Fernando entra em casa e segue para o seu quarto, era uma sexta feira, mas não estava a fim de sair. Murilo, o sobrinho que morava com ele, não tinha horas para chegar em casa, isso é, se ele voltasse para a casa aquela noite.
Seu amigo Luiz o chamou para sair, assim como Karen, a sua noiva, que insistiu para que ele fosse a uma festa com ela e os pais, mas ele não estava com disposição de fingir estar feliz ao lado de Karen, por quem não sentia absolutamente nada, além de um sentimento de amizade.Karen sempre foi uma boa amiga, muitos não gostavam de sua personalidade, e do seu jeito de tratar os outros, mas ele não tinha do que falar mal dela. Com ele, ela sempre foi uma pessoa prestativa, que esteve ao seu lado nos momentos mais difíceis de sua vida, esse também foi um dos motivos que o fez aceitar aquele pedido de casamento inesperado, quando ela estava em um leito de hospital entre a vida e a morte.Fernando sempre foi um homem sério e integro, que buscava fazer as coisas certas, mesmo que algumas vezes se sacrificasse, mas ele fazia o que a sua consciência mandava. Só havia uma coisa que fez e se arrependia amargamente, não por não ter gostado do que havia acontecido, mas por se achar um fraco e irresponsável.Na verdade se arrependia de duas coisas, também se arrependia das palavras que usou um dia para alguém a quem amava, a magoando e menosprezando algo de muito valor que lhe foi dado por ela.Ele entra no banheiro pensando naquela que mesmo depois de anos, não lhe saia do pensamento e muito menos do coração. Se achava ridículo as vezes, por amar tanto alguém, a quem dispensou, mas acreditava que assim tinha que ser.Depois de tomar um banho ele veste uma bermuda e uma camiseta e sai do seu quarto. Fernando era um homem bonito, era impossível alguma mulher o ignorar, era alto, corpo sarado, pois tinha uma academia em casa na qual fazia questão de se exercitar quase todos os dias. O seu rosto parecia ter sido esculpido, os seus olhos verdes com longos cílios era algo que chamava atenção, as sobrancelhas grossas e desenhadas o tornava ainda mais bonito, não tinha barba, nunca gostou, e no seu queixo podia-se ver uma pequena covinha.Saindo do seu quarto, Fernando segue até um quarto que entrava sempre que a saudade apertava, mesmo que há quase três anos ninguém dormisse nele, era como se a presença da dona estivesse ali.Ele entra e fecha a porta, vai até a pequena penteadeira e olha para uma escova e um elástico de cabelo que continuavam ali, aquelas foram as única coisas que Helena esqueceu para trás. Na parede ainda estava pendurada a sua obra de arte, três pares de olhos. Podia se lembrar do dia que ela fez aquela montagem, e ele como elogio, disse que o quadro lhe causava medo, não era mentira, mas agora ele ali o olhando, já não o assustava mais.Um dos olhos eram castanhos com os cílios alongados pela maquiagem, era impossível não saber ser de uma mulher, Helena, era ela a dona daqueles olhos castanhos escuros. O outro par era também castanho, e eram os olhos de Murilo, ele sorri ao observar o terceiro par, os dele não podiam faltar naquela montagem maluca como Murilo disse quando ela fez a apresentação do mesmo.— Ah Helena, por que não me deu a chance de me desculpar com você? Por que teve que fugir e me esqucer, como eu mandei? — Fernando se sentia culpado por ela ter ido embora, ela não morava com eles, mas vivia mais na casa dele do que na casa da tia onde morava na época.Fernando anda pelo quarto, é como se ele fosse capaz de sentir o perfume dela naquele ambiente, era como se ela fosse entrar a qualquer momento e perguntar o que ele estava fazendo ali, talvez até quisesse o trancar ali para o provocar com o seu jeitinho de menina travessa.Fernando ainda sentia por ela os mesmos sentimentos de antes, mesmo tendo lutado incansavelmente para esquecê-la. Não achava justo ficar com uma jovem 15 anos mais nova que ele. Helena tinha uma vida pela frente, e quando ele fosse um senhor de 50 anos ela ainda seria uma mulher jovem e bonita.A vida nem sempre era justa, era assim que ele pensava sobre a vida. Nunca foi capaz de fazer o que realmente quiz, na maioria das vezes ele fazia aquilo que se via impulsionado a fazer, sempre se preocupando em medir os pros e os contras, sempre pensando em como as pessoas o julgariam por suas tomadas de decisões. Esse era o único motivo de não ter assumido para Helena que também se sentia atraído por ela que o seu coração também disparava quando ela estava perto dele, isso é, bastava ele pensar nela para que o seu coração disparasse, como estava acontecendo naquele momento.Helena estava com 20 anos, mas logo faria 21, ele se lembrava bem da sua data de aniversário, afinal foi em seu aniversário de 18 anos que tudo mudou entre eles.Como ela estaria? Ele pensa. Será que ainda mantinha os cabelos longos? Será que continuava magrinha? Será que ainda tinha a mesma alegria, teria ela namorado? Esse pensamento o faz se sentir incomodado, não gostava da ideia dela beijando um outro homem, ou mesmo fazendo amor com outro.Se fosse assim ela não estaria errada, foi ele mesmo quem a mandou embora, pedindo que o esquecesse, foi ele mesmo quem disse a ela que nunca namoraria com ela. Ele só não lhe disse que tinha medo dela se apaixonar por outro mais jovem que ele e o abandonasse, e também que tinha medo que as pessoas o acusassem de assediar uma jovem que tinha a idade de seu sobrinho, tinha medo que a sua reputação fosse pelo ralo por se envolver com uma jovem que dormia desde os 15 anos em sua casa.Quando se tem medo é preciso ter muito cuidado, o medo as vezes torna quem o tem em uma pessoa covarde, que se nega a fazer o que realmente quer por medo de ser julgado, medo de decepcionar alguém, ou mesmo, medo do arrependimento que possa ter um dia, esquecendo que as vezes o pior arrependimento é não tentar fazer algo por si mesmo, deixando as oportunidades passarem levando com elas a chance de ser realmente feliz. Assim Fernando se lamentavaEm uma praia, uma jovem corria a brincar com a sua filha a beira do mar, ao longe um homem a olhava sorrindo, lhe acenando. Depois de mais uma ida à água, ela convence a filha de descansarem um pouco. A pegando no colo para que a criança não queimasse os seus delicados pés na areia escaldante, ela corre até o homem.A jovem coloca a filha de pé sobre uma cadeira e a seca, lhe passando mais protetor depois de seca.— Passou mais protetor em Aurora? — A jovem pergunta ao homem olhando para a outra criança que lhe sorria.— Não se preocupe, ela já está branca de tanto protetor que passei — O homem responde rindo — E essa levada, não se cansa de brincar não?— Ágata tem energia para dar e vender — A jovem responde rindo — Mas agora acho melhor arrumar os nossas coisas e voltarmos para casa, Aurora não pode se esforçar muito.— Mamãe, eu não tô cansada. — Aurora se defende.— Não está não bebê? — A jovem beija o rostinho de Aurora — Mas você precisa estar bem descansada, amanhã é o anivers
Helena fica conversando com a tia, não mais sobre Fernando e sim sobre o aniversário das meninas, até que Helena decide perguntar algo.— A senhora deu o endereço daqui para Murilo? Pois ele pensa que eu moro no Sul.— Não se preocupe, disse a ele que não sabia de cabeça, e que depois eu o daria. Ele pediu o seu telefone e não tive como negar, acho que você já fugiu muito desse seu amigo.— Não foi dificil, vim embora quando ele estava as voltas com a viagem dele para Londres, eu sabia que não teria tempo de se preocupar comigo. A minha preocupação é que se ele ver Aurora saberá o que aconteceu entre mim e o tio dele.— Sabe muito bem que ele mesmo as voltas com a viagem me ligava todos os dias por não conseguir falar com você. Mas em relação ao tio dele, eu acho que antes mesmo de Murilo ver Aurora, você deveria procurar Fernando e lhe contar as consequências de uma noite, isso é se foi mesmo só uma noite. — Soraia fala fazendo cara feia— Para tia, já disse que foi apenas uma noite,
Helena depois que Ágata dormiu, vai para sala e encontra o pai assistindo o noticiário.— Dormiram?— Sim, Aurora está tão ansiosa com o aniversário amanhã, que estou começando a me preocupar.— Ela vai ficar bem, é que ela está crescendo e diferente de Ágata, ela é mais perspicaz — Bernardo olha para a filha — Desde que disse a elas que o pai estava viajando, ela quer conhecê-lo.Helena prefere não responder, sua história com Fernando começou quando ela passou para uma faculdade pública no Rio de Janeiro, desde então ela foi morar com Soraia. Helena estava com 15 anos, e nem acreditou quando viu sua aprovação pois, tinha acabado de terminar o ensino médio e fez a prova a nível de conhecimento. Ela sempre foi muito estudiosa e inteligente, o que a ajudou a passar na primeira tentativa para o curso de Nutrição.Nutrição sempre foi o que desejou cursar, mesmo que o pai e a tia achasse loucura, já que ela adorava fazer doces e bolos, engordando a todos que experimentassem as suas gulosei
Helena estava decidida a conversar com Aurora, ela passou a festa inteira perguntando sobre o pai, onde ele estava, e porque não tinha chegado ainda. A desculpa da viagem não estava adiantando, era como se ela o conhecesse e sentisse saudade dele.— Alô! — Helena mais uma vez fala ao telefone, sem se dar conta de quem era.— Mamãe, mamãe — Aurora insiste e a pessoa do outro lado continua em silêncio.— Peraí meu amor, a mamãe está no telefone.— Helena, você tem um filho? — Murilo pergunta sem acreditar.— Murilo? — Helena sente as pernas tremerem e o coração disparar.— Mamãe, é o papai, é o meu papai? — Aurora parecia não querer ficar sem respostas.— Calma bebê, é um amigo da mamãe.— A vovó disse que eu pareço com o papai, é vedadi?— Murilo, eu realmente preciso desligar, me desculpe, depois conversamos.Helena encerra a ligação sem esperar Murilo responder, o seu coração está disparado, se fosse Ágata seria mais fácil a fazer calar, mas Aurora era diferente, quando ela queria sa
Fernando sai de casa disposto a descobrir o paradeiro de Helena, se ela estava se escondendo dele seria por pouco tempo. Iria descobrir onde ela estava e teriam uma conversa. Só havia uma pessoa que podia lhe ajudar, além dele saber do que havia acontecido entre ele e Helena, também sabia dos seus sentimentos por ela.— Luiz, onde você está?— Em meu apartamento, hoje tirei a noite para descansar um pouco já que estou de folga, mas se for para beber, tô dentro.— Logo estarei aí, preciso de um favor seu. Preciso descobrir algo e sei que você poderá me ajudará com isso.— O que o faz vir até aqui com tanta urgência? — Luiz pergunta assim que Fernando entra em seu apartamento transtornado.— Me descubra de onde é esse telefone, o dono da linha, o endereço e tudo o mais que puder.Luiz nunca viu o amigo tão nervoso, parecia querer tirar o pai da forca. Ele olha o número de telefone, sendo a única informação que tem para se conseguir informações sobre o dono da linha.— Posso saber pelo m
Com muita dificuldade Helena consegue dormir, mas é apenas um cochilo, acorda com a cabeça a mil, torcendo para que Fernando esqueça aquele assunto, e não volte a ligar para ela novamente. O que a fez querer contar para ele, foi unicamente para deixar a filha feliz. Ouvir Aurora perguntando pelo pai a festa inteira, a deixou com o coração destruido, mas quando pensava em falar com Fernando, o pavor a dominava. O seu pai estava certo quanto mais tempo passasse, mais aborrecido ele ficaria, mas agora lhe faltava coragem para lhe contar.Se ele soubesse a verdade, iria fazer questão de assumir as filhas, mas tomado pela raiva por ela as ter escondido, com certeza pediria a guarda das meninas, já que iria se casar e tinha muito mais recursos financeiros que ela para o tratamento de Aurora.Sem pensar direito ela liga para Murilo.— Helena, que bom que você ligou, pelo amor de Deus, me diga o que está acontecendo.— Murilo, eu conheci alguém e me relacionei com essa pessoa, Aurora é filha
Quando a dor de perder a sua mãe estava menor, ele perdeu a sua única irmã, Júlia. Ela era a mãe de Murilo e morava em outro estado, mas isso não impedia deles serem próximos, assim como a diferença de idade entre eles. Quando Fernando nasceu, Júlia estava com 10 anos, mas sempre foram muito ligados um ao outro, e ficaram ainda mais com a morte da mãe, quando Fernando passou visitar a irmã mais vezes e vice versa.Júlia sofreu um acidente de carro, um caminhão desgovernado atingiu o carro onde ela e o marido estavam e o impacto levou os dois a morte, deixando Murilo órfão aos 14 anos.A noticia destruiu Fernando, o seu coração doia tanto que parecia não ser capaz de continuar vivo, mas descobriu ser mais forte do que imaginou ser, afinal precisava ser, o seu sobrinho Murilo, a quem amava, precisava dele, pois só tinha ele para se tornar o seu tutor.Não foi fácil seguir em frente, ele tinha acabado de inaugurar a sua empresa de acessoria, e se não fosse os amigos que estiveram ao seu
Conforme o tempo foi passando, Fernando passou a se sentir atraido por Helena, mas não tinha coragem de reconhecer isso nem para ele mesmo, ficar com Helena seria loucura, ele conhecia Soraia, a tia dela, e ela lhe confiava a sobrinha em sua casa, e isso o fazia se sentir mal pelo sentimento que nascia dentro dele.Helena não lhe dava trégua, insistindo incansavelmente em dizer que gostava dele, e o que ele tentou evitar, lhe aconteceu. Helena passou a morar em seus pensamentos, sentia uma vontade louca de estar com ela de beijá-la, e tê-la em seus braços. Condenava a si mesmo por esses pensamentos, e passou a fugir ainda mais dela, com medo de ceder ao desejo que o consumia.Helena deixou de ser aquela menina magrinha que ele conheceu, e passou a ter as curvas desenhadas, ele pode vê-la se transformar em uma linda jovem, com curvas perfeitas e um rosto de chamar atenção de qualquer um que não fosse cego.Quando estavam a sós, coisa que ele costumava evitar, ela o provocava ainda mais