Giovanna
- Oh meu Deus! Eu não acredito que você é a porra da Gi. Minha nossa! – Penélope repetia isso há quinze dias sem parar e, como sempre, eu não dizia nada sobre isso.
Eu passei por todos os estágios que eu poderia passar dentro de um curto período de duas semanas que pareciam uma eternidade. Mas, como eu dizia na última frase do meu livro: Aquilo que não nos mata, nos fortalece.
Bem, eu estava quebrada, mas iria juntar cada pequeno pedaço e ficaria forte para o meu filho – O carro está aí – ela anunciou. E pegou a minha bolsa que estava sobre a penteadeira e me entregou.
Eu dei uma última olhada no meu reflexo no espelho e não me reconheci. Aquele rosto perfeitamente maquiado contrastava com a minha alma. Eu não escolhi nada, nem o vestido azul, solto abaixo do seios, nem os sapatos prateados, nem o modo como meu cabelo estava arrumado em um penteado meio preso meio solto, nem a cor do lápis que delineava os meus olhos. Nada. Penélope, Lucy e Antonella juntas, que por sinal haviam se tornado boas amigas durante o período em que se revezavam para cuidar de mim, foram as únicas a escolher tudo.
Quando Matteo deixou o seu quarto, no dia em que o mundo desabou sobre a minha cabeça, Tony o seguiu me deixando para trás com Penélope e Antonella. Eu não tinha energia para explicar tudo o que havia acontecido. Então, apenas peguei o novo livro que estava em cima da mesinha de cabeceira e mostrei pras duas mulheres atônitas paralisadas no meio do quarto. Penélope ainda se recuperando do seu surto violento. Quando ela me olhou perguntando silenciosamente o que eu queria dizer com aquilo, tudo que eu consegui articular foi: - Esta sou eu.
Depois do choque inicial, seguido da revolta de Penélope por eu não ter dito nada a ela e depois a euforia com a possibilidade de ser uma das primeiras pessoas a ler o livro e dividir o apartamento com uma autora “anônimo-famosa” da qual ela era simplesmente fã, ambas perceberam que eu estava longe de querer pensar sobre a minha profissão. Eu estava destruída e precisava ser levada dali.
Meus pais escolheram esse momento para aparecer e, após Penélope fazer um resumo do ocorrido, os dois me colocaram no carro, apenas com uma pequena valise arrumada por Penélope e eu fui trazida de volta ao Brera, para o apartamento que eu dividia com Penélope, apesar da insistência dos meus pais em me levar pra casa. Pois eu precisava ficar sozinha.
Desde então, eu não tive qualquer notícia de Matteo. Pois, apesar da tentativa de Antonella e Penélope de me dizerem qualquer coisa, elas respeitaram o meu desejo de não ouvir sequer a pronúncia do seu nome. Todas as minhas coisas foram trazidas pelas duas. Tanto as que estavam na casa da vinícola como as da mansão. Os pais dele estiveram no meu apartamento e foram um poço de delicadeza, se limitando a procurar saber como eu estava, como estava o bebê e me deixando saber que eu poderia contar com eles em qualquer momento. O mesmo em relação a Tony, que passou a frequentar o apartamento sob o pretexto de me ver, mas que, no fundo, eu suspeitava que ele estava mesmo interessado em ver Penélope. Não que ele não se interessasse pelo bebê. Eu podia ver que ele se preocupava. Mesmo as insinuações de Matteo sobre o filho não ser dele não foram sequer trazidas à tona. Era como se isso não fosse uma opção.
Entrei no carro, guiada por um elegante chofer vestido em um terno azul marinho, seguida por Penélope. Lucy me encontraria lá e também a minha família e a família de Matteo que fizeram questão de estarem lá em peso. Lucy providenciou para que todos recebessem convites.
Um dos pedidos de Lucy era que eu chegasse muito cedo. Antes que os repórteres se acumulassem na entrada. Ela queria enviar uma limusine, mas eu consegui convencê-la de que, se ela queria discrição, não iria conseguir isso com uma limusine. Notei que os dois carros que elas disse que enviaria, além do meu, com duas mulheres em cada um, estavam parados na frente do meu carro. O objetivo era confundir. Eu até tive vontade de sorrir, pensando que Lucy estava no emprego certo, pois ela adorava um mistério.
Quando chegamos ao local, já havia alguns repórteres que tiravam fotos e perguntavam qual de nós era a autora. Assim que entramos, Lucy me arrastou, junto com Penélope, para uma sala fechada. – Graças a Deus vocês chegaram.
Eu me sentei em uma cadeira confortável no canto, enquanto Penélope andava de um lado para o outro do cômodo. Ela parecia mais nervosa do que eu – Como você está? – Lucy quis saber.
- Eu estou bem.
- Você não tem que me dizer isso. Eu sei que você não está bem coisa nenhuma, mas esse é o seu momento. Sua carreira. As pessoas que estarão aqui hoje querem te conhecer de verdade. Muitas delas estão te acompanhando há anos e estão curiosas para saber se aquela Gi com quem eles conversavam pelas redes sociais, embora nunca tenham visto a sua cara, seja a mesma pessoa. Eu sei que você está enfrentando uma barra e sei que você acaba de ter uma perda muito significativa na sua vida. É mais do que perder alguém, é perder a fé nas pessoas. Porém, você tem muitas razões para seguir adiante. Esse filho que você carrega aí dentro é a principal delas e esse outro filho que veio daí de dentro e que está nascendo hoje para o mundo é outra. Se agarre ao que você tem e siga em frente.
De alguma maneira, essas palavras de Lucy não poderiam ter vindo em melhor momento. Nunca algo foi tão certo. Eu tinha um laço com meus leitores. Pessoas que me acompanham e que apoiam o meu trabalho sem nunca terem visto a minha cara. Eu tinha uma missão e eu iria abraça-la. Além disso, eu tinha meu filho. Eu seria a sua fortaleza. Eu o protegeria e nós teríamos um ao outro. Eu era uma sobrevivente. Eu iria sobreviver a Matteo Mazza.
- Você está certa. Eu não estou bem, mas vou ficar e farei desta noite um sucesso.
- É assim que se fala.
A sala onde eu estava era espaçosa. Em um canto havia uma pequena mesa com alguns coquetéis, água, suco e café. Mas eu não sentia fome. Poderia perfeitamente não ter comido nada o dia inteiro se Penélope não tivesse me empurrado uma sopa. Mas de hoje em diante, por mais difícil que fosse, eu iria reagir. Não se tratava só de mim, afinal.
Meus pais chegaram em seguida. Não paravam de dizer o quanto estavam orgulhosos de mim. – Meu Deus, em pensar que você escreveu todos aqueles livros debaixo do meu nariz e eu nem tinha ideia disso – Disse a minha mãe num misto de empolgação e reprovação. Em seguida chegaram o meu irmão, Tony e Antonella, seguidos dos seus pais. Luci havia providenciado para que todos me encontrassem na sala privada e apenas sairiam quando fosse o momento da apresentação. Eu faria um pronunciamento, em seguida uma rodada de perguntas e respostas, que segundo Lucy era para acalmar os repórteres e só então, a sessão de autógrafos e fotos. Havia três stands espalhados no salão para venda dos livros novos e também os antigos, para aqueles que quisessem autografar. Ela mesma já havia feito uma nova tiragem de cada um dos livros, pois segundo ela, mesmo quem já tinha, iria querer um novo, agora autografado.
Ela tinha tomado o cuidado de limitar esse primeiro evento. Nos próximos dias haveria outros.
Penélope foi diversas vezes até o salão e cada vez voltava mais empolgada. Segundo ela, estava lotado. No horário combinado, Lucy repassou comigo toda a programação e me guiou para a parte de trás do pequeno palco onde eu falaria para os convidados e de onde eu responderia algumas perguntas.
- Senhoras e Senhores. Nós gostaríamos de agradecer a presença de todos vocês aqui esta noite. É compreensível que estejam ansiosos por conhecer a nossa talentosa escritora de romances. Romances esses que foram verdadeiros sucessos de venda. Ao ponto de um deles ser selecionado para uma adaptação para a telona. Mas antes de trazê-la aqui, eu gostaria de falar um pouco sobre como foi ser agente e admiradora do seu trabalho durante todo esse tempo.
- Bem, eu sou a sua agente durante todos esses anos e, ciente do enorme talento dela em escrever grandes obras e envolver o público em suas histórias, eu me senti bastante angustiada por desejar apresenta-la ao mundo. Por ser, além de agente, uma grande fã do seu trabalho, eu queria que ela recebesse publicamente todo o reconhecimento que lhe era devido. No entanto, ela não estava pronta. Confesso que foi angustiante, mas hoje, olhando pra essa sala lotada de leitores que admiram seu trabalho e de saber os inúmeros convites que foram adquiridos para apresentações futuras, as entrevistas solicitadas e todo o burburinho que gira em torno da nossa querida autora, eu creio que tudo tem o seu momento. Durante anos, Gi plantou histórias, aventuras, sonhos e amor. Hoje, porém é o dia de colher os frutos desse trabalho. Senhoras e Senhores, eu lhes apresento Giovanna Greco.
Eu estava sozinha atrás do palco, por que todos os demais estavam junto aos outros convidados para assistirem a tudo. Então, já que não tinha ninguém para me empurrar em direção ao palco, confesso que eu hesitei um pouco. Mas quando Lucy olhou pra mim com uma alegria clara estampada em seu rosto, eu pensei no quanto ela esperou por esse momento. E, antes que eu pudesse pensar mais, eu estava caminhando decididamente em direção ao palco sob ensurdecedores aplausos.
Foi surreal ver a minha família e a família de Matteo sentados nas primeiras fileiras com evidente orgulho e todas aquelas pessoas estavam ali por minha causa. Eu fui tomada por um misto de orgulho e pânico. Mas aos poucos eu fui me acalmando.
Os aplausos foram diminuindo até silenciarem e todos estavam atentos. Eu aceitei o microfone que Lucy e antes de dizer qualquer coisa, olhei em volta. Eu ficava muito tempo conectada às redes sociais, onde eu participava de inúmeros grupos de leitura e onde eu fiz muitas amigas com as quais conversava bastante. Embora elas nunca tenham me visto, eu as via diariamente. Suas fotos dos perfis, suas atualizações, sua família... Pude reconhecer muitos rostos dos presentes. Boa parte daquelas pessoas, além da minha família e da de Matteo e de algumas pessoas famosas, eram pessoas conhecidas pra mim e isso foi o calmante que eu precisava para conseguir dizer algumas palavras. – Boa noite as todos os presentes.
Um “Boa noite” coletivo ecoou no grande salão e eu continuei - Bem, eu gostaria de começar agradecendo a cada um de vocês por estarem aqui hoje. Vocês não têm ideia do quanto isso significa pra mim. Mas eu quero agradecer não apenas por isso. Durante os últimos anos, muitos de vocês acompanharam o meu trabalho e, apesar de não terem visto meu rosto ou ouvido a minha voz, eu posso dizer que vocês viram a melhor parte de mim. Quando eu decidi publicar o meu primeiro livro, tudo o que eu queria era que ele fosse lido e que as pessoas gostassem dele. Mas vocês superaram todas as minhas expectativas e fizeram isso acontecer. Vocês já devem ter percebido o quão tímida eu sou, no entanto, vejo que o que nos une é muito maior. Maior que eu, maior até que a minha timidez. Mas eu não deveria me surpreender, afinal, não é isso que fazem os livros? Eles nos mostram o mundo, unem as pessoas, mudam o mundo... Então, eu gostaria de dizer que eu estou feliz de estar aqui hoje e é um prazer conhece-los... de novo. Obrigada.
Mais uma onda de aplausos e os repórteres se aproximaram para fazer as perguntas. Uma equipe os organizou e Lucy me colocou sentada diante de uma mesa retangular de vidro, ela se sentou ao meu lado e um representante da indústria cinematográfica do outro.
Quando todos tomaram os seus lugares, eu senti o meu peito se comprimir. Uma coisa era ir para o centro do palco, fazer um discurso e sair. Outra era estar exposta a perguntas que você não tinha ideia do que se trataria. Lucy me garantiu que se livraria de perguntas inconvenientes.
O primeiro repórter empunhou seu iphone em minha direção e fez a primeira pergunta após se identificar. Ele era de um blog para o qual eu escrevia – Srta. Greco, primeiro eu quero parabeniza-la por todo o sucesso. Em seguida, você deve imaginar o quanto nós estamos surpresos com esta revelação. Você tem uma coluna fixa no nosso blog e não tínhamos ideia de que trabalhávamos com ninguém menos que a escritora mais badalada do momento. Eu estou impressionado. Agora, quanto a minha pergunta, qual foi o real motivo de você ter se mantido anônima por tanto tempo.
- Olá Gerard. Bem, como eu disse, quando eu publiquei o meu primeiro livro, eu só queria que as pessoas gostassem dele. Nunca esteve nos meus planos uma publicidade pessoal. Claro que todo mundo quer o seu trabalho reconhecido e eu tinha isso, mesmo não aparecendo. Eu me sentia realizada com a recepção que a obra teve, com os recadinhos que eu recebia e ainda recebo dos meus leitores. O feedback que fez com que eu aprimorasse meu trabalho ao longo do tempo... As pessoas amaram as histórias e isso era tudo o que eu queria. Eu sou uma pessoa muito reservada. Então, eu diria que timidez foi o principal ingrediente. Além disso, eu devo acrescentar que a segurança para escrever veio aos poucos. À princípio era um prazer... um escape... algo para me satisfazer. Como eu disse, eu sou muito tímida, então o primeiro livro é o oposto de como as pessoas me vêm. A Meg é desinibida, ela fala o que tem vontade e nada fica sem uma resposta dela. Só pra vocês terem uma ideia, muitas das falas da Meg, são coisas que eu queria ter dito em determinadas situações e não disse...
Outro repórter, desta vez de um dos principais periódicos locais, foi o primeiro a perguntar sobre o livro que estava sendo lançado naquele instante. As pessoas estavam tão interessadas em conhecer a autora que a pergunta demorou mais do que eu esperava – Giovanna, eu gostaria de saber sobre o livro que está sendo lançado hoje, Pain. Nós, os jornalistas, recebemos um exemplar antecipadamente e, eu pude perceber que ele foge um pouco da linha dos seus outros livros. É um livro incrível, uma história interessante, eu devo dizer, mas... é um pouco mais triste do que a Gi costumava escrever. O que te motivou a falar sobre o tema? O que fez com que você embarcasse por esse caminho... doloroso, digamos assim?
- Obrigada por sua pergunta. Bem... – eu pensei no que eu poderia dizer sobre isso sem expor a minha relação com Matteo – O livro conta a história de alguém cuja vida foi totalmente destruída por uma perda e, depois disso, ele nunca mais foi o mesmo. A personagem se apaixona por ele e acredita que pode salvá-lo... Eu não quero dizer mais do que isso, por causa daqueles que ainda não leram, mas o ponto central disso tudo é que, no processo de salvar alguém você tem que ter muito cuidado para não se perder. Agora, sobre eu mudar o meu rumo, bem. Nós somos moldados pelos acontecimentos a nossa volta. Talvez eu tenha conhecido Pain e, talvez eu tenha me deixado contagiar pela sua dor.
Outro repórter levanta a mão – Ainda sobre isso... Parece que você se deixou contagiar pelo personagem, isso é muito comum no mundo literário ou mesmo na TV onde as pessoas que interpretam um personagem precisam de um tempo para se desintoxicar, digamos assim, do personagem. Você já fez esse processo de desintoxicação ou ainda está sob a influência do personagem que você criou.
- Olha, eu acho que Pain é parte de mim agora. Não importa quanto tempo passe ele... nunca sairá do meu sistema.
Uma série de outras perguntas choveu em seguida e para minha surpresa, dos meus pais e de Lucy eu tirei de letra. Lucy e o Sr. Michael que veio para falar sobre o filme responderam a algumas perguntas também e passamos aos autógrafos. Havia muita gente em volta e, enquanto eu estava autografando o livro, acabava rolando alguma conversa. Mesmo quem já tinha tido seu momento comigo acabava ficando por ali e retinha um pouco o fluxo. Meu campo de visão era muito limitado, ao ponto de eu não conseguir ver Lucy, que até então vinha sempre perto de mim.
Eu estava ainda falando com uma leitora com quem eu conversava pelo f******k a cerca de dois anos quando um livro foi colocado na minha frente. Eu olhei primeiro para o livro e quando eu ergui meu olhar para cumprimentar a próxima pessoa, meu coração pulou uma batida para em seguida bater acelerado. Matteo estava diante de mim, com as duas mãos espalmadas sobre a mesa uma de cada lado do livro. Eu não conseguia dizer uma só palavra e o tempo parecia que tinha simplesmente parado. Ele estava horrível. Os olhos castanhos que eu tanto amava estavam rodeados de uma mancha escura. Ele estava magro e sua barba estava por fazer.
- Eu fiz isso com você? – ele perguntou apontando para o livro. Eu entendi claramente que ele se referia ao que eu passei quando nos separamos da primeira vez. Pensando sobre isso, eu vi que não tinha comparação. Eu estava arrasada sim, mas tudo que eu tinha era a perspectiva de que Matteo não me quisesse e, tampouco, o filho que eu carregava em meu ventre. Agora? Bem, ele havia feito isso com todas as letras. Ele não era digno da minha confiança. Nem do meu amor. Eu não o queria na vida do meu filho. Não desse filho que ele desprezou.
- Não – eu consegui dizer – você fez pior, Matteo. Por que o que você fez aqui – eu toquei no livro – eu pude perdoar. Mas agora... não mais.
Ele fechou os punhos com tal força que os nós dos seus dedos estavam esbranquiçados. - Eu quero você de volta, Giovanna. – ele sussurrou. Eu torcia para que ninguém percebesse o que estava acontecendo. Eu não queria nenhuma atenção sobre isso. Então eu peguei o livro que ele havia colocado sobre a mesa e, ao abrir, percebi que era o mesmo livro que eu havia recebido na vinícola. Eu o identifiquei por que depois de Matteo ter aberto o embrulho naquele dia, eu rabisquei uma dedicatória para ele. Eu pretendia contar-lhe naquele dia sobre quem eu era. Mas eu acabei encontrando com ele on line e as coisas simplesmente saíram do controle. Eu li a frase que eu havia escrito na ocasião. “Não importa o nome que eu use. A verdade nisso tudo é que eu amo você.”- Não me diga que isso foi uma mentira – ele pediu em tom de súplica.
- Não foi. Mas o fato é que você não é bom pra mim, Matteo. Você não é bom pra ninguém. É só uma bomba relógio que faz tic-tac e as pessoas em volta vivem temerosas sobre quando e como você vai explodir. Eu não quero você na minha vida e nem na vida do meu filho.
- Meu filho – ele disse.
- Não. Meu e provavelmente do seu irmão – eu disse em tom assustadoramente calmo. Eu não me reconhecia respondendo desta maneira, mas isso era o efeito Matteo sobre mim.
- Eu sinto muito por isso – Sua voz era suave. Quase implorando – Sei que falei bobagem, mas eu te amo e ao nosso filho.
- Então, se você nos ama realmente vai querer o que é melhor pra gente. E isso, definitivamente, não é você.
Seu rosto tinha uma expressão de espanto, como se tivesse levado um soco. Eu empurrei o seu livro, o livro que ele havia trazido com ele, o primeiro volume que eu recebi, em sua direção. – Obrigada por sua presença Senhor, mas o seu livro já está autografado. – Ele segurou o livro, deu dois passos para trás ainda atônito, como se tivesse sido esbofeteado, e em seguida se virou e se foi. Eu forcei um sorriso para o próximo da fila e respondi as suas perguntas enquanto autografava três livros que ele havia adquirido. Só Deus era capaz de saber o quanto eu estava destruída naquele momento. Mas cumpri com o meu papel. Eu repetia, silenciosamente, que aquelas pessoas não tinham nada a ver com os meus problemas e que eram merecedoras de todo o meu respeito e consideração.
Todos os meus familiares e os de Matteo me olhavam com preocupação e de repente toda aquela confiança e determinação construída no início do evento se foi. Apesar de sorrir, eu podia sentir o abatimento tomando conta de mim. Tudo que eu queria era poder derramar as lágrimas que eu estava fazendo tanto esforço para segurar. Minha mandíbula doía e eu me sentia um lixo. Mas aguentei firme.
Matteo Enquanto eu saia do evento, uma mão me alcançou e, mesmo antes de ver quem era, eu sabia que era Tony. Ele tinha uma expressão simpática. Ele sabia o quanto eu estava destruído depois de falar com ela.- Eu não deveria ter vindo – eu disse. Desviando meu olhar para a saída onde alguns leitores que não conseguiram o convite e alguns repórteres que não foram selecionados para a coletiva esperavam.- Sim, você deveria.- Ela me odeia, Tony. Ela me disse para ficar longe por que eu fazia mal pra ela e para o bebê. Entende isso? Eu não quero machuca-lo, porra! Nem a ela.- Ela está magoada, Teo, o que é compreensível. Você sabia que essa porra não seria fácil. O que ela te disse não é nenhuma novidade. Você sabia que seria assim.- Mas talvez ela tenha razão. Talvez fosse melhor para a criança se ela não tiver que conviver com um pai tão fodido como eu estou. Meu irmão segurou meus ombros, uma mão de cada lado para chamar a minha atenção. – Nem mesmo você acredita nesta merda. É o
Giovanna- Você está bem? – Penélope perguntou quando entramos em casa. Eu não disse uma palavra durante todo trajeto. Estava exausta. Minhas pernas doíam, assim como as minhas costas e cabeça.- Sim, apenas com dores por passar tanto tempo sentada.- Eu me refiro a Matteo? Você está bem depois daquilo?- Eu não quero falar sobre isso.- Giovanna, em algum momento nós vamos ter que falar sobre isso. Quinze dias se passaram desde aquela tarde dos horrores e eu tenho tentado ser uma boa amiga e esperar o seu tempo. Mas eu preciso falar...- O que você quer dizer Penny.- Eu quero dizer que Matteo é um imbecil...- Isso eu já sei de primeira mão. Por favor, seja mais original.- Não me interrompa quando estou falando. – Ela bradou com aquela autoridade típica de mãe e o meu cansaço me obrigou a obedecer como uma filha – Eu dizia que ele é um imbecil, mas ele é louco por você. Eu não acho que ele esteja certo, mas eu também acho que você não está.- Ai que ótimo, agora a culpa é minha – A
Giovanna As palavras de Penélope martelavam na minha cabeça. Eu sei que a magoei com as minhas mentiras... quer dizer. Eu não menti, uma vez que eu dizia uma das coisas que eu fazia que era escrever para alguns jornais, sites e blogs. Mas eu omiti um detalhe importante da minha vida e eu não podia ignorar que havia magoado a minha melhor amiga e os meus pais. Sim, todos estavam orgulhosos sobre o meu trabalho, mas eu não perdi nenhum olhar de repreensão. Mesmo minha mãe me perguntou se eu não confiava nela o suficiente para compartilhar essa informação. O desabafo de Penny também não me passou despercebido na noite passada. Eu menti sim e eu magoei as pessoas. Mas com Matteo foi ainda pior por que eu usei a relação que eu criei com ele na rede social para manipulá-lo e convencê-lo a investir em nosso relacionamento e se abrir comigo. Matteo pisou na bola, mas eu também não estava orgulhosa de mim. Eu ainda não havia pedido desculpas por isso, embora não tenha mesmo tido oportunidade
- Então, vocês querem saber o sexo? – Matteo me olhou questionando. Eu sabia o quanto ele estava curioso sobre isso. Segundo ele, não era uma questão de preferência. Era apenas curiosidade. Ele queria pensar em tudo, planejar tudo. E saber o sexo ajudaria. Eu também queria saber, mas não tanto quanto ele. Eu havia pensado sobre manter o suspense até o dia do nascimento. Mas, por outro lado, era bom planejar.- Sim – Eu disse e vi o alívio claro em seu semblante. - Bem então vamos lá. – O gel frio fora espalhado na minha barriga saliente e o aparelhinho começou a deslizar de um lado para o outro. À princípio, o médico apertou alguns botões do teclado, como se estivesse capturando imagens – Só mais um instante... você vê? – ele apontou para uma imagem um pouco disforme – tcham... tcham... tcham... tchammm – Eu queria rir com a empolgação do médico e ao mesmo tempo com todo o clima de suspense que ele criava deixando Matteo ainda mais louco. Eu podia ver que ele adorava o que fazia. Mas
- Como eu estou? – Foi a primeira coisa que Penélope me perguntou quando entrou no quarto que foi designado para que eu me arrumasse na mansão. Ela vestia um modelo lilás de deixar qualquer um de boca aberta. Por que eu não tive tempo de escolher os modelos das madrinhas e deixei tudo ao encargo dela. Claro que ela queria um vermelho ou algo assim, mas teve que se contentar com o lilás, que a organizadora de casamentos designou para não fugir a paleta de cores e também havia as outras madrinhas: Antonella e Juliana, a minha amiga de infância, que veio à Itália especialmente para a cerimônia.- Você está magnífica – eu disse.- Bem, eu aceito o elogio, mas eu sei que não estou como você. Você sim está uma princesa. Eu nem acredito que você vai se casar. Ainda tem aquela sua amiga de infância que eu tive que aguentar.- Owww! Eu adoraria me ver, mas tenho que seguir a tradição de não me olhar no espelho. Juro que eu até pensei em fazê-lo, mas em seguida retirar alguma peça da minha vest
- Oh! Meu Deus, querida – Matteo me tocava em todos os lugares. – Você está bem? - Eu balancei a cabeça afirmativamente para que ele soubesse que fisicamente eu estava bem, mas as palavras apenas não saíam. – Que porra foi isso, Martinelli? – ele começou dizendo, mas então eu vi o seu rosto se transformar. Eu segui a direção do seu olhar e meu coração disparou com o que eu vi. Havia sangue, muito sangue, no braço de Martinelli – Porra! Martinelli. Oddio! Aguente firme. Vou chamar ajuda pra você.- Eu estou bem, senhor. Foi de raspão. Eu vou ficar bem. Eu não tenho ideia de onde isso veio. Eu apenas agi quando ouvi o primeiro disparo e a cobri com o meu corpo. Não tenho dúvidas de que foi direcionado à ela.- Porra! – Matteo pegou o telefone e ligou para a emergência. Tony chegou e nos guiou todos para uma sala reservada à direita da entrada para que os nossos convidados não ficassem mais assustados e onde poderíamos ter mais assistência e privacidade.- Matteo! Fique calmo. Eu estou c
Não sei se era a visão de Matteo ao final do longo corredor, cercado de pilares de mármore branco-rosa da Candoglia, hoje escurecido pelo tempo, que me tirou a capacidade de olhar para a catedral como eu fiz toda a minha vida. eu ficava encantada com a magnitude do templo e, como fiel admiradora de obras de arte, eu repassava uma e outra vez a história da Catedral, os vitrais valiosos, as estátuas que ornamentam a fachadas e os telhados do prédio... Bem, hoje nada disso me chamou atenção, nem mesmo os inúmeros convidados ao longo do caminho. Apenas aquele homem, o meu homem, me esperando ao final, me importava hoje. Apartir de hoje eu seria dele e ele seria meu. Meu pai não pode evitar ficar emocionado, nem a minha mãe pelo que eu podia ver. Com os pais de Matteo não foi diferente e a cerimônia, depois de toda a aventura que passamos hoje, foi linda e curta o suficiente apesar de bem tradicional. Nós cumprimos a maioria das formalidades, como o cumprimento de cada um dos convidados
MatteoFiz um aceno para Ettore quando deixamos a pista de dança. Ele estava atento durante toda a recepção e percebeu meu gesto imediatamente. - Estaremos prontos para partir em instantes. – informei – Vamos apenas nos despedir dos nossos familiares e Giovanna vai jogar o bouquet conforme o programado.- Vou alertar a equipe. O seu irmão providenciou um carro blindado com divisória. Eu e outro colega iremos na parte da frente. Ele vai dirigir para que eu possa estar mais atento e o Senhor e a Sra. Mazza poderão ter mais privacidade e segurança até o local – Já temos dois dos nossos checando o nosso destino.- Obrigado. – eu disse e guiei Giovanna para a nossa mesa, para que ela pudesse beber alguma coisa e em seguida nos despediríamos.- Você realmente acha que tudo isso é necessário? – ela disse quando nos sentamos.Encolhi os ombros. Não queria deixa-la ainda mais preocupada - Não custa prevenir.- Eu fico assustada só de imaginar que as suspeitas podem ser verdadeiras. Eu já pen