Capítulo 7

Com muita dificuldade Helena consegue dormir, mas é apenas um cochilo, acorda com a cabeça a mil, torcendo para que Fernando esqueça aquele assunto, e não volte a ligar para ela novamente. O que a fez querer contar para ele, foi unicamente para deixar a filha feliz. Ouvir Aurora perguntando pelo pai a festa inteira, a deixou com o coração destruido, mas quando pensava em falar com Fernando, o pavor a dominava. O seu pai estava certo quanto mais tempo passasse, mais aborrecido ele ficaria, mas agora lhe faltava coragem para lhe contar.

Se ele soubesse a verdade, iria fazer questão de assumir as filhas, mas tomado pela raiva por ela as ter escondido, com certeza pediria a guarda das meninas, já que iria se casar e tinha muito mais recursos financeiros que ela para o tratamento de Aurora.

Sem pensar direito ela liga para Murilo.

— Helena, que bom que você ligou, pelo amor de Deus, me diga o que está acontecendo.

— Murilo, eu conheci alguém e me relacionei com essa pessoa, Aurora é filha dele. — Fala sem mesmo Murilo perguntar sobre a criança.

— Meu tio está feito um louco querendo saber de você. Vocês por acaso tiveram um caso e eu não fiquei sabendo?

— Deixe de bobagem Murilo, não é nada disso

— Você se casou? Aurora é o nome da sua filha?

— Eu não me casei, e sim, Aurora é o nome da minha filha, e ela é linda, é a minha princesinha — Helena não consegue deixar de sorrir ao pensar na filha.

— Quando eu comentei com tio Fernando que você tinha um filho, ele ficou transtornado — Murilo pensa um pouco — Helena, você conseguiu seduzir o meu tio? Diga a verdade, eu não irei te criticar sabe muito bem disso.

— Seu tio nunca iria se render à mim, eu para ele nunca fui nada, além da amiga do sobrinho dele.

— Me perdoe, mas eu tive que dar o seu número de telefone para ele, acho que se eu me negasse a dar, ele teria me obrigado, acho não, eu tenho certeza.

— Eu não quero falar com o seu tio, diga isso a ele, dele eu só quero uma coisa, distância. Afinal foi o que ele sempre quis de mim.

— Helena, você ainda está com o pai da criança?

— Eu moro com o meu pai, e estou muito bem assim, sou feliz e isso é o que importa.

Eles ainda conversaram mais um pouco e depois de encerrar a ligação Helena, por não conseguir dormir, vai para o quarto das filhas. Quando estava com elas geralmente se acalmava, ao lado das filhas se sentia em paz, se sentia mais forte para tomar decisões.

Aurora dormia com a boquinha aberta, e quando Helena faz um carinho em seu rostinho, ela sorri como se sentisse a mãe ao lado dela. Helena deixa algumas lágrimas sairem, ela tinha tanto medo de perder a sua filha, por mais que tentasse ser otimista, o seu coração doía ao pensar na possibilidade de um dia ela não está mais ali, e se ela partisse sem conhecer o pai, jamais se perdoaria, a dúvida do que fazer a estar consumindo.

Um dia ela mostrou a foto de Fernando para elas, foi quando lhes disse ser o pai delas, pensou que elas esqueceriam, mas Aurora nunca esqueceu que aquele era o papai dela, mesmo ainda tão pequena não esquecia e sempre pedia a mãe para mostrar a foto dele. Helena preferiu dizer que ele estava viajando, e que não sabia quando voltaria.

O que Aurora mais queria no aniversário dela era a presença do pai, e Helena até cogitou procurar Fernando apenas para realizar o desejo da filha de conhecê-lo, mas a insegurança não lhe permitiu.

— O que eu faço? O que eu devo fazer, meu Deus? — Se pergunta antes de beijar as filhas e ir para o seu quarto.

Antes de adormecer ela toma uma decisão, estava na hora de enfrentar Fernando e lhe contar sobre as filhas.

...

Fernando chega ao endereço já de madrugada, era uma casa bonita, com grades na frente e um jardim iluminado, ainda podia ver vestigios de festa, com balões e um pula‐pula montado. A casa estava as escuras, provavelmente todos dormiam, e ele começa a achar que se precipitou, Helena provavelmente conheceu alguém e o esqueceu, afinal foi exatamente isso que ele pediu que ela fizesse, o esquecesse pois ele nunca ficaria com ela, apenas cedeu por ser homem e quis dar a ela o que lhe pediu, nada mais que isso.

Fernando fica olhando para a casa a sua frente e as lembranças do passado vem a sua memória. Ele conheceu Helena quando ela ainda tinha 15 anos e ele já estava com 30 anos, ainda podia se lembrar de quando se conheceram, ele sempre foi muito agradecido a ela pelo que fez pelo seu sobrinho Murilo.

A vida de Fernando o obrigou a ser quem era, desde muito jovem aprendeu a ter responsabilidades. Quando perdeu o seu pai não teve muito tempo para chorar a sua falta, pois a sua mãe que sofria de Alzheimer precisava dele, moravam na mesma casa onde ele ainda morava.

Fernando via a piora de sua mãe a cada dia, quando ela teve demência aumentou ainda mais o sofrimento de todos, Fernando pagava uma enfermeira para ficar com a mãe, indo contra a irmã que acreditava que uma casa de repouso fosse o melhor para ela, mas Fernando nunca abriu mão de cuidar da mãe, mesmo ela não o reconhecendo mais como filho, mas isso só lhe dava mais vontade de cuidar dela, como se ela fosse uma criança. Aos 24 anos se viu sozinho, a sua mãe também partiu, e por mais que ele soubesse que havia sido o melhor para ela, ele morria de saudade de sua mãe e se sentia só.

Mas essa não foi a sua pior dor, pois ele já esperava a sua partida, mas o que quase o destruiu foi o que aconteceu 3 anos depois. Pensou não ter mais forças para suportar mais sofrimentos, mas então se lembrou do que o seu pai sempre lhe dizia, se a luta está grande e você ainda está de pé, é porque ainda tem forças para continuar na batalha. E assim ele fez, não pensou na sua dor, mas sim na dor daquele que precisava dele.

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