UMA SEMANA DEPOIS... 

LUARA: 

Tenho vinte anos e venho de uma família importante... Meu nome é Luara Lenne, sou uma moça de cabelos amarelo e longos até a cintura, olhos verde claro e cílios espessos. 

Meu pai vive dizendo que eu nasci para ser da realeza, eu já expliquei para ele que como eu sou a filha do Duque Lionel Lenne eu basicamente sou da realeza, porém ele quer ainda mais para mim. Nunca o entendi e nem pretendo entender, já que minha opinião de nada serviria mesmo, mas, enfim, isso é conversa de pais e meu pai vivia dizendo isso das minhas duas irmãs também, porém elas já se casaram... Lunna a minha irmã mais velha de vinte e cinco anos, se casou com o Marquês do condado de Óvlis, ele é um velho muito gentil, ele é nobre e lordaço, isso foi o suficiente para Lunna, vivem em Óvlis que fica muito distante de Hasgueit, do outro lado do país. Já a minha irmã de vinte e três anos, a Loren, se casou no mês retrasado com o visconde Guilherme, moram aqui em Hasgueit mesmo, muito belo e charmoso, minha irmã se casou bem. Agora, meu pai pôs na cabeça de que o meu casamento deverá ser o mais vantajoso de todos, eu não opino, entretanto, em minha mente eu o repreendo. Quero me casar por amor, e por escolha minha, infelizmente não creio que será possível. 

— O rei tomou uma sábia decisão, — comentou meu pai sobre a mesa. 

Estamos meu pai, eu e minha mãe nos saboreando com uma deliciosa refeição servida por Hadassa, nossa serviçal e minha melhor amiga, contudo o fato de ela ser minha melhor amiga é um segredo, meu pai odiaria e me repreenderia se soubesse disso. 

— Eu acho que o pobre rapaz não voltará! O rei Willian foi muito cruel com o príncipe  — lamentou minha mãe, com o rosto entristecido.

Não entendo sobre o que eles estão falando. 

— O que o rei fez para com o príncipe, meu pai? 

— O rei enviou o príncipe para a guerra — minha mãe explicou e eu pus a mão na boca, completamente chocada. 

Pelo que eu sei o príncipe Trento nunca foi para uma guerra! Sei que ele é muito bom em lutas de corpos, com facas e espadas, porém nunca soube que ele foi para a guerra. Eu soube de um boato em que o príncipe Trento participava de lutas proibidas, além dos acenos, mas isso deve apenas ser boatos, e se por acaso forem verdadeiros não quer dizer que o príncipe estaria preparado para uma luta de verdade. 

E outra, desde quando estamos em guerra?

— Guerra? Estamos em guerra? — questiono, preocupada.

— Sua mãe está exagerando! O rei mandou o príncipe para resgatar alguns soldados que estão em Kahabe, do outro lado do oceano, e eu concordo com o rei! Uma hora ou outra o príncipe deveria se tornar um homem de verdade e não um aproveitador da fama e honra que o seu título lhe concede — meu pai explicou todo carregado de razão tomando um gole de suco, e eu me segurei para não dizer que ele deveria fazer o mesmo que o príncipe, já que também é um aproveitador da fama e do dinheiro. 

Hadassa tosse no cantinho em que está: — Desculpem, — se constrange.

Minha mãe revirou os olhos enojada e meu pai faz um sinal apressado com as mãos para que Hadassa se retire. 

— Vocês não tem de ser tão grossos com a moça! Afinal, todos nós temos irritação na garganta às vezes! 

— Cale-se, Luara! — minha mãe me reprendeu impaciente. 

Então limitei-me em me alimentar apenas. 

HADASSA: 

Depois de mais um dia cansativo na casa dos Lennes eu estou finalmente em minha humilde casa. Sei que a casa de Luara é enorme e caberiam umas quarenta casas do tamanho da minha dentro dela, porém eu sou feliz aqui em minha casinha onde vivo com meu tio Barnabé. Somos mil vezes mais felizes e unidos que os Lennes. 

Meu nome é Hadassa Penhaz e tenho dezoito anos, estatura mediana, olhos verdes e conforme a intensidade de meus sentimentos e do tempo eles mudam de cor, variando entre o amarelo e o castanho claro... Sou ruiva dos cabelos ondulados até o meio das coxas, minha amiga Luara vive me dizendo que gostaria de trocar de cabelo comigo, eu rio e me sinto feliz em ser elogiada, já que apenas ela e meu tio me elogiam, porém, o cabelo dela também é maravilhoso. 

Meus pais moravam do outro lado do país, em Óvlis. Minha mãe faleceu no instante em que eu nasci, sinto muito a falta dela apesar de nunca a ter conhecido, sempre converso com ela olhando para as estrelas, quando eu tiver uma criança, serei a melhor mãe que eu puder ser. Meu pai morreu faz quatro anos, ele sofreu um acidente, a carruagem em que estava caiu sobre um penhasco e então nunca mais se ouviu falar de meu amado paizinho. Ele era meu rei, meu tudo! Eu nem conhecia meu tio, mas tive que vir morar aqui com ele em Hasgueit e por esse motivo não conheço ninguém, já que não tenho tempo para nada desde que comecei a trabalhar na casa dos Lennes. Meu tio é jardineiro, cuida dos jardins de muitas famílias e isso nos ajuda muito, porém não ao ponto de eu não precisar trabalhar, meu tio faz questão de que eu estude, então temos muitos gastos. 

Comecei a trabalhar na casa de Luara quando eu tinha quatorze anos, e desde o primeiro instante em que eu a ajudei a vestir um vestido vermelho lindo e magnífico nós somos melhores amigas, infelizmente isso é segredo, já que o senhor Lionel não concorda com relações pessoais entre serviçais e pessoas normais... sim, eles me consideram anormal, menos que eles. Eles se irritam pelos simples fato de eu respirar próximo à eles, apesar de que só posso me afastar quando eles ordenam. É uma situação complicada. 

Estou preparando nosso jantar, meu tio aprecia batata cozida.

— Está muito quieta, Sá, — adoro quando o meu tio me chama de Sá, sinto um carinho enorme por ele. 

— Não percebi que o senhor estava aí, meu tio — sorri ao lhe encontrar me olhando, encostado na porta. 

— Eu sei quando algo lhe perturba... o que está havendo? — perguntou retirando as batatas de minhas mãos. 

Eu me limpo em meu vestido velho, o qual repito muitas vezes já que não tenho muitas vestes. Deve ser por isso que nenhum cavalheiro se interessa por mim.

— Apenas estou preocupada, ouvi na casa dos Lennes que o rei mandou o príncipe para a guerra... — comentei prendendo meu cabelo que estava me fazendo suar  — ou algo parecido com uma guerra. 

— Eu soube por um amigo, o rei é sábio e se ele decidiu assim, ele sabe o que está fazendo, preocupe-se apenas com o que é importante, —  depositou um beijo em minha testa se retirando logo em seguida.

Eu nunca vi o príncipe pessoalmente, Luara já o viu e me adiantou que ele é o ser mais belo que poderia existir, só que infelizmente não é uma boa pessoa, pelo que eu ouço falar ele é mau. Muito mau. 

Sendo uma boa pessoa ou não, espero que ele retorne. Ninguém merece morrer de uma forma tão violenta quanto uma guerra.