Eu vivi o mais puro medo e terror somente uma vez na vida. Hoje. Quando meu pai morreu, a dor foi profunda, mas era algo que eu sabia que viria. Ele estava com câncer e sua expectativa de vida era limitada. Foi devastador, mas não senti medo, apenas um vazio profundo e uma tristeza que parecia não ter fim. Mas hoje, enquanto eu corria com Cassidy nos braços, tudo que eu sentia era medo. Um medo profundo, que consumia tudo, medo do que eu não podia controlar, do desconhecido. Medo de perder. Eu deveria ter ligado para a emergência, mas não consegui. E se eles demorassem? E se algo os atrasasse? E se Cassidy piorasse enquanto esperávamos? Não havia espaço para "e se". A única solução que encontrei foi colocá-la no banco traseiro do carro e dirigir como um louco até o hospital mais próximo. — Estamos chegando, Cass... só mais um pouco, por favor, aguenta firme. — pedi, com a voz embargada. Ela estava acordada, mas mal. Os olhos fechados, a voz tão fraca que era impossíve
É como se eu não pudesse me lembrar de toda a dor e o medo que senti horas atrás. Segurar minha filha nos braços está em outro patamar de sensações incríveis. Rubi é perfeita. E ela já se tornou tudo. — Vem, Mike, vem ver a sua sobrinha — pedi, ainda com a voz embargada. Meu irmão, que estava mais afastado, se aproximou. Mostrei a bebê, e ele sorriu. Era evidente que também estava muito emocionado. — Parabéns, Cass. Ela é tão linda quanto você. — Ele passou a mão no meu cabelo. — Obrigada. Você vai ser o melhor tio do mundo — falei, sorrindo. — Vou mesmo. O mais babão. — Deu de ombros e riu. — É o preço que devo pagar por ter uma sobrinha tão perfeita. Tê-la ainda dentro da minha barriga era totalmente diferente de tê-la em meus braços. Agora, a sensação era surreal. Transbordou tudo em mim, causando uma avalanche de sentimentos bons, sentimentos que eu nunca imaginei ser capaz de sentir. Kai sentou ao meu lado, e uma enfermeira veio me ajudar a colocar Rubi em uma p
Os hormônios devem levar um tempo até se estabilizarem, porque, quando a família entrou no quarto carregando balões e ursinhos — meu pai muito feliz, Olívia chorando e meus sobrinhos ansiosos para conhecer Rubi —, eu chorei de novo.Eu e Kai ainda não havíamos conversado sobre o que aconteceu, mas ele não parecia chateado ou, pelo menos, não demonstrava.— Olha como ela é linda — papai comentou, com os olhos cheios de lágrimas.— Obrigada, pai. Estou tão feliz que esteja aqui.— Eu não poderia não estar, minha filha. — Ele passou a mão em minha bochecha.— Me deixe segurá-la um pouco, pai. — Olívia pediu, ansiosa.— Façam uma fila, por favor. — Kai brincou. — Cadê Morgana e Alexander?— Não dava para entrar todo mundo, é muita gente. Eles estão esperando em casa com a mamãe. — Joshua explicou. — Ela está quase vindo a pé.— Você tem que ver, Cass. Ela não para de dizer "Eu deveria estar lá". — Olívia riu.— Oh, gente, vocês são tão bons comigo. Obrigada por virem. — Agradeci.— Tia, p
Cassidy Anos atrásHoje é o meu aniversário, e toda a família se reuniu para comemorar. Em poucos meses, eu vou me formar no high school e, então, começar a faculdade — um novo capítulo da minha vida que espero ansiosamente. Meu irmão Michael já deu esse passo no ano passado, e em breve eu o acompanharei em Nova York. Tenho uma esperança secreta: que ao me mudar, minha vida mude também. Ou melhor, que eu mude.Desde os meus quase dezesseis anos, carrego um segredo que me atormenta. Sou apaixonada pelo cunhado da minha irmã, um homem que tem o dobro da minha idade e um histórico de mulherengo assumido. Kai Hoke é o tipo de pessoa que jamais olharia para mim, e eu sei disso. Essa é a razão pela qual anseio por essa mudança. Quero me libertar desse sentimento, esquecê-lo e seguir em frente. Pelo menos, é o que eu digo para mim mesma.– Cassidy, você está linda, querida – disse Kai, com a voz calma que sempre me desconcerta.Respirei fundo antes de responder.– Obrigada, Kai – agradeci,
Kai Hoke— Kai, vamos precisar viajar em breve, tudo bem? — Dylan, meu irmão, entrou na minha sala e afirmou. — Para onde? — Nova York, irmão. Início da fiscalização das obras do empreendimento do hospital. Teremos que ir, porque o cliente quer os responsáveis diretos lá, e não apenas "algum encarregado". — Fez aspas com os dedos e revirou os olhos. — Insuportável — murmurei. — Concordo, mas assinamos o contrato. Temos que ir — enfatizou. — Quando? — Semana que vem. Podemos passar no apartamento e ver como os meninos estão — sugeriu. — Sim, pelo menos não vai ser uma viagem totalmente perdida — ri. Mike já está lá há quase dois anos, e Cassidy foi no início desse ano, os dois são irmãos da minha cunhada e eu gostei deles logo que os conheci. Faz bastante tempo que não vejo os dois. Aqueles irmãos são como sobrinhos de verdade. Eu os amo como se fossem parte da minha família. Ir visitá-los não será tão chato assim. Podemos ver se estão precisando de alguma co
Cassidy Algumas coisas não mudam. O tempo passa, eu tenho mais oportunidades de viver minha vida, mas continuo presa nos meus pensamentos, imaginando como deve ser estar no lugar das mulheres nas fotos ao lado de Kai. Minha última aula terminou e eu estava indo para casa quando senti uma mão em meu ombro. Parei e me virei. — Cass. — Oi, Peter. — sorri, surpresa. Peter e eu trocamos poucas palavras neste ano, e quase não tivemos interações além de olhares e, como Mike diria, "um clima". — Então, vai rolar uma festa hoje. Topa? — perguntou. Pisquei, surpresa com o convite. Nunca tivemos intimidade além de um simples "bom dia". — Ah, obrigada, mas não sei se vou conseguir, tenho muito o que estudar — respondi, sorrindo sem graça. — Tudo bem, se mudar de ideia, esse é meu número. Até mais. — Ele me entregou um papel e sorriu. Peter tocou meu ombro antes de se afastar. Fiquei alguns segundos tentando entender a situação, mas logo dei de ombros e segui meu caminho.
Já faz uma semana que cometi a maior burrada da minha vida. O que eu tinha na cabeça para achar que Kai simplesmente iria sorrir para mim e me beijar apaixonadamente? Claro que ele fez o completo oposto. Estou exausta de sentir isso, de ficar olhando as notícias dele e vê-lo saindo com mulheres diferentes a cada fim de semana. Preciso acabar com esse sentimento de uma vez por todas. Mike percebeu minha tristeza nos últimos dias, mas disfarcei e disse que era apenas preocupação com as matérias difíceis. — Você parece muito triste, quer fazer algo? Olha, sei que não curto essas coisas, mas... — ele respirou fundo. — Vai ter uma festa amanhã à noite. Vai querer ir? — Quem é você e o que fez com meu irmão recluso? — sorri. — Está tudo bem, Mike. Não quero ir, vamos em outro lugar. Talvez ao shopping? — Você é a melhor irmã. Eu odiaria ficar mais de trinta minutos com aquele bando de idiotas se esfregando uns nos outros, suados e bêbados. — Falando assim, parece nojento — gargalhei.
Kai — Você já pode sair, querida, eu preciso trabalhar agora — falei.Observei a mulher saindo do banheiro usando um roupão de banho e me perguntei de onde ela tirou tanta intimidade para usar as minhas coisas.— Achei que passaria o dia com você — ela disse, sorrindo.Devo confessar: a mulher é linda. A noite de ontem foi intensa, para dizer o mínimo. Ela aceitou todos os meus desejos e topou tudo sem hesitar. Realmente foi uma experiência incrível, mas agora é hora de ir embora.— Infelizmente, não vai ser possível, Dania. Preciso trabalhar. Eu te vejo depois — falei com um sorriso, tentando não deixá-la desconfortável.— É Denise, seu idiota — reclamou, largando o roupão no chão.— Foi isso que eu disse, gata.— Você me chamou de Dania, imbecil — protestou, irritada.— É quase a mesma coisa — ri, debochado.Ela me fuzilou com o olhar antes de sair correndo do meu quarto. Suspirei, levantando da cama com preguiça, e caminhei até o banheiro. O dia na empresa prometia ser bem cheio.