Desejo Sombrio
Desejo Sombrio
Por: Larissa Braz
Prólogo

— Oi, Emily. Sou eu. Essa é a décima vez que estou te ligando esta semana. Me atende, por favor. Estou preocupada.

beep

— Oi, sou eu de novo. A Beth. Se lembra de mim? A sua amiga e sócia? Você não retorna as minhas ligações. Olha só… tenho projetos novos na minha mesa! E você tem um aluguel para pagar!

beep

— Okay, me desculpe. Fui muito grossa ontem. Foi mal. Estou estressada. É tudo uma loucura sem você aqui! Sei que está vivendo o luto novamente; também fico triste, ele era o meu melhor amigo. Mas não se afunde novamente na tristeza. Okay? Não quero ter que invadir o seu apartamento outra vez e tirar você de dentro da banheira, prestes a se afogar. Ah, e fique longe dos remédios.

beep

— Acabou de sair da minha sala um dos caras mais gatos dos últimos tempos! Acho que devia pegar esse projeto. É uma mansão do século XIX e está na família dele desde a construção. Ele quer restaurar para abri-la à visitação e hospedagem. Fica em Shadows River, no interior da Virgínia. O que me diz?

beep

— Shadows River — sussurrei o nome que parecia estranho demais para uma cidade.

Deitada na cama, encarava o teto, imóvel. Sobre o peito, segurava a última foto que eu e Noah tiramos juntos, uma semana antes do acidente que o levou de mim de forma trágica. Eu não sabia que essa semana seria tão difícil. Dois anos já haviam se passado, mas a tristeza continuava a me engolir na mesma velocidade. Era para estarmos comemorando mais um ano de casados, e não para eu estar largada na cama há dias, sem banho, sem comer decentemente, chorando sem parar.

A campainha tocou, e eu bufei desgostosa e cansada, fechando os olhos. Talvez se eu ignorasse quem quer que estivesse lá fora, a pessoa iria embora. Mas estava enganada. A campainha soou novamente, e logo em seguida, fortes batidas foram ouvidas. Respirando fundo, arrastei-me para fora da cama e caminhei a passos lentos até lá. Espiando pelo olho mágico, vi Beth parada diante da porta.

— Ela acabou de me ligar e já está aqui?

— Sei que está aí, é melhor abrir — falou em um tom ameaçador.

Destranquei a porta e abri-a.

— Cruzes! Você está péssima! — Forcei um sorriso e dei passagem para ela entrar. — Você me ligou a caminho daqui?

— Na verdade, estava lá embaixo. Tinha esperança de que me atendesse, e eu não precisasse subir quatro andares de escada, usando salto alto. Você podia mudar para um prédio com elevador.

Fechei a porta e sentei-me no sofá.

— Desculpe, não tenho nada para te oferecer que não seja o resto de yakisoba de ontem e gim. — Forcei outro sorriso.

Beth olhou-me com piedade, quase derramando pelos olhos, e sentou-se na poltrona à minha frente.

— Eu te amo! E não aguento mais ver você nesse estado deplorável. Noah não ia gostar disso. Sei que dói, mas não pode se permitir afundar outra vez.

— Eu posso, sim! — disse um pouco impaciente. — Foi o meu noivo que morreu a caminho do altar. Fui eu que tive que enterrá-lo, quando éramos para estar a caminho da lua de mel que tanto sonhamos.

Senti um nó na garganta, e lágrimas se empoçarem nos meus olhos.

— Ele era o meu melhor amigo! E você foi tudo o que restou dele na minha vida, e não vou me permitir perder você também! — falou no mesmo tom. — Por favor, Emily… Reaja. Da próxima vez, talvez eu não chegue aqui a tempo de tirar comprimidos da sua goela. Não faça isso comigo.

Engoli em seco, abaixando a cabeça. Eu ter feito isso comigo mesma ainda me gerava certa vergonha.

— Estou indo nas sessões de terapia. Isso não vai acontecer de novo.

Olhei-a novamente.

— Acho que devia sair desse apartamento, pelo menos por um tempo. Tem lembranças demais aqui. O que acha de mudar o cabelo e fazer umas comprinhas? Talvez viajar seja uma boa ideia. E trabalhar também. Acho que devia ir para Shadows River. Dei uma olhada na internet, e o lugar é lindo. Parece que a cidade saiu de um conto de fadas. Acho que ar puro, lugar novo e gente diferente vai te fazer bem.

Respirei fundo.

— Vou pensar sobre isso.

— Se você não for, terei que declinar o trabalho. Estamos com pouco pessoal, e não tenho quem mandar. E você sabe… recusar essa restauração seria um erro. A empresa está no vermelho há um ano.

— Eu sei, Beth. E eu sinto muito por isso.

— Não. Sabemos que a única coisa que tem sentido é o luto, e ele está acabando com você. Vão ser só três meses. Confio que fará um serviço impecável nesta casa.

Sorriu confiante, sentando-se ao meu lado.

— Vamos, Emily. — Puxou-me para ela, abraçando-me de lado. — A nossa empresa precisa de você! E eu preciso da minha amiga de volta.

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