— Oi, Emily. Sou eu. Essa é a décima vez que estou te ligando esta semana. Me atende, por favor. Estou preocupada.beep— Oi, sou eu de novo. A Beth. Se lembra de mim? A sua amiga e sócia? Você não retorna as minhas ligações. Olha só… tenho projetos novos na minha mesa! E você tem um aluguel para pagar!beep— Okay, me desculpe. Fui muito grossa ontem. Foi mal. Estou estressada. É tudo uma loucura sem você aqui! Sei que está vivendo o luto novamente; também fico triste, ele era o meu melhor amigo. Mas não se afunde novamente na tristeza. Okay? Não quero ter que invadir o seu apartamento outra vez e tirar você de dentro da banheira, prestes a se afogar. Ah, e fique longe dos remédios.beep— Acabou de sair da minha sala um dos caras mais gatos dos últimos tempos! Acho que devia pegar esse projeto. É uma mansão do século XIX e está na família dele desde a construção. Ele quer restaurar para abri-la à visitação e hospedagem. Fica em Shadows River, no interior da Virgínia. O que me diz?b
Depois de um voo de quase duas horas de Nova Iorque para Richmond, dirigi por oito horas até Shadows River. Esse, sem dúvida, foi um dos caminhos mais lindos que eu havia feito de carro. De fato, era como estar dentro de uma paisagem de conto de fadas, ou um quadro a óleo. As colinas, os pinheiros, as árvores frondosas.Logo que entrei na cidade, percebi como as pessoas por ali levavam a sério o Halloween. Ainda estávamos no começo de outubro, mas já havia decoração instalada em cada poste, abóboras à frente das lojas e pessoas fantasiadas. Havia ido para Salem e achava que ali era o lugar em que as pessoas mais amavam o Dia das Bruxas, mas estava enganada. Os amantes da noite do terror deviam conhecer Shadows River.O GPS me guiou até a hospedaria onde ficaria pelos próximos três meses. Estacionei o carro diante da casa e observei-a por alguns instantes. Era linda, provavelmente construída no início do século XX e muito bem conservada. Desci e apanhei a mala na traseira do carro. Per
Uma batida na porta soou atrás de mim. Virei-me, e lá estava um homem de meia-idade, segurando a minha mala.— Sou Gordon. Marido da Jude.— Ah, sim. Entre.Ele entrou e colocou a mala junto ao pequeno armário feito em madeira maciça.— Sou Emily.— Seja bem-vinda a Shadows River. — Sorriu, simpático.Rapidamente, abri a bolsa e apanhei na carteira uma nota de cinco dólares, estendendo-a para ele.— Não, por favor. Aqui não aceitamos gorjetas. Já está pagando por todo esse serviço.— Ah, claro. Desculpe. — Guardei novamente o dinheiro.— Então você vai reformar a mansão Whitewood. É uma bela casa. O avô da minha esposa trabalhava lá quando aconteceu o incêndio. Era o zelador. Foi ele quem avistou as chamas e pediu por ajuda.— É lamentável o que aconteceu. Deve ter abalado toda a cidade.— Ah, sim. Mais de cinquenta pessoas estavam lá. E todos por aqui adoravam o senhor Whitewood. Ele era jovem, mas ainda assim fez coisas incríveis pela cidade, como construir a escola, por exemplo. Er
Descendo pelas escadas, percebi que não havia muita movimentação lá embaixo. Passei pela sala de estar, pela de TV, e então cheguei à sala de jantar. Jude terminava de colocar a mesa. Ela olhou-me e sorriu.— Vejo que não sou a única a acordar cedo por aqui.— Nem me lembro da última vez que acordei depois das sete.— Eu me lembro. Antes do Benjamin.— Seu filho?— Sim. Sinto saudade de quando eu acordava com ele cantando no seu quarto.— Onde ele está agora?— Acho que indo se encontrar com você na mansão Whitewood. — Riu.— Ben Foster? O empreiteiro?Ela assentiu.— Sente-se. Vamos comer.Sentei-me, e ela acomodou-se à minha frente. Jude nos serviu chá e colocou uma rosquinha doce no meu prato. Ela disse ser o grande atrativo de todas as manhãs e que eu precisava comer antes que os outros descessem e acabassem com tudo.— Qual é a da Candice?— Ela mora aqui desde que a mãe faleceu. Antes morava no fim da rua, mas as dívidas apertaram e ela teve que vender a casa.— Ela é meio estra
Respirei fundo, sentindo-me satisfeita em ter aceitado a restauração, pela primeira vez desde que saí de Nova Iorque.— Bom… Por onde começamos? — ele perguntou.— Vamos começar de baixo para cima. Primeiro avaliamos os cômodos daqui, depois subimos a escada. Onde está a parte da casa que pegou fogo?— Ouvi dizer que foi isolada alguns meses depois.— Vamos começar encontrando-a, então.— Vou no meu carro pegar uma marreta e lanternas.Assenti e ele saiu.Senti-me estranhamente observada e uma fina corrente de ar frio passar arrepiando os meus braços. Olhei para trás, pensando que talvez encontraria alguém, mas não havia ninguém.— Voltei. Pegue isso. — Entregou-me uma lanterna.— Segundo a planta, o salão de festas fica na ala oeste. É o último cômodo.Ben tomou frente e eu fui logo atrás. Atravessamos salas e passamos por corredores, até darmos de cara com uma extensa parede. Ela não tinha quadros ou janelas. Havia sido pintada de vermelho e isso dava um ar fúnebre ao local.— Acho
A dois metros de distância, estava um homem. Ele olhava-me de um jeito que parecia surpreso que eu o tivesse ouvido. E eu o encarava de olhos arregalados, com o coração palpitando forte no peito, prestes a saltar pela minha boca.— Quem é você?— Jake.Engoli em seco.— O que faz aqui, Jake? Isso é uma propriedade privada.— Eu sei. Eu… trabalho aqui.— Trabalha aqui? — perguntei cheia de desconfiança.— Sim. Mantenho curiosos e possíveis infratores longe. — Sorriu.— Então… você é o zelador?— Isso aí.Aproximou-se, reduzindo pela metade a nossa distância.— Não me avisaram sobre você.— Sinto muito tê-la assustado — disse ele, curvando-se um pouco para frente, ao mesmo tempo que sobrepôs a sua mão direita sobre o peito, enquanto a outra era colocada para trás das costas. Um comportamento estranhamente cavalheiresco.— Tudo bem.— Então está aqui para restaurar esse lugar.— Isso aí.Jake é um homem bonito. Talvez um dos mais lindos que eu já tenha visto. Cabelos pretos e pele alva.
Voltei para cama e deitei-me sob os cobertores novamente. Respirando fundo, fechei os olhos. Então, não demorou muito para que eu dormisse e sonhasse profundamente. Mas não fora um sonho qualquer. Era um onde mãos firmes seguravam os meus punhos enquanto lábios rosados e carnudos beijavam o meu pescoço antes de escorregar a língua para o vale entre os meus seios. Suspiros ecoavam de corpos ofegantes e arrepiados. Braços me prendiam contra um peitoral nu. O meu nome foi sussurrado.— Olhe para mim, Emily — pedia a voz masculina. — Abra os olhos! — disse em um tom mais firme e alto.Os meus olhos imediatamente se abriram e o sonho acabou. Sentei-me assustada na cama com o quanto a última frase parecia ter sido dita por alguém dentro do quarto. Olhei para os lados, certificando-me de estar só. O meu coração batia um pouco apressado.Apanhei o celular na mesinha ao lado e olhei as horas. Eram sete e meia. Depois de um banho, desci para o café da manhã. Todos já estavam à mesa, comendo enq
Jake sabia mesmo como deixar uma mulher impactada e sem palavras. Porque eu não consegui dizer nada e muito menos me mover.Os seus dedos tocaram os meus punhos, fazendo certa pressão na pele. Roçaram onde a veia pulsava forte e desceram pela minha palma, entrelaçando-se nos meus. Engoli em seco, sentindo o nervosismo me prensar por dentro. Jake olhava para as nossas mãos com um sorriso doce e um tanto satisfeito.— É tão quente — sussurrou. — Faz muito tempo que não sinto mãos quentes tocarem as minhas.O seu sorriso se desfez. Jake soltou as minhas mãos e eu considerei impedi-lo, mas não fiz.— Vou levá-la à biblioteca — disse, sem me olhar.Ele seguiu fazendo o caminho de volta e eu o segui até a sala do chá. Jake abriu uma porta e então entramos na majestosa biblioteca.— Uau! — disse, parando para observar o espaço.Em duas das paredes, havia prateleiras que iam do chão ao teto, repletas de livros. Em frente à lareira, havia sofás e duas poltronas cobertos por panos que um dia fo