Melissa
Bárbara e eu terminamos nosso almoço e conversamos bastante sobre a viagem a Angra dos Reis. Quero muito ir e planejo levar Mia comigo. Henry, às vezes, faz questão de reclamar, mas estou decidida a ter esses momentos de lazer com minha filha. Cogito até convidar Dora para vir conosco. Ela vive sozinha na cidade e mora conosco; nada melhor do que uma viagem para que ela também possa descansar. Angra é linda, e será minha primeira vez lá, então estou empolgada com a oportunidade.
Depois de muita conversa e risadas com a Bárbara, nos despedimos na porta do restaurante. Combinamos de sair mais tarde, e talvez seja bom para mim. Tenho mania de achar que só o trabalho me ajuda a descansar a mente, mas a verdade é que preciso de uma pausa real. Entrei no carro, percebendo que Bárbara conversava animadamente com o garçom.
— Ah, essa Bárbara não perde tempo! O que será que ela está aprontando agora? — murmurei, manobrando o carro. Buzinei duas vezes, recebendo o aceno de despedida dela, e fui direto para casa buscar minha pequena.
Quero levar Mia à loja hoje e depois fazer umas compras para nós duas. Precisamos de roupas novas para curtir o feriado em Angra. Bárbara ainda vai passar lá em casa para ver a Mia. A propósito, ela me pediu para convidar Ricardo, único amigo de Henry que ela realmente gosta. Concordei, apesar de não saber bem o porquê. Ricardo foi o primeiro a me ver quando saí do prédio correndo, depois de flagrar Henry com Renata. Ele é um “bom pedaço de mau caminho,” mas também muito safado. Nos primeiros tempos do casamento, era ele quem insistia para sairmos e aproveitarmos, mesmo casados. Henry e eu tentamos essa vida de festas e baladas, mas toda saída terminava em briga, pois ele sempre foi ciumento demais.
Chegando em casa, vi o carro de Henry indo embora. Entrei e encontrei Dora com o celular em mãos.
— Dora! Ele a levou?
— Sim, Melissa. Estava prestes a te ligar agora mesmo.
— Eu queria levá-la à loja. Pelo menos ele não ficou aqui até tarde como nos outros dias. Ele falou quando traz ela de volta?
— Deve ser no começo da noite. Disse que iria para o apartamento com ela.
— Certo. Aproveita e descansa um pouco enquanto ela não está aqui.
— Não se preocupe, estou bem.
— Aliás, você poderia cuidar dela à noite? Marquei de sair com a Bárbara.
— Claro, sabe que até incentivei você a sair! — Dora sorriu, satisfeita.
— Obrigada, Dora. Você é um anjo na minha vida. — Sorri com carinho. Dora tem quase a idade da minha mãe, e tenho um carinho especial por ela, já que sinto falta da minha mãe também. — Vou só dar uma saída rápida agora, já que Mia foi com ele.
— Fica tranquila. Se o senhor Stuart ligar, aviso você.
— Combinado. Obrigada, Dora. E vê se descansa também.
Voltei para o carro e fui até a loja. O dia está tranquilo e, na loja, tudo está em ordem. Depois de repassar algumas orientações, segui para uma loja de roupas infantis. Não resisti às opções e comprei algumas roupinhas para Mia e algumas peças para mim. Faz tempo que não faço isso, e eu sempre adorei variar o guarda-roupa. Já estou pensando nas combinações de mãe e filha para o feriado e, quem sabe, até para o aniversário de um ano da Mia.
Voltei para casa ouvindo músicas de sofrência no carro, cantando alto e rindo de mim mesma.
— Ai, Melissa, se liberta dessas músicas por amor a si mesma! — Falei para mim mesma, enquanto me distraía com as canções.
Henry
Minha vida deu uma guinada inimaginável. Algum tempo atrás, eu jamais teria imaginado que me divorciaria tão cedo. Ando pensativo sobre o rumo que minha vida tomou e, para ser sincero, nada do que tenho feito me agrada. Mal apareço no trabalho, vivo de lanches e bebidas só para conseguir dormir, e não entendo como tudo desmoronou tão rápido. Nunca planejei me casar para me separar, e ainda menos tão cedo, sem nem completar cinco anos.
Como Melissa disse uma vez, colocamos o carro na frente dos bois. Tudo entre nós aconteceu rápido, e minha mãe já começou a fazer das suas, tentando minar nosso relacionamento desde o início. Confesso que, no começo, até me atraía a ideia de contrariá-la. Sempre soube que minha mãe não era fácil de lidar — meu pai costumava dizer o mesmo antes do divórcio, e eles mal se falam até hoje. Apesar de tudo, Melissa sempre a respeitou. Nunca gostou dela, mas respeitava. Contudo, na nossa última discussão, Melissa passou dos limites com as coisas que disse.
Hoje, cheguei em casa com minha filha, depois de providenciar uma faxina geral. Já estou neste apartamento há três semanas, e ver a bagunça que eu estava ignorando só me fez sentir pior. A bebida tem me entorpecido, mas me deixa cego para os problemas. Ultimamente, venho da casa de Melissa e, ao chegar aqui, bebo até cair no sono. Não queria trazer Mia para um lugar como esse sem antes arrumar tudo. Assim que cheguei, meu celular tocou com uma ligação da empresa.
Ligação
— Henry! Tá na hora de acordar! — ouvi a voz aguda de Renata do outro lado.
— Já estou acordado faz tempo, Renata. O que quer? — perguntei. Ultimamente, ela tem essa mania de ligar da empresa, sabendo que, assim, vou atender. Da última vez que nos vimos, discutimos feio, já que acordei ao lado dela sem sequer lembrar como fui parar lá. Para meu alívio, estávamos ambos vestidos.
— Deixa de ser rude, Henry. Não vai mais trabalhar? Sinto sua falta.
— Vou quando eu quiser. Avise minha mãe.
— Estou segurando as pontas para você, mas está ficando difícil.
— Por acaso pedi alguma coisa? Não lembro disso.
Renata respirou fundo. Sei que ela tem vontade de explodir e me xingar, mas se contém, como sempre.
— Posso ir até sua casa hoje?
— Nem pense nisso. Estou com minha filha.
— Ai, que fofa. Você sabe que adoro ela.
— Nem sonhe, Renata. Sabe muito bem que Melissa não gosta de você perto da Mia.
— Achei que depois do divórcio a gente ia ficar mais próximo… — Ela soltou, mas eu a interrompi.
— Não estou interessado. E sobre a empresa, peça para o Ricardo cuidar das reuniões, ok?
— Henry, você precisa voltar à vida, trabalhar. A vida não acabou por causa de um divórcio. Aposto que Melissa está plena, vivendo feliz sem você.
— Já disse que não vou! Entendeu? — falei, irritado.
— O que é isso? Pirou de vez? Vai voltar a ser aquele irresponsável de antes? Eu larguei de você por causa disso, lembra?
— Não é isso que você e minha mãe sempre quiseram? Pois estou de volta. Não vou trabalhar até querer. Agora, pare de me ligar. Vou passar o dia com minha filha. — Desliguei, aliviado que Mia estivesse dormindo e não tivesse acordado com a discussão. Minha pequena é uma verdadeira “maria-gasolina”: basta entrar no carro para dormir.
Logo depois, recebi uma mensagem de Renata.
Mensagem
"Vou segurar as pontas hoje, mas amanhã te espero na empresa. Até mais tarde, amor!"
Ela realmente acha que me controla?
Renata parece obcecada pela ideia de casamento, e minha mãe sempre incentivou essa ideia, mesmo enquanto eu estava com Melissa. Com Renata, foi só um namoro que não deu certo. Com Melissa, pelo menos, me esforcei para ser fiel — ela foi a única que me fez tentar ser um bom marido um bom homem.
MelissaVoltei para casa cheia de sacolas. Dessa vez, comprei tudo que queria, e o caminho foi embalado por várias músicas de sofrência. Estacionei o carro em frente à casa e, assim que desci, percebi minha vizinha, Marli, de plantão na porta, me olhando de cima a baixo, como sempre. Essa mulher é insuportável — do tipo que faz questão de implicar com qualquer coisa. Nunca conversamos, e faço questão de manter distância. Seu marido e seu filho, por outro lado, são pessoas muito mais agradáveis e educadas. Diferente dela, ambos são tranquilos e simpáticos.Henry morria de ciúmes do filho dela, Rômulo, só porque ele trocava algumas palavras comigo sobre o dia a dia. Para Henry, isso já era motivo de sobra para implicar. Parecia até que ele queria me trancar em casa. Já Marli, contraditória como só ela, adorava bater papo com ele. E, segundo Rômulo, sua mãe detestava quando ele ou o pai conversavam comigo. O mais irônico é que ela vive de fofoca e, segundo Rômulo, elas acham que eu sou i
HenryFui tolo. Achei que minha filha ficaria tranquila na minha casa, afinal, ela nunca estranhou nenhum outro lugar antes. Mas foi o oposto: assim que acordou, Mia começou a chorar como nunca. Olhava para a sala, para as paredes, e seu choro só aumentava. Tentei acalmá-la, peguei-a no colo, cantei como sempre faço, mas nada parecia ajudar. Ela me olhava com aqueles olhinhos cheios de lágrimas, fazendo bico antes de soltar mais um choro desesperado. Meu coração apertou. Ela só parava um pouco quando eu mostrava seus vídeos infantis favoritos no celular, mas temia cansá-la demais. Mia é tão pequenina, mais franzina do que outras crianças da sua idade, e sempre me preocupei com isso.— Filha, é o papai. Olha aqui o papai. — Eu falava, tentando acalmá-la, mas era inútil; ela chorava sem parar, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Meu Deus, vamos sair daqui. — Coloquei-a no bebê conforto e saímos do apartamento. No corredor, seu choro ainda ecoava, e temi que alguém achasse que eu a
MelissaHenry está testando minha paciência. Ele realmente pensa que pode marcar território aqui, como fez quando viu Rômulo no portão. Não sei qual a graça que ele encontra nessas provocações.Mais tarde, dei banho na minha pequena, e logo ouvi a campainha tocar, seguida dos gritos inconfundíveis da tia louca da Mia, Bárbara, entrando porta adentro.— Melissa, cadê minha lindeza? Melissa! Não me faça essa menina dormir, ou eu acordo ela! — Bárbara gritou da sala. Quando ela estava prestes a subir, eu e Mia aparecemos no topo da escada.— Deixa de ser doida, mulher! Olha aqui sua princesa, toda cheirosa. — Falei enquanto descia as escadas com Mia nos braços. Ainda me perguntei onde estava Henry, já que ele não estava na sala. Será que foi embora?— Ai, meu Deus, olha essa fofura! Vem com a tia, minha princesa! — Ela abriu os braços, e Mia logo sorriu contente. — Não me dê esse sorriso, ou vou te morder! — Bárbara pegou minha pequena no colo e fomos nos sentar.— Comprei cada look para
MelissaHenry não sabe disfarçar quando algo o incomoda. No momento em que olhei para ele, já vi aquela expressão revoltada que ele lança sem medir as consequências. Não me importo tanto, mas o desconforto que isso causa nas outras pessoas me incomoda. Assim que viu Henry, Rômulo se despediu rapidamente.— Meninas, foi bom conversar com vocês, e podem contar comigo para a festa. — Rômulo se levantou, nos cumprimentou com um beijo no rosto e se afastou, percebendo o olhar afiado de Henry, que, quando quer, realmente assusta.— Fica tranquilo, Rômulo, o Henry não é louco de tratar ninguém mal na minha frente. — Bárbara comentou, enquanto Henry se aproximava de nós com sacolas nas mãos.— Não quero problemas. — Ele respondeu, ciente da proximidade de Henry.— Oi, Bárbara. — Henry lançou um olhar de reprovação para mim. — Cadê minha princesa, o amor da minha vida? — disse, pegando Mia nos braços como se não tivesse passado o dia inteiro com ela.— Você não avisou nossa mãe que estava saind
Continuação...— Não fala assim, amiga, parece até que a Renata é mais importante para ele do que você. E ela não é. — Bárbara comentou, me fazendo rir.— Você é demais, Bárbara. Mas não dou duas semanas para eles assumirem que estão juntos. — Disse, expressando o que realmente penso. — Agora vamos nos arrumar, ou a gente não sai, né?— Claro que vamos. Esqueci minha roupa, mas vou buscar e já volto, ok?— Vai lá, estou te esperando. Seu pai passou aqui hoje e ficou um bom tempo.— Vou falar com ele sobre o Henry. Essa história de ele vir aqui todos os dias não está legal para você. — Ela falou, mexendo no meu cabelo.— Não fale nada. Só quero que a Mia não sofra com a ausência dele. Logo as coisas entram nos eixos.— Amiga, você está falando isso há três semanas e tudo continua igual ou até pior. Ele poderia vir em um horário em que você não esteja em casa. Caramba! É impossível superar quando ele aparece todos os dias. Vi no seu olhar que ele ainda mexe com você. — Bárbara disse, me
SEMANAS ATRÁSMelissa VenezaEu estava determinada a finalmente ter uma conversa amigável com Henry, algo que não acontecia há muito tempo. Saí da minha loja e segui para a ST TECHNOLOGIC, a empresa dele. O prédio imponente e espelhado sempre chamou minha atenção, e, como sempre, admirei sua beleza ao me aproximar. Mesmo sendo esposa do presidente da empresa, minha presença ali era incomum, o que justificava os olhares curiosos que recebi ao atravessar a recepção.Meu nome é Melissa Veneza, tenho 26 anos, e o homem com quem estou prestes a discutir o divórcio é Henry Stuart, herdeiro de tudo isso. Ele mal aparecia em casa ultimamente, e não havia mais motivos para mantermos um vínculo sem futuro. Enquanto esperava o elevador, meu coração estava calmo, ou pelo menos eu tentava manter a tranquilidade. Quando a porta se abriu, entrei, e o reflexo do espelho me mostrou uma mulher decidida, mas com um turbilhão interno. Era horário de almoço, o prédio estava quase vazio. Passei pela mesa d
Agora posso dizer com certeza: estamos em processo de separação. Foram apenas três anos de casados, e o que parecia ser um conto de fadas acabou mais rápido do que eu imaginava. No começo, foi uma paixão avassaladora, mas com o tempo, a chama foi se apagando. É isso que acontece quando você se deixa levar por um fogo de palha: ele logo se extingue. Henry me decepcionou da mesma maneira que eu o decepcionei. Eu adorava provocar seu ciúme — e ele era muito ciumento. Dançava com meus amigos, rebolava na frente dele, sabendo que o deixava furioso, só para vê-lo perder o controle. No fim, tudo sempre terminava no mesmo lugar: na cama. Infantilidade, eu sei. Mas o que eu nunca imaginei era que tudo acabaria assim, com a descoberta da traição dele. Não sei por que eu achava que ele seria fiel. Sua mãe fez questão de colocar Renata, sua afilhada e ex-namorada, na empresa, e era ela quem eu encontrei no colo dele, aos beijos. Já estávamos em crise, e vê-la trabalhando ao lado dele só piorou
Para o meu desgosto, Henry ficou mais tempo do que eu imaginava, esperava que ele fosse ver a Mia, mas logo fosse embora, ela é bebê, o máximo que faz é rir de suas palhaçadas e chorar de cansaço ou dor, o que ele tanto faz la em cima? Só falta ter dormido. Agora me pergunto, onde estão suas viagens repentinas? Seu trabalho dia e noite, porque era isso que vivíamos nos últimos dias de casamento, um distanciamento total entre casal, nada mais mudava o nosso humor gélido um com o outro, odeio admitir isso, mas é a realidade, não nascemos um para o outro se é que existe isso, dou graças a Deus que tive uma mãe sabia e como ela mesma diz, ninguém morre de amor.Fiz hora na cozinha esperando ele ir embora, mas nada, já era hora da Mia jantar e ele ainda estava com ela no quarto, não teve jeito, tive que intervir. Subi as escadas e fui até o quarto me deparando com ele deitado com ela ouvindo músicas infantis. Pigarreei e ele me olhou de imediato.— Sei que está com saudades dela, mas está