6. Capitulo

Melissa

Bárbara e eu terminamos nosso almoço e conversamos bastante sobre a viagem a Angra dos Reis. Quero muito ir e planejo levar Mia comigo. Henry, às vezes, faz questão de reclamar, mas estou decidida a ter esses momentos de lazer com minha filha. Cogito até convidar Dora para vir conosco. Ela vive sozinha na cidade e mora conosco; nada melhor do que uma viagem para que ela também possa descansar. Angra é linda, e será minha primeira vez lá, então estou empolgada com a oportunidade.

Depois de muita conversa e risadas com a Bárbara, nos despedimos na porta do restaurante. Combinamos de sair mais tarde, e talvez seja bom para mim. Tenho mania de achar que só o trabalho me ajuda a descansar a mente, mas a verdade é que preciso de uma pausa real. Entrei no carro, percebendo que Bárbara conversava animadamente com o garçom.

— Ah, essa Bárbara não perde tempo! O que será que ela está aprontando agora? — murmurei, manobrando o carro. Buzinei duas vezes, recebendo o aceno de despedida dela, e fui direto para casa buscar minha pequena.

Quero levar Mia à loja hoje e depois fazer umas compras para nós duas. Precisamos de roupas novas para curtir o feriado em Angra. Bárbara ainda vai passar lá em casa para ver a Mia. A propósito, ela me pediu para convidar Ricardo, único amigo de Henry que ela realmente gosta. Concordei, apesar de não saber bem o porquê. Ricardo foi o primeiro a me ver quando saí do prédio correndo, depois de flagrar Henry com Renata. Ele é um “bom pedaço de mau caminho,” mas também muito safado. Nos primeiros tempos do casamento, era ele quem insistia para sairmos e aproveitarmos, mesmo casados. Henry e eu tentamos essa vida de festas e baladas, mas toda saída terminava em briga, pois ele sempre foi ciumento demais.

Chegando em casa, vi o carro de Henry indo embora. Entrei e encontrei Dora com o celular em mãos.

— Dora! Ele a levou?

— Sim, Melissa. Estava prestes a te ligar agora mesmo.

— Eu queria levá-la à loja. Pelo menos ele não ficou aqui até tarde como nos outros dias. Ele falou quando traz ela de volta?

— Deve ser no começo da noite. Disse que iria para o apartamento com ela.

— Certo. Aproveita e descansa um pouco enquanto ela não está aqui.

— Não se preocupe, estou bem.

— Aliás, você poderia cuidar dela à noite? Marquei de sair com a Bárbara.

— Claro, sabe que até incentivei você a sair! — Dora sorriu, satisfeita.

— Obrigada, Dora. Você é um anjo na minha vida. — Sorri com carinho. Dora tem quase a idade da minha mãe, e tenho um carinho especial por ela, já que sinto falta da minha mãe também. — Vou só dar uma saída rápida agora, já que Mia foi com ele.

— Fica tranquila. Se o senhor Stuart ligar, aviso você.

— Combinado. Obrigada, Dora. E vê se descansa também.

Voltei para o carro e fui até a loja. O dia está tranquilo e, na loja, tudo está em ordem. Depois de repassar algumas orientações, segui para uma loja de roupas infantis. Não resisti às opções e comprei algumas roupinhas para Mia e algumas peças para mim. Faz tempo que não faço isso, e eu sempre adorei variar o guarda-roupa. Já estou pensando nas combinações de mãe e filha para o feriado e, quem sabe, até para o aniversário de um ano da Mia.

Voltei para casa ouvindo músicas de sofrência no carro, cantando alto e rindo de mim mesma.

— Ai, Melissa, se liberta dessas músicas por amor a si mesma! — Falei para mim mesma, enquanto me distraía com as canções.

Henry

Minha vida deu uma guinada inimaginável. Algum tempo atrás, eu jamais teria imaginado que me divorciaria tão cedo. Ando pensativo sobre o rumo que minha vida tomou e, para ser sincero, nada do que tenho feito me agrada. Mal apareço no trabalho, vivo de lanches e bebidas só para conseguir dormir, e não entendo como tudo desmoronou tão rápido. Nunca planejei me casar para me separar, e ainda menos tão cedo, sem nem completar cinco anos.

Como Melissa disse uma vez, colocamos o carro na frente dos bois. Tudo entre nós aconteceu rápido, e minha mãe já começou a fazer das suas, tentando minar nosso relacionamento desde o início. Confesso que, no começo, até me atraía a ideia de contrariá-la. Sempre soube que minha mãe não era fácil de lidar — meu pai costumava dizer o mesmo antes do divórcio, e eles mal se falam até hoje. Apesar de tudo, Melissa sempre a respeitou. Nunca gostou dela, mas respeitava. Contudo, na nossa última discussão, Melissa passou dos limites com as coisas que disse.

Hoje, cheguei em casa com minha filha, depois de providenciar uma faxina geral. Já estou neste apartamento há três semanas, e ver a bagunça que eu estava ignorando só me fez sentir pior. A bebida tem me entorpecido, mas me deixa cego para os problemas. Ultimamente, venho da casa de Melissa e, ao chegar aqui, bebo até cair no sono. Não queria trazer Mia para um lugar como esse sem antes arrumar tudo. Assim que cheguei, meu celular tocou com uma ligação da empresa.

Ligação

— Henry! Tá na hora de acordar! — ouvi a voz aguda de Renata do outro lado.

— Já estou acordado faz tempo, Renata. O que quer? — perguntei. Ultimamente, ela tem essa mania de ligar da empresa, sabendo que, assim, vou atender. Da última vez que nos vimos, discutimos feio, já que acordei ao lado dela sem sequer lembrar como fui parar lá. Para meu alívio, estávamos ambos vestidos.

— Deixa de ser rude, Henry. Não vai mais trabalhar? Sinto sua falta.

— Vou quando eu quiser. Avise minha mãe.

— Estou segurando as pontas para você, mas está ficando difícil.

— Por acaso pedi alguma coisa? Não lembro disso.

Renata respirou fundo. Sei que ela tem vontade de explodir e me xingar, mas se contém, como sempre.

— Posso ir até sua casa hoje?

— Nem pense nisso. Estou com minha filha.

— Ai, que fofa. Você sabe que adoro ela.

— Nem sonhe, Renata. Sabe muito bem que Melissa não gosta de você perto da Mia.

— Achei que depois do divórcio a gente ia ficar mais próximo… — Ela soltou, mas eu a interrompi.

— Não estou interessado. E sobre a empresa, peça para o Ricardo cuidar das reuniões, ok?

— Henry, você precisa voltar à vida, trabalhar. A vida não acabou por causa de um divórcio. Aposto que Melissa está plena, vivendo feliz sem você.

— Já disse que não vou! Entendeu? — falei, irritado.

— O que é isso? Pirou de vez? Vai voltar a ser aquele irresponsável de antes? Eu larguei de você por causa disso, lembra?

— Não é isso que você e minha mãe sempre quiseram? Pois estou de volta. Não vou trabalhar até querer. Agora, pare de me ligar. Vou passar o dia com minha filha. — Desliguei, aliviado que Mia estivesse dormindo e não tivesse acordado com a discussão. Minha pequena é uma verdadeira “maria-gasolina”: basta entrar no carro para dormir.

Logo depois, recebi uma mensagem de Renata.

Mensagem

"Vou segurar as pontas hoje, mas amanhã te espero na empresa. Até mais tarde, amor!"

Ela realmente acha que me controla?

Renata parece obcecada pela ideia de casamento, e minha mãe sempre incentivou essa ideia, mesmo enquanto eu estava com Melissa. Com Renata, foi só um namoro que não deu certo. Com Melissa, pelo menos, me esforcei para ser fiel — ela foi a única que me fez tentar ser um bom marido um bom homem.

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