Colocando-se de pé, Jake estendeu-o na minha direção. Eu o apanhei e sentei-me na cama, desenrolando cuidadosamente o tecido. O diário estava ali há muito tempo. Já poderia estar degradado. Mas, para a nossa surpresa, estava em bom estado.— Achamos — disse, encarando a capa que dizia: "Privado! Pertence à Anne Storm."— Você precisa se secar. Vamos para o segundo andar; vou acender a lareira.Jake acendeu o fogo, e eu tirei toda a roupa, sentando-me à frente das chamas. Depois, ele colocou as peças para secar e cobriu-me com um cobertor.— Está preparado? Pode ter coisas importantes aqui, ou pode não haver nada.— Vamos ler. Acho que ela não irá se importar.Abri o diário e iniciei a leitura em voz alta. Ela começava datando o dia e dizia ter se despedido do diário anterior, queimando-o. Anne iniciou aquele na noite antes do incêndio. Nele, ela narrou com riqueza de detalhes a raiva que sentia de Jake e Laila Whitewood. Chamava-os de pecadores e profanos. Ela dizia que a família não
Deitada diante da lareira, acabei pegando no sono. Acordei com um pouco de frio, percebendo que o quarto estava claro. Já era dia. O fogo havia se apagado. Escutei barulhos lá fora e caminhei até a janela. Os homens da empreiteira haviam acabado de chegar. Vesti as minhas roupas, dobrei os cobertores e guardei-os no baú.Ao sair do quarto, olhei para os lados, procurando por Jake. Eu não o estava vendo nem sentindo. Com o diário na mão, deixei a casa.— Oi — disse Ben. — Dormiu aqui? — perguntou confuso, observando as minhas roupas.— Dormi. Vou para a hospedaria agora, volto mais tarde.Entrei no meu carro, sem dar mais espaço para perguntas. Depois de um banho e café da manhã, fui até a loja da Candice.— O-ou! Não está com uma carinha boa — falou ela.— Achamos o diário.Os seus olhos se arregalaram, e os ombros ficaram tensos.— E então?— Anne e George, o zelador, provocaram o incêndio.— George Foster é o avô da Jude.— Eu sei. Ele recebeu joias como pagamento pela ajuda. E Anne
— O fantasma dos orgasmos apareceu? — perguntou Candice para mim, logo que passei pela porta.Ela estava debruçada sobre o balcão, chupando um pirulito enquanto folheava um livro.— Eu não sei o porquê fui falar disso com você!Ela riu.— Então ele não apareceu. Senão teriam transado e você estaria de bom humor.Revirei os olhos, parando diante dela. Candice ergueu a cabeça e ficou séria ao me ver.— A sua aura está escurecendo.— É porque eu me sinto triste.— Merda! A gente vai encher a cara mais tarde, aí você ficará menos triste. — Voltou a sua atenção para o livro.— Vim aqui por isso. Eu não tenho uma fantasia. Pode me emprestar uma das suas?— Eu também não tenho fantasia.— E esses vestidos estranhos? — Fiz uma careta.— Ae! São as minhas roupas! — O seu tom soou um pouco ofendido.— Foi mal.— Mas posso te arranjar alguma coisa. Não os meus vestidos estranhos. — Revirou os olhos.Candice fechou a loja e caminhamos até a hospedaria. No seu quarto, ela abriu o guarda-roupa e pe
Acelerei em direção à colina enquanto o céu se iluminava repetidas vezes com raios e trovões. Quando passei pela ponte, a chuva desabou forte. Era como se o tempo estivesse apenas esperando eu voltar para a mansão. Desci do carro e corri para dentro da casa, abrigando-me sob o casaco.— Jake! — chamei por ele, mas não obtive resposta.O mais puro silêncio se perpetuou nos meus ouvidos e ao longe consegui ouvir o som do piano. Andei em direção à biblioteca, e ao passar pela porta, lá estava Jake, sentado diante do piano, tocando-o majestosamente.— Jake.Ele parou e olhou para mim. Um sorriso doce abriu-se nos seus lábios. Os meus braços se arrepiaram. Ele levantou-se e caminhou a passos lentos na minha direção, parando à frente.— Você também vê todas as luzes acesas?Neguei com a cabeça.— Há muitos anos não vejo a noite tão clara por aqui.— Talvez isso seja um sinal de que a sua hora de partir está se aproximando.— Deus! Você está tão linda!Os seus olhos eram brilhantes e algo ne
No segundo andar, deitamo-nos sobre os cobertores em frente ao fogo. Jake deu-me beijos longos, e nós transamos mais uma vez. Depois do ápice do prazer, ele deitou-se atrás de mim e abraçou-me. Com a cabeça deitada no seu braço, silenciosamente derramei lágrimas enquanto encarava a lareira crepitar. Jake havia me tirado do fundo do poço. Mas agora eu me perguntava: como superá-lo? Assim como Noah, reestabelecer contato não será uma opção. Sentir saudade é a única coisa que me restará após a sua partida.Apanhei o celular e eram exatamente onze e cinquenta da noite. Jake me soltou e deitou-se de barriga para cima, encarando o teto. Sequei as minhas lágrimas e virei-me para ele.— O que houve?— Estou sentindo.— O quê?Ele sorriu. Um sorriso contente, espontâneo. Um sorriso cheio de alívio.— A minha hora está chegando.Jake se levantou e começou a se vestir. Fiz o mesmo. Ele caminhou até a porta do quarto e estendeu-me a sua mão. Coloquei a minha palma sobre ela e, juntos, descemos a
Quando desembarquei em Nova Iorque, Beth esperava por mim no aeroporto. Ela abraçou-me apertado e desejou-me as boas-vindas. Quando chegamos no meu apartamento, ela destrancou a porta e eu logo entrei, arrastando a gigantesca mala comigo. Pela primeira vez, em dois anos, não me senti mal de estar ali dentro. Parei no meio da sala e respirei fundo.— O que vai fazer amanhã? — ela perguntou.— Dar um jeito na minha vida.— Uau! E do que estamos falando?— Vou fazer o que há muito tempo já devia ter feito: me despedir das coisas do Noah e procurar um apartamento novo. De preferência um que tenha elevador, foi difícil subir com essa mala.Ela riu.— Okay. Bom… vou indo. Tenho um encontro. Volte ao trabalho quando estiver pronta e descansada. — Caminhou em direção à porta. — Ah! — Parou, olhando-me. — O que aconteceu com o carinha que você beijou?— Ele só estava de passagem. Precisou ir embora.— Entendi.Ela saiu e fechou a porta.Depois de um banho e desfazer a mala, fui ao mercado. No
Conforme os dias decorriam, eu tentava entreter Beth na pequena cidade, mas ela detestava estar ali. Eu não a julgo. Talvez, se não tivesse vivido momentos intensos com Jake, teria odiado cada dia nesse lugar. Era pacato e pequeno. Mas eu gostava de estar de volta.Quando o fim de tarde chegou, nos preparamos para o baile. Algumas pessoas da cidade haviam sido convidadas. Dirigi entre o topo das colinas, e Beth assustou-se com o escuro.— É tão mórbido lá fora. Parece que a qualquer momento alguma coisa saltará da escuridão na nossa direção.— E talvez salte. Não dá para saber o que realmente tem lá fora.Olhei-a rapidamente e vi os seus olhos arregalados com espanto.— Ah, meu Deus! — disse Beth, logo que avistou a mansão. — Emily… esse lugar é incrível!— Você ainda não viu por dentro. — Parei o carro na entrada, e logo um manobrista abriu a minha porta. — Guarde o queixo caído para quando entrar e observar o meu trabalho.Descemos do carro, e juntas seguimos para a entrada movimenta
— Oi, Emily. Sou eu. Essa é a décima vez que estou te ligando esta semana. Me atende, por favor. Estou preocupada.beep— Oi, sou eu de novo. A Beth. Se lembra de mim? A sua amiga e sócia? Você não retorna as minhas ligações. Olha só… tenho projetos novos na minha mesa! E você tem um aluguel para pagar!beep— Okay, me desculpe. Fui muito grossa ontem. Foi mal. Estou estressada. É tudo uma loucura sem você aqui! Sei que está vivendo o luto novamente; também fico triste, ele era o meu melhor amigo. Mas não se afunde novamente na tristeza. Okay? Não quero ter que invadir o seu apartamento outra vez e tirar você de dentro da banheira, prestes a se afogar. Ah, e fique longe dos remédios.beep— Acabou de sair da minha sala um dos caras mais gatos dos últimos tempos! Acho que devia pegar esse projeto. É uma mansão do século XIX e está na família dele desde a construção. Ele quer restaurar para abri-la à visitação e hospedagem. Fica em Shadows River, no interior da Virgínia. O que me diz?b