4. Capitulo

Henry

Assim que vi Melissa sair daquela sala, praticamente empurrei Renata para longe e corri para o elevador, que se fechou antes de eu conseguir alcançá-lo. Mas não antes de ver o olhar de decepção de Melissa. Caramba, ela não merecia isso.

— O que foi que eu fiz? — murmurei, atordoado, enquanto Renata vinha atrás de mim.

— Ei, ei, aonde você vai? Deixa ela! — Ela disse, tentando me impedir.

— Dá um tempo, Renata! — Saí disparado atrás de Melissa. Como o elevador estava ocupado, desci correndo pelas escadas. Quando cheguei ao térreo, a vi conversando com Ricardo, mas, ao ouvir minha voz, ela entrou no carro e partiu.

— O que tá acontecendo, Henry? — perguntou Ricardo, surpreso, enquanto eu bati no carro, tentando impedi-la de ir embora. Mas era tarde demais.

— Fiz besteira, irmão. Melissa me viu com Renata. — Passei as mãos pela cabeça, imaginando as conclusões que ela já devia ter tirado.

— Você enlouqueceu? — Ricardo perguntou, sério.

— Cara, eu nunca traí a Melissa... — disse, desnorteado, sem saber o que fazer. — Logo hoje, faço essa burrada e ela aparece aqui! — Ricardo colocou a mão no meu ombro, tentando me acalmar.

— O santo dela avisou, cara. Só pode. Ela nunca vem aqui! 

— Tô ferrado mesmo. Que droga! — esbravejei, chutando o ar. Tudo o que eu queria era correr até a casa dela, mas Ricardo insistiu que eu esfriasse a cabeça antes de tentar falar com ela. Ele sabia que Melissa já devia estar bastante irritada com o que viu.

Nem voltei para a empresa. Ricardo me levou a um restaurante para tentar me distrair, mas eu mal consegui comer. Odiava deixar as coisas para depois, então acabei indo para casa enfrentar Melissa.

Mas não esperava tanta frieza. Sei que não estávamos bem ultimamente, vivíamos numa constante tensão, e já estou cansado de tudo isso. Estamos casados, mas parece que nem somos um casal. Ou melhor, estávamos casados, já que ela assinou o divórcio sem nem me ouvir. Eu errei, sei disso. Fiz tudo de cabeça quente, pressionado pelos problemas na empresa, pela doença recente da minha mãe e pelas crises em casa. Não sou uma máquina sem sentimentos. Quando senti a possibilidade de receber algum carinho da Renata, cedi feito um idiota, mesmo sabendo que ela não era e nunca será a mulher que eu amo.

Apesar de tudo, sempre gostei da Melissa. Ela sempre foi a mulher mais linda que já vi. Mas hoje me pergunto se ela realmente gostava tanto assim de mim. Sei que errei tentando conciliar amigos solteiros com a vida de casado, mas não achei que isso acabaria prejudicando tanto o nosso casamento. Mesmo assim, vou seguir minha vida, já que ela não pensou duas vezes antes de assinar o divórcio.

Sempre me orgulhei de nunca ter traído minha esposa. Era quase uma marca registrada minha entre os amigos: "sou um cara casado que não trai." Mas joguei isso fora também. Tenho problemas em todas as áreas, e ela não tem sido compreensiva. Parece mais focada em sua loja do que em nós. Sei o quanto ela lutou para construir seu negócio, e até me orgulho disso. Mas será que a maternidade podia coexistir com o casamento? Nossa filha deveria ter nos unido, mas parece que foi o contrário.

Para piorar, minha mãe e Melissa sempre se odiaram. E no dia em que recebi a notícia sobre a doença da minha mãe, Melissa e eu tivemos uma briga feia, onde ela desferiu ofensas contra ela.

**Flashback**

— Você só pensa em você, Melissa — falei, exaltado. — Ou melhor, só pensa em você e nessa loja! Você não percebe que isso nos distanciou? — Ela sorriu, sarcástica, sabendo o quanto eu odiava isso.

— Claro, porque eu sou uma desocupada, uma madame que espera o dinheiro do marido até pra comprar uma calcinha, né? Você tem raiva porque sou independente.

— Poderia, pelo menos, ter deixado a Mia na casa da minha mãe. Ela estava louca para ver a neta, e você nem sabe o que está acontecendo. Essa sua implicância é boba!

— Implicância boba? — ela retrucou, furiosa. — Quem me infernizou desde o primeiro dia em que soube que estávamos juntos? Agora eu sou a bruxa má e sua mãe a Chapeuzinho Vermelho? Me poupe.

— Não fale assim dela!

— FALO DO JEITO QUE EU QUISER! ELA É EGOÍSTA, SEM NOÇÃO, UM VERDADEIRO INFERNO. NÃO PRECISO ATURAR ISSO! — Esse foi o limite para mim. Fui para o outro quarto e liguei para o advogado.

— Ela quer distância? Vai ter. 

**Fim do Flashback**

Eu nem contei a ela sobre a doença da minha mãe, de tanta raiva. Na manhã seguinte, pedi que o advogado redigisse os papéis do divórcio e saí em viagem sem avisá-la.

Quando voltei, percebi que Melissa estava pouco se importando com meu paradeiro. Nem se preocupou em me ligar. Renata sempre flertou comigo e, sendo minha ex, foi fácil para minha mãe colocá-la no escritório, claramente com a intenção de nos aproximar. Justo no dia em que faço besteira, Melissa aparece no escritório, algo que ela nunca faz. Parece que o universo conspirou contra nós.

Mesmo casado, eu ia para baladas nas viagens, jogava com os amigos, mas tudo por diversão e não para traí-la. Minha irmã, Bárbara, sempre dizia que eu queria viver uma vida de solteiro enquanto casado, e agora vejo que ela estava certa. Fiz besteira e magoei quem não queria magoar.

Melissa pode estar fria hoje, mas não foi sempre assim. No início, era diferente. Nos esforçamos para fazer dar certo, apesar da resistência da minha mãe. Amo minha filha mais do que tudo, e a chegada dela deveria nos ter aproximado, mas aconteceu o contrário.

Melissa pode seguir sua vida sem problemas, mas de uma coisa não abro mão: minha convivência com Mia. Ela ainda é pequena e pode não sentir minha falta se for tirada do meu convívio. Mas eu não aceito isso. Mia é a pessoa mais importante para mim, e jamais a deixarei.

Dei o jantar a Mia, brinquei com ela até que, cansada, acabou dormindo no meu peito. É engraçado como tudo nela me lembra Melissa: os olhos puxados, a boca vermelha, os cabelos pretos e os olhos cor de mel. Mia é o meu maior orgulho.

Quando ela adormeceu, deitei-a no berço no quarto de Melissa, onde a encontrei dormindo. Fiquei observando as duas por um tempo, com uma sensação estranha de perda. Sair dessa casa, deixar Mia, está sendo doloroso. Antes, eu sabia que ao voltar elas estariam aqui me esperando. Agora, isso não vai mais acontecer.

Antes de sair, olhei para Melissa, lembrando de como era bom quando as coisas estavam bem entre nós. Mas a realidade é que tudo acabou. Só nos resta tentar ser amigos pelo bem de Mia.

Por mais que pareça errado, fiquei ali, admirando-a enquanto dormia. Vestida com uma camisa larga e shorts que deixavam a curva de sua perna à mostra, lembrei de como eu adorava acariciar sua pele enquanto dormíamos juntos. Ela continua sendo a mulher mais linda que conheço, mesmo que não seja mais minha.

Saí dali e fui direto para uma balada, onde encontrei Ricardo, Eduardo e Marcelo. Bebemos até tarde, e eu me excedi. Acordei no dia seguinte sem lembrar de muito, mas o pior foi ver Renata ao meu lado.

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