SARA:
Moro em Óvlis, uma cidade enorme e cheia de oportunidades... E eu felizmente tive uma. Meu nome é Sara Duarte e tenho vinte e dois anos. Sou morena dos cabelos crespos volumosos até o meio das costas, lábios carnudos, e minhas pernas são compridas... Sou extremamente alta, infelizmente. Trabalho como ajudante nas limpezas do colégio Marlenout, e meu pagamento é receber as aulas, acredito estar fazendo uma ótima troca, o colégio Marlenout é o melhor colégio do país, é o mais caro e frequentado apenas pelos filhos dos mais poderosos. Meu pai e minha mãe trabalham na casa do Marquês Jordan Lim, um adorável e gentil senhor, pena que não posso dizer o mesmo de sua jovem e bela esposa Lunna Lenne Lim. Eu e meus pais moramos na casa do Marquês, minha irmã morava também, infelizmente ela morreu faz um ano. Eu, além de trabalhar no colégio, tenho que trabalhar na casa do Marquês também.
(...)
— Já sabemos que o príncipe Trento voltará apenas dentro de alguns meses, aproveitando o assunto, lhes pergunto: quanto tempo demora-se para atravessar o oceano em um navio grande e pesado? — o professor Otávio Figueira, professor de história, pergunta olhando atentamente para cada aluno presente, um a um, e quando ele olha Lara mim, eu me constranjo.
Ele é um homem alto e magro, seus olhos castanhos são expressivos e atentos, seu cabelo é liso e comprido até o meio das costas, um chame na minha opinião, ele usa os cabelos soltos na maioria do tempo. O professor sempre está com um casaco preto por cima de suas vestes. Veste-se muito bem, tem em volta de uns trinta e dois anos. Solteiro e atraente.
Levanto minha mão direita e todos na sala me olham torto. Eu sou a pobre serviçal que teve a sorte de ganhar os estudos em troca de limpeza, porém, faço bom proveito, me sento na primeira mesa de frente para a mesa do professor, que fica do lado oposto à porta, ao lado da janela.
— Por favor, senhorita Duarte, prossiga — professor Otávio me permite com olhos orgulhosos.
Levanto-me, ajeito meus cabelos volumosos e passo as mãos por minhas vestes.
— Senhor Otávio, antes de responder sobre quanto tempo se leva para atravessar o oceano em um navio grande eu gostaria de falar a respeito desta viagem do príncipe Trento, tenho a sua permissão? — o professor assente com a cabeça — o senhor afirmou que o príncipe voltará dentro de alguns meses, sendo um professor de história experiente, na certa conhece os requisitos para se vencer um provável conflito, eu lhe pergunto: o senhor declara o príncipe Trento apto para resolver qualquer situação seja ela entre inimigos ou não? E o senhor realmente acredita que o príncipe Trento voltará de Kahabe? — pergunto entre murmúrios e bocas abertas que meus companheiros esnobes produzem.
Professor Otávio tira seu óculo que usa às vezes e passa as mãos pelos olhos.
— Senhorita, esta é uma pergunta que praticamente todos os marlenouteanos inteligentes se fizeram na última semana, entretanto ainda não conheci quem ousou a pronunciar em voz alta, apesar de apreciar o seu interesse pelas questões de nosso país, sugiro que a senhorita guarde para si tamanha ousadia, eu lhe garanto que o nosso rei sabe o que faz, ele jamais colocaria em risco a vida de seu próprio filho.
O sino toca, pronunciando o término das aulas de hoje.
Todos se levantam de suas mesas e se encaminham até a saída, porém eu fico enrolando em minha mesa para ter a oportunidade de falar ao professor.
— Senhor Otávio...
— Senhorita Duarte, eu lhe aconselho a se esquecer deste assunto. Poderiam lhe julgar uma rebelde! Eu vou lhe confessar que pela minha experiência o príncipe Trento não estava preparado para tal viagem, contudo, não é assunto nosso! — Sussurrou a última frase e se foi porta afora, levando suas anotações.
Uma travessia sobre o oceano em um navio grande e pesado leva em cerca de uns quarenta e cinco dias... Só que eu não acho que o príncipe voltará, cada um tem o que merece e o que planta.
TRENTO:
Estamos navegando há semanas. Filipe está muito à vontade com os soldados jogando e bebendo em algum lugar do navio. Já eu, me sinto completamente deslocado. Estou deitado sobre uma rede que esta posta no convés, sob uma vista tediosa para o mar.
— Suponho que o senhor já tenha feito suas estratégias... — Haian me desperta dos meus pensamentos.
— O que foi? — pergunto confuso e irritado.
Se tem algo que me incomoda são pessoas que pensam que eu posso ler pensamentos.
— O resgate, senhor... — Haian revira os olhos.
Ele já está se acostumando a desdenhar de mim.
— Ah, isso! — respondo ríspido.
Haian se confunde, movendo a cabeça negativamente em desaprovação.
Minha paciência com esse generalzinho se esgotou há dias.
— O SENHOR NÃO TEM NOÇÃO MESMO, NÃO É ALTEZA? O SENHOR PODE MATAR A TODOS NÓS! — grita, extremamente alterado, apontando-me o dedo se afastando à seguir e todos os soldados que estavam por perto nos olham atentos.
Estressado dos cavalos! Como ele se atreve a falar assim comigo? Ele pensa que isso vai sair impune?
Eu me levanto da rede e ajeito minhas vestes que estão amarrotadas, passo as mãos pela minha nuca e as levo até o rosto, as soltando à seguir.
Sigo-o em passos rápidos, ele parece não perceber.
— Preste bem atenção GENERALZINHO DE NADA! — levo as mãos até seu pescoço e o pressiono na parede no navio.
— Este navio é meu! Estes soldados são meus! E você TAMBEM É MEU! A única coisa com que você deve se preocupar é em tentar fazer este navio andar mais rápido! Os homens que estão remando provavelmente só querem moleza... Onde já se viu demorarmos tanto assim! — solto-o e chuto um barril que estava próximo, cheio de peixes.
— Provavelmente o senhor nunca navegou em um navio deste tamanho e peso. — Haian diz passando as mãos em seu pescoço. — Um barco pequeno vai muito mais rápido, eu sei, mas neste aqui iremos demorar mais uma semana, no mínimo! — concluiu cabisbaixo.
— Você merecia ser açoitado! Meu pai saberá da sua audácia em levantar a voz comigo — sussurro para que apenas Haian possa ouvir, levo meus olhos até os soldados e neles eu contemplo olhares de desaprovação e divertimento. — O QUÊ ESTÃO OLHANDO? — pergunto levantando os braços e logo todos eles voltam ao que estavam fazendo.
Como meu pai consegue lidar com isso?
Haian pensa que sou tão inútil assim? Minha estratégia será a de sempre, vou me camuflar entre os kahabeanos. Não farei como o meu pai espera, farei à minha maneira.
Eles todos pensam que sou um príncipe mimado e despreparado, e quero que continuem pensando assim, pelo menos meu divertimento será maior quando contemplar a surpresa e admiração de todos.
Eu não sou simplesmente o príncipe herdeiro... Eu sou aquele que fará a maior história de Marleno ut! Nunca pedi por isso, mas já que terei de ser rei, então serei rei.
UMA SEMANA DEPOIS...TRENTO:— Alteza, não podemos prosseguir sem uma estratégia! Não podemos ser vistos, não poderemos desembarcar no porto de Lusem, o que faremos? — Haian pergunta cautelosamente, Lusem é a primeira e mais próxima cidade de Kahabe.Eu me livro dos pesos com os quais eu estava me exercitando, e muito empolgado eu calço meus sapatos que eu havia tirado.— Ei! — chamo Filipe que não está muito longe e faço sinal para que se aproxime.— Alteza, o que faremos? — Haian insiste em perguntar.— Já estou fazendo, general, apenas me prepare um barco e uma bússola, do resto eu dou conta! — Respondi em tom ríspido.Tenho o evitado durante a última semana.O general é um homem moreno dentro de seus quarenta e cinco anos, usa um bigode, é forte e corajoso, pena que deixa seu título lhe subir
"O vosso rei Willian Trento Roius III convoca todas as donzelas de boa saúde, livres e graduadas entre o décimo oitavo e vigésimo quinto aniversário para uma reunião de grandíssima importância no salão principal de sua cidade, a qual não poderá faltar ao menos uma.*Todas as donzelas deverão vestir trajes de festa.*Todas as donzelas deverão estar com as mãos limpas e bem cuidadas.*Todas as donzelas deverão apresentar algo de suas virtudes.Sendo assim no quarto dia do nono mês, logo que o sol nascer.LEMBRETE: A família que possuir uma donzela dentro dos requisitos e não a mandar, será julgada como traidora do trono.P.M. George Julius. "LUARA:Estamos eu e meus pais em nosso café da tarde no nosso jardim, Hadassa está em pé um pouco afastada da mesa em que estamos. Estamos conversando sobre um comunicado que foi espalhado por Marlenout intei
REI WILLIAN:Estou com os dentes cerrados e as mãos grudadas no punho, irado. Não consigo entender como foi que meu plano deu tão errado.— Explique bem para mim, general... como isso aconteceu?O general respira fundo, é visível o pânico e arrependimento em suas expressões.— Vossa majestade conhecia o príncipe Trento... ele era difícil... — ouvi-lo dizer sobre o meu filho no passado, me destrói por dentro, mas não deixo transparecer, infelizmente entramos em guerra contra Kahabe. — Ele desceu do navio com Filipe e foram resgatar os soldados sozinhos...Levanto-me da cadeira chocado com tamanha incompetência de Haian.— ESTÁ EXPLICADO, GENERAL! A CULPA É SUA! VOCÊ SABIA O QUE TINHA DE FAZER E SIMPLESMENTE O DEIXOU IR SOZINHO? — Questiono alterado, com lágrimas tristes escorrendo pelo meu rosto.— Ma-majestade, ele não me ouvia! — exclamou ap
DIAS ATUAIS... REI WILLIAN: — Por que tinha de ser tão teimoso, meu filho? — estou lamentando sob a pintura do meu filho, em minhas mãos.Na pintura ele está sorrindo... um sorriso natural de livre e espontânea vontade, não um sorriso debochado o qual ele sorria na maioria do tempo. Ele está correndo em Rajão pelos jardins do castelo. Esta pintura foi tirada pelo pintor Juan Carlos, o melhor pintor de Marlenout, o melhor por que ele tem memória fotográfica e suas pinturas podem ser facilmente confundidas com uma imagem real. E agora Trento limitou-se à lembranças nem tão boas, não nos comunicávamos com muita frequência, fui muito duro com ele.Deposito o quadro de Trento em seu lugar e me encaminho até os aposentos da minha rainha, ela está desolada e não quer falar comigo, já se passaram dois dias desde que recebemos a notícia de que nosso amado filho morreu e ela ainda não
TRENTO: — Não quero nem estar presente! partirei para Óvlis hoje ainda! — Filipe comenta visivelmente amedrontado quando já estamos quase chagando nas areias de Marlenout.Alguns dias depois que o navio de Marlenout zarpou levando a notícia de nossa morte, nós zarpamos no navio do nosso grupo secreto, o navio Negro, que nos deixou com uma bússola em um barco há algumas horas das margens de Marlenout.Eu me arrependi! não vou negar que me pareceu muito atraente a ideia de ver meu pai se culpando pela minha morte, contudo... e a minha mãe? E todo o povo de Marlenout? o que pensariam de mim quando soubessem que tudo não passou de mais uma brincadeira do príncipe Trento? e o mais preocupante de todos... e se meu pai atacar Kahab
TRENTO:Ela está me encarando com olhos apreensivos, é perturbador o quanto está nervosa.— Por que não me entrega isso? — com um golpe habilidoso eu retiro a espada de suas mãos e ela rapidamente tenta correr, eu a seguro pelos cabelos fazendo-a parar de imediato.Oh, belos cabelos.— Solte-me! — tenta escapar,debatendo-se — seu fedido! Solte-me!Ela está claramente me insultando e dentro de seus olhos eu posso ver faíscas de raiva, quem essa insolente pensa que é para sentir raiva de mim? Seguro seus braços e prenso-a novamente contra a pedra, a moça me olha com um olhar de desafio, porém é notável o leve desespero.— Eu tenho que te agradecer por ter cabelos tão compridos! — Sorrio pegando em seu cabelo macio, são massagens para as minhas mãos — ou eu teria de correr atrás de você, — aponto o dedo indicador — é claro que eu teria te alcançado no terc
TRENTO:Estamos caminhando há uns vinte minutos, o castelo já esta à vista, estamos pelo caminho menos frequentado, não queremos ser reconhecidos, seria o maior falatório e pessoas atrás de mim.— Estão indo para o castelo real? o que vocês planejam fazer? por que vão me levar junto com vocês? seus malditos! Brando vai matar aos dois! — a jovem Hadassa tagareleia incansavelmente, se eu não tivesse arrancado a espada das mãos dela, eu seria atacado pelas costas.Eu tenho uma lista de coisas que planejo fazer com a minha volta, porém livrar-me dessa moça é prioridade.— Já lhe falei que serei seu rei, é normal que eu vá até o castelo, não concorda? — respondo sem olhar para trás, ela já tentou escalar algu
HADASSA:Eu estava morrendo de medo! Desde que o sujeito me segurou pelos cabelos eu me senti amedrontada, eu realmente achei que morreria e quando eu percebi que ele tinha a intenção de assassinar o rei Willian eu me desesperei, eu deveria ter dado ouvidos para o Brando. Entretanto, afinal quem era aquele desconhecido todo sujo e metido à charmoso? O ego dele era quase palpável e era isso que me deixava instigada em confrontá-lo.Eu quase tive um ataque cardíaco no momento em que os guardas se prostraram perante à ele, e a minha alma deve ter saído fora do meu corpo quando ele abriu a porta em que o rei estaria, não sei como eu não desfalecido... contudo, agora, não posso negar que fui surpreendida. Ele é o príncipe Trento! Agora entendo a arrogância e o ar de superioridade... Ele realmente é o príncipe.Como assim ele está vivo? Será que cumprirá sua promessa de me prender nas