos verdes miraram-me surpresos quando cheguei a sala. Ela, rapidamente comunicou a irmã:— Dea, olha quem chegou!Olhando-me com desdém, a ruiva apenas a respondeu:— Foi visitar a namoradinha…— Mas, ela não está aqui?— Deixa de ser tonta Ana, não te falei qu
Naquela quarta-feira, 22 de dezembro de 1993, sob as ordens do “capitão” Lúcio, me apresentei ao trabalho a bordo do Desert Rose. Varrer, lavar, enxugar, esfregar… Ainda que o piloto fizesse muito pelo barco, havia sempre o que limpar.No mesmo dia, vi Manoel a distância, mas não tive coragem de falar com ele. Precisava dar um tempo ao meu pai. Os Niechtenbahl não apareceram, nem mesmo Wolf, que pensei ser presença garantida em meu primeiro dia em sua lancha.Os Ruiter também não se fizeram presentes. Minha mãe me levou comida no barco e revelou que meu pai já sabia do trabalho ali. No final da tarde, Lúcio me dispensou e, após despedir-me de Eliza, tomei o rumo da casa de Felipe.Ao entrar pela porta da frente, algo que Felipe sempre dizia para eu fazer, encontrei a casa vazia. Então, fui até a piscina e lá estavam Ana e Andrea, na
No susto, tateei a parede em busca do interruptor de luz e, quando o encontrei, meus olhos se depararam com a jovem Ana, nua a meu lado. Ela ficou surpresa, mas não por mim, é claro. — Ana! O quê... Nem pude completar a pergunta, diante da mocinha pelada em minha cama... — Você está comendo a minha irmã?! — questionou a garota. Sem importa-se com seus seios à mostra, já que a parte de baixo estava sob o edredom, Ana — apoiada sobre o antebraço direito — me fuzilava com a questão. Rapidamente levantei, ainda com a “barraca armada”, e a indaguei: — O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei primeiro: você está comendo a Dea? — Fala baixo Ana! — Agora tá com medinho, né? — Calma! Eu posso explicar... Como explicar o inexplicável? Poderia dizer que fora um sonho? Ou que ela havia entendido errado? Estava nervoso e não sabia o que realmente responder. Sentada na cama e com os seios descobertos, Ana cruzou o
No dia seguinte, levantei com pressa, pois, estava atrasado pelo menos meia hora. Nem tomei banho e desci correndo para engolir o café. Ao entrar na cozinha, Andrea já estava à mesa, virando uma xícara de café. Seu rosto sereno mudou ao me ver apressado.— Gui, o que houve?— Atrasado!— Calma! Eu te levo de carro.— Será que dá tempo?— Dá sim, confie em mim. Senta aí e toma seu café.A confiança de Andrea no horário me tranquilizou, mas algo mais me preocupava além do relógio…— Ana já levantou?— Ana? Ah! Aquela acorda meio-dia se deixar…— Tendi…— Você dormiu bem?— Sim, mas aquele assunto ainda me perturba…Andrea ia dizer algo, mas Joice entrou na cozinha, cumprimentando-me. Rapidamente, fiz meu de
As bolhas se faziam aos borbotões diante de meus olhos a cada mergulho provocado pelos vagalhões, soprados pelo vento forte naquele mar sombrio. A cada vislumbre da morte com os braços abertos, como os de uma sereia, eu pensava em como deixaria de viver minha vida.Um sonho recorrente me assombrava com a morte em uma forma submersa, esperando por meu último fôlego, naqueles dias de hospital. Assustado, fui acalentado pelo anjo alemão, sempre ao meu lado. No entanto, na terceira noite, não pude contar com ela…— O que acontece aqui?! — indagou Martha, surpresa.Andrea, sobressaltada com a presença não detectada da amada de seu primo, não sabia o que dizer, mas tentou…— Martha? Olha, não é o que você tá pensando…— Não é o que, hein, Andrea?!Busquei salvar a situação.
Meu mergulho no mar revolto trouxe mais complicações que eu poderia imaginar, afetando não somente a mim, mas também meus pais. Como já dito, minha traição não passou impune diante de Wolfgang, que me demitiu do Desert Rose.Proibindo-me de visitar Diana, o alemão trouxe consigo outra corrente contrária, mas disso falarei adiante. A questão agora era Andrea, a qual estava sendo enganada. Então, por que eu haveria de manipular os sentimentos da ruiva?A motivação, igualmente já comentada, não vinha de minha própria vontade, mas de outra pessoa, muito interessada em se aproveitar do momento. Isso se deu por um ato involuntário que acreditei não me afetar mais, após o ocorrido com Diana.Ocorreu em 29 de dezembro de 1993, quando eu acabara de voltar para casa de Felipe Ruiter. Ao atender ao telefone, Joic
Enquanto Ana assumia o protagonismo na história, sem ser convidada, Wolf iniciava um movimento dentro da Triton. O alemão, ofendido novamente pela minha traição, finalmente uniu a família, mas contra mim. Diana e Martha não tinham porque estar ao meu lado.Traí as duas, seja por relacionamento no primeiro caso, seja por amizade, no segundo. Ingrid já não gostava de mim mesmo e Bertha, bem, menos ainda… Assim, a família Niechtenbahl queria me ver longe, porém, isso se ampliou e a culpa, indiretamente, recaiu sobre Ana.Em seu plano maquiavélico, a garota convenceu Andrea a se reaproximar de mim, o que não passou batido. De Diana até minha mãe, de alguma forma, todos acabaram descobrindo que a ruiva voltara a me ver. Logicamente, Mauro também…Mesmo repreendendo-a, o chefe dos Ruiter não tinha poder para dominar a filha
Quando Andrea mudou-se para a casa do primo, contra a vontade dos pais, veio também com a decisão de ficar comigo. Ainda assim, mesmo sob a chantagem de Ana, foi inevitável não tê-la na cama por vontade própria, afinal, ela ainda me atraía muito. Todavia, essa não era a vida que queria.Assim, no dia 18 de janeiro, levantei muito cedo, pouco antes das 6h da manhã, tomei um banho e me vesti. Após arrumar rapidamente minha mochila com o básico, mirei-a sob os lençóis, em pleno sono. Senti um frio na barriga por deixar a segurança de seus braços e sua proteção.No entanto, precisava dar “paz” para a vida dela, de Felipe e de todos, especialmente de Diana. Desci e encontrei Joice na cozinha, logo cedo. Cumprimentei a esposa do caseiro, que me ofereceu uma xícara de café. Falei que iria para uma entrevista de emprego p