Eu gostaria tanto que tudo fosse diferente, que tivesse tendo um filho por vontade própria, mas não, estou tendo um filho porque terceiros querem isso.
Isso não entra na minha cabeça.Olho para o teste a minha frente com o coração na mão, eu já sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas preferia que fosse mais tarde, muito tarde. É o quinto que faço e todos dizem a mesma coisa.Estou grávida!Saio do banheiro, levando todos os testes para David que me espera no quarto, acredito que tão ansioso quanto eu estava quando fiz o primeiro e o segundo teste.— E então? – Pergunta eufórico.Não respondo, somente entrego os testes para ele.— Achei que isso nunca aconteceria – sorri satisfeito — Ainda bem que engravidou logo. Não estava aguentando mais meu pai e nem meu avô com essa história de herdeiro o tempo todo – me abraça por longos segundos e deposita um beijo em minha testa — Obrigada – sussurra.Quero estar feliz como ele, mas não consigo.É só isso o que interessa para eles, herdeiros para continuarem com o inferno deles.— E agora, o que fazemos? – pergunto.— Faça as malas, vamos voltar para a cidade – David não consegue disfarçar a felicidade — Agora já não vai morar mais na casa de seus pais, terá a sua própria casa. Sua vida vai ser como antes, a única diferença é que agora você é mulher de David Baker, um dos líderes máximos do Líbano, então terá que ver bem suas atitudes perante as pessoas, irás em jantares comigo e festas da alta sociedade.— Poderei ver minha mãe?— Sim, mas terá que me avisar sempre e acompanhada de dois seguranças.— Seguranças?— Sim, todo cuidado é pouco. Ainda mais carregando o meu filho.Não volto a perguntar mais nada, minha cabeça só está preocupada com o futuro dessa criança que carrego.Pego uma mala e coloco as poucas roupas que eu tenho ali, enquanto ele me ajuda a guardar as coisas. Ele me encara uma vez ou outra, acho que tentando descobrir o que eu estou pensando.— Akira...Não respondo, me viro para ele esperando ele começar a falar.— Não está feliz?— Devia estar?Ele não diz nada, continuamos a arrumar tudo em silêncio.A parte boa de sair daqui é que vou poder ver minha mãe e o Edward, estou morrendo de saudades.Saímos da casa em direção a cidade, o que demora umas duas horas, não há nada que eu possa fazer enquanto regressamos, só observo o nada pela janela, porque nem celular eu tenho.Chegar na cidade foi como música para os meus ouvidos, poder ouvir o barulho dos carros, das pessoas conversando, de tudo. David para de frente a uma mansão, por fora já dá para ver que é gigantesca e muito linda por acaso.Entramos na casa e ela é realmente linda, olho admirada para os detalhes e tudo mais, era tudo muito lindo. Minha antiga casa também era uma mansão, mas não era tão exagerada quanto essa.Encontramos mais de dez homens e quatro mulheres na sala de casa, todos em fileira como se fossem comandados. E como se não bastasse, Anthony está sentado no sofá com as pernas cruzadas.Maldito!— Essas são as pessoas que vão nos servir – David aponta para as mulheres — Se apresentem.— Eu sou a Clarence e sou a cozinheira – disse uma mulher que parece ter 40 anos, morena, alta de cabelos cacheados e um corpo que mais parece ser de uma menina de 20 anos.— Eu sou a Natasha e sou encarregada de cuidar da casa – fala uma jovem, que parece ter 30 e poucos anos.— Eu sou a Kim e sou a governanta da casa – diz outra que deve ter uns 43 anos.— E eu sou Emma, serei acompanhante da senhora – disse uma garota loira muito linda, que deve ter uns 20 ou 21 anos, seus olhos azuis são muito lindos.Não entendo o porque de tantas empregadas, mas pelo menos terei né, porque do jeito que as coisas andam já é um milagre eu não ser a empregada, seria a cereja no topo do bolo.— Eu sou Akira Asl...quer dizer, Akira Baker, sou a mulher do senhor Baker – David me fez decorar aquilo e me alertou que não devo manter laços afetivos com ninguém da casa, nem com a pessoa que será a minha acompanhante.Não sei porque, já que passarei mais tempo com eles do que com ele.— Esses são os seguranças, e não precisa gravar nome de nenhum, porque eles não vão ter nenhum contato com você, simplesmente irão levá-la para lugares e só isso, não precisam trocar palavras.— Pelo menos, os nomes dos que serão meus seguranças.— Derek e Lewis — aponta para dois homens na nossa frente — Eles farão a sua segurança, agora todo mundo fora!Em segundos todos desaparecem, Anthony se levanta e caminha até nós.— Sejam bem vindos.— Obrigada pai – David o abraça rapidamente. Eu continuo atrás do David sem dizer nada.— Gostou da casa Akira?— Sim, é tudo muito lindo – limito-me a responder.— Para terem voltado, creio que tenham boas notícias para mim – Anthony sorri.— Sim, eu serei pai! – David responde orgulhoso e Anthony mais uma vez o abraça.— Notícia maravilhosa meu filho, seu avô vai ficar muito feliz quando souber – se solta do David e sem que eu pudesse esperar, me abraça — Parabéns Akira.Seu nojento.— Obrigada Anthony.Depois de dar todo o seu show, vai embora me deixando mais aliviada por ele não estar mais entre nós. Eu odeio aquele homem com todas as minhas forças, é uma merda como pessoa.David me mostra as outras partes da casa, e depois vamos para o quarto. Assim que entramos, sinto o vômito vindo, vou correndo para o que penso ser o banheiro, e me agacho para vomitar. — Precisa de alguma coisa?— Não.— Amanhã vou chamar o médico, para saberemos o que fazer para terminar com esses enjoos.— Posso ver minha mãe? – me levanto e passo água pela minha boca.— Não está indisposta? — Estou, mas preciso ver minha mãe, por favor...— Tudo bem. Vamos.David me deixa na casa dos meus pais, e vai tratar de alguns assuntos. Assim que entro minha mãe corre para me abraçar. Estava louca para ver ela e Edward. Abraço dois muito fortes e nos sentamos no sofá em seguida. — Não vai dar um abraço no seu pai? – pergunta meu pai que está sentado na poltrona de pernas cruzadas. Ignoro ele completamente voltando a minha atenção para minha mãe.— E então, as coisas aqui?— Na mesma – responde Edward — Nunca acontece nada por aqui e do seu lado?— Tudo bem – limito a responder aquilo que acho necessário e também não vou falar nada na frente do meu pai — Mãe, eu preciso pegar algumas coisas do meu quarto, me ajuda?— Claro meu amor – Subimos as escadas e Edward veio atrás de nós, deixando meu pai sozinho na sala.Minha mãe e Edward são as pessoas em quem mais confio.— Mãe, eu estou grávida, estou grávida e não sei o que vai acontecer com essa criança! – me desespero depois de entrarmos no quarto.— Eu imaginei filha – me abraça — David é filho único, então devem tê-lo obrigado a ter um filho o mais rápido possível, e o momento perfeito era a lua de mel. Apesar de tudo fico feliz porque vai me dar um neto.— Eu não quero ter um filho, mãe.— O que ele fez com você? – pergunta Edward.— Ele não fez nada, achei que faria, mas pelo contrário, ele não fez nada.Conto tudo o que havia acontecido durante esse quase dois meses , Edward e minha mãe ficaram chocados porque estavam imaginando que David faria crueldades comigo, eu também achei, mas por sorte não foi assim. David se mostrou uma ótima pessoa e com princípios.Meu pai também b**e na minha mãe, mas isso já não acontece constantemente porque minha mãe nunca contraria ele, a submissão que ela tem por ele é de dar dó.— Agora entendo a razão de terem demorado tanto.— Mãe estou apreensiva com essa gravidez, David não me fala nada, preciso que seja clara comigo. O que vai acontecer se eu tiver grávida de uma menina? Eles falam herdeiro como se já tivessem certeza de que eu terei um menino.Minha mãe fica calada por um tempo, parece nem querer falar sobre isso.— Fala mamãe.— Akira, essa história é muito complicada. Mas o que posso te dizer é que essa filha é oferecida como sacrifício.Minha cabeça rodopia por um segundo.— O quê? Eles sacrificam uma criança?Como algo assim é possível?— Os filhos dos líderes devem obrigatoriamente ser homens. Essa é uma regra que foi criada por conta de algo que aconteceu há muitos anos atrás, algo que quase destruiu o Líbano, mas isso não importa agora.Ela não está falando tudo.— Me conta mãe.— Não tenho permissão para lhe falar disso. É algo muito delicado, mas o que posso dizer é que eles oferecem esse filho aos deuses para sacrifício e...— E o que mamãe?— E os queimam vivos em uma fogueira.O que sinto agora é algo inexplicável, não sei se é horror, medo ou ira.— Porque para eles se livrarem do fracasso pelo que aconteceu há anos, devem oferecer a menina como sacrifício aos deuses.— O que?!Como uma criança é morta para agradar seres que nem sequer existem?Onde que está o sentido de humanidade dessas pessoas? Como as pessoas têm coragem de tirar a vida de um ser que nem sequer conheceu o mundo? Um ser que merece viver tanto quanto qualquer outra pessoa?— Sim querida. É algo que acontece há muitos anos, não foi sempre assim, mas por motivo de força maior tiveram que adotar essa regra no Líbano.— Pare de falar como se isso fosse algo normal, porque não é! — Levantei da cama irritada. — Eu não vou aceitar isso do mesmo jeito que você aceitou, nenhum motivo de força maior é desculpa para tamanhas barbaridades. — Vê como fala com a sua mãe Akira! — Meu pai entrou no quarto. — Há regras no Líbano que estão muito acima de qualquer desejo nosso e mesmo que isso seja cruel, é assim que deve ser. — Completou cruzando os braços. Edward nos olhava com cara de perdido, não sabia em que momento intervir. — Não há nada que possamos fazer. — disse minha mãe.Sempre pensei que ela
— Anda Akira!— Não aguento mais. — Me joguei na grama totalmente ofegante.— Deixa de ser preguiçosa.— Já nem sei se isso é uma casa ou um quartel general, que mal eu fiz para você? Porque me odeia tanto?— O doutor disse que precisa fazer exercícios.— Não me interessa o que o imbecil desse doutor falou. David me fez acordar seis horas da manhã, seis horas da manhã, já disse seis horas da manhã? Ainda mais para ficar correndo pelo quintal feito louco, sem esquecer que estou grávida e tenho uma barriga que me impossibilita até de fazer tudo.— Para de fazer drama porque você nem está correndo, a gente está andando.— Me deixa quieta aqui.— Você precisa fazer pequenos exercícios para não ter complicações no parto. — Se jogou do meu lado. — Eu tinha que trabalhar, mas estou aqui com você.— Vá trabalhar, eu não pedi para ficar me vigiando.— Não estou te vigiando, estou te protegendo de você mesma. — Como vai chamar ele? — Mudei de assunto para ver se ele parava de me obrigar a faz
Os meses passavam rapidamente e cada vez mais, o nascimento do meu filho se aproximava. Estava agora com cinco meses de gravidez. Eu e David estavamos a caminho do hospital a fim de fazer ecografia para sabermos o sexo do bebê. Estou com o coração na mão, não quero nem pensar o que vai acontecer caso seja uma menina. É fato que não quero ter esse filho nessas condições, essa gravidez está me fazendo muito mal, meu psicológico está fodido com a ideia de que alguém possa tirar minha bebé de mim.— Prontos para saber o sexo? — A doutora perguntou sorridente. — Claro doutora Merlin. — Respondeu David. David exigiu que fosse uma mulher a fazer minhas ecografias, segundo ele, o único homem que pode me tocar é ele, é uma regra.Estou cansada dessas regras, cansada de tudo.E para piorar David está mudando, seu humor muda a toda hora. Uma hora está sorridente e na outra com a cara fechada, eu é que estou grávida e as mudanças de humor está todas com ela.— Então aqui vamos. — Passou um g
4 meses depois.Nunca imaginei que colocar um ser no mundo fosse tão doloroso, doloroso é pouco, é mortífero. Agora mais do que nunca eu respeito as mães, é preciso ser muito forte para colocar um ser no mundo.- Se acalme por favor, tudo vai ficar bem. - David segurou minha mão tentando me confortar. Me acalmar? Estou quase tirando todos os meus órgãos fora do corpo e ele me pede para ter calma?! Estávamos no hospital a duas horas, estou prestes a ter o bebê, minhas contrações estavam no vai e vem, mas nada do bebê sair, estou quase desmaiando de tanta dor. - Sei que essa dor é muito grande, mas calma por favor. - Sabe? Por acaso já ficou grávida alguma vez? Não me fode o juízo! Se eu falasse assim com ele em uma situação normal, era capaz dele me bater tanto que nem sentiria minhas pernas. Me deitei na cama novamente e deixei que as lágrimas caíssem, não aguento mais essa dor. David está ao meu lado, mas eu estou com tanta raiva dele que nem quero que ele chegue perto de mim.
3 meses depois. Desçi do carro, logo corri para dentro de casa por conta do frio. Já anoiteceu e eu preciso me apressar porque David já deve estar irritado de tanto que demorei no salão de beleza. Assim que entrei David estava sentado no sofá, mexendo no celular. Ele estava vestido com um terno preto, camisa social branca e uma gravata de laço azul marinho. Olhou para mim de relance e logo voltou a atenção no celular. — Tem 30 minutos para se arrumar. — Disse curto e seco como sempre. — Não demore. Passei por ele revirando os olhos e subi as escadas. Passei bem rápido no quarto do Kamil para ver como ele estava e dar um beijo nele antes de sair. Ele já tem 6 meses, está crescendo muito rápido e lindo como o pai dele, meu filho é uma pequena cópia do David, a cor azul dos olhos, o cabelo preto, o nariz, a boca, tudo. Parece mais filho dele do que meu. Encontrei a babá sentada na poltrona lendo um livro, enquanto Kamil dormia no berço. Ela não é uma babá fixa, ela vem somente quan
Busquei forças do além e tentei ficar o mais normal possível. David parou do meu lado e Lionel do lado de Rubi que endireitou a postura logo que Lionel chegou perto dela. É agora que ele me mata! Como eu vou levantar daqui sendo que estou bêbada? Bêbada? Nunca pensei que ficaria bêbada, ainda mais numa festa onde estão todos os líderes do Líbano. — Eu e Rubi vamos cumprimentar outros convidados. — Lionel disse e imediatamente Rubi se pôs em pé me pedindo desculpas com os olhos. — Foi bom conhecer você Akira. — Rubi disse e logo foram embora.David sentou na minha frente e me encarou confuso. — O que houve? — Está bebendo? — Olhou para o copo vazio do meu lado. Meu corpo gelou na hora. — Eu?... claro que não... eu... eu nem gosto de beber, esse copo é da... Rubi. — Da Rubi? E esse copo que está aqui? — Levantou o copo que Rubi estava bebendo. — Os dois são da Rubi? Que burra Akira! — Sim! — Falei alto. — Ela estava bebendo os dois, aí como o garçom não veio pegar...ela...ela
Estou sentada na praça da alimentação do centro comercial. Sorri ao ver Edward caminhando na minha direção. Faz algum tempo que não vejo ele, porque David não me deixa sair de casa de jeito nenhum se não for para ir á casa da minha mãe e eu já não me sinto confortável lá, sinto sempre como se estivessem me interrogando ou algo assim, e além disso, não quero olhar para a cara do meu pai.Edward me deu um beijo na bochecha e sentou na minha frente.— Como conseguiu que o David deixasse você sair?— Com aquela condição. — Apontei para Lewis que estava sentado um pouco afastado de nós.— Sério que ele colocou um segurança na sua cola? — Concordei com a cabeça.— Não vamos falar do David. Me fala sobre você e as coisas lá em casa.— Lá em casa é o mesmo de sempre, só a mamãe que agora virou melhor amiga da Grace Baker.— Sério isso? — Fiz uma cara super confusa. As vi juntas algumas vezes, mas não achei que estivessem se vendo frequentemente.— Sim, parecem unha e carne.— E o Robert, o q
Fitei o teto branco e não reconheci o lugar em que me encontrava. Olhei em volta e vi David sentado na poltrona. O que foi que aconteceu?— David... — Como está se sentindo? — Se levantou e segurou a minha mão. — Estou tonta, minha cabeça está girando, estou muito enjoada, onde estou?— No hospital.O que estou fazendo no hospital? — Você desmaiou e não acordava de jeito nenhum, por isso trouxe você aqui. — O que eu tenho? — Perguntei e o doutor entrou no quarto. — Senhora Baker, ainda bem que já está acordada. — Disse o doutor. — Sim, o que ela tem? — David perguntou. — É alguma coisa grave? O doutor nos encarou e sorriu simpático.— Não devemos considerar gravidez algo grave. — Quando ele terminou de falar, senti como se tudo tivesse parado. O que ele disse?— O que disse? — Perguntei para confirmar que não ouvi errado. — A senhora está grávida senhora Baker. — Olhei para David que estava sem expressão nenhuma no rosto. — Três semanas. — Isso só pode ser um engano doutor