Henry
Assim que vi Melissa sair daquela sala, praticamente empurrei Renata para longe e corri para o elevador, que se fechou antes de eu conseguir alcançá-lo. Mas não antes de ver o olhar de decepção de Melissa. Caramba, ela não merecia isso.
— O que foi que eu fiz? — murmurei, atordoado, enquanto Renata vinha atrás de mim.
— Ei, ei, aonde você vai? Deixa ela! — Ela disse, tentando me impedir.
— Dá um tempo, Renata! — Saí disparado atrás de Melissa. Como o elevador estava ocupado, desci correndo pelas escadas. Quando cheguei ao térreo, a vi conversando com Ricardo, mas, ao ouvir minha voz, ela entrou no carro e partiu.
— O que tá acontecendo, Henry? — perguntou Ricardo, surpreso, enquanto eu bati no carro, tentando impedi-la de ir embora. Mas era tarde demais.
— Fiz besteira, irmão. Melissa me viu com Renata. — Passei as mãos pela cabeça, imaginando as conclusões que ela já devia ter tirado.
— Você enlouqueceu? — Ricardo perguntou, sério.
— Cara, eu nunca traí a Melissa... — disse, desnorteado, sem saber o que fazer. — Logo hoje, faço essa burrada e ela aparece aqui! — Ricardo colocou a mão no meu ombro, tentando me acalmar.
— O santo dela avisou, cara. Só pode. Ela nunca vem aqui!
— Tô ferrado mesmo. Que droga! — esbravejei, chutando o ar. Tudo o que eu queria era correr até a casa dela, mas Ricardo insistiu que eu esfriasse a cabeça antes de tentar falar com ela. Ele sabia que Melissa já devia estar bastante irritada com o que viu.
Nem voltei para a empresa. Ricardo me levou a um restaurante para tentar me distrair, mas eu mal consegui comer. Odiava deixar as coisas para depois, então acabei indo para casa enfrentar Melissa.
Mas não esperava tanta frieza. Sei que não estávamos bem ultimamente, vivíamos numa constante tensão, e já estou cansado de tudo isso. Estamos casados, mas parece que nem somos um casal. Ou melhor, estávamos casados, já que ela assinou o divórcio sem nem me ouvir. Eu errei, sei disso. Fiz tudo de cabeça quente, pressionado pelos problemas na empresa, pela doença recente da minha mãe e pelas crises em casa. Não sou uma máquina sem sentimentos. Quando senti a possibilidade de receber algum carinho da Renata, cedi feito um idiota, mesmo sabendo que ela não era e nunca será a mulher que eu amo.
Apesar de tudo, sempre gostei da Melissa. Ela sempre foi a mulher mais linda que já vi. Mas hoje me pergunto se ela realmente gostava tanto assim de mim. Sei que errei tentando conciliar amigos solteiros com a vida de casado, mas não achei que isso acabaria prejudicando tanto o nosso casamento. Mesmo assim, vou seguir minha vida, já que ela não pensou duas vezes antes de assinar o divórcio.
Sempre me orgulhei de nunca ter traído minha esposa. Era quase uma marca registrada minha entre os amigos: "sou um cara casado que não trai." Mas joguei isso fora também. Tenho problemas em todas as áreas, e ela não tem sido compreensiva. Parece mais focada em sua loja do que em nós. Sei o quanto ela lutou para construir seu negócio, e até me orgulho disso. Mas será que a maternidade podia coexistir com o casamento? Nossa filha deveria ter nos unido, mas parece que foi o contrário.
Para piorar, minha mãe e Melissa sempre se odiaram. E no dia em que recebi a notícia sobre a doença da minha mãe, Melissa e eu tivemos uma briga feia, onde ela desferiu ofensas contra ela.
**Flashback**
— Você só pensa em você, Melissa — falei, exaltado. — Ou melhor, só pensa em você e nessa loja! Você não percebe que isso nos distanciou? — Ela sorriu, sarcástica, sabendo o quanto eu odiava isso.
— Claro, porque eu sou uma desocupada, uma madame que espera o dinheiro do marido até pra comprar uma calcinha, né? Você tem raiva porque sou independente.
— Poderia, pelo menos, ter deixado a Mia na casa da minha mãe. Ela estava louca para ver a neta, e você nem sabe o que está acontecendo. Essa sua implicância é boba!
— Implicância boba? — ela retrucou, furiosa. — Quem me infernizou desde o primeiro dia em que soube que estávamos juntos? Agora eu sou a bruxa má e sua mãe a Chapeuzinho Vermelho? Me poupe.
— Não fale assim dela!
— FALO DO JEITO QUE EU QUISER! ELA É EGOÍSTA, SEM NOÇÃO, UM VERDADEIRO INFERNO. NÃO PRECISO ATURAR ISSO! — Esse foi o limite para mim. Fui para o outro quarto e liguei para o advogado.
— Ela quer distância? Vai ter.
**Fim do Flashback**
Eu nem contei a ela sobre a doença da minha mãe, de tanta raiva. Na manhã seguinte, pedi que o advogado redigisse os papéis do divórcio e saí em viagem sem avisá-la.
Quando voltei, percebi que Melissa estava pouco se importando com meu paradeiro. Nem se preocupou em me ligar. Renata sempre flertou comigo e, sendo minha ex, foi fácil para minha mãe colocá-la no escritório, claramente com a intenção de nos aproximar. Justo no dia em que faço besteira, Melissa aparece no escritório, algo que ela nunca faz. Parece que o universo conspirou contra nós.
Mesmo casado, eu ia para baladas nas viagens, jogava com os amigos, mas tudo por diversão e não para traí-la. Minha irmã, Bárbara, sempre dizia que eu queria viver uma vida de solteiro enquanto casado, e agora vejo que ela estava certa. Fiz besteira e magoei quem não queria magoar.
Melissa pode estar fria hoje, mas não foi sempre assim. No início, era diferente. Nos esforçamos para fazer dar certo, apesar da resistência da minha mãe. Amo minha filha mais do que tudo, e a chegada dela deveria nos ter aproximado, mas aconteceu o contrário.
Melissa pode seguir sua vida sem problemas, mas de uma coisa não abro mão: minha convivência com Mia. Ela ainda é pequena e pode não sentir minha falta se for tirada do meu convívio. Mas eu não aceito isso. Mia é a pessoa mais importante para mim, e jamais a deixarei.
Dei o jantar a Mia, brinquei com ela até que, cansada, acabou dormindo no meu peito. É engraçado como tudo nela me lembra Melissa: os olhos puxados, a boca vermelha, os cabelos pretos e os olhos cor de mel. Mia é o meu maior orgulho.
Quando ela adormeceu, deitei-a no berço no quarto de Melissa, onde a encontrei dormindo. Fiquei observando as duas por um tempo, com uma sensação estranha de perda. Sair dessa casa, deixar Mia, está sendo doloroso. Antes, eu sabia que ao voltar elas estariam aqui me esperando. Agora, isso não vai mais acontecer.
Antes de sair, olhei para Melissa, lembrando de como era bom quando as coisas estavam bem entre nós. Mas a realidade é que tudo acabou. Só nos resta tentar ser amigos pelo bem de Mia.
Por mais que pareça errado, fiquei ali, admirando-a enquanto dormia. Vestida com uma camisa larga e shorts que deixavam a curva de sua perna à mostra, lembrei de como eu adorava acariciar sua pele enquanto dormíamos juntos. Ela continua sendo a mulher mais linda que conheço, mesmo que não seja mais minha.
Saí dali e fui direto para uma balada, onde encontrei Ricardo, Eduardo e Marcelo. Bebemos até tarde, e eu me excedi. Acordei no dia seguinte sem lembrar de muito, mas o pior foi ver Renata ao meu lado.
Desapego e Novos PlanosMelissaEstou finalmente me libertando e mudando os pensamentos de uma boba apaixonada. Sabe quando você cria a fantasia de que encontrou o amor da sua vida? Pois é, eu também tinha essa ideia. Achava que poderíamos superar qualquer fase ruim, mas essa ilusão desmoronou.Decidi evitar saber da vida pessoal do Henry. O que ele faz ou deixa de fazer não é mais da minha conta, desde que não envolva a mim ou à minha filha. Está na hora de seguir em frente. Tive meu período de luto sentimental, chorei o que tinha que chorar e perdi noites me perguntando o porquê de tudo. Por semanas, levantei exausta, com olheiras que tentava disfarçar com maquiagem. Mas agora estou cuidando de mim e me surpreendendo com a força que tenho encontrado. Bárbara, minha amiga, foi a única que esteve comigo, ouvindo todas as minhas lamúrias e me apoiando.Mas, infelizmente, as coisas não têm sido tão fáceis. Tenho visto Henry mais do que gostaria, pois ele vem diariamente à minha casa par
MelissaBárbara e eu terminamos nosso almoço e conversamos bastante sobre a viagem a Angra dos Reis. Quero muito ir e planejo levar Mia comigo. Henry, às vezes, faz questão de reclamar, mas estou decidida a ter esses momentos de lazer com minha filha. Cogito até convidar Dora para vir conosco. Ela vive sozinha na cidade e mora conosco; nada melhor do que uma viagem para que ela também possa descansar. Angra é linda, e será minha primeira vez lá, então estou empolgada com a oportunidade.Depois de muita conversa e risadas com a Bárbara, nos despedimos na porta do restaurante. Combinamos de sair mais tarde, e talvez seja bom para mim. Tenho mania de achar que só o trabalho me ajuda a descansar a mente, mas a verdade é que preciso de uma pausa real. Entrei no carro, percebendo que Bárbara conversava animadamente com o garçom.— Ah, essa Bárbara não perde tempo! O que será que ela está aprontando agora? — murmurei, manobrando o carro. Buzinei duas vezes, recebendo o aceno de despedida del
MelissaVoltei para casa cheia de sacolas. Dessa vez, comprei tudo que queria, e o caminho foi embalado por várias músicas de sofrência. Estacionei o carro em frente à casa e, assim que desci, percebi minha vizinha, Marli, de plantão na porta, me olhando de cima a baixo, como sempre. Essa mulher é insuportável — do tipo que faz questão de implicar com qualquer coisa. Nunca conversamos, e faço questão de manter distância. Seu marido e seu filho, por outro lado, são pessoas muito mais agradáveis e educadas. Diferente dela, ambos são tranquilos e simpáticos.Henry morria de ciúmes do filho dela, Rômulo, só porque ele trocava algumas palavras comigo sobre o dia a dia. Para Henry, isso já era motivo de sobra para implicar. Parecia até que ele queria me trancar em casa. Já Marli, contraditória como só ela, adorava bater papo com ele. E, segundo Rômulo, sua mãe detestava quando ele ou o pai conversavam comigo. O mais irônico é que ela vive de fofoca e, segundo Rômulo, elas acham que eu sou i
HenryFui tolo. Achei que minha filha ficaria tranquila na minha casa, afinal, ela nunca estranhou nenhum outro lugar antes. Mas foi o oposto: assim que acordou, Mia começou a chorar como nunca. Olhava para a sala, para as paredes, e seu choro só aumentava. Tentei acalmá-la, peguei-a no colo, cantei como sempre faço, mas nada parecia ajudar. Ela me olhava com aqueles olhinhos cheios de lágrimas, fazendo bico antes de soltar mais um choro desesperado. Meu coração apertou. Ela só parava um pouco quando eu mostrava seus vídeos infantis favoritos no celular, mas temia cansá-la demais. Mia é tão pequenina, mais franzina do que outras crianças da sua idade, e sempre me preocupei com isso.— Filha, é o papai. Olha aqui o papai. — Eu falava, tentando acalmá-la, mas era inútil; ela chorava sem parar, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Meu Deus, vamos sair daqui. — Coloquei-a no bebê conforto e saímos do apartamento. No corredor, seu choro ainda ecoava, e temi que alguém achasse que eu a
MelissaHenry está testando minha paciência. Ele realmente pensa que pode marcar território aqui, como fez quando viu Rômulo no portão. Não sei qual a graça que ele encontra nessas provocações.Mais tarde, dei banho na minha pequena, e logo ouvi a campainha tocar, seguida dos gritos inconfundíveis da tia louca da Mia, Bárbara, entrando porta adentro.— Melissa, cadê minha lindeza? Melissa! Não me faça essa menina dormir, ou eu acordo ela! — Bárbara gritou da sala. Quando ela estava prestes a subir, eu e Mia aparecemos no topo da escada.— Deixa de ser doida, mulher! Olha aqui sua princesa, toda cheirosa. — Falei enquanto descia as escadas com Mia nos braços. Ainda me perguntei onde estava Henry, já que ele não estava na sala. Será que foi embora?— Ai, meu Deus, olha essa fofura! Vem com a tia, minha princesa! — Ela abriu os braços, e Mia logo sorriu contente. — Não me dê esse sorriso, ou vou te morder! — Bárbara pegou minha pequena no colo e fomos nos sentar.— Comprei cada look para
MelissaHenry não sabe disfarçar quando algo o incomoda. No momento em que olhei para ele, já vi aquela expressão revoltada que ele lança sem medir as consequências. Não me importo tanto, mas o desconforto que isso causa nas outras pessoas me incomoda. Assim que viu Henry, Rômulo se despediu rapidamente.— Meninas, foi bom conversar com vocês, e podem contar comigo para a festa. — Rômulo se levantou, nos cumprimentou com um beijo no rosto e se afastou, percebendo o olhar afiado de Henry, que, quando quer, realmente assusta.— Fica tranquilo, Rômulo, o Henry não é louco de tratar ninguém mal na minha frente. — Bárbara comentou, enquanto Henry se aproximava de nós com sacolas nas mãos.— Não quero problemas. — Ele respondeu, ciente da proximidade de Henry.— Oi, Bárbara. — Henry lançou um olhar de reprovação para mim. — Cadê minha princesa, o amor da minha vida? — disse, pegando Mia nos braços como se não tivesse passado o dia inteiro com ela.— Você não avisou nossa mãe que estava saind
Continuação...— Não fala assim, amiga, parece até que a Renata é mais importante para ele do que você. E ela não é. — Bárbara comentou, me fazendo rir.— Você é demais, Bárbara. Mas não dou duas semanas para eles assumirem que estão juntos. — Disse, expressando o que realmente penso. — Agora vamos nos arrumar, ou a gente não sai, né?— Claro que vamos. Esqueci minha roupa, mas vou buscar e já volto, ok?— Vai lá, estou te esperando. Seu pai passou aqui hoje e ficou um bom tempo.— Vou falar com ele sobre o Henry. Essa história de ele vir aqui todos os dias não está legal para você. — Ela falou, mexendo no meu cabelo.— Não fale nada. Só quero que a Mia não sofra com a ausência dele. Logo as coisas entram nos eixos.— Amiga, você está falando isso há três semanas e tudo continua igual ou até pior. Ele poderia vir em um horário em que você não esteja em casa. Caramba! É impossível superar quando ele aparece todos os dias. Vi no seu olhar que ele ainda mexe com você. — Bárbara disse, me
SEMANAS ATRÁSMelissa VenezaEu estava determinada a finalmente ter uma conversa amigável com Henry, algo que não acontecia há muito tempo. Saí da minha loja e segui para a ST TECHNOLOGIC, a empresa dele. O prédio imponente e espelhado sempre chamou minha atenção, e, como sempre, admirei sua beleza ao me aproximar. Mesmo sendo esposa do presidente da empresa, minha presença ali era incomum, o que justificava os olhares curiosos que recebi ao atravessar a recepção.Meu nome é Melissa Veneza, tenho 26 anos, e o homem com quem estou prestes a discutir o divórcio é Henry Stuart, herdeiro de tudo isso. Ele mal aparecia em casa ultimamente, e não havia mais motivos para mantermos um vínculo sem futuro. Enquanto esperava o elevador, meu coração estava calmo, ou pelo menos eu tentava manter a tranquilidade. Quando a porta se abriu, entrei, e o reflexo do espelho me mostrou uma mulher decidida, mas com um turbilhão interno. Era horário de almoço, o prédio estava quase vazio. Passei pela mesa d