Fiquei parada, assistindo a fuligem do que fora meu corpo flutuar e ao dragão dourado imóvel, transtornado que mirava em minha direção sem me ver. Ficou lá parado, desolado eu diria, por um tempo que eu não soube precisar.
Ali, naquela ocasião, eu entendi que os dragões eram mais poderosos do que eu pensara e, consequentemente, mais perigosos, pois não nutriam apenas sentimentos instintivos e primitivos por suas crias e seus pares como os demais animais. Não, eles eram dotados de inteligência emocional complexa e o fato de agirem em dupla
PRÓLOGOEste apêndice foi concebido para servir como auxiliar de leitura dos livros da série Draco Saga. São eles: O Despertar, A Baronesa e A Sentinela. Para evitar possíveis “spoilers”, ative-me a descrever os personagens e demais passagens como são retratados nos livros citados, mesmo sabendo que em futuros volumes poderão ocorrer reviravoltas e “plot twists” que os caracterizem de outras formas. E mesmo assim, vocês encontrarão aqui, um detalhe ou outro que ser&aac
Milão, Itália – outono de 1277.Fugíamos, eu e minha família, expulsos da cidade no ano do Senhor de 1277. Depois de perderem a batalha de Désio, os partidários da minha família não conseguiram mais impedir que nós, os Della Torre, fôssemos expulsos da cidade. Na fuga cega, no meio da noite, correndo para salvar nossas vidas, papa subiu-me a sua frente no cavalo e saímos em disparada com meu irmão mais velho, Reimondo, então com dezenove anos, cavalgando outro animal. Ele carregava sua jovem esposa da mesma forma que papa a mim. Em sua sela, para manter o grupo unido, ia amarrada a égua de mama que montava-
O próximo momento de que me lembro, é de carregar, um em cada ombro e sem esforço, os corpos tanto da senhora quanto do cocheiro para a margem da estrada. Ao soltá-los, passei, por instinto, as costas da mão direita na boca e assustei-me ao deparar-me com o sangue que agora sujava minha mão, mas rapidamente também percebi o bem-estar e a sensação deliciosa que me causava lambê-lo.Notei que o homem ainda vivia e que, do pescoço, escorriam dois filetes de sangue dos furos feitos por meus caninos. Por reflexo, abaixei-me, lambi, aproveitando as últimas gotas e, para minha surpresa, os dois furos se fech
— Como estás bela! Porém, não queira me enganar: não és mais a mesma, és? — falava ele, em meio a tímidos sorrisos, ainda amparado por meus braços.— Não, Rambertino, não sou. Agora sou melhor, não concordas?— Estou vendo, sim, eu concordo! E vejo muito melhor! Também ouço e cheiro muito melhor! Penso muito melhor… — discursava sorridente e abobalhado, enquanto levantava e pulava para fora da carruagem.
Mesmo deitada nos confortáveis assentos aveludados do vagão, não consegui adormecer. Logo entenderia que o sono não mais seria uma necessidade, mas antes aprenderia algo pior.Súbito, a carruagem parou e gritos ecoaram lá fora! Rambertino esgoelava-se em estridentes e apavorantes berros! Em um salto coloquei-me de pé e abri a cortina. Foi o pior que poderia fazer. O sol nascera forte e eu, sem saber das novidades, tomei um banho de raios alaranjados que me queimaram como o fogo às bruxas!Em um piscar
Cheguei à Nova Roma bem antes do amanhecer e escalei, com relativa facilidade, os muros inconclusos que envolveriam toda a cidade quando completos. Existiam alguns sonolentos soldados de guarda que não representaram obstáculo.No centro da cidade, uma muralha completa, mais alta e, evidente, mais forte, cercava o castelo. Escalei mais uma vez, sem ser notada e lá de cima vi que aquelas paredes não abrigavam apenas um majestoso palácio, mas duas grandiosas construções além dele: uma réplica do Coliseu de Roma ainda inconcluso e, para meu total espanto, uma gigantesca catedral recebendo os últimos retoques na decoração e
Depois de alguns meses sem voltar ou enviar qualquer mensageiro à Nova Milão, chegou à corte de Nova Roma, um emissário milanês chamado Capaneus, a quem Rambertino referira-se, antes de morrer, como sendo fiel à Taramar.Nesse ponto, vale dar um pouco a mais de destaque sobre o que Rambertino me contara acerca do passado da então condessa Taramar di Milano:O conde Aurélius, marido da verdadeira condessa, falecera há alguns meses deixando Nova Milão a cargo da própria esposa e do pr
Enterrara minhas raízes bem fundo no reino de Nova Roma, em todas as camadas sociais. Todos me conheciam e o fato de eu não envelhecer era explicado pela magia, aceita e conhecida com naturalidade em toda Ômnia.É claro que minha juventude e longevidade levantavam suspeitas em algumas pessoas de tempos em tempos, mas sempre atenta, eu me preparara para todos os burburinhos e desconfianças sobre mim que pudessem surgir e imediatamente os contia lançando mão dos recursos à minha disposição: empatia mágica, magia de controle da mente para as mentes mais fracas, vício de sangue, sedução pura