Capítulo 03

Estamos andando a uma hora e meia, David não para de reclamar, porém eu estou adorando sentir a natureza. Estou me sentindo livre de um jeito que nunca me senti.

Esse lugar é muito lindo. A casa onde estamos é no meio da floresta, um lugar que com certeza pertence ao Líbano ou a família do David, mas isso não me impede de aproveitar a paz que esse lugar está me proporcionando.

Minha barriga ronca me trazendo a lembrança de que saímos de casa sem comer alguma coisa.

O barulho da minha barriga é tão alto que David para no meio do caminho e me encara com as mãos na cintura.

— O que foi? – questiono sem entender seu olhar sobre mim.

— Se lembrou de trazer alguma coisa para comer?

Faço que não com a cabeça, ele revira os olhos e vejo sua expressão mudar de irritado, para mais irritado ainda.

— Vamos voltar para casa – diz parecendo aborrecido — Lembrou da caminhada, mas não lembrou que a gente não come nada desde ontem?

Verdade, mas eu estava tão empolgada que me esqueci disso.

— Tem um rio próximo por aqui? – pergunto depois de ouvir o som de águas colidindo, ignorando tudo o que ele disse.

— Sim, mas... – sem esperar ele terminar de falar, corro na direção do som das águas.

O rio não é muito distante de onde nós estamos, por isso não tive que correr por mais de dois minutos, é só alguns segundos, ultrapasso algumas árvores e ali está o rio. Lindo!

Sem pensar tiro os meus sapatos e deixo que os meus pés toquem a água da beira do rio, que está fresca e convidativa.

Me sinto muito bem, a sensação de estar livre é ótima, tanto que me apetece ficar nesse lugar para sempre.

— Akira! – ouço a voz grave do David. Por pouco me esqueço que ele está comigo.

— Vem David, a água está...

— Só vou dizer uma vez, saí daí agora!

— Mas...

— Agora!

O sorriso em meu rosto morre na hora que ouço o Tom de voz que David usa, acompanhado da sua expressão nada agradável. Aquela expressão é do David que vi no nosso casamento, é a expressão do David que vi a vida toda. Saio imediatamente da água, coloco os meus sapatos e caminho até ele.

David não se aproxima muito de onde está o rio, fica a uma distância considerável, uma que não vê nem metade da vista do rio.

Quando chego perto dele, percebo que seu peito desce e sobe freneticamente como se tivesse corrido durante horas.

— David o que...

— Vamos!

Sem olhar para mim virou de costas para dar seguimento ao caminho de volta para casa. Não percebo o que o irritou tanto, porém não pergunto nada e só sigo atrás dele. Ele parece muito chateado, talvez seja porque o obriguei a vir até aqui e ele cansou, ou porque saí correndo sem deixar que ele terminasse de falar, sei lá, a única coisa que sei é que nunca vi David desse jeito. Contando que estamos casados a 1 dia.

O trajeto para casa é em puro silêncio, David não olha para mim e nem para nenhum outro lado.

Chegamos em casa pouco tempo depois, ele não falou nada até agora, chegou e se trancou no banheiro. Estou sentada na cama esperando ele sair do banho para perguntar o que fiz de errado.

Demora uma eternidade, mas por fim ele saí ainda com seu rosto emburrado.

Me levanto ficando na sua frente.

— Eu fiz alguma coisa de errado? Porque ficou desse jeito?

— Vá tomar banho e desça para tomar o café ou almoço, sei lá que horas são agora – passa por mim indo pegar qualquer coisa para vestir no guarda roupa.

A voz dele soou fria e grossa, sinceramente nem parece o David de antes de eu entrar naquela água.

— Se fiz alguma coisa, me diga! – minha voz sai mais alta do que prevejo. David se vira para mim imediatamente esboçando uma expressão ameaçadora em seu rosto.

Me encolho quando  vejo ele se aproximar e sem que eu preveja pega o meu braço com alguma força. Seus olhos azuis se tornam cinza no momento, sinto um medo dele que nunca senti antes, até meu coração está errando as batidas.

— Se ousar gritar comigo mais uma vez, você não vai gostar muito do que vai ver – suas palavras congelam meu fígado na hora, sinto vontade de chorar, porém não faço. Encaro David tentando achar o homem carinhoso que ele demonstrou ser, mas só vejo escuridão em seus olhos.

— Me...desculpe – digo. Ele me solta e vai novamente em direção ao guarda roupas sem olhar para mim uma única vez. Só quando ele se afasta completamente consigo respirar em condições. Solto um suspiro tão alto que me faz saber que enquanto David estava perto de mim eu estava prendendo a respiração.

Não entendo nada do que se passa, agora só consigo ficar com medo dele e mais nada.

Corro até ao banheiro trancando a porta de seguida. Uma lágrima que tanto segurei cai assim que me vi sozinha naquele recinto.

Por um segundo pensei que David bateria em mim, por uma ação sem explicação ele fez com que toda confiança que me passou  morresse.

Entro no box e deixo que água gelada caia sobre o meu corpo quente pelo medo que David me fez sentir.

— Os homens do Líbano são todos iguais – falo para mim mesma — Fui burra em não perceber que David estava só encenado.

Por mais que tente não consigo entender porque ele ficou transtornado daquele jeito, o que foi que eu fiz de tão errado?

Termino meu banho, pego uma toalha e saio do banheiro, não encontro David no quarto e agradeço mentalmente por ele não estar lá.

●●●

Já é outro dia, e o clima não está diferente. David não fala absolutamente nada, dormimos na mesma cama, mas parecia que estava sozinha porque David não fez nada para que eu notasse sua presença. Nossa primeira noite numa cama juntos foi um autêntico fiasco.

Tinha me esquecido que estou dentro do Líbano, que devo ser submissa ao meu marido e nunca na minha vida gritar com ele. Deve ser por isso que David está fingindo que não existo, por eu ter gritado com ele. Em outras circunstâncias eu estaria cheia de hematomas só por gritar com ele.

— Eu não queria assustar você – diz pela primeira vez, sua voz parece mais calma e leve.

Mas assustou!

— Mas assustou!– era para ser um pensamento.

Eu e essa minha boca que não sabe ficar calada...

— Akira, eu odeio esse lugar – diz largando o garfo em sua mão, olhando de seguida para o meu rosto — Você não tem noção...estou aqui porque é uma regra...eu odeio esse lugar, odeio aquele rio com toda a minha alma!

David fica tenso, sua testa se enche de rugas e não sei se é impressão minha, mas percebo que ele está segurando o choro.

Fico curiosa para entender porque ele odeia tanto esse lugar. Não parece ter nada de errado aqui.

— Porque disso?

— Não importa, só não quero voltar para lá. Ficar dentro da casa é uma coisa, sair dela e ficar andando por todos os lugares daqui já é demais. Tudo aqui me trás lembranças, coisas que não gosto de lembrar.

— Devia ter me dito, teríamos evitado toda essa situação.

— Faz anos que não venho aqui, muitos anos. A última vez que estive aqui era uma criança, mas a única coisa que não sai da minha cabeça é aquele rio, ele está desenhado na minha mente...

— Me diz porque disso, você...

— Me desculpe por ter apertado seu braço – me interrompe — Akira a última coisa que quero nessa vida é te magoar, você é pura demais.

Estamos na sala enquanto almoçamos, é David que preparou a comida e colocou uma mesa bonita para a gente. Nunca pensei que ele soubesse fazer algum tipo de comida.

Ouvindo suas palavras, sinto uma vontade de o abraçar porque sinto que ele precisa e é mesmo isso o que faço. Levanto da cadeira, puxo sua mão para que ele se levante e assim que seu corpo fica reto na frente do meu que é duas vezes menor que o dele, o abraço forte, demora um pouco, mas logo ele retribui.

— Não sei nada do que se passou aqui, mas sinto muito – digo tentando o confortar. Ele nada diz, suas mãos sobem da minha cintura para o meu rosto.

David e eu nos encaramos muito próximos pela primeira vez, consigo sentir sua respiração travando uma batalha com meu rosto, sua respiração quente abrange meu rosto me causanso arrepios, uma sensação que nunca senti antes.

David cheira meu pescoço e deposita um beijo leve nele, e faz isso com a minha orelha e cabelos também.

Era como se ele pedisse permissão para me beijar ou algo assim, portanto não êxito, pois sinto que ele quer me beijar tanto quanto eu quero que ele me beije.

— Me beija Dav...

Sem que eu termine de falar o seu nome, seus lábios vão de encontro aos meus pela primeira vez depois do casamento. Um beijo suave e delicado que no início é estranho, que no início é calmo e que depois se torna em algo rápido e cheio de paixão, não só vinda dele, mas também de mim.

Num segundo estamos de pé no meio da sala, e no outro estámos deitados no sofá, ele em cima de mim me beijando com vontade e eu passando minhas mãos em suas costas.

Eu sei o que vai a acontecer, mas não posso parar porque já estamos totalmente entregues um ao outro.

Não digo que foi um dos melhores momentos da minha vida, até porque era virgem e aquilo não foi pouco doloroso. Mas a forma carinhosa que David fez tudo, com certeza não fez a dor diminuir, mas me deixou um pouco relaxada nos primeiros momentos.

Com certeza foi desse jeito que sempre sonhei em perder a minha virgindade.

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