Capítulo 02

Uma batida na porta soou atrás de mim. Virei-me, e lá estava um homem de meia-idade, segurando a minha mala.

— Sou Gordon. Marido da Jude.

— Ah, sim. Entre.

Ele entrou e colocou a mala junto ao pequeno armário feito em madeira maciça.

— Sou Emily.

— Seja bem-vinda a Shadows River. — Sorriu, simpático.

Rapidamente, abri a bolsa e apanhei na carteira uma nota de cinco dólares, estendendo-a para ele.

— Não, por favor. Aqui não aceitamos gorjetas. Já está pagando por todo esse serviço.

— Ah, claro. Desculpe. — Guardei novamente o dinheiro.

— Então você vai reformar a mansão Whitewood. É uma bela casa. O avô da minha esposa trabalhava lá quando aconteceu o incêndio. Era o zelador. Foi ele quem avistou as chamas e pediu por ajuda.

— É lamentável o que aconteceu. Deve ter abalado toda a cidade.

— Ah, sim. Mais de cinquenta pessoas estavam lá. E todos por aqui adoravam o senhor Whitewood. Ele era jovem, mas ainda assim fez coisas incríveis pela cidade, como construir a escola, por exemplo. Era um homem muito bom.

— Sabe onde posso encontrar documentos e um pouco sobre a história da casa?

— Papelada importante, certamente na prefeitura. História, nos jornais antigos arquivados na biblioteca.

— Obrigada. Eu sempre procuro saber a história para tentar conservar e restaurar a originalidade do lugar. Vou até a casa amanhã. Espero não me perder no caminho.

— É só seguir a estrada entre as colinas até o final e dará de cara com a mansão. Só não fique lá até tarde.

Sorri.

— Já sei. Os gritos das assombrações?

Ele riu.

— Não é isso. No meio do caminho existe uma ponte que atravessa o rio das sombras. Nessa época do ano sempre chove ao entardecer. A água cobre a ponte e se isso acontecer e ainda estiver do outro lado, ficará ilhada até de manhã.

— Oh! Entendi.

— Até mais, Emily.

Ele se foi fechando a porta atrás de si.

Depois de um banho, fui até a prefeitura. Consegui algumas cópias de documentos e antigas plantas da casa. Sentada em um café, no centro da cidade, dei uma boa olhada em tudo. Após pagar a conta para a bruxinha atrás do balcão, segui até a biblioteca. O mago que me atendeu sabia muito sobre a casa e deu-me algumas cópias de jornais antigos que falavam sobre a mansão Whitewood desde a sua construção até a sua “queda”.

Já passava das quatro e eu resolvi dar uma volta pelas ruas da cidade. Entrei em algumas lojas de construção, serralheria e decoração. Tirei algumas fotos, fiz anotações e orçamentos. Mandei mensagem para o empreiteiro, avisando-o de que já estava na cidade e que nos encontraríamos no dia seguinte na casa, às oito.

Parei na calçada e observei um pouco mais as pessoas. Diante de uma loja que se chamava Caldeirão da Bruxa, uma senhorinha distribuía pirulito para as crianças que passavam por ali. Noah gostava muito do Halloween, enquanto o meu feriado preferido é o Natal. Ele iria adorar esse lugar.

Atravessando a rua, caminhei até lá. A mulher sorriu para mim e ofereceu-me um pirulito, que neguei com um aceno de cabeça. Empurrei a porta da loja, e o sino acima dela anunciou a minha chegada. Olhei ao meu redor e me senti dentro da toca de uma bruxa.

— Já estou indo! — anunciou uma voz distante.

Caminhei entre as prateleiras analisando curiosamente os inúmeros potes de vidro e as centenas de livros de magia.

— Posso te ajudar?

Virei-me para trás, e lá estava Candice.

— Não. Só estou curiosa.

Candice deu um passo para o lado, dando-me passagem pelo corredor.

— Você é dona desse lugar?

— Sim. Está na minha família há mais de dois século, neste mesmo endereço.

— Uau! Isso é muito tempo.

— Nós nos estabelecemos aqui em meados de mil seiscentos e noventa e três. Isso, sim, é muito tempo.

Olhei-a.

— Durante a caçada em Salém? — perguntei, curiosa.

— Sim. Enquanto os brancos medíocres queimavam mulheres inocentes, as verdadeiras bruxas fugiram. Bom, na verdade, nem todas.

— Está me dizendo que você é descendente de uma bruxa? Os turistas por aqui costumam cair nesse papo?

Com um olhar duro, ela aproximou-se a passos lentos.

— Mulheres foram queimadas por causa da estupidez dos homens. Isso não é história para divertir turista. E eu não sou descendente de bruxas, Emily. Sou uma bruxa. Uma que consegue sentir e ver coisas em outras pessoas. E eu sinto tanta escuridão em você. Sinto a dor de um espírito enlutado.

Olhei-a com um pouco de espanto, sentindo os meus ombros ficarem tensos.

— Não sei do que está falando. E não pagarei por isso. — Passei por ela, indo em direção à saída, mas Candice segurou o meu punho com força.

— Vejo a ponta de um fio flutuando na sua direção, esperando que você o pegue. Cuidado! A outra ponta vem de outro mundo.

— Me solte! — disse firmemente.

Candice me soltou, e eu caminhei apressadamente rumo à saída.

— Ainda vai voltar precisando da minha ajuda!

Parei e olhei-a por cima do ombro.

— Já ouviu falar em terapia? — Abri a porta, deixando a loja. — Maluca — murmurei baixinho.

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