Capítulo 04

Respirei fundo, sentindo-me satisfeita em ter aceitado a restauração, pela primeira vez desde que saí de Nova Iorque.

— Bom… Por onde começamos? — ele perguntou.

— Vamos começar de baixo para cima. Primeiro avaliamos os cômodos daqui, depois subimos a escada. Onde está a parte da casa que pegou fogo?

— Ouvi dizer que foi isolada alguns meses depois.

— Vamos começar encontrando-a, então.

— Vou no meu carro pegar uma marreta e lanternas.

Assenti e ele saiu.

Senti-me estranhamente observada e uma fina corrente de ar frio passar arrepiando os meus braços. Olhei para trás, pensando que talvez encontraria alguém, mas não havia ninguém.

— Voltei. Pegue isso. — Entregou-me uma lanterna.

— Segundo a planta, o salão de festas fica na ala oeste. É o último cômodo.

Ben tomou frente e eu fui logo atrás. Atravessamos salas e passamos por corredores, até darmos de cara com uma extensa parede. Ela não tinha quadros ou janelas. Havia sido pintada de vermelho e isso dava um ar fúnebre ao local.

— Acho que fica atrás desses tijolos — disse ele.

Abrindo a bolsa, peguei o canudo onde a cópia da planta estava guardada. Desenrolei-a e iluminando-a em seguida.

— Acho que estamos exatamente diante de uma porta.

— Se afaste. Vou quebrar.

Colocando um capacete de segurança, ele ergueu a marreta, e eu rapidamente dei dez passos para trás. Ben começou a bater na parede, quebrando-a em vários pedaços. Depois de quase meia hora, ele conseguiu descobrir a porta.

— Quer fazer as honras? — ele perguntou, ofegante, deixando a marreta no chão.

Aproximei-me da porta e toquei a sua maçaneta. Ela parecia estar estranhamente quente, mas não o suficiente para queimar a mão. Girei-a e ela rangeu alto, mas a porta não se abriu. Tentei novamente, mas continuei sem obter sucesso.

— Não abre.

— Será que está selada por dentro?

— É, talvez essa esteja. Uma pena. Eu queria poder olhar lá dentro. Começaremos a reforma por aqui, enquanto faço uma avaliação meticulosa no resto da mansão para então começar a criar o projeto.

— Podemos olhar na planta onde fica a outra porta e quebrar.

— Okay.

— Vou ao carro pegar uma marreta maior.

— Enquanto isso, vou dar uma olhada por fora.

Viramos prontos para seguir em direção à saída, quando algo estalou atrás de nós. Olhei sobre o ombro e agarrei o braço do Ben. Ele parou, olhou para mim e depois para a porta. Ela estava entreaberta. Caminhei até ela e toquei a maçaneta, não mais a sentindo quente. Empurrei a porta, entrando no salão de festas.

— Cuidado com onde pisa — alertou ele.

O chão estava muito queimado, assim como o resto do cômodo. Nenhum móvel ou item de decoração havia restado. Diante dos meus pés, havia um castiçal com o seu ferro retorcido. Dei mais alguns passos à frente, percebendo o quão frágil o chão estava. Olhei ao meu redor, e senti tristeza invadir-me subitamente, causando um aperto no peito.

— Está totalmente destruído — disse Ben, ainda do lado de fora, observando tudo através da porta.

— A única coisa que resistiu ao fogo foram as paredes de pedra. Reconstruiremos tudo.

— Okay. Farei uma lista de material e realizarei o pedido. É o prazo de uma semana para chegar.

Assenti.

Ben adentrou o salão e eu saí. Eu não sabia explicar exatamente o que estava sentindo em estar ali. Era uma mistura de sentimentos melancólicos misturada a um pouco de calor.

— Está quente aqui. — Abanei-me com a mão.

— Para mim está tão frio quanto lá fora.

Caminhei de volta para o hall e sentei-me em um dos últimos degraus da escada. Novamente, tive a mesma sensação de estar sendo observada.

— Vou retornar para cidade e agilizar o pedido do material. Quando chegar, eu lhe avisarei. Então começamos.

— Ótimo.

— Até mais — disse, indo em direção à saída.

Respirando fundo, olhei para cima. Havia outro lustre no segundo andar, pendendo sobre o vão da escadaria. Subi os degraus, avaliando-os. A madeira estava em boas condições, mas certamente o carpete não poderia ser reaproveitado. Caminhei pelo longo corredor e entrei em alguns dos quartos. Muitos estavam com as suas portas trancadas, teria que chamar um chaveiro. Não queria estragar nada com um arrombamento.

O tempo parecia ter parado naqueles cômodos. Camas ainda feitas, roupas nos armários, escova sobre a penteadeira junto a maquiagem. Era simplesmente extraordinário.

De volta ao térreo, segui até a cozinha. Ela era o terror das minhas reformas. Sempre a parte mais problemática, até mais que os banheiros. Mas, para a minha surpresa, não estava aparentemente tão ruim. E isso deixou-me ainda mais animada com o trabalho.

— Olá — Uma voz grave reverberou atrás de mim.

Berrei alto, assustada, virando-me para trás em um pulo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo