No segundo andar, deitamo-nos sobre os cobertores em frente ao fogo. Jake deu-me beijos longos, e nós transamos mais uma vez. Depois do ápice do prazer, ele deitou-se atrás de mim e abraçou-me. Com a cabeça deitada no seu braço, silenciosamente derramei lágrimas enquanto encarava a lareira crepitar. Jake havia me tirado do fundo do poço. Mas agora eu me perguntava: como superá-lo? Assim como Noah, reestabelecer contato não será uma opção. Sentir saudade é a única coisa que me restará após a sua partida.Apanhei o celular e eram exatamente onze e cinquenta da noite. Jake me soltou e deitou-se de barriga para cima, encarando o teto. Sequei as minhas lágrimas e virei-me para ele.— O que houve?— Estou sentindo.— O quê?Ele sorriu. Um sorriso contente, espontâneo. Um sorriso cheio de alívio.— A minha hora está chegando.Jake se levantou e começou a se vestir. Fiz o mesmo. Ele caminhou até a porta do quarto e estendeu-me a sua mão. Coloquei a minha palma sobre ela e, juntos, descemos a
Quando desembarquei em Nova Iorque, Beth esperava por mim no aeroporto. Ela abraçou-me apertado e desejou-me as boas-vindas. Quando chegamos no meu apartamento, ela destrancou a porta e eu logo entrei, arrastando a gigantesca mala comigo. Pela primeira vez, em dois anos, não me senti mal de estar ali dentro. Parei no meio da sala e respirei fundo.— O que vai fazer amanhã? — ela perguntou.— Dar um jeito na minha vida.— Uau! E do que estamos falando?— Vou fazer o que há muito tempo já devia ter feito: me despedir das coisas do Noah e procurar um apartamento novo. De preferência um que tenha elevador, foi difícil subir com essa mala.Ela riu.— Okay. Bom… vou indo. Tenho um encontro. Volte ao trabalho quando estiver pronta e descansada. — Caminhou em direção à porta. — Ah! — Parou, olhando-me. — O que aconteceu com o carinha que você beijou?— Ele só estava de passagem. Precisou ir embora.— Entendi.Ela saiu e fechou a porta.Depois de um banho e desfazer a mala, fui ao mercado. No
Conforme os dias decorriam, eu tentava entreter Beth na pequena cidade, mas ela detestava estar ali. Eu não a julgo. Talvez, se não tivesse vivido momentos intensos com Jake, teria odiado cada dia nesse lugar. Era pacato e pequeno. Mas eu gostava de estar de volta.Quando o fim de tarde chegou, nos preparamos para o baile. Algumas pessoas da cidade haviam sido convidadas. Dirigi entre o topo das colinas, e Beth assustou-se com o escuro.— É tão mórbido lá fora. Parece que a qualquer momento alguma coisa saltará da escuridão na nossa direção.— E talvez salte. Não dá para saber o que realmente tem lá fora.Olhei-a rapidamente e vi os seus olhos arregalados com espanto.— Ah, meu Deus! — disse Beth, logo que avistou a mansão. — Emily… esse lugar é incrível!— Você ainda não viu por dentro. — Parei o carro na entrada, e logo um manobrista abriu a minha porta. — Guarde o queixo caído para quando entrar e observar o meu trabalho.Descemos do carro, e juntas seguimos para a entrada movimenta
— Oi, Emily. Sou eu. Essa é a décima vez que estou te ligando esta semana. Me atende, por favor. Estou preocupada.beep— Oi, sou eu de novo. A Beth. Se lembra de mim? A sua amiga e sócia? Você não retorna as minhas ligações. Olha só… tenho projetos novos na minha mesa! E você tem um aluguel para pagar!beep— Okay, me desculpe. Fui muito grossa ontem. Foi mal. Estou estressada. É tudo uma loucura sem você aqui! Sei que está vivendo o luto novamente; também fico triste, ele era o meu melhor amigo. Mas não se afunde novamente na tristeza. Okay? Não quero ter que invadir o seu apartamento outra vez e tirar você de dentro da banheira, prestes a se afogar. Ah, e fique longe dos remédios.beep— Acabou de sair da minha sala um dos caras mais gatos dos últimos tempos! Acho que devia pegar esse projeto. É uma mansão do século XIX e está na família dele desde a construção. Ele quer restaurar para abri-la à visitação e hospedagem. Fica em Shadows River, no interior da Virgínia. O que me diz?b
Depois de um voo de quase duas horas de Nova Iorque para Richmond, dirigi por oito horas até Shadows River. Esse, sem dúvida, foi um dos caminhos mais lindos que eu havia feito de carro. De fato, era como estar dentro de uma paisagem de conto de fadas, ou um quadro a óleo. As colinas, os pinheiros, as árvores frondosas.Logo que entrei na cidade, percebi como as pessoas por ali levavam a sério o Halloween. Ainda estávamos no começo de outubro, mas já havia decoração instalada em cada poste, abóboras à frente das lojas e pessoas fantasiadas. Havia ido para Salem e achava que ali era o lugar em que as pessoas mais amavam o Dia das Bruxas, mas estava enganada. Os amantes da noite do terror deviam conhecer Shadows River.O GPS me guiou até a hospedaria onde ficaria pelos próximos três meses. Estacionei o carro diante da casa e observei-a por alguns instantes. Era linda, provavelmente construída no início do século XX e muito bem conservada. Desci e apanhei a mala na traseira do carro. Per
Uma batida na porta soou atrás de mim. Virei-me, e lá estava um homem de meia-idade, segurando a minha mala.— Sou Gordon. Marido da Jude.— Ah, sim. Entre.Ele entrou e colocou a mala junto ao pequeno armário feito em madeira maciça.— Sou Emily.— Seja bem-vinda a Shadows River. — Sorriu, simpático.Rapidamente, abri a bolsa e apanhei na carteira uma nota de cinco dólares, estendendo-a para ele.— Não, por favor. Aqui não aceitamos gorjetas. Já está pagando por todo esse serviço.— Ah, claro. Desculpe. — Guardei novamente o dinheiro.— Então você vai reformar a mansão Whitewood. É uma bela casa. O avô da minha esposa trabalhava lá quando aconteceu o incêndio. Era o zelador. Foi ele quem avistou as chamas e pediu por ajuda.— É lamentável o que aconteceu. Deve ter abalado toda a cidade.— Ah, sim. Mais de cinquenta pessoas estavam lá. E todos por aqui adoravam o senhor Whitewood. Ele era jovem, mas ainda assim fez coisas incríveis pela cidade, como construir a escola, por exemplo. Er
Descendo pelas escadas, percebi que não havia muita movimentação lá embaixo. Passei pela sala de estar, pela de TV, e então cheguei à sala de jantar. Jude terminava de colocar a mesa. Ela olhou-me e sorriu.— Vejo que não sou a única a acordar cedo por aqui.— Nem me lembro da última vez que acordei depois das sete.— Eu me lembro. Antes do Benjamin.— Seu filho?— Sim. Sinto saudade de quando eu acordava com ele cantando no seu quarto.— Onde ele está agora?— Acho que indo se encontrar com você na mansão Whitewood. — Riu.— Ben Foster? O empreiteiro?Ela assentiu.— Sente-se. Vamos comer.Sentei-me, e ela acomodou-se à minha frente. Jude nos serviu chá e colocou uma rosquinha doce no meu prato. Ela disse ser o grande atrativo de todas as manhãs e que eu precisava comer antes que os outros descessem e acabassem com tudo.— Qual é a da Candice?— Ela mora aqui desde que a mãe faleceu. Antes morava no fim da rua, mas as dívidas apertaram e ela teve que vender a casa.— Ela é meio estra
Respirei fundo, sentindo-me satisfeita em ter aceitado a restauração, pela primeira vez desde que saí de Nova Iorque.— Bom… Por onde começamos? — ele perguntou.— Vamos começar de baixo para cima. Primeiro avaliamos os cômodos daqui, depois subimos a escada. Onde está a parte da casa que pegou fogo?— Ouvi dizer que foi isolada alguns meses depois.— Vamos começar encontrando-a, então.— Vou no meu carro pegar uma marreta e lanternas.Assenti e ele saiu.Senti-me estranhamente observada e uma fina corrente de ar frio passar arrepiando os meus braços. Olhei para trás, pensando que talvez encontraria alguém, mas não havia ninguém.— Voltei. Pegue isso. — Entregou-me uma lanterna.— Segundo a planta, o salão de festas fica na ala oeste. É o último cômodo.Ben tomou frente e eu fui logo atrás. Atravessamos salas e passamos por corredores, até darmos de cara com uma extensa parede. Ela não tinha quadros ou janelas. Havia sido pintada de vermelho e isso dava um ar fúnebre ao local.— Acho