Finalmente. Eu ralei muito todos esses anos, e agora, estou me formando. Minha família estava ali, e só a presença deles conseguiu acalmar um pouco do turbilhão na minha mente. O momento que eu tanto esperei havia chegado. Enquanto fazia meu discurso, já que fui escolhida para falar por ser a aluna com a maior nota da turma, meu olhar se encontrou com o dele. Kai. Ele estava sentado ao lado de Joshua, e aquele sorriso... Era maior e mais sincero do que eu jamais imaginei que ele pudesse dar. —... E à minha família: meu pai, meus irmãos, Joshua... Eu amo todos vocês. Obrigada por estarem comigo até aqui. Vocês são meu alicerce na vida. De hoje em diante, serei uma profissional exemplar e farei jus a tudo que aprendi aqui e na vida... Quero dizer em nome da turma que... – continuei, tentando transmitir cada palavra com o coração. Os aplausos vieram, fortes e cheios de emoção. Quando finalizei, voltei ao meu lugar entre os alunos, aguardando o encerramento da cerimônia. Quando
— Não entendo, Kai. Você e Peter se odeiam desde que se conheceram — comentei, tentando soar casual. — Por quê?Eu estava há dias tentando arrancar qualquer coisa dele, uma confissão, uma explicação ou, ao menos, alguma pista do que se passava em sua cabeça. Desde aquele breve encontro no restaurante, Kai parecia mais... cauteloso. — Não tenho nada contra aquele garoto. Só acho que ele é petulante demais — respondeu, com claro desgosto na voz. Eu estava organizando a bolsa que levaria à maternidade para quando chegasse o dia de Rubi nascer. Optei pelo parto normal, e Kai apoiou, então estamos aguardando nossa garotinha a qualquer momento. — Ele não é um garoto. Se disser isso perto de qualquer fã dele, vai se dar mal — ri. — Ele é tão gentil e carismático. — Argh, preciso ouvir você elogiando seu ex-namorado? Sério? — Desculpe, eu só estava curiosa sobre essa rivalidade de vocês — dei de ombros. — Não é uma rivalidade. Só optei por não ter nenhum contato. — Sei — ri,
Eu vivi o mais puro medo e terror somente uma vez na vida. Hoje. Quando meu pai morreu, a dor foi profunda, mas era algo que eu sabia que viria. Ele estava com câncer e sua expectativa de vida era limitada. Foi devastador, mas não senti medo, apenas um vazio profundo e uma tristeza que parecia não ter fim. Mas hoje, enquanto eu corria com Cassidy nos braços, tudo que eu sentia era medo. Um medo profundo, que consumia tudo, medo do que eu não podia controlar, do desconhecido. Medo de perder. Eu deveria ter ligado para a emergência, mas não consegui. E se eles demorassem? E se algo os atrasasse? E se Cassidy piorasse enquanto esperávamos? Não havia espaço para "e se". A única solução que encontrei foi colocá-la no banco traseiro do carro e dirigir como um louco até o hospital mais próximo. — Estamos chegando, Cass... só mais um pouco, por favor, aguenta firme. — pedi, com a voz embargada. Ela estava acordada, mas mal. Os olhos fechados, a voz tão fraca que era impossíve
É como se eu não pudesse me lembrar de toda a dor e o medo que senti horas atrás. Segurar minha filha nos braços está em outro patamar de sensações incríveis. Rubi é perfeita. E ela já se tornou tudo. — Vem, Mike, vem ver a sua sobrinha — pedi, ainda com a voz embargada. Meu irmão, que estava mais afastado, se aproximou. Mostrei a bebê, e ele sorriu. Era evidente que também estava muito emocionado. — Parabéns, Cass. Ela é tão linda quanto você. — Ele passou a mão no meu cabelo. — Obrigada. Você vai ser o melhor tio do mundo — falei, sorrindo. — Vou mesmo. O mais babão. — Deu de ombros e riu. — É o preço que devo pagar por ter uma sobrinha tão perfeita. Tê-la ainda dentro da minha barriga era totalmente diferente de tê-la em meus braços. Agora, a sensação era surreal. Transbordou tudo em mim, causando uma avalanche de sentimentos bons, sentimentos que eu nunca imaginei ser capaz de sentir. Kai sentou ao meu lado, e uma enfermeira veio me ajudar a colocar Rubi em uma p
Os hormônios devem levar um tempo até se estabilizarem, porque, quando a família entrou no quarto carregando balões e ursinhos — meu pai muito feliz, Olívia chorando e meus sobrinhos ansiosos para conhecer Rubi —, eu chorei de novo.Eu e Kai ainda não havíamos conversado sobre o que aconteceu, mas ele não parecia chateado ou, pelo menos, não demonstrava.— Olha como ela é linda — papai comentou, com os olhos cheios de lágrimas.— Obrigada, pai. Estou tão feliz que esteja aqui.— Eu não poderia não estar, minha filha. — Ele passou a mão em minha bochecha.— Me deixe segurá-la um pouco, pai. — Olívia pediu, ansiosa.— Façam uma fila, por favor. — Kai brincou. — Cadê Morgana e Alexander?— Não dava para entrar todo mundo, é muita gente. Eles estão esperando em casa com a mamãe. — Joshua explicou. — Ela está quase vindo a pé.— Você tem que ver, Cass. Ela não para de dizer "Eu deveria estar lá". — Olívia riu.— Oh, gente, vocês são tão bons comigo. Obrigada por virem. — Agradeci.— Tia, p
Cassidy Anos atrásHoje é o meu aniversário, e toda a família se reuniu para comemorar. Em poucos meses, eu vou me formar no high school e, então, começar a faculdade — um novo capítulo da minha vida que espero ansiosamente. Meu irmão Michael já deu esse passo no ano passado, e em breve eu o acompanharei em Nova York. Tenho uma esperança secreta: que ao me mudar, minha vida mude também. Ou melhor, que eu mude.Desde os meus quase dezesseis anos, carrego um segredo que me atormenta. Sou apaixonada pelo cunhado da minha irmã, um homem que tem o dobro da minha idade e um histórico de mulherengo assumido. Kai Hoke é o tipo de pessoa que jamais olharia para mim, e eu sei disso. Essa é a razão pela qual anseio por essa mudança. Quero me libertar desse sentimento, esquecê-lo e seguir em frente. Pelo menos, é o que eu digo para mim mesma.– Cassidy, você está linda, querida – disse Kai, com a voz calma que sempre me desconcerta.Respirei fundo antes de responder.– Obrigada, Kai – agradeci,
Kai Hoke— Kai, vamos precisar viajar em breve, tudo bem? — Dylan, meu irmão, entrou na minha sala e afirmou. — Para onde? — Nova York, irmão. Início da fiscalização das obras do empreendimento do hospital. Teremos que ir, porque o cliente quer os responsáveis diretos lá, e não apenas "algum encarregado". — Fez aspas com os dedos e revirou os olhos. — Insuportável — murmurei. — Concordo, mas assinamos o contrato. Temos que ir — enfatizou. — Quando? — Semana que vem. Podemos passar no apartamento e ver como os meninos estão — sugeriu. — Sim, pelo menos não vai ser uma viagem totalmente perdida — ri. Mike já está lá há quase dois anos, e Cassidy foi no início desse ano, os dois são irmãos da minha cunhada e eu gostei deles logo que os conheci. Faz bastante tempo que não vejo os dois. Aqueles irmãos são como sobrinhos de verdade. Eu os amo como se fossem parte da minha família. Ir visitá-los não será tão chato assim. Podemos ver se estão precisando de alguma co
Cassidy Algumas coisas não mudam. O tempo passa, eu tenho mais oportunidades de viver minha vida, mas continuo presa nos meus pensamentos, imaginando como deve ser estar no lugar das mulheres nas fotos ao lado de Kai. Minha última aula terminou e eu estava indo para casa quando senti uma mão em meu ombro. Parei e me virei. — Cass. — Oi, Peter. — sorri, surpresa. Peter e eu trocamos poucas palavras neste ano, e quase não tivemos interações além de olhares e, como Mike diria, "um clima". — Então, vai rolar uma festa hoje. Topa? — perguntou. Pisquei, surpresa com o convite. Nunca tivemos intimidade além de um simples "bom dia". — Ah, obrigada, mas não sei se vou conseguir, tenho muito o que estudar — respondi, sorrindo sem graça. — Tudo bem, se mudar de ideia, esse é meu número. Até mais. — Ele me entregou um papel e sorriu. Peter tocou meu ombro antes de se afastar. Fiquei alguns segundos tentando entender a situação, mas logo dei de ombros e segui meu caminho.