DESTINOS CRUZADOS
DESTINOS CRUZADOS
Por: Isa NinaI
Capítulo 01

Geralmente o dia do nosso aniversário é sinônimo de alegria e festa. Depois de 19 anos de comemoração o meu vigésimo ano na terra não tem graça nenhuma. Já que amanhã será a tão aguardada data do meu casamento depois desse tempo todo. Nem mesmo a minha cama consegue me manter quieta de tanto me revirar de um lado para o outro, com uma vontade enorme de colocar fim na ansiedade que me consome.

Aos olhos dos outros é suposto eu estar imensamente eufórica, mas não. Estou dividida entre o medo daquilo que me espera e o "prazer" de vir a me casar com o homem da minha vida, pelo menos era isso que eu achava desde os meus 12 anos. Porém, descobri que ele é um autêntico babaca e o amor acabou.

Infelizmente, o nosso casamento foi planejado antes mesmo de nós nascermos. Meu pai é um homem bastante medieval, daqueles que ainda tem na cabeça que os pais é que devem escolher os maridos das suas filhas e que as mulheres devem ser submissas aos maridos.

Parece que estar em 2017 não difere em nada nos seus pensamentos antiquados, lamentavelmente ele não é o único que ainda pensa desse jeito. Meu pai ama ser o dono da razão e, o seu egoísmo é o topo da pirâmide dos seus pensamentos, preocupa-se tanto com a sua posição social e a aparência diante das pessoas.

Fui criada e formatada para aceitar está realidade, cedo ou tarde esse casamento deveria acontecer só que, não pensei que eu ficaria tão alucinada quando este dia estivesse se aproximando. Minhas tentativas de ver adiado este momento foram por água abaixo, mesmo quando aleguei que deveria terminar os estudos antes, ou que ainda era muito nova para viver tamanha responsabilidade e muito mais.

O meu terceiro ano de contabilidade foi interrompido, colocando fim á vida perfeita que o meu pai achava que eu tinha, o que era mais uma das suas conclusões ilusórias, claro! É mais uma sequência das obrigações que ele impõe  sobre mim, querendo ou não eu estou dizendo adeus para a minha vida estudantil.

Na verdade, eles pertencem a uma seita de nome Líbano de origem asiática, onde a mulher nasceu para ser submissa do homem e ele tem todo o direito de fazer tudo que ele quiser com ela. Nessa seita, a mulher não tem voz nenhuma, serve para obedecer e mais nada e nenhuma mulher em sã consciência pensa em desobedecer uma regra. Eu cresci vendo os maltratos que minha mãe sofria por parte do meu pai e não quero isso para mim. Sempre sonhei com uma vida fora do Líbano, uma vida normal como qualquer outra mulher de 20 anos gostaria de ter.

Vou casar com David Baker, o homem mais lindo e cobiçado de todos.

Me apaixonei por ele antes mesmo de falarmos uma única vez. Ele tem olhos azuis penetrantes e um rosto que deixa qualquer uma perdida de amor só de olhar, seu rosto parece bronze polido, seus cabelos parecem nuvens de tão encaracolados que são. Viver com o David sempre fez parte dos meus sonhos, isso quando eu ainda tinha 12 anos e não sabia nem metade do que mulheres do Líbano passavam.

Era inocente demais para entender o que era viver com um homem do Líbano.

Meu futuro marido é um dos líderes da seita, não sei o que me espera depois de casados.

Depois de acordar para a realidade e saber como as coisas funcionam, soube em seguida que ele está longe de ser o príncipe que sempre imaginei.

— Você precisa se animar, é seu aniversário – Edward me chacoalha na tentativa de que eu me animasse – Para de chorar e se anima.

— Não consigo. E se o David for igual ao papai?

— Você sabe que todos os homens do Líbano são como o papai ou bem piores.

Edward é meu primo, filho da irmã de minha mãe que faleceu em um acidente junto com o marido.  Desde então ele vive com a gente, se tornou no meu melhor amigo, melhor dizendo, meu único amigo. Ele trata meus pais como se fossem os pais dele e meus pais também o tratam como filho.

Uma das condições para que eu fizesse a faculdade de contabilidade, foi que não podia ter amigos, nem amigas, nem nada. Meu pai colocou seguranças atrás de mim que o informavam de tudo o que eu fazia de dez em dez segundos, e se vissem eu de papo com alguém seria castigada e os castigos do meu pai eram horríveis, acreditem.

— Só está me deixando com mais medo...

— Vai correr tudo bem, é só você... – ele para de falar quando a porta é aberta.

— Nos deixe a sós Edward – ouço a voz grave do meu pai, o que faz meu corpo estremecer.

Edward levanta da cama com a cabeça baixa, sem dizer uma única palavra e sai. É assim quando se trata do grande Robert Aslan, ninguém na casa tem coragem de enfrentá-lo.

— Levanta!

Num pulo me levanto da cama, limpo meu rosto que deve estar todo vermelho por conta do choro e olho diretamente para o chão.

— Sabe que dia é amanhã – cruza os braços – Não quero surpresas.

Meu pai sabe que sou bem imprevisível, veio aqui me intimidar para que eu não estrague seu dia de glória. Vontade não me falta, mas terei que obedecer se quiser continuar viva e minha mãe também.

Ele é um homem esbelto, em forma, cabelos encaracolados, olhos verdes lindos na face pontiaguda de um um homem com uma beleza de invejar, tão lindo e tão malvado.

— O senhor sabe que dia é hoje pai? – sussurro, mas me arrependo logo, porque vejo sua expressão mudar completamente.

— Não tente testar a minha paciência ou vai se arrepender! – aponta o dedo na minha cara – Agora lave o rosto, tem gente querendo te ver.

Parece que meu pai odeia o dia do meu aniversário, como se o meu aniversário o lembrasse de coisas desagradáveis. Todo ano nessa data ele fica como se estivesse transtornado.

Meu pai nunca foi carinhoso comigo, ele olha para mim com muita raiva, como se olhar para mim fosse algo doloroso ou motivo de raiva para ele, nao sei explicar.

— Como assim? – franzo o cenho – Quem deseja me ver?

— Lave o rosto, coloque um vestido e desça logo! E se fizer alguma gracinha, eu juro que te mato Akira, eu juro! – sai pisando duro.

Essa é a minha realidade, triste, mas é. Lavo meu rosto e coloco outra roupa, para ver quem estava me esperando. Coloco um vestido preto de alcinha abaixo do joelho, procuro meus chinelos que estão a beira da minha cama me olhando e os calço.

Quem será que está lá em baixo? – pergunto para mim mesma. Mas meu subconsciente não responde, deixando claro que nem ele tem ideia de quem seja.

Talvez seja uma festa surpresa – penso mais uma vez abrindo um sorriso animador. Mas não faz nem um segundo para o sorriso morrer, porque isso nunca acontecerá na realidade, só se for na minha imaginação.

Chego na sala, encontro meus pais e três homens sentados, que viram sua atenção para mim com seus olhares surpresos enquanto eu desço as escadas.

— O que está acontecendo? – questiono-me baixinho.

Ando até eles, sento do lado de minha mãe que me olha com pena.

— Como disse senhores, ela é muito linda – diz meu pai com orgulho. Meu coração começa a bater acelerado na hora – não há o que reclamar.

— E estamos a comprovar com os nossos olhos, meu filho terá uma mulher de invejar – disse um senhor bem vestido com um terno cinza, que é a cara do David. Suponho imediatamente que é o pai dele – a pequena Akira se transformou em uma mulher. Podemos ver?

— Claro! – Concorda meu pai se levantando, minha mãe fez o mesmo – estejam a vontade.

Meus pais saem me deixam sozinha com aqueles homens. Fico sem entender e com medo. Porque eles me deixaram sozinha com eles? Levanto para segui-los, mas sou impedida.

— Onde vai querida? – pergunta um deles, fazendo eu sentir nojo só de ouvir a voz.

— E... eu... só...

— Dispa-se Akira.

— Desculpa? – questiono sem entender e o homem me olha muito sério.

— Tire a roupa, precisamos ver seu corpo – diz como se nada fosse.

Olho para ele incrédula.

— Porque eu faria isso?

— Por que tem de ser assim, antes de casar eu preciso ver seu corpo, sua mãe não te explicou nada?

Eu já ouvi algo do tipo, mas não achei que fosse verdade, vou ter que ficar nua na frente de um monte de velhos.

Isso não é para mim.

Que porra!

— O que está esperando garota? – indaga sem paciência — preciso chamar o Robert?

Chame o Robert, chame o presidente, melhor, chame o papa!

"Se fizer alguma gracinha eu juro que te mato Akira, eu juro".

Me lembro das palavras do meu pai, e logo baixo as alças do meu vestido que imediatamente cai ao chão, fico só de sutiã e calcinha, eles me olham como um pedaço de carne.

Que humilhação!

Eu não nasci para isso!

— Tira tudo! – respiro fundo, sentindo uma vontade enorme de socar a cara dele, mas só baixo as alças do meu sutiã, de seguida tiro a cueca me sentindo um lixo autêntico na frente de todos aqueles homens.

Sabia que isso aconteceria. Minha mãe já havia me dito e me preparado para isso. Ela me alertou que se eu reagisse e não fizesse o que eles mandassem, ela seria castigada por não me dar a devida educação do Líbano. Por mais humilhante que seja tudo isso, jamais deixaria minha mãe pagar por meus erros, ela já sofreu demais, e não posso colocar a vida dela em risco.

...

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