Agora posso dizer com certeza: estamos em processo de separação. Foram apenas três anos de casados, e o que parecia ser um conto de fadas acabou mais rápido do que eu imaginava. No começo, foi uma paixão avassaladora, mas com o tempo, a chama foi se apagando. É isso que acontece quando você se deixa levar por um fogo de palha: ele logo se extingue. Henry me decepcionou da mesma maneira que eu o decepcionei. Eu adorava provocar seu ciúme — e ele era muito ciumento. Dançava com meus amigos, rebolava na frente dele, sabendo que o deixava furioso, só para vê-lo perder o controle. No fim, tudo sempre terminava no mesmo lugar: na cama. Infantilidade, eu sei.
Mas o que eu nunca imaginei era que tudo acabaria assim, com a descoberta da traição dele. Não sei por que eu achava que ele seria fiel. Sua mãe fez questão de colocar Renata, sua afilhada e ex-namorada, na empresa, e era ela quem eu encontrei no colo dele, aos beijos. Já estávamos em crise, e vê-la trabalhando ao lado dele só piorou tudo. Brigamos feio, e eu disse coisas horríveis sobre a mãe dele, palavras que ele não gostou nem um pouco. Ali, eu sabia que tudo estava acabado. Não havia mais respeito, nem da minha parte, nem da dele. Dias depois, recebi os papéis do divórcio. Ele estava viajando e, mais uma vez, se acovardou. Não teve sequer a coragem de vir até mim e dizer, cara a cara: "Eu quero o divórcio."
Deitei-me com a Mia e dormi abraçada à minha filha. Tudo o que eu queria era desaparecer no mundo com ela. Mas eu sei como Henry é. Ele pode ter mil defeitos como marido, mas como pai, é exemplar. Muitas das brigas que tivemos foram causadas por picuinhas, criadas por nós e incentivadas por sua mãe. Agora, tudo o que eu quero é distância dele e daquela família.
O que mais me entristece é que minha melhor amiga é irmã dele. Ela é diferente, rebelde até. A mãe tenta controlá-la da mesma forma que faz com Henry, mas com ela, não funciona. Ela é uma tia doida, e eu a adoro, assim como a Mia. Temos uma relação de carinho recíproco, mas lembrar que ela é irmã do meu ex me desanima profundamente. Infelizmente, não escolhemos a família que temos, e muito menos conseguimos mudar o caráter das pessoas. O que eu mais gosto nela é que ela me ouve sem me julgar, e eu faço o mesmo por ela.
Rolei na cama, incapaz de dormir. Levantei, tentando aliviar a tensão, e desci as escadas. No meio do caminho, ouvi a campainha. Dora foi atender o portão, e, para minha surpresa, era Henry quem entrava, sem dizer uma palavra. Ele parou ao pé da escada, seus olhos fixos em mim.
— Melissa, me escuta! — ele pediu, e eu terminei de descer as escadas, me sentando no sofá. Arrumei os cabelos, tentando parecer calma, mesmo que por dentro eu estivesse em pedaços.
— O que você quer? — perguntei, ríspida. — Veio me devolver os papéis que deixei cair? Obrigada pelo favor. — Ele segurava os papéis na mão, e eu os puxei com força.
— Melissa... por favor, não faça isso. Aquilo foi um erro. Eu não deveria ter feito... — Ele começou, mas eu o interrompi.
— Mas fez! — falei firme, tentando controlar as emoções que ferviam dentro de mim. Eu odiava parecer desequilibrada, mas a raiva era imensa.
— Me desculpe por aquela cena. Não quero que você fique magoada, eu nunca quis... — ele continuou, mas eu já não aguentava mais.
— Chega! — gesticulei com as mãos, sem sequer olhar para ele. — Me dá uma caneta, por favor, Dora — pedi, e ele me olhou, frustrado.
Dora voltou com a caneta, e eu a peguei, colocando meus óculos de leitura. Dobrei as pernas para apoiar os papéis e, sem dizer mais nada, assinei os documentos. Henry me observava, com fúria contida. Entreguei os papéis assinados para ele, como se estivesse encerrando de vez qualquer laço que ainda restava.
— Pronto, está feito. Estamos livres um do outro. Satisfeito? — perguntei, sarcástica. Ele balançou a cabeça, negando.
— O que você está fazendo, Melissa? Por que está agindo assim? Senta e conversa comigo, por favor! — ele insistiu, a frustração evidente na voz.
— Agora quer conversar? Acha que sou idiota? Vai viver sua vida, Henry. Foi isso que você fez desde o começo. Pare de bancar o bom samaritano. — Levantei-me, tentando sair de sua frente, mas ele agarrou meu braço.
— Você nem me ouviu! Acha que é simples assim? Assinar um papel e tudo se resolve? — Ele me segurava firme, o desespero tomando conta de suas palavras.
— Foi você quem me enviou isso. Era sua única solução. Se não quis discutir civilizadamente, agora não venha exigir que eu ouça suas explicações. Você já tinha decidido tudo sozinho. — Eu me desvencilhei dele, sentindo o peso da decepção.
— Onde está a Mia? — ele perguntou, sem forças.
— Dormindo lá em cima — respondi, sem paciência. Caminhei em direção à cozinha, tentando me recompor. Cozinhar sempre me acalmou, e era isso que eu faria naquele momento de ansiedade. Mas ele me seguiu até lá, em silêncio, observando.
Minhas mãos tremiam, e eu tentava esconder o quanto estava abalada. Tudo o que eu queria era que ele fosse embora, mas, ao invés de me deixar sozinha, ele ficou ali, com aquele olhar fixo em mim.
— Desculpa pelas coisas não terem dado certo... — ele disse, sua voz soando quase como um sussurro. — Não era isso que eu esperava.
Pisquei várias vezes, segurando o choro, tentando me manter firme.
— Eu também não esperava, Henry. Mas a gente aprende com os erros. — respondi, sem o olhar.
— Eu quero ter um bom convívio com você, por causa da Mia. Quero estar presente na vida dela. Não me negue isso, Melissa. — Ele estava sendo sincero, e eu sabia que ele amava nossa filha.
— Não se preocupe. Não vou te privar disso. Falarei com meu advogado para organizarmos a guarda compartilhada. Agora vai vê-la, ela deve ter acordado. — Minhas palavras foram secas, tentando controlar o tremor nas mãos e o nó na garganta. Ele saiu da cozinha e subiu as escadas, me deixando sozinha.
Finalmente, pude respirar. Apoiei-me na pia, abafando o choro com a mão.
"Engole o choro, Melissa. Ele não merece nem uma lágrima", pensei, tentando me recompor.
Encostei-me na parede, buscando equilíbrio emocional. Depois, voltei a cozinhar, focando na comida da Mia, o único raio de luz em meio a essa tempestade.
Para o meu desgosto, Henry ficou mais tempo do que eu imaginava, esperava que ele fosse ver a Mia, mas logo fosse embora, ela é bebê, o máximo que faz é rir de suas palhaçadas e chorar de cansaço ou dor, o que ele tanto faz la em cima? Só falta ter dormido. Agora me pergunto, onde estão suas viagens repentinas? Seu trabalho dia e noite, porque era isso que vivíamos nos últimos dias de casamento, um distanciamento total entre casal, nada mais mudava o nosso humor gélido um com o outro, odeio admitir isso, mas é a realidade, não nascemos um para o outro se é que existe isso, dou graças a Deus que tive uma mãe sabia e como ela mesma diz, ninguém morre de amor.Fiz hora na cozinha esperando ele ir embora, mas nada, já era hora da Mia jantar e ele ainda estava com ela no quarto, não teve jeito, tive que intervir. Subi as escadas e fui até o quarto me deparando com ele deitado com ela ouvindo músicas infantis. Pigarreei e ele me olhou de imediato.— Sei que está com saudades dela, mas está
HenryAssim que vi Melissa sair daquela sala, praticamente empurrei Renata para longe e corri para o elevador, que se fechou antes de eu conseguir alcançá-lo. Mas não antes de ver o olhar de decepção de Melissa. Caramba, ela não merecia isso.— O que foi que eu fiz? — murmurei, atordoado, enquanto Renata vinha atrás de mim.— Ei, ei, aonde você vai? Deixa ela! — Ela disse, tentando me impedir.— Dá um tempo, Renata! — Saí disparado atrás de Melissa. Como o elevador estava ocupado, desci correndo pelas escadas. Quando cheguei ao térreo, a vi conversando com Ricardo, mas, ao ouvir minha voz, ela entrou no carro e partiu.— O que tá acontecendo, Henry? — perguntou Ricardo, surpreso, enquanto eu bati no carro, tentando impedi-la de ir embora. Mas era tarde demais.— Fiz besteira, irmão. Melissa me viu com Renata. — Passei as mãos pela cabeça, imaginando as conclusões que ela já devia ter tirado.— Você enlouqueceu? — Ricardo perguntou, sério.— Cara, eu nunca traí a Melissa... — disse, de
Desapego e Novos PlanosMelissaEstou finalmente me libertando e mudando os pensamentos de uma boba apaixonada. Sabe quando você cria a fantasia de que encontrou o amor da sua vida? Pois é, eu também tinha essa ideia. Achava que poderíamos superar qualquer fase ruim, mas essa ilusão desmoronou.Decidi evitar saber da vida pessoal do Henry. O que ele faz ou deixa de fazer não é mais da minha conta, desde que não envolva a mim ou à minha filha. Está na hora de seguir em frente. Tive meu período de luto sentimental, chorei o que tinha que chorar e perdi noites me perguntando o porquê de tudo. Por semanas, levantei exausta, com olheiras que tentava disfarçar com maquiagem. Mas agora estou cuidando de mim e me surpreendendo com a força que tenho encontrado. Bárbara, minha amiga, foi a única que esteve comigo, ouvindo todas as minhas lamúrias e me apoiando.Mas, infelizmente, as coisas não têm sido tão fáceis. Tenho visto Henry mais do que gostaria, pois ele vem diariamente à minha casa par
MelissaBárbara e eu terminamos nosso almoço e conversamos bastante sobre a viagem a Angra dos Reis. Quero muito ir e planejo levar Mia comigo. Henry, às vezes, faz questão de reclamar, mas estou decidida a ter esses momentos de lazer com minha filha. Cogito até convidar Dora para vir conosco. Ela vive sozinha na cidade e mora conosco; nada melhor do que uma viagem para que ela também possa descansar. Angra é linda, e será minha primeira vez lá, então estou empolgada com a oportunidade.Depois de muita conversa e risadas com a Bárbara, nos despedimos na porta do restaurante. Combinamos de sair mais tarde, e talvez seja bom para mim. Tenho mania de achar que só o trabalho me ajuda a descansar a mente, mas a verdade é que preciso de uma pausa real. Entrei no carro, percebendo que Bárbara conversava animadamente com o garçom.— Ah, essa Bárbara não perde tempo! O que será que ela está aprontando agora? — murmurei, manobrando o carro. Buzinei duas vezes, recebendo o aceno de despedida del
MelissaVoltei para casa cheia de sacolas. Dessa vez, comprei tudo que queria, e o caminho foi embalado por várias músicas de sofrência. Estacionei o carro em frente à casa e, assim que desci, percebi minha vizinha, Marli, de plantão na porta, me olhando de cima a baixo, como sempre. Essa mulher é insuportável — do tipo que faz questão de implicar com qualquer coisa. Nunca conversamos, e faço questão de manter distância. Seu marido e seu filho, por outro lado, são pessoas muito mais agradáveis e educadas. Diferente dela, ambos são tranquilos e simpáticos.Henry morria de ciúmes do filho dela, Rômulo, só porque ele trocava algumas palavras comigo sobre o dia a dia. Para Henry, isso já era motivo de sobra para implicar. Parecia até que ele queria me trancar em casa. Já Marli, contraditória como só ela, adorava bater papo com ele. E, segundo Rômulo, sua mãe detestava quando ele ou o pai conversavam comigo. O mais irônico é que ela vive de fofoca e, segundo Rômulo, elas acham que eu sou i
HenryFui tolo. Achei que minha filha ficaria tranquila na minha casa, afinal, ela nunca estranhou nenhum outro lugar antes. Mas foi o oposto: assim que acordou, Mia começou a chorar como nunca. Olhava para a sala, para as paredes, e seu choro só aumentava. Tentei acalmá-la, peguei-a no colo, cantei como sempre faço, mas nada parecia ajudar. Ela me olhava com aqueles olhinhos cheios de lágrimas, fazendo bico antes de soltar mais um choro desesperado. Meu coração apertou. Ela só parava um pouco quando eu mostrava seus vídeos infantis favoritos no celular, mas temia cansá-la demais. Mia é tão pequenina, mais franzina do que outras crianças da sua idade, e sempre me preocupei com isso.— Filha, é o papai. Olha aqui o papai. — Eu falava, tentando acalmá-la, mas era inútil; ela chorava sem parar, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Meu Deus, vamos sair daqui. — Coloquei-a no bebê conforto e saímos do apartamento. No corredor, seu choro ainda ecoava, e temi que alguém achasse que eu a
MelissaHenry está testando minha paciência. Ele realmente pensa que pode marcar território aqui, como fez quando viu Rômulo no portão. Não sei qual a graça que ele encontra nessas provocações.Mais tarde, dei banho na minha pequena, e logo ouvi a campainha tocar, seguida dos gritos inconfundíveis da tia louca da Mia, Bárbara, entrando porta adentro.— Melissa, cadê minha lindeza? Melissa! Não me faça essa menina dormir, ou eu acordo ela! — Bárbara gritou da sala. Quando ela estava prestes a subir, eu e Mia aparecemos no topo da escada.— Deixa de ser doida, mulher! Olha aqui sua princesa, toda cheirosa. — Falei enquanto descia as escadas com Mia nos braços. Ainda me perguntei onde estava Henry, já que ele não estava na sala. Será que foi embora?— Ai, meu Deus, olha essa fofura! Vem com a tia, minha princesa! — Ela abriu os braços, e Mia logo sorriu contente. — Não me dê esse sorriso, ou vou te morder! — Bárbara pegou minha pequena no colo e fomos nos sentar.— Comprei cada look para
MelissaHenry não sabe disfarçar quando algo o incomoda. No momento em que olhei para ele, já vi aquela expressão revoltada que ele lança sem medir as consequências. Não me importo tanto, mas o desconforto que isso causa nas outras pessoas me incomoda. Assim que viu Henry, Rômulo se despediu rapidamente.— Meninas, foi bom conversar com vocês, e podem contar comigo para a festa. — Rômulo se levantou, nos cumprimentou com um beijo no rosto e se afastou, percebendo o olhar afiado de Henry, que, quando quer, realmente assusta.— Fica tranquilo, Rômulo, o Henry não é louco de tratar ninguém mal na minha frente. — Bárbara comentou, enquanto Henry se aproximava de nós com sacolas nas mãos.— Não quero problemas. — Ele respondeu, ciente da proximidade de Henry.— Oi, Bárbara. — Henry lançou um olhar de reprovação para mim. — Cadê minha princesa, o amor da minha vida? — disse, pegando Mia nos braços como se não tivesse passado o dia inteiro com ela.— Você não avisou nossa mãe que estava saind