Desapego e Novos Planos
Melissa
Estou finalmente me libertando e mudando os pensamentos de uma boba apaixonada. Sabe quando você cria a fantasia de que encontrou o amor da sua vida? Pois é, eu também tinha essa ideia. Achava que poderíamos superar qualquer fase ruim, mas essa ilusão desmoronou.
Decidi evitar saber da vida pessoal do Henry. O que ele faz ou deixa de fazer não é mais da minha conta, desde que não envolva a mim ou à minha filha. Está na hora de seguir em frente. Tive meu período de luto sentimental, chorei o que tinha que chorar e perdi noites me perguntando o porquê de tudo. Por semanas, levantei exausta, com olheiras que tentava disfarçar com maquiagem. Mas agora estou cuidando de mim e me surpreendendo com a força que tenho encontrado. Bárbara, minha amiga, foi a única que esteve comigo, ouvindo todas as minhas lamúrias e me apoiando.
Mas, infelizmente, as coisas não têm sido tão fáceis. Tenho visto Henry mais do que gostaria, pois ele vem diariamente à minha casa para ver nossa filha. Isso me deixa desconfortável, principalmente quando ele tenta uma aproximação meio disfarçada. Hoje mesmo, sabendo que ele viria, tratei de sair para almoçar fora.
Combinei de me encontrar com Bárbara. Era só para um almoço, mas ela logo revelou seus planos: uma viagem a Angra dos Reis no próximo feriado. Quer que eu vá junto, mas não estou animada. Bárbara tem muitos amigos, incluindo alguns do convívio de Henry. Seria ótimo para distrair, mas o que eu menos quero é passar um fim de semana ouvindo falar dele e da nossa separação. Por enquanto, estou focada em manter distância de tudo que o lembre — exceto, claro, nossa filha.
Já pronta para sair, fui até o quarto da minha pequena. Dora estava dando banho em Mia e, ao me ver, ela sorriu com aquele jeitinho banguela que derrete meu coração.
— Cadê minha pequena? Que cheirinho bom, meu amor. — Aproximei-me, pegando minha princesa no colo e dando um beijo em sua bochecha. — Mamãe vai sair, mas logo volto, viu? Vamos passar a tarde juntas. — Entreguei-a de volta para Dora, que sorriu.
— Pode ficar tranquila, Melissa, a princesinha será bem cuidada.
— Obrigada, Dora. Mas já te pedi mil vezes para me chamar só de Melissa. Deus me livre desse “senhora” — brinquei, rindo.
— Está bem. Você está linda, Melissa.
— Obrigada. Vou e volto logo. Henry vem ver a Mia hoje, então, se ele a levar, me avisa, por favor.
— Pode deixar, vou seguir todos os horários dela. E qualquer coisa a respeito do senhor Stu... — Dora parou ao ver meu olhar de repreensão. — Do Henry, aviso a você.
Saí, deixando Mia em boas mãos, e segui para encontrar Bárbara. Ela tem se mostrado uma amiga incrível, me dando forças e me fazendo sorrir mesmo nos dias mais difíceis.
Ao chegar ao restaurante, vi Bárbara de longe conversando com Daniel, um amigo dela que sempre achei legal, mas com quem evitava falar muito por causa do ciúme do Henry. Daniel é uma ótima pessoa, e a namorada dele também é supertranquila.
— Chegou a minha gata! Está lindíssima, Melissa. Vai arrasar corações! — Bárbara me abraçou com entusiasmo, e eu correspondi.
— Oi, cabelo de chuchu! Haha! Obrigada, sua louca. — Sentei-me à mesa, colocando minha bolsa ao lado. — Olá, Daniel, tudo bem?
— Tudo ótimo, Melissa. E você? Está arrasando!
— Obrigada. Como estão as coisas?
— Tudo bem, mas preciso ir agora, tenho um curso.
— Está estudando administração, né? — perguntei.
— Isso mesmo. Quem sabe, um dia, eu trabalho na sua loja? — ele brincou, e eu sorri.
— Já pensou? Seria ótimo. — Troquei meu contato com ele, e nos despedimos. Depois que ele saiu, Bárbara e eu nos sentamos para almoçar e colocar a conversa em dia.
— Como estão as coisas, chuchu? — ela perguntou.
— Estou melhorando. Vou superar, mas, vamos ser sinceras, ele está muito bem. — Ri, lembrando de tudo o que já passamos. — Lembra quando contei sobre o divórcio?
— Lembro como se fosse hoje. Foi aqui, nesse mesmo restaurante, e eu quase caí para trás! Jurei que você estava brincando. Mas tenho que dizer, amiga, nunca vi mulher mais forte que você. — Bárbara me olhou com orgulho. — Mas ele ainda vai lá todos os dias?
— Como se estivesse batendo ponto.
— Aff! Meu pai devia dar um basta nisso. Ele está prendendo sua vida.
— Às vezes, penso em voltar para a casa da minha mãe, só para ter um tempo longe daqui. Preciso do colo dela, sabe?
— Você tá brincando? Para com isso, Melissa. Você tem sua vida aqui. Sua loja está crescendo, tudo o que construiu está aqui. Não deixe essa separação te desestabilizar. E, é claro, você não pode me abandonar!
— Jamais. Sei que você está certa, mas, às vezes, só queria sumir daqui. Não quero ver o Henry, muito menos saber da vida dele. Mas não vou deixar que isso destrua o que conquistei.
— Ótimo. E, para ajudar, proponho uma noite de diversão. Vamos sair, curtir, você precisa disso.
— Sabe que não sou de sair à noite.
— Mas vai aprender a gostar. Vamos numa balada longe das que ele frequenta.
— Não adianta resmungar, né?
— Exato. Você vai comigo e ponto final. — Bárbara levantou a mão para chamar o garçom, que se aproximou e anotou nossos pedidos.
— Obrigada, amiga. Sei que você vai ganhar essa. — Suspirei. — Agora, o que você está planejando para o feriado?
— Ah, mas espera aí. — Bárbara levantou a mão e gritou. — Garçom, mais uma bebida aqui! Tô precisando. — Suas palavras me fizeram corar.
— Bárbara! Você me mata de vergonha. — Ri, sem graça.
— Para de ser vergonhosa, gata. Tô planejando uma festinha em Angra, só para os mais chegados.
— Ah, não, Bárbara. Seus “mais chegados” são uma multidão! E não quero me encontrar com seu irmão.
— Quem disse que ele vai?
— Você não vai convidá-lo?
— De jeito nenhum! Se estou te convidando, é porque ele não vai. Você tá louca? Ele enviou o divórcio. Foi um babaca, então vai ficar chupando dedo enquanto os homens caem aos seus pés. — Ela olhou para o garçom e piscou. — Não é, amigo?
— Como é? — O garçom pareceu confuso.
— Não é verdade que ela é linda? Meu irmão perdeu um mulherão e nem sabe. — Fiquei com as bochechas queimando enquanto o garçom sorria.
— Cala a boca, Bárbara! Seu irmão está curtindo a vida. — Chutei o pé dela, fazendo-a rir. Mas ela não parou.
— Vai chupar dedo bonito enquanto os homens cercam essa deusa. Não vai? — provocou, e o garçom concordou.
— Sem dúvida. Sinto muito pelo seu ex. Muito prazer, Melissa. — Ele sorriu.
— Melissa. — respondi, ainda envergonhada.
— Prazer, Melissa. Sou Leandro. — Ele deu um beijo no meu rosto, e eu retribuí, morta de vergonha. A partir daquele momento, percebi que os olhos dele não paravam de me observar.
— Olha o que você fez, Bárbara! Agora ele não para de me olhar.
— Quem manda ser gata? Henry vai perder bonito. — Dei uns t***s nela, mas sabia que já estava acostumada às loucuras da minha amiga.
MelissaBárbara e eu terminamos nosso almoço e conversamos bastante sobre a viagem a Angra dos Reis. Quero muito ir e planejo levar Mia comigo. Henry, às vezes, faz questão de reclamar, mas estou decidida a ter esses momentos de lazer com minha filha. Cogito até convidar Dora para vir conosco. Ela vive sozinha na cidade e mora conosco; nada melhor do que uma viagem para que ela também possa descansar. Angra é linda, e será minha primeira vez lá, então estou empolgada com a oportunidade.Depois de muita conversa e risadas com a Bárbara, nos despedimos na porta do restaurante. Combinamos de sair mais tarde, e talvez seja bom para mim. Tenho mania de achar que só o trabalho me ajuda a descansar a mente, mas a verdade é que preciso de uma pausa real. Entrei no carro, percebendo que Bárbara conversava animadamente com o garçom.— Ah, essa Bárbara não perde tempo! O que será que ela está aprontando agora? — murmurei, manobrando o carro. Buzinei duas vezes, recebendo o aceno de despedida del
MelissaVoltei para casa cheia de sacolas. Dessa vez, comprei tudo que queria, e o caminho foi embalado por várias músicas de sofrência. Estacionei o carro em frente à casa e, assim que desci, percebi minha vizinha, Marli, de plantão na porta, me olhando de cima a baixo, como sempre. Essa mulher é insuportável — do tipo que faz questão de implicar com qualquer coisa. Nunca conversamos, e faço questão de manter distância. Seu marido e seu filho, por outro lado, são pessoas muito mais agradáveis e educadas. Diferente dela, ambos são tranquilos e simpáticos.Henry morria de ciúmes do filho dela, Rômulo, só porque ele trocava algumas palavras comigo sobre o dia a dia. Para Henry, isso já era motivo de sobra para implicar. Parecia até que ele queria me trancar em casa. Já Marli, contraditória como só ela, adorava bater papo com ele. E, segundo Rômulo, sua mãe detestava quando ele ou o pai conversavam comigo. O mais irônico é que ela vive de fofoca e, segundo Rômulo, elas acham que eu sou i
HenryFui tolo. Achei que minha filha ficaria tranquila na minha casa, afinal, ela nunca estranhou nenhum outro lugar antes. Mas foi o oposto: assim que acordou, Mia começou a chorar como nunca. Olhava para a sala, para as paredes, e seu choro só aumentava. Tentei acalmá-la, peguei-a no colo, cantei como sempre faço, mas nada parecia ajudar. Ela me olhava com aqueles olhinhos cheios de lágrimas, fazendo bico antes de soltar mais um choro desesperado. Meu coração apertou. Ela só parava um pouco quando eu mostrava seus vídeos infantis favoritos no celular, mas temia cansá-la demais. Mia é tão pequenina, mais franzina do que outras crianças da sua idade, e sempre me preocupei com isso.— Filha, é o papai. Olha aqui o papai. — Eu falava, tentando acalmá-la, mas era inútil; ela chorava sem parar, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Meu Deus, vamos sair daqui. — Coloquei-a no bebê conforto e saímos do apartamento. No corredor, seu choro ainda ecoava, e temi que alguém achasse que eu a
MelissaHenry está testando minha paciência. Ele realmente pensa que pode marcar território aqui, como fez quando viu Rômulo no portão. Não sei qual a graça que ele encontra nessas provocações.Mais tarde, dei banho na minha pequena, e logo ouvi a campainha tocar, seguida dos gritos inconfundíveis da tia louca da Mia, Bárbara, entrando porta adentro.— Melissa, cadê minha lindeza? Melissa! Não me faça essa menina dormir, ou eu acordo ela! — Bárbara gritou da sala. Quando ela estava prestes a subir, eu e Mia aparecemos no topo da escada.— Deixa de ser doida, mulher! Olha aqui sua princesa, toda cheirosa. — Falei enquanto descia as escadas com Mia nos braços. Ainda me perguntei onde estava Henry, já que ele não estava na sala. Será que foi embora?— Ai, meu Deus, olha essa fofura! Vem com a tia, minha princesa! — Ela abriu os braços, e Mia logo sorriu contente. — Não me dê esse sorriso, ou vou te morder! — Bárbara pegou minha pequena no colo e fomos nos sentar.— Comprei cada look para
MelissaHenry não sabe disfarçar quando algo o incomoda. No momento em que olhei para ele, já vi aquela expressão revoltada que ele lança sem medir as consequências. Não me importo tanto, mas o desconforto que isso causa nas outras pessoas me incomoda. Assim que viu Henry, Rômulo se despediu rapidamente.— Meninas, foi bom conversar com vocês, e podem contar comigo para a festa. — Rômulo se levantou, nos cumprimentou com um beijo no rosto e se afastou, percebendo o olhar afiado de Henry, que, quando quer, realmente assusta.— Fica tranquilo, Rômulo, o Henry não é louco de tratar ninguém mal na minha frente. — Bárbara comentou, enquanto Henry se aproximava de nós com sacolas nas mãos.— Não quero problemas. — Ele respondeu, ciente da proximidade de Henry.— Oi, Bárbara. — Henry lançou um olhar de reprovação para mim. — Cadê minha princesa, o amor da minha vida? — disse, pegando Mia nos braços como se não tivesse passado o dia inteiro com ela.— Você não avisou nossa mãe que estava saind
Continuação...— Não fala assim, amiga, parece até que a Renata é mais importante para ele do que você. E ela não é. — Bárbara comentou, me fazendo rir.— Você é demais, Bárbara. Mas não dou duas semanas para eles assumirem que estão juntos. — Disse, expressando o que realmente penso. — Agora vamos nos arrumar, ou a gente não sai, né?— Claro que vamos. Esqueci minha roupa, mas vou buscar e já volto, ok?— Vai lá, estou te esperando. Seu pai passou aqui hoje e ficou um bom tempo.— Vou falar com ele sobre o Henry. Essa história de ele vir aqui todos os dias não está legal para você. — Ela falou, mexendo no meu cabelo.— Não fale nada. Só quero que a Mia não sofra com a ausência dele. Logo as coisas entram nos eixos.— Amiga, você está falando isso há três semanas e tudo continua igual ou até pior. Ele poderia vir em um horário em que você não esteja em casa. Caramba! É impossível superar quando ele aparece todos os dias. Vi no seu olhar que ele ainda mexe com você. — Bárbara disse, me
SEMANAS ATRÁSMelissa VenezaEu estava determinada a finalmente ter uma conversa amigável com Henry, algo que não acontecia há muito tempo. Saí da minha loja e segui para a ST TECHNOLOGIC, a empresa dele. O prédio imponente e espelhado sempre chamou minha atenção, e, como sempre, admirei sua beleza ao me aproximar. Mesmo sendo esposa do presidente da empresa, minha presença ali era incomum, o que justificava os olhares curiosos que recebi ao atravessar a recepção.Meu nome é Melissa Veneza, tenho 26 anos, e o homem com quem estou prestes a discutir o divórcio é Henry Stuart, herdeiro de tudo isso. Ele mal aparecia em casa ultimamente, e não havia mais motivos para mantermos um vínculo sem futuro. Enquanto esperava o elevador, meu coração estava calmo, ou pelo menos eu tentava manter a tranquilidade. Quando a porta se abriu, entrei, e o reflexo do espelho me mostrou uma mulher decidida, mas com um turbilhão interno. Era horário de almoço, o prédio estava quase vazio. Passei pela mesa d
Agora posso dizer com certeza: estamos em processo de separação. Foram apenas três anos de casados, e o que parecia ser um conto de fadas acabou mais rápido do que eu imaginava. No começo, foi uma paixão avassaladora, mas com o tempo, a chama foi se apagando. É isso que acontece quando você se deixa levar por um fogo de palha: ele logo se extingue. Henry me decepcionou da mesma maneira que eu o decepcionei. Eu adorava provocar seu ciúme — e ele era muito ciumento. Dançava com meus amigos, rebolava na frente dele, sabendo que o deixava furioso, só para vê-lo perder o controle. No fim, tudo sempre terminava no mesmo lugar: na cama. Infantilidade, eu sei. Mas o que eu nunca imaginei era que tudo acabaria assim, com a descoberta da traição dele. Não sei por que eu achava que ele seria fiel. Sua mãe fez questão de colocar Renata, sua afilhada e ex-namorada, na empresa, e era ela quem eu encontrei no colo dele, aos beijos. Já estávamos em crise, e vê-la trabalhando ao lado dele só piorou