Capítulo 05

Eu gostaria tanto que tudo fosse diferente, que tivesse tendo um filho por vontade própria, mas não, estou tendo um filho porque terceiros querem isso.

Isso não entra na minha cabeça.

Olho para o teste a minha frente com o coração na mão, eu já sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas preferia que fosse mais tarde, muito tarde. É o quinto que faço e todos dizem a mesma coisa.

Estou grávida!

Saio do banheiro, levando todos os testes para David que me espera no quarto, acredito que tão ansioso quanto eu estava quando fiz o primeiro e o segundo teste.

— E então? – Pergunta eufórico.

Não respondo, somente entrego os testes para ele.

— Achei que isso nunca aconteceria – sorri satisfeito — Ainda bem que engravidou logo. Não estava aguentando mais meu pai e nem meu avô com essa história de herdeiro o tempo todo – me abraça por longos segundos e deposita um beijo em minha testa — Obrigada – sussurra.

Quero estar feliz como ele, mas não consigo.

É só isso o que interessa para eles, herdeiros para continuarem com o inferno deles.

— E agora, o que fazemos? – pergunto.

— Faça as malas, vamos voltar para a cidade – David não consegue disfarçar a felicidade — Agora já não vai morar mais na casa de seus pais, terá a sua própria casa. Sua vida vai ser como antes, a única diferença é que agora você é mulher de David Baker, um dos líderes máximos do Líbano, então terá que ver bem suas atitudes perante as pessoas, irás em jantares comigo e festas da alta sociedade.

— Poderei ver minha mãe?

— Sim, mas terá que me avisar sempre e acompanhada de dois seguranças.

— Seguranças?

— Sim, todo cuidado é pouco. Ainda mais carregando o meu filho.

Não volto a perguntar mais nada, minha cabeça só está preocupada com o futuro dessa criança que carrego.

Pego uma mala e coloco as poucas roupas que eu tenho ali, enquanto ele me ajuda a guardar as coisas. Ele me encara uma vez ou outra, acho que tentando descobrir o que eu estou pensando.

— Akira...

Não respondo, me viro para ele esperando ele começar a falar.

— Não está feliz?

— Devia estar?

Ele não diz nada,  continuamos a arrumar tudo em silêncio.

A parte boa de sair daqui é que vou poder ver minha mãe e o Edward, estou morrendo de saudades.

Saímos da casa em direção a cidade, o que demora umas duas horas, não há nada que eu possa fazer enquanto regressamos, só observo o nada pela janela, porque nem celular eu tenho.

Chegar na cidade foi como música para os meus ouvidos, poder ouvir o barulho dos carros, das pessoas conversando, de tudo. David para de frente a uma mansão, por fora já dá para ver que é gigantesca e muito linda por acaso.

Entramos na casa e ela é realmente linda, olho admirada para os detalhes e tudo mais, era tudo muito lindo. Minha antiga casa também era uma mansão, mas não era tão exagerada quanto essa.

Encontramos mais de dez homens e quatro mulheres na sala de casa, todos em fileira como se fossem comandados. E como se não bastasse, Anthony está  sentado no sofá com as pernas cruzadas.

Maldito!

— Essas são as pessoas que vão nos servir – David aponta para as mulheres — Se apresentem.

— Eu sou a Clarence e sou a cozinheira – disse uma mulher que parece ter 40 anos, morena, alta de cabelos cacheados e um corpo que mais parece ser de uma menina de 20 anos.

— Eu sou a Natasha e sou encarregada de cuidar da casa – fala uma jovem, que parece ter 30 e poucos anos.

— Eu sou a Kim e sou a governanta da casa – diz outra que deve ter uns 43 anos.

— E eu sou Emma, serei acompanhante da senhora – disse uma garota loira muito linda, que deve ter uns 20 ou 21 anos, seus olhos azuis são muito lindos.

Não entendo o porque de tantas empregadas, mas pelo menos terei né, porque do jeito que as coisas andam já é um milagre eu não ser a empregada, seria a cereja no topo do bolo.

— Eu sou Akira Asl...quer dizer, Akira Baker, sou a mulher do senhor Baker – David me fez decorar aquilo e me alertou que não devo manter laços afetivos com ninguém da casa, nem com a pessoa que será a minha acompanhante.

Não sei porque, já que passarei mais tempo com eles do que com ele.

— Esses são os seguranças, e não precisa gravar nome de nenhum, porque eles não vão ter nenhum contato com você, simplesmente irão levá-la para lugares e só isso, não precisam trocar palavras.

— Pelo menos, os nomes dos que serão meus seguranças.

— Derek e Lewis — aponta para dois homens na nossa frente — Eles farão a sua segurança, agora todo mundo fora!

Em segundos todos desaparecem, Anthony se levanta e caminha até nós.

— Sejam bem vindos.

— Obrigada pai – David o abraça rapidamente. Eu continuo atrás do David sem dizer nada.

— Gostou da casa Akira?

— Sim, é tudo muito lindo – limito-me a responder.

— Para terem voltado, creio que tenham boas notícias para mim – Anthony sorri.

— Sim, eu serei pai! – David responde orgulhoso e Anthony mais uma vez o abraça.

— Notícia maravilhosa meu filho, seu avô vai ficar muito feliz quando souber – se solta do David e sem que eu pudesse esperar, me abraça — Parabéns Akira.

Seu nojento.

— Obrigada Anthony.

Depois de dar todo o seu show, vai embora me deixando mais aliviada por ele não estar mais entre nós. Eu odeio aquele homem com todas as minhas forças, é uma merda como pessoa.

David me mostra as outras partes da casa, e depois vamos para o quarto. Assim que entramos, sinto o vômito vindo, vou correndo para o que penso ser o banheiro, e me agacho para vomitar. 

— Precisa de alguma coisa?

— Não.

— Amanhã vou chamar o médico, para saberemos o que fazer para terminar com esses enjoos.

— Posso ver minha mãe? – me levanto e passo água pela minha boca.

— Não está indisposta? 

— Estou, mas preciso ver minha mãe, por favor...

— Tudo bem. Vamos.

David me deixa na casa dos meus pais, e vai tratar de alguns assuntos. Assim que entro minha mãe corre para me abraçar. Estava louca para ver ela e Edward. Abraço dois muito fortes e nos sentamos no sofá em seguida. 

— Não vai dar um abraço no seu pai? – pergunta meu pai que está sentado na poltrona de pernas cruzadas. Ignoro ele completamente voltando a minha atenção para minha mãe.

— E então, as coisas aqui?

— Na mesma – responde Edward —  Nunca acontece nada por aqui e do seu lado?

— Tudo bem – limito a responder aquilo que acho necessário e também não vou falar nada na frente do meu pai — Mãe, eu preciso pegar algumas coisas do meu quarto, me ajuda?

— Claro meu amor – Subimos as escadas e Edward veio atrás de nós, deixando meu pai sozinho na sala.

Minha mãe e Edward são as pessoas em quem mais confio.

— Mãe, eu estou grávida, estou grávida e não sei o que vai acontecer com essa criança! – me desespero depois de entrarmos no quarto.

— Eu imaginei filha – me abraça — David é filho único, então devem tê-lo obrigado a ter um filho o mais rápido possível, e o momento perfeito era a lua de mel. Apesar de tudo fico feliz porque vai me dar um neto.

— Eu não quero ter um filho, mãe.

— O que ele fez com você? – pergunta Edward.

— Ele não fez nada, achei que faria, mas pelo contrário, ele não fez nada.

Conto tudo o que havia acontecido durante esse quase dois meses , Edward e minha mãe ficaram chocados porque estavam imaginando que David faria crueldades comigo, eu também achei, mas por sorte não foi assim. David se mostrou uma ótima pessoa e com princípios.

Meu pai também b**e na minha mãe, mas isso já não acontece constantemente porque minha mãe nunca contraria ele, a submissão que ela tem por ele é de dar dó.

— Agora entendo a razão de terem demorado tanto.

— Mãe estou apreensiva com essa gravidez, David não me fala nada, preciso que seja clara comigo. O que vai acontecer se eu tiver grávida de uma menina? Eles falam herdeiro como se já tivessem certeza de que eu terei um menino.

Minha mãe fica calada por um tempo, parece nem querer falar sobre isso.

— Fala mamãe.

— Akira, essa história é muito complicada. Mas o que posso te dizer é que essa filha é oferecida como sacrifício.

Minha cabeça rodopia por um segundo.

— O quê? Eles sacrificam uma criança?

Como algo assim é possível?

— Os filhos dos líderes devem obrigatoriamente ser homens. Essa é uma regra que foi criada por conta de algo que aconteceu há muitos anos atrás, algo que quase destruiu o Líbano, mas isso não importa agora.

Ela não está falando tudo.

— Me conta mãe.

— Não tenho permissão para lhe falar disso. É algo muito delicado, mas o que posso dizer é que eles oferecem esse filho aos deuses para sacrifício e...

— E o que mamãe?

— E os queimam vivos em uma fogueira.

O que sinto agora é algo inexplicável, não sei se é horror, medo ou ira.

— Porque para eles se livrarem do fracasso pelo que aconteceu há anos, devem oferecer a menina como sacrifício aos deuses.

— O que?!

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