Trento:
Chego eu e Filipe nas escadarias principais do castelo escoltados por dois soldados, creio que estavam se certificando de que compareceríamos ao gabinete de meu pai. Viro-me de frente para os soldados, parando abruptamente:
— Muito obrigado pela companhia, entretanto, seguimos só nós dois — retorno ao trajeto.
No corredor, bem próximo ao gabinete do rei, ainda com o cabelo molhado Filipe chacoalha a cabeça balançando os cabelos, e neste ato seu cotovelo derruba um vaso de cristal que estava posto em cima de uma pequena mesa em baixo de uma pintura.
— Nossa, merda, veja só o que fiz... — Filipe se lamenta, abaixando-se para juntar os cacos.
— Ninguém viu que foi você, então não foi você — levanto-o pelos ombros.
— Majestade... — Filipe gagueja visivelmente apavorado olhando para trás de mim.
Viro-me e dou de cara com o rei Willian. Meu pai é um homem loiro e forte, possui cabelos como os de Filipe, compridos até os ombros, olhos e lábios parecidos com os meus, usa um pequeno cavanhaque... Muito conservado para a idade que tem. Minha altura. Usa um manto vermelho e a coroa real a maioria do tempo. Ele é um rei apaixonado pelo seu reino, nem é o reino que venera ele, é ele quem venera o reino.
— Pai, deseja falar comigo? — pergunto me encaminhando em direção à ele, fingindo desentendimento.
Meu pai se desvia de mim e anda em direção aos cristais no chão.
— O que é isso? O que houve aqui? — encarou Filipe que estava totalmente desconcertado.
— Perdão, majestade, eu...
— Eu derrubei pai, simples assim — interrompo abrindo a porta de seu gabinete avançando para dentro, sendo seguido pelos dois.
O gabinete do rei é uma sala branca enorme que possui duas mesas: uma de madeira no tamanho básico que serve para reuniões pessoais, e do outro lado da sala uma mesa de madeira maior, que serve para reuniões mais importantes, ambas luxuosas e trabalhadas.
Nos sentamos eu e Filipe de frente para o rei que está nos encarando do outro lado da mesa sentado em sua cadeira majestosa de madeira pura e almofadas vermelhas com rendas douradas, que um dia será minha.
— Creio eu que vocês dois são mais próximos do que aparentam ser — começa, juntando as mãos de frente para o queixo, nos encarando.
Dou um sorriso largo.
— Isso não é segredo, meu pai, o senhor sabe que nos conhecemos desde a infância, somos velhos amigos — dou um leve tapa no ombro de Filipe ao meu lado, fazendo-o rir sem jeito. Filipe é outra pessoa quando está próximo ao rei ou ao próprio pai.
— Me refiro à algo mais próximo, mais que um amigo.
Se eu estivesse engolindo algo nesse momento eu tenho certeza que iria me engasgar.
— O senhor está sendo ardiloso, pode ser mais claro com as suas insinuações, por pura cortesia? — sinto o meu rosto em chamas tamanha indignação que me tomou.
Filipe se remexe na cadeira, sua face levemente avermelhada transparece a aversão pelo comentário infeliz do rei.
— Não diga tolices, Trento, me refiro à uma amizade fraternal, vocês possuem uma relação de irmãos, e não apenas de amigos, assim como eu e meu velho amigo George.
— O senhor está certo, mas isso vem ao caso? — pergunto mudando a minha posição na cadeira, olhando o meu pai com desafio, — creio que a nossa amizade não seja interessante para o senhor.
Ele me devolve o olhar, parecemos dois leões demonstrando poder. Filipe olha de mim para o rei e do rei para mim, como se estivesse em apuros. Ele sabe que o rei presa muito o bom comportamento, coisa que Filipe com certeza possui, mas não quando está comigo, eu tenho o poder de fazer as pessoas se soltarem.
— Realmente não vem ao caso, o que vem ao caso é, já que são próximos provavelmente Filipe fará parte de seu governo, e isso significa que você confia nele... todavia eu não confio em nenhum dos dois — soltou sem rodeios encarando a nós dois com firmeza.
Sorrio debochando de meu pai. Se ele não confia no próprio filho, então deve ser tragicamente paranoico. Apesar de que ele não me trata como um filho, eu morreria por ele!
— Então pai, que tal nomear George Julius como o herdeiro do trono? Isso seria vantajoso tanto para o senhor quanto para mim... dado que estás ciente que eu nunca fui consultado sobre querer ou não ser o futuro rei, — levanto-me da cadeira passando as mãos em meu curto cabelo, vindo até a janela para respirar melhor, por ela podemos enxergar uma grande parte da beleza de Hasgueit.
Meu pai se levanta também, vindo até mim.
— Não diga tolices, Trento! Você é o meu filho! Você herdará o trono de Marlenout! — pousa sua mão em meu ombro, trazendo-me uma leve ternura, quase capaz de me fazer esquecer o quanto ele me tira do sério.
— Se não confia em mim, qual é o seu plano? entregar o seu amado reino nas mãos de um filho o qual não confias para assim destruí-lo? — encaro-o, estamos com nossos rostos bem próximos.
Ele se afasta visivelmente perturbado, martelando algo em seus pensamentos.
— Eu me preocupei tanto com Marlenout que não fiz o mais importante para ela, preparar você! Não que eu não confie em você meu filho... é que nunca demonstrastes interesse algum nos assuntos reais, errei muito ao deixá-lo livre para fazer o que queria, e a partir de hoje isso muda — espreito meus olhos sem entender...
O quê ele quis dizer com isso?
— Está me dizendo, pai, que eu não serei livre para fazer o que bem entender? me explica quando foi que eu realmente fui livre? — Questiono seguindo-o, ele se voltou para sua cadeira e eu faço o mesmo, sento-me no lugar o qual eu estava.
— Não apenas você... Filipe também deverá mostrar mais maturidade, — ambos, eu ele, viramos o nosso rosto em direção ao Filipe que arregalou os olhos ao perceber que estava sendo alvo da nossa discussão, — já que provavelmente a amizade de vocês afetará de alguma forma o reino, então pretendo que seja de uma forma positiva.
— Por que dizes que Filipe não age com maturidade? Ele é o melhor mestre de armas que este reino possui, bom, ele me ensinou suas técnicas, agora sou eu o melhor mestre de armas eu sei, — Filipe revira os olhos discretamente. — Não estou entendendo a sua intenção com esta reunião... Diz de uma vez por todas, o quê pretende conosco? — Dobro meus braços em cima de meu peito.
— Pois bem, o general Haian sairá em resgate de uma tropa em dois dias, porém ele não irá comandar... os soldados receberão ordens direta do príncipe Trento! — Só pode ser uma brincadeira do meu pai... Ele dificilmente faz brincadeiras, entretanto tenho certeza de que é.
— Isso soa tão engraçado pai, mas, por que será não estou rindo? — pergunto confuso.
Filipe está me encarando com seriedade.
— O rei está falando sério, alteza — deu-me um sinal com os olhos o qual eu entendo muito bem.
É o nosso sinal secreto. O fazemos quando estamos mentindo contra a vontade, quando queremos sair para outro lugar e etc.
— Vai mesmo enviar o seu filho para uma missão dessa magnitude? Está ciente do perigo que eu correria? Sou o príncipe herdeiro do trono de Marlenout, na certa irão me reconhecer de imediato e me tornarei o alvo principal de nossos inimigos! O senhor realmente está falando sério? — Levanto-me incrédulo quando percebo que meu pai está falando muito sério.
— É para o seu bem, e para o bem de Marlenout! — Diz, pondo-se em pé.
— Tudo para o rei gira em torno de Marlenout! Mesmo que seu único filho corra o risco de ser morto! Só que nada para o senhor é mais importante do que Marlenout, não é mesmo? — o rei faz menção de dizer algo, porém eu não dou espaço. — Pois bem, pai! Farei sua vontade! Depois não venha se lamentar porque o seu reino não possui um herdeiro.
Caminho em passos duros e rápidos até a porta de saída. Não me aguento de tanta indignação.
Vou comandar um resgate em território inimigo? Irei atravessar o oceano em um navio cheio de soldados fedorentos?
Por que diabos que de uma hora para a outra o meu pai resolve me m****r para a guerra?
Espero qu e eu morra, porque assim meu pai sentirá o remorso pela minha perda.
Ou talvez não sinta.
UMA SEMANA DEPOIS...LUARA:Tenho vinte anos e venho de uma família importante... Meu nome é Luara Lenne, sou uma moça de cabelos amarelo e longos até a cintura, olhos verde claro e cílios espessos.Meu pai vive dizendo que eu nasci para ser da realeza, eu já expliquei para ele que como eu sou a filha do Duque Lionel Lenne eu basicamente sou da realeza, porém ele quer ainda mais para mim. Nunca o entendi e nem pretendo entender, já que minha opinião de nada serviria mesmo, mas, enfim, isso é conversa de pais e meu pai vivia dizendo isso das minhas duas irmãs também, porém elas já se casaram... Lunna a minha irmã mais velha de vinte e cinco anos, se casou com o Marquês do condado de Óvlis, ele é um velho muito gentil, ele é nobre e lordaço, isso foi o suficiente para Lunna, vivem em Óvlis que fica muito
SARA:Moro em Óvlis, uma cidade enorme e cheia de oportunidades... E eu felizmente tive uma. Meu nome é Sara Duarte e tenho vinte e dois anos. Sou morena dos cabelos crespos volumosos até o meio das costas, lábios carnudos, e minhas pernas são compridas... Sou extremamente alta, infelizmente. Trabalho como ajudante nas limpezas do colégio Marlenout, e meu pagamento é receber as aulas, acredito estar fazendo uma ótima troca, o colégio Marlenout é o melhor colégio do país, é o mais caro e frequentado apenas pelos filhos dos mais poderosos. Meu pai e minha mãe trabalham na casa do Marquês Jordan Lim, um adorável e gentil senhor, pena que não posso dizer o mesmo de sua jovem e bela esposa Lunna Lenne Lim. Eu e meus pais moramos na casa do Marquês, minha irmã morava também, infelizmente ela morreu faz um ano. Eu, além de trabalhar no colégio, tenho que trabalhar na casa do Marquês também.(...)— Já sabemos que o príncipe Tre
UMA SEMANA DEPOIS...TRENTO:— Alteza, não podemos prosseguir sem uma estratégia! Não podemos ser vistos, não poderemos desembarcar no porto de Lusem, o que faremos? — Haian pergunta cautelosamente, Lusem é a primeira e mais próxima cidade de Kahabe.Eu me livro dos pesos com os quais eu estava me exercitando, e muito empolgado eu calço meus sapatos que eu havia tirado.— Ei! — chamo Filipe que não está muito longe e faço sinal para que se aproxime.— Alteza, o que faremos? — Haian insiste em perguntar.— Já estou fazendo, general, apenas me prepare um barco e uma bússola, do resto eu dou conta! — Respondi em tom ríspido.Tenho o evitado durante a última semana.O general é um homem moreno dentro de seus quarenta e cinco anos, usa um bigode, é forte e corajoso, pena que deixa seu título lhe subir
"O vosso rei Willian Trento Roius III convoca todas as donzelas de boa saúde, livres e graduadas entre o décimo oitavo e vigésimo quinto aniversário para uma reunião de grandíssima importância no salão principal de sua cidade, a qual não poderá faltar ao menos uma.*Todas as donzelas deverão vestir trajes de festa.*Todas as donzelas deverão estar com as mãos limpas e bem cuidadas.*Todas as donzelas deverão apresentar algo de suas virtudes.Sendo assim no quarto dia do nono mês, logo que o sol nascer.LEMBRETE: A família que possuir uma donzela dentro dos requisitos e não a mandar, será julgada como traidora do trono.P.M. George Julius. "LUARA:Estamos eu e meus pais em nosso café da tarde no nosso jardim, Hadassa está em pé um pouco afastada da mesa em que estamos. Estamos conversando sobre um comunicado que foi espalhado por Marlenout intei
REI WILLIAN:Estou com os dentes cerrados e as mãos grudadas no punho, irado. Não consigo entender como foi que meu plano deu tão errado.— Explique bem para mim, general... como isso aconteceu?O general respira fundo, é visível o pânico e arrependimento em suas expressões.— Vossa majestade conhecia o príncipe Trento... ele era difícil... — ouvi-lo dizer sobre o meu filho no passado, me destrói por dentro, mas não deixo transparecer, infelizmente entramos em guerra contra Kahabe. — Ele desceu do navio com Filipe e foram resgatar os soldados sozinhos...Levanto-me da cadeira chocado com tamanha incompetência de Haian.— ESTÁ EXPLICADO, GENERAL! A CULPA É SUA! VOCÊ SABIA O QUE TINHA DE FAZER E SIMPLESMENTE O DEIXOU IR SOZINHO? — Questiono alterado, com lágrimas tristes escorrendo pelo meu rosto.— Ma-majestade, ele não me ouvia! — exclamou ap
DIAS ATUAIS... REI WILLIAN: — Por que tinha de ser tão teimoso, meu filho? — estou lamentando sob a pintura do meu filho, em minhas mãos.Na pintura ele está sorrindo... um sorriso natural de livre e espontânea vontade, não um sorriso debochado o qual ele sorria na maioria do tempo. Ele está correndo em Rajão pelos jardins do castelo. Esta pintura foi tirada pelo pintor Juan Carlos, o melhor pintor de Marlenout, o melhor por que ele tem memória fotográfica e suas pinturas podem ser facilmente confundidas com uma imagem real. E agora Trento limitou-se à lembranças nem tão boas, não nos comunicávamos com muita frequência, fui muito duro com ele.Deposito o quadro de Trento em seu lugar e me encaminho até os aposentos da minha rainha, ela está desolada e não quer falar comigo, já se passaram dois dias desde que recebemos a notícia de que nosso amado filho morreu e ela ainda não
TRENTO: — Não quero nem estar presente! partirei para Óvlis hoje ainda! — Filipe comenta visivelmente amedrontado quando já estamos quase chagando nas areias de Marlenout.Alguns dias depois que o navio de Marlenout zarpou levando a notícia de nossa morte, nós zarpamos no navio do nosso grupo secreto, o navio Negro, que nos deixou com uma bússola em um barco há algumas horas das margens de Marlenout.Eu me arrependi! não vou negar que me pareceu muito atraente a ideia de ver meu pai se culpando pela minha morte, contudo... e a minha mãe? E todo o povo de Marlenout? o que pensariam de mim quando soubessem que tudo não passou de mais uma brincadeira do príncipe Trento? e o mais preocupante de todos... e se meu pai atacar Kahab
TRENTO:Ela está me encarando com olhos apreensivos, é perturbador o quanto está nervosa.— Por que não me entrega isso? — com um golpe habilidoso eu retiro a espada de suas mãos e ela rapidamente tenta correr, eu a seguro pelos cabelos fazendo-a parar de imediato.Oh, belos cabelos.— Solte-me! — tenta escapar,debatendo-se — seu fedido! Solte-me!Ela está claramente me insultando e dentro de seus olhos eu posso ver faíscas de raiva, quem essa insolente pensa que é para sentir raiva de mim? Seguro seus braços e prenso-a novamente contra a pedra, a moça me olha com um olhar de desafio, porém é notável o leve desespero.— Eu tenho que te agradecer por ter cabelos tão compridos! — Sorrio pegando em seu cabelo macio, são massagens para as minhas mãos — ou eu teria de correr atrás de você, — aponto o dedo indicador — é claro que eu teria te alcançado no terc