— Oi, Emily. Sou eu. Essa é a décima vez que estou te ligando esta semana. Me atende, por favor. Estou preocupada.
beep
— Oi, sou eu de novo. A Beth. Se lembra de mim? A sua amiga e sócia? Você não retorna as minhas ligações. Olha só… tenho projetos novos na minha mesa! E você tem um aluguel para pagar!
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— Okay, me desculpe. Fui muito grossa ontem. Foi mal. Estou estressada. É tudo uma loucura sem você aqui! Sei que está vivendo o luto novamente; também fico triste, ele era o meu melhor amigo. Mas não se afunde novamente na tristeza. Okay? Não quero ter que invadir o seu apartamento outra vez e tirar você de dentro da banheira, prestes a se afogar. Ah, e fique longe dos remédios.
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— Acabou de sair da minha sala um dos caras mais gatos dos últimos tempos! Acho que devia pegar esse projeto. É uma mansão do século XIX e está na família dele desde a construção. Ele quer restaurar para abri-la à visitação e hospedagem. Fica em Shadows River, no interior da Virgínia. O que me diz?
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— Shadows River — sussurrei o nome que parecia estranho demais para uma cidade.
Deitada na cama, encarava o teto, imóvel. Sobre o peito, segurava a última foto que eu e Noah tiramos juntos, uma semana antes do acidente que o levou de mim de forma trágica. Eu não sabia que essa semana seria tão difícil. Dois anos já haviam se passado, mas a tristeza continuava a me engolir na mesma velocidade. Era para estarmos comemorando mais um ano de casados, e não para eu estar largada na cama há dias, sem banho, sem comer decentemente, chorando sem parar.
A campainha tocou, e eu bufei desgostosa e cansada, fechando os olhos. Talvez se eu ignorasse quem quer que estivesse lá fora, a pessoa iria embora. Mas estava enganada. A campainha soou novamente, e logo em seguida, fortes batidas foram ouvidas. Respirando fundo, arrastei-me para fora da cama e caminhei a passos lentos até lá. Espiando pelo olho mágico, vi Beth parada diante da porta.
— Ela acabou de me ligar e já está aqui?
— Sei que está aí, é melhor abrir — falou em um tom ameaçador.
Destranquei a porta e abri-a.
— Cruzes! Você está péssima! — Forcei um sorriso e dei passagem para ela entrar. — Você me ligou a caminho daqui?
— Na verdade, estava lá embaixo. Tinha esperança de que me atendesse, e eu não precisasse subir quatro andares de escada, usando salto alto. Você podia mudar para um prédio com elevador.
Fechei a porta e sentei-me no sofá.
— Desculpe, não tenho nada para te oferecer que não seja o resto de yakisoba de ontem e gim. — Forcei outro sorriso.
Beth olhou-me com piedade, quase derramando pelos olhos, e sentou-se na poltrona à minha frente.
— Eu te amo! E não aguento mais ver você nesse estado deplorável. Noah não ia gostar disso. Sei que dói, mas não pode se permitir afundar outra vez.
— Eu posso, sim! — disse um pouco impaciente. — Foi o meu noivo que morreu a caminho do altar. Fui eu que tive que enterrá-lo, quando éramos para estar a caminho da lua de mel que tanto sonhamos.
Senti um nó na garganta, e lágrimas se empoçarem nos meus olhos.
— Ele era o meu melhor amigo! E você foi tudo o que restou dele na minha vida, e não vou me permitir perder você também! — falou no mesmo tom. — Por favor, Emily… Reaja. Da próxima vez, talvez eu não chegue aqui a tempo de tirar comprimidos da sua goela. Não faça isso comigo.
Engoli em seco, abaixando a cabeça. Eu ter feito isso comigo mesma ainda me gerava certa vergonha.
— Estou indo nas sessões de terapia. Isso não vai acontecer de novo.
Olhei-a novamente.
— Acho que devia sair desse apartamento, pelo menos por um tempo. Tem lembranças demais aqui. O que acha de mudar o cabelo e fazer umas comprinhas? Talvez viajar seja uma boa ideia. E trabalhar também. Acho que devia ir para Shadows River. Dei uma olhada na internet, e o lugar é lindo. Parece que a cidade saiu de um conto de fadas. Acho que ar puro, lugar novo e gente diferente vai te fazer bem.
Respirei fundo.
— Vou pensar sobre isso.
— Se você não for, terei que declinar o trabalho. Estamos com pouco pessoal, e não tenho quem mandar. E você sabe… recusar essa restauração seria um erro. A empresa está no vermelho há um ano.
— Eu sei, Beth. E eu sinto muito por isso.
— Não. Sabemos que a única coisa que tem sentido é o luto, e ele está acabando com você. Vão ser só três meses. Confio que fará um serviço impecável nesta casa.
Sorriu confiante, sentando-se ao meu lado.
— Vamos, Emily. — Puxou-me para ela, abraçando-me de lado. — A nossa empresa precisa de você! E eu preciso da minha amiga de volta.
Depois de um voo de quase duas horas de Nova Iorque para Richmond, dirigi por oito horas até Shadows River. Esse, sem dúvida, foi um dos caminhos mais lindos que eu havia feito de carro. De fato, era como estar dentro de uma paisagem de conto de fadas, ou um quadro a óleo. As colinas, os pinheiros, as árvores frondosas.Logo que entrei na cidade, percebi como as pessoas por ali levavam a sério o Halloween. Ainda estávamos no começo de outubro, mas já havia decoração instalada em cada poste, abóboras à frente das lojas e pessoas fantasiadas. Havia ido para Salem e achava que ali era o lugar em que as pessoas mais amavam o Dia das Bruxas, mas estava enganada. Os amantes da noite do terror deviam conhecer Shadows River.O GPS me guiou até a hospedaria onde ficaria pelos próximos três meses. Estacionei o carro diante da casa e observei-a por alguns instantes. Era linda, provavelmente construída no início do século XX e muito bem conservada. Desci e apanhei a mala na traseira do carro. Per
Uma batida na porta soou atrás de mim. Virei-me, e lá estava um homem de meia-idade, segurando a minha mala.— Sou Gordon. Marido da Jude.— Ah, sim. Entre.Ele entrou e colocou a mala junto ao pequeno armário feito em madeira maciça.— Sou Emily.— Seja bem-vinda a Shadows River. — Sorriu, simpático.Rapidamente, abri a bolsa e apanhei na carteira uma nota de cinco dólares, estendendo-a para ele.— Não, por favor. Aqui não aceitamos gorjetas. Já está pagando por todo esse serviço.— Ah, claro. Desculpe. — Guardei novamente o dinheiro.— Então você vai reformar a mansão Whitewood. É uma bela casa. O avô da minha esposa trabalhava lá quando aconteceu o incêndio. Era o zelador. Foi ele quem avistou as chamas e pediu por ajuda.— É lamentável o que aconteceu. Deve ter abalado toda a cidade.— Ah, sim. Mais de cinquenta pessoas estavam lá. E todos por aqui adoravam o senhor Whitewood. Ele era jovem, mas ainda assim fez coisas incríveis pela cidade, como construir a escola, por exemplo. Er
Descendo pelas escadas, percebi que não havia muita movimentação lá embaixo. Passei pela sala de estar, pela de TV, e então cheguei à sala de jantar. Jude terminava de colocar a mesa. Ela olhou-me e sorriu.— Vejo que não sou a única a acordar cedo por aqui.— Nem me lembro da última vez que acordei depois das sete.— Eu me lembro. Antes do Benjamin.— Seu filho?— Sim. Sinto saudade de quando eu acordava com ele cantando no seu quarto.— Onde ele está agora?— Acho que indo se encontrar com você na mansão Whitewood. — Riu.— Ben Foster? O empreiteiro?Ela assentiu.— Sente-se. Vamos comer.Sentei-me, e ela acomodou-se à minha frente. Jude nos serviu chá e colocou uma rosquinha doce no meu prato. Ela disse ser o grande atrativo de todas as manhãs e que eu precisava comer antes que os outros descessem e acabassem com tudo.— Qual é a da Candice?— Ela mora aqui desde que a mãe faleceu. Antes morava no fim da rua, mas as dívidas apertaram e ela teve que vender a casa.— Ela é meio estra
Respirei fundo, sentindo-me satisfeita em ter aceitado a restauração, pela primeira vez desde que saí de Nova Iorque.— Bom… Por onde começamos? — ele perguntou.— Vamos começar de baixo para cima. Primeiro avaliamos os cômodos daqui, depois subimos a escada. Onde está a parte da casa que pegou fogo?— Ouvi dizer que foi isolada alguns meses depois.— Vamos começar encontrando-a, então.— Vou no meu carro pegar uma marreta e lanternas.Assenti e ele saiu.Senti-me estranhamente observada e uma fina corrente de ar frio passar arrepiando os meus braços. Olhei para trás, pensando que talvez encontraria alguém, mas não havia ninguém.— Voltei. Pegue isso. — Entregou-me uma lanterna.— Segundo a planta, o salão de festas fica na ala oeste. É o último cômodo.Ben tomou frente e eu fui logo atrás. Atravessamos salas e passamos por corredores, até darmos de cara com uma extensa parede. Ela não tinha quadros ou janelas. Havia sido pintada de vermelho e isso dava um ar fúnebre ao local.— Acho
A dois metros de distância, estava um homem. Ele olhava-me de um jeito que parecia surpreso que eu o tivesse ouvido. E eu o encarava de olhos arregalados, com o coração palpitando forte no peito, prestes a saltar pela minha boca.— Quem é você?— Jake.Engoli em seco.— O que faz aqui, Jake? Isso é uma propriedade privada.— Eu sei. Eu… trabalho aqui.— Trabalha aqui? — perguntei cheia de desconfiança.— Sim. Mantenho curiosos e possíveis infratores longe. — Sorriu.— Então… você é o zelador?— Isso aí.Aproximou-se, reduzindo pela metade a nossa distância.— Não me avisaram sobre você.— Sinto muito tê-la assustado — disse ele, curvando-se um pouco para frente, ao mesmo tempo que sobrepôs a sua mão direita sobre o peito, enquanto a outra era colocada para trás das costas. Um comportamento estranhamente cavalheiresco.— Tudo bem.— Então está aqui para restaurar esse lugar.— Isso aí.Jake é um homem bonito. Talvez um dos mais lindos que eu já tenha visto. Cabelos pretos e pele alva.
Voltei para cama e deitei-me sob os cobertores novamente. Respirando fundo, fechei os olhos. Então, não demorou muito para que eu dormisse e sonhasse profundamente. Mas não fora um sonho qualquer. Era um onde mãos firmes seguravam os meus punhos enquanto lábios rosados e carnudos beijavam o meu pescoço antes de escorregar a língua para o vale entre os meus seios. Suspiros ecoavam de corpos ofegantes e arrepiados. Braços me prendiam contra um peitoral nu. O meu nome foi sussurrado.— Olhe para mim, Emily — pedia a voz masculina. — Abra os olhos! — disse em um tom mais firme e alto.Os meus olhos imediatamente se abriram e o sonho acabou. Sentei-me assustada na cama com o quanto a última frase parecia ter sido dita por alguém dentro do quarto. Olhei para os lados, certificando-me de estar só. O meu coração batia um pouco apressado.Apanhei o celular na mesinha ao lado e olhei as horas. Eram sete e meia. Depois de um banho, desci para o café da manhã. Todos já estavam à mesa, comendo enq
Jake sabia mesmo como deixar uma mulher impactada e sem palavras. Porque eu não consegui dizer nada e muito menos me mover.Os seus dedos tocaram os meus punhos, fazendo certa pressão na pele. Roçaram onde a veia pulsava forte e desceram pela minha palma, entrelaçando-se nos meus. Engoli em seco, sentindo o nervosismo me prensar por dentro. Jake olhava para as nossas mãos com um sorriso doce e um tanto satisfeito.— É tão quente — sussurrou. — Faz muito tempo que não sinto mãos quentes tocarem as minhas.O seu sorriso se desfez. Jake soltou as minhas mãos e eu considerei impedi-lo, mas não fiz.— Vou levá-la à biblioteca — disse, sem me olhar.Ele seguiu fazendo o caminho de volta e eu o segui até a sala do chá. Jake abriu uma porta e então entramos na majestosa biblioteca.— Uau! — disse, parando para observar o espaço.Em duas das paredes, havia prateleiras que iam do chão ao teto, repletas de livros. Em frente à lareira, havia sofás e duas poltronas cobertos por panos que um dia fo
A passos apressados, caminhei em direção à saída. Ao fechar a porta atrás de mim, parei e respirei fundo. Os meus dedos tocaram os meus lábios, que ainda estavam desejosos por ele. As minhas mãos repousaram sobre o peito, sentindo o coração disparado. Os meus olhos se fecharam brevemente, enquanto eu respirava fundo tentando manter a calma. Era um tanto desesperador sentir o meu corpo se excitar novamente. O meu baixo ventre estava aceso, assim como os bicos dos meus seios. A pele abaixo da orelha estava arrepiada.Será que ainda é cedo demais? Ou será que é cedo demais para me entregar a um estranho?Caminhei rumo ao carro e entrei, fechando a porta. No bolso da jaqueta, apanhei o meu celular e liguei para Beth.— Eu ia te ligar, juro! — disse ela ao atender.— Oi. Como estão as coisas por aí?— Estão bem? E por aí? A mansão está tão mal quanto parece pela foto?— Sabe como é. Um pouco de madeira podre aqui e ali, mas começaremos a obra na próxima semana. Até lá, farei a curadoria do