— Não entendo, Kai. Você e Peter se odeiam desde que se conheceram — comentei, tentando soar casual. — Por quê?Eu estava há dias tentando arrancar qualquer coisa dele, uma confissão, uma explicação ou, ao menos, alguma pista do que se passava em sua cabeça. Desde aquele breve encontro no restaurante, Kai parecia mais... cauteloso. — Não tenho nada contra aquele garoto. Só acho que ele é petulante demais — respondeu, com claro desgosto na voz. Eu estava organizando a bolsa que levaria à maternidade para quando chegasse o dia de Rubi nascer. Optei pelo parto normal, e Kai apoiou, então estamos aguardando nossa garotinha a qualquer momento. — Ele não é um garoto. Se disser isso perto de qualquer fã dele, vai se dar mal — ri. — Ele é tão gentil e carismático. — Argh, preciso ouvir você elogiando seu ex-namorado? Sério? — Desculpe, eu só estava curiosa sobre essa rivalidade de vocês — dei de ombros. — Não é uma rivalidade. Só optei por não ter nenhum contato. — Sei — ri,
Eu vivi o mais puro medo e terror somente uma vez na vida. Hoje. Quando meu pai morreu, a dor foi profunda, mas era algo que eu sabia que viria. Ele estava com câncer e sua expectativa de vida era limitada. Foi devastador, mas não senti medo, apenas um vazio profundo e uma tristeza que parecia não ter fim. Mas hoje, enquanto eu corria com Cassidy nos braços, tudo que eu sentia era medo. Um medo profundo, que consumia tudo, medo do que eu não podia controlar, do desconhecido. Medo de perder. Eu deveria ter ligado para a emergência, mas não consegui. E se eles demorassem? E se algo os atrasasse? E se Cassidy piorasse enquanto esperávamos? Não havia espaço para "e se". A única solução que encontrei foi colocá-la no banco traseiro do carro e dirigir como um louco até o hospital mais próximo. — Estamos chegando, Cass... só mais um pouco, por favor, aguenta firme. — pedi, com a voz embargada. Ela estava acordada, mas mal. Os olhos fechados, a voz tão fraca que era impossíve
É como se eu não pudesse me lembrar de toda a dor e o medo que senti horas atrás. Segurar minha filha nos braços está em outro patamar de sensações incríveis. Rubi é perfeita. E ela já se tornou tudo. — Vem, Mike, vem ver a sua sobrinha — pedi, ainda com a voz embargada. Meu irmão, que estava mais afastado, se aproximou. Mostrei a bebê, e ele sorriu. Era evidente que também estava muito emocionado. — Parabéns, Cass. Ela é tão linda quanto você. — Ele passou a mão no meu cabelo. — Obrigada. Você vai ser o melhor tio do mundo — falei, sorrindo. — Vou mesmo. O mais babão. — Deu de ombros e riu. — É o preço que devo pagar por ter uma sobrinha tão perfeita. Tê-la ainda dentro da minha barriga era totalmente diferente de tê-la em meus braços. Agora, a sensação era surreal. Transbordou tudo em mim, causando uma avalanche de sentimentos bons, sentimentos que eu nunca imaginei ser capaz de sentir. Kai sentou ao meu lado, e uma enfermeira veio me ajudar a colocar Rubi em uma p
Os hormônios devem levar um tempo até se estabilizarem, porque, quando a família entrou no quarto carregando balões e ursinhos — meu pai muito feliz, Olívia chorando e meus sobrinhos ansiosos para conhecer Rubi —, eu chorei de novo.Eu e Kai ainda não havíamos conversado sobre o que aconteceu, mas ele não parecia chateado ou, pelo menos, não demonstrava.— Olha como ela é linda — papai comentou, com os olhos cheios de lágrimas.— Obrigada, pai. Estou tão feliz que esteja aqui.— Eu não poderia não estar, minha filha. — Ele passou a mão em minha bochecha.— Me deixe segurá-la um pouco, pai. — Olívia pediu, ansiosa.— Façam uma fila, por favor. — Kai brincou. — Cadê Morgana e Alexander?— Não dava para entrar todo mundo, é muita gente. Eles estão esperando em casa com a mamãe. — Joshua explicou. — Ela está quase vindo a pé.— Você tem que ver, Cass. Ela não para de dizer "Eu deveria estar lá". — Olívia riu.— Oh, gente, vocês são tão bons comigo. Obrigada por virem. — Agradeci.— Tia, p
Finalmente, tivemos um momento a sós com nossa filha. A família saiu para passear e fazer compras, e somente eu e Cassidy ficamos em casa. Já faz uma semana que minha filha nasceu e, desde então, vem fortalecendo os laços entre nós dois. Eu continuo sem saber decifrar exatamente o que sinto por Cassidy, mas sei que é algo bom. Muito bom. — Ela dormiu? — Cassidy perguntou baixinho. Vê-la assim, tão... vulnerável e sensível, fez um turbilhão de novas sensações se acenderem em mim. Geralmente, é Olivia quem a ajuda com as coisas mais difíceis, mas eu sempre estou pronto para fazer o que for necessário. — Sim. — Murmurei. Pela primeira vez, fiz Rubi dormir em meus braços. Depois de ser bem alimentada, eu a peguei e consegui fazê-la dormir. Coloquei-a no berço e fiquei olhando para ela. — Você foi muito bem. — Cass elogiou. — Obrigado. — Kai, sente aqui comigo, por favor. — Pediu com gentileza e bateu no colchão. Eu fui. Ela está se recuperando bem da cirurgia, já consegue fazer
Depois de um mês desde o nascimento de Rubi, estamos a sós. E quando digo realmente a sós, quero dizer que estou no apartamento de Kai com nossa filha. Ele achou necessário que viéssemos morar com ele. No começo, Mike não gostou muito da ideia e sugeriu que eu ficasse na nossa casa, mas levei vários fatores em consideração. No fim, eu e Kai estamos nos dando bem, e acho que vale a pena dar essa chance. Como pai, Kai está fazendo um trabalho maravilhoso. Estávamos dormindo quando Rubi acordou chorando. Ele, todo confiante, levantou, foi até o berço, preparou a mamadeira e a colocou para dormir novamente depois que ela bebeu todo o leite. — Vocês dois se saíram muito bem sem mim — comentei sorrindo. — Você faz tudo melhor, mas eu preciso me acostumar. Ele deitou novamente e me abraçou. — Volte a dormir — sussurrou. E eu fiz. Dividimos o mesmo quarto, a mesma cama, como um casal de verdade. É diferente de tudo o que imaginei. Nós não brigamos, e o clima é sempre calmo
Eu não fiz isso. Eu tenho certeza de que não fiz isso. Depois que saí da reunião com meu advogado e as pessoas que estavam na sala, senti um misto de sensações: raiva, medo, confusão. Eu e Cassidy estamos indo bem e, de repente, a ideia de voltarmos a ser como antes me deixa inquieto. Sempre me considerei um cara de sorte, mas, ultimamente, tenho repensado isso. Só percebi meu telefone tocando momentos depois. — O que decidiu? — Joshua perguntou. — Por enquanto, nada. Até ter certeza do que está acontecendo, vou me manter em silêncio. Tenho Cassidy e Rubi agora, não posso agir sem pensar — respondi, ainda perdido em pensamentos. A linha ficou muda por alguns segundos. — Aconteça o que acontecer, a Cassidy deve saber por você, Kai. Não deixe que ela saiba por outras pessoas. Vocês precisam conversar, isso é muito sério. — Eu sei disso, mas não posso falar hoje. É o primeiro mês de vida da Rubi, não quero estragar o dia. — Entendo. Mas sabe o que fazer depois disso
Eu não planejei dizer isso. Não dessa forma. O arrependimento ameaçou invadir meus pensamentos, mas Kai se adiantou, beijando-me devagar, com carinho. Eu tentei. Tentei manter um certo distanciamento emocional dele, mas não consegui. Não quando convivo com ele todos os dias, vejo o quão bom pai ele é e o namorado incrível que se tornou. De repente, essa palavra se tornou pequena demais para mim. Eu queria mais. Eu queria tudo. — É o que eu sinto. Você não precisa me dizer de volta — murmurei. Kai franziu a testa, como se buscasse algo no fundo da mente. Talvez a resposta. — Eu nunca amei uma mulher, Cassidy. Mas percebi que gosto disso. De nós três, exatamente assim, como uma família — respondeu. — Eu acho que... quem sabe, se você ainda quiser oficializar mais as coisas... e-eu acho que sim, eu quero. — Tem certeza? — questionou. Ao ver minha confirmação, continuou: — Mesmo que eu não saiba expressar com palavras o que sinto, você é especial, Cassidy. Acredite em mim. — Nós